DESISTIR É DAR VITÓRIA AO 'INIMIGO'

"Tenho 35 anos e minhas primeiras lembranças na vida são de abuso sexual contra mim. A partir daí só tive sofrimentos,pobreza extrema, decepções, traições, solidão, baixa auto-estma, sequelas e mais sequelas. Namorei e casei com um único homem durante toda a minha vida e este foi justamente ele que me ensinou o que é tristeza e solidão. Ele não me ama, nem respeita e diz todos os dias que não gosta de mim e como seria mais feliz se eu estivesse longe. Que eu sou uma péssima mãe, profissional e esposa e como ninguém mais vai me querer se ele me largar, porque sou gorda, feia, sem graça e ninguém gosta de mim.
De tanto ele dizer isto eu acho que já interiorizei essa história, pois o medo de ficar só me paraliza, me impede de tomar qualquer decisão.
Tenho suportado violência verbal, psicológica, preconceito, traição, rejeição e fracassei. Financeiramente tenho muitas dívidas, insegurança. Só penso que não há mais solução para meus problemas e por isso quero morrer, pois neste caso seria um alívio e não um castigo. Espero que alguém leia isso!"


Mais difícil do que controlar expectativas diante da vida é lidar com a frustração que costuma vir de ressaca nesse processo. Mas, se idealizar é fundamental para crescer, se decepcionar pode ser também uma ótima oportunidade de rever horizontes.

Da mesma forma que somos, senão os únicos, ao menos os principais responsáveis pela nossa felicidade, também o somos pela nossa infelicidade. Para viver, sonhar e idealizar é instintivo e fundamental, mesmo que em algumas situações façamos isso com uma equivocada certeza sobre a nossa capacidade de atingir metas estabelecidas, à nossa maneira. Nesses casos, a vontade de ser é tanta que acabamos deixando vazar expectativa pelas frestas, tornando pantanoso o caminho que separa o real do ideal. É aí que chega a frustração, em mais uma de suas muitas aparições pelo decorrer da vida humana e que, se não for colocada rapidamente para jogar a nosso favor, pode, por não ser do presente e nem do passado, comprometer seriamente o futuro.

Carolina Ferreira é hoje musicoterapeuta mas, durante quase dez anos, viveu de uma possibilidade impossível. "Eu achava que ia ser cantora. Minha irmã dois anos mais velha é, nós cantávamos juntas desde criança, estudamos música. Ela se mudou pro Rio e eu fiquei em São Paulo fazendo teste, correndo atrás, me dedicando. Mas era tudo um inferno porque eu não cantava bem. Aliás, cantava mal", ressalta ela. Carolina lembra que não conseguia imaginar outra vida senão a dos palcos e estúdios e que, mesmo com o punho doendo de tanto socar ponta de faca, se sentia injustiçada. "Fazia milhões de testes e não passava em nenhum. Na faculdade de música ignorava todas as propostas que apareciam se não fossem para o trabalho de cantora. Como eu não conseguia nada, minha vida foi ficando engessada. Felizmente, meus amigos e minha família perceberam o problema e começaram a me esclarecer que eu estava tornando meu horizonte cada vez mais restrito. Foi aí que eu comecei a entender que meu problema era excesso de expectativa", revela. Depois de mais dois anos perdida, sem saber se casava ou comprava uma bicicleta, Carolina chegou ao trabalho que a realiza hoje. "Fui tomando contato com musicoterapia pela faculdade. Quando percebi já estava suprindo minhas carências de cantora que eu queria ser nos grupos em que eu trabalhava, ajudando na comunicação deles, na expressão. E descobrindo a minha função", conta.

No campo dos relacionamentos, o duelo entre real e ideal costuma ser demolidor, como confirmam a arquiteta Cristina Sobreira e seus muitos príncipes encantados com prazos de validade vencidos. "Teve uma época na minha vida em que eu conhecia um cara e apostava todas as fichas nele, quase cegamente. Naquela primeira fase de sedução, ficava sonhando sempre que tinha achado o homem perfeito, que eu ia sair do buraco. Acontecia que imaginava o cara de um jeito que ele não era e, como eu acabava me apaixonando por esse que não existia, ia me decepcionando terrivelmente, com o tempo", lembra. Passada essa fase de desengano, Cristina, então, resolveu que homem nenhum prestava e que, se quisesse ser feliz, teria de ser solteira. "Passei a descartar quase todos os caras até que conheci um namorado com quem eu fiquei dois anos. Ele foi encantador comigo, extremamente sedutor e eu não resisti", conta a arquiteta, que confessa, entretanto, sofrer até hoje com seu instinto de idealização exacerbado. "Muitas vezes ainda me pego esperando coisas das pessoas que eu não tinha motivo para exigir", assume.

A psicóloga Marlúcia Pessoa explica que se manter imune à frustração é praticamente impossível. Mas o encontro de um obstáculo no caminho da realização de um desejo pode ser uma ótima oportunidade de aprendizado e crescimento. "A expectativa começa para muitos de nós como algo difuso que vai se tornando cada vez mais objetivo de acordo com o grau de probabilidade que ela tem de se concretizar. E a gente chega a essa probabilidade pela autoconfiança adquirida nas nossas experiências acumuladas. Por exemplo, um grande jogador de futebol, que já venceu muitas vezes, não se permite ter dúvidas sobre o resultado do próximo jogo. É uma expectativa fechada. Se ele perde, a frustração é imensa porque, quanto maior é nosso modelo perfeccionista, maior a sensação de culpa", comenta ela. Idealizar e criar modelos, no entanto, é primordial para qualquer crescimento. Portanto, nada de se contentar com pouco: é preciso, sim, estar com o bom-senso sempre ligado e de pés bem firmes no chão para que esse processo surta efeitos positivos. "Muita gente chega a distorcer a percepção da realidade quando se dá conta de que ela não corresponde completamente às suas expectativas. No entanto, desistir é dar uma solução definitiva demais para um problema apenas temporário. Se permitir errar e mudar é a melhor maneira de conviver com nossas decepções", conclui ela.

O fantasma da frustração (Bolsa de Mulher). Leia no original
Imagem: por TheAlieness GiselaGiardino²³ 

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2 comentários :

  1. Anônimo27/11/10

    Eu li...não tenho muitas palavras de incentivo...mas quem tinha que morrer era este bosta do seu marido...
    Tente de alguma forma dar a volta por cima...não dê o gostinho a estas pessoas que não te valorizam...sempre à uma forma de sair de uma situação...sua história me serviu de incetivo...pois passo por muitos problemas mas vejo existem pessoas que sofrem iguais a eu!!!
    Espero que viva muito e que seja muito feliz!!!
    De coração!!!

    henriqueinthewall@gmail.com

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  2. Anônimo15/12/10

    Anime-se! Tem situações muito piores que a sua.Eu por ex; estou com a vida toda enrolada, tenho anos perdidos trabalhando em uma coisa sem futuro, só prejuizos e desgostos, cheguei no fundo do poço, estou devendo e sendo ameaçado,"ameaçado de morte" que a parte pior no meu ponto de vista.Amigos? Nenhum, pra dizer que está do meu lado, quem me dá apoio são pessoas que estão vendo meu sofriento e me ajudam da maneira que podem.A família, sobrou minha irmã por parte de mãe que é realmente minha companheira, me dá apoio da maneira que ela pode, e sofre vendo meu sofrimento, e eu me sinto culpado de vê-la sofrendo.Confiei segamente no meu patrão, minhas economias, tudo era monitorado por ele.Enfim, teve um desacerto e a corda arrebenta no lado mais fraco, e simplismente me deixou arruinado.E o pior, que meu patrão era meu pai, um cara que eu achava que poderia confiar,rsrsr.É a pessoa mais egoísta que conheci na minha vida, não serve de referências positivas para nada!Perdi minha mãe muito cedo e decidi morar e trabalhar com ela, pra conseguir independência financeira mais cedo, mas me envolvi em tanta bola de neve, que acabei vivendo a vida em fuçao dele.Perdi 10 anos da minha vida,não foram só de momentos ruins,mas a grande maioria deles sim.Mas tudo isso de ruim, partiu de mim mesmo, porque eu vivia na ilusão materialista, acostumei a ter coisas boas,não queria viver sem dinheiro.Corri tanto atrás desse dinheiro, que hoje não tenho mais nada!!!nada mesmo.Estou morando longe de minha casa, a casa que era da minha mãe, porque não posso voltar por causa das ameaças contra minha pessoa,então vivo frustado lembrando de quanto era boa minha vida antes de sair da minha casa, casa da minha mãe,tenho que viver em pensionados aqui do nordeste sujos e baratos até eu conseguir achar uma soluçao para minha vida, que até agora está sendo inútio, no meu ponto de vista.Inútio porque a única coisa que minha mãe me pediu antes de morrer, era que eu cuidasse da minha irmã, e eu nunca dei conta de fazer nada por ela,nada.Tudo pela minha fraqueza de encarar a vida da maneira certa, por isso eu pago caro.Enfim, você está vivendo oprimida,vivendo chateada,não é fácil mesmo ter atitudes e tomar outro rumo, comessar do nada, mas se vc não tentar, não vai ter oportunidades de contar para alguém, outra fase de sua vida, quem sabe outra fase bem melhor que essa.Tem que ter atitude, e amor próprio, pra seguir em frente,e eu acho que morrer não é a soluçâo, apesar que passa pela cabeça de vez enquando,mas tento distrair minha atenção em outra coisa, tentar encontrar um sentido pra vida.Tem tanta gente sofrendo em hospitais públicos querendo viver,e quem tem saúde e inteligência não tem esse direito de desejar a morte.A vida é um presente de Deus,ninguém vem aqui atôa,tem sempre um motivo pra estar aqui,talvéz você não encontrou seu verdadeiro motivo de viver,seu amor próprio.Eu sou apenas uma pessoa,que teve que quebrar muito a cara, pra pensar dessa forma.Não vou te dizer que minha auto estima está a mil graus, mas estou tentando organizar pra viver o resto da minha vida em paz,e fazer tudo aquilo que sempre tive vontade, e tentar ser feliz.

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