CAMINHAR COMO COMBATE À DEPRESSÃO

Pouco interesse pela vida, tristeza, falta de energia - esses sintomas, capazes de atrapalhar a vida de tanta gente, podem ser tratados com eficácia. Não, não estamos falando de um remédio de ponta, mas da caminhada

A prescrição é simples: vista uma roupa confortável, calce um tênis com amortecimento e passe um protetor solar. Dirija-se ao parque mais próximo ou, quem sabe, à praça do bairro. Agora é só caminhar e curtir o bem-estar proporcionado pelo exercício. Essa receita parece fácil, mas é dificílima para quem sofre com a depressão e não tem a menor vontade de sair de casa. Apesar disso, essa turma deve se esforçar para vencer a prostração. Valerá a pena. Alguns trabalhos científicos feitos ao redor do mundo comprovam que caminhar afasta o baixo-astral causado pela doença.

Um dos mais recentes é assinado pelo Centro Médico Southwestern, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos. Os pesquisadores recrutaram 80 voluntários de 20 a 45 anos com diagnóstico de depressão, que foram divididos em cinco grupos. Um deles praticou caminhadas moderadas três vezes por semana. O segundo caminhou também, mas cinco vezes por semana. O terceiro e o quarto grupo praticaram outros tipos de exercício de baixa intensidade, como aulas de fitness leves, também três e cinco vezes por semana, respectivamente. A quinta e última turma fez sessões de alongamento por cerca de 20 minutos, três vezes por semana.

Passados três meses, quem caminhou tanto três quanto cinco vezes por semana apresentou sintomas 47% menos intensos de depressão, comparando os testes psicológicos feitos antes da experiência e depois. Os dois grupos do fitness leve melhoraram, em média, 30% — ligeiramente mais do que a turma que se alongou, que apresentou uma diminuição de 29% dos sintomas.

Pode parecer estranho mensurar sinais da depressão, mas esse é um sistema usado pelos especialistas. E, segundo eles, o sucesso da caminhada é comparável aos bons resultados obtidos com antidepressivos vendidos em farmácia. Esse exercício pode ser um dos melhores tratamentos para quem apresenta quadros moderados da doença.

A QUÍMICA DA CAMINHADA

Essa é a teoria dos especialistas para explicar os ótimos resultados desse exercício nas depressões leves

NA CRISE
O cérebro do deprimido é mais pobre em serotonina e dopamina, duas substâncias que promovem a comunicação entre os neurônios. A primeira produz sensações como a de alegria, além de ser sedativa e calmante. A segunda proporciona energia e disposição.

QUEM CAMINHA
Quando caminhamos, a massa cinzenta parece liberar dosagens maiores que as habituais dessa dupla. Mas é importante que o exercício seja freqüente para manter a disposição, no caso dos deprimidos.

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No Brasil também já foram feitas algumas pesquisas apontando a ação do exercício físico contra a depressão. Uma delas foi apresentada no ano passado pela educadora física e doutora em psicologia Rosa Maria Mesquita, que é professora aposentada da Universidade de São Paulo (USP). Seu trabalho envolveu 47 indivíduos deprimidos, de 18 a 60 anos, que tomavam medicamentos contra a doença. Eles foram divididos em quatro grupos. O primeiro fez caminhadas; o segundo, exercícios de fitness; o terceiro, alongamento; o último continuou sem fazer nada, apenas engolindo os remédios, cumprindo o papel do que os cientistas chamam de grupo controle — ou seja, serviram de parâmetro para a análise dos resultados.

Todos os participantes que se exercitaram — e eles fizeram isso três vezes por semana, por apenas 30 minutos — relataram uma grande diminuição dos sinais depressivos. O sucesso do projeto foi tanto que o Centro de Práticas Esportivas da USP irá oferecer, a partir do dia 31 deste mês, um programa de atividade física como complemento ao tratamento da depressão. "Não vi um efeito melhor das caminhadas, em particular, comparada com outros exercícios", diz ela, francamente. "Mas sou fã da modalidade, por ser a mais democrática."

Falta aos especialistas descobrir com exatidão o que acontece na massa cinzenta quando alguém calça um tênis e sai caminhando (veja o infográfico na página anterior). Por enquanto, apesar de não saberem como, eles só dão a palavra de que os benefícios aparecem. Principalmente — apostam — se o indivíduo aproveitar essas saídas para se relacionar com outras pessoas. "Para um deprimido o mais indicado é caminhar em grupo", opina a psiquiatra Vanessa Maria Torres Junger, que trabalha na Prefeitura de São Paulo e participou do estudo de Rosa Mesquita. "Até porque ele irá se sentir comprometido e terá menos tendência a abandonar a atividade."

Importante: a caminhada não precisa ser praticada todo dia para fazer efeito. Aliás, nem deve. "O organismo necessita de um tempo de repouso para repor as substâncias que foram liberadas durante a prática", diz o fisiologista Raul Santo de Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Mas, a longo prazo, o funcionamento dos neurônios é alterado permanentemente", garante o neurologista Paulo Bertolucci, da Unifesp. "Depois de quatro a oito semanas as mudanças no estado emocional do deprimido já começam a aparecer", acrescenta. Claro, apesar de todo esse bem-estar, o acompanhamento médico da depressão é insubstituível e os remédios não podem ser abandonados por conta própria. Por falar nisso, mais uma notícia para dar ânimo: "O efeito dos antidepressivos tende a ser potencializado com a caminhada", diz Bertolucci.

PASSO-A-PASSO
Algumas regras são essenciais para o sucesso de um programa antidepressivo

DIA SIM, DIA NÃO
Dê 24 horas de intervalo entre uma caminhada e outra. Essa pausa é essencial para que o corpo consiga se recompor. Mas não fique parado muito tempo além disso. Para que o exercício eleve o astral, deve ser repetido três ou quatro vezes por semana.

POR QUANTO TEMPO?
De 30 a 45 minutos. "A caminhada deve ser, de preferência, contínua", ensina Rosa Mesquita. O fisiologista Raul Santo de Oliveira, porém, não vê problema em fracionar esse período. "Pode funcionar se você fizer três caminhadas de dez minutos", exemplifica.

A INTENSIDADE IDEAL
A caminhada deve ser moderada. À medida que o condicionamento físico do indivíduo ficar melhor, o ritmo poderá aumentar. Independentemente disso, alguns minutos de alongamento antes e depois das passadas caem bem.


A partir da revista Saúde é Vital. Leia no original

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