A FLORESTA DA MORTE NO JAPÃO

Amo escrever sobre o Japão, e não poderia deixar de fora uma das mais gritantes verdades que existe sobre o país e por incrível que pareça, ainda é meio oculto. O Japão possui o maior índice de suicídios no mundo desenvolvido: 24,1 para cada mil habitantes. No ano de 2003 houve o recorde de 34.427 suicídios. É a sexta maior causa de morte no país.


Existem vários fatores que explicam porque isso acontece. O suicídio por excesso de trabalho (karoshi) é um deles. Pela jornada de trabalho ser tão extensa e as normas tão rígidas, muitos japoneses preferem se matar pois sabem que não conseguirão viver sem o emprego, de qualquer jeito.

Diferente do ocidente, no Japão o suicídio não é considerado crime e culturalmente é visto como uma atitude responsável e até valorizada de resolver uma situação. Tirar a própria vida é um gesto aceito e foi encorajado pelas tradições ao longo dos anos. Se a pessoa tem uma dívida que não consegue pagar, considera-se que se matar é uma saída honrosa. O fato de a cultura japonesa valorizar o grupo, e não o indivíduo, também contribui para o alto número de suicídios no país. "Os idosos que precisam de um tratamento médico muito caro, ou que não podem pagar por um asilo, muitas vezes se matam para não serem um peso para a família, e ninguém se espanta com isso", comenta a psicóloga Kyoko Nakagawa, japonesa radicada no Brasil. Também é comum que pessoas em dificuldade financeira façam um seguro de vida e depois se matem, garantindo assim o futuro da família.

Desde o tempo dos samurais, o suicídio era considerado uma solução em casos extremos, o seppuku (também conhecido como harakiri), foi amplamente usado como modo de limpar a honra. Se os guerreiros perdiam a batalha, eles cometiam suicídio em grupo, a fim de não passarem por humilhação e salvarem sua honra. É um fato histórico e foi uma prática normal entre os japoneses de antigamente, o que acabou criando uma imagem dramática e romântica em torno desse ato. A forma mais popular de arte dramática do Japão, o teatro kabuki, refere-se em muitas peças ao suicídio dos samurais e também ao pacto de morte realizado entre amantes.

O suicídio de menores de idade também já é um problema sério. Muitas vezes eles são vítimas de maus-tratos dos colegas na escola, ou se sentem solitários pela extensa jornada de trabalho dos pais. Adolescentes de 13 a 17 anos estão combinando suas mortes pela internet. Em dezenas de sites, candidatos ao suicídio trocam idéias sobre os melhores locais e as maneiras mais rápidas e menos dolorosas de tirar a própria vida. Muitos passam da conversa à ação. Na maioria dos casos, as pessoas que se matam em grupo mantêm contato apenas pelo computador e só se conhecem na hora em que se encontram para morrer.

Entre os jovens de 20 a 30 anos, o suicídio é a maior causa das mortes no país. Entre os mais velhos, ter uma doença cujo tratamento possa custar caro à família é um fato que pode desencadear o suicídio. Entre os homens solteiros na faixa dos 40 anos, há os que se matam por solidão.

A floresta de Aokigahara, aos pés do Monte Fuji, no Japão, ficou conhecida por um fato mórbido. No século 19, Aokigahara foi um dos lugares onde as famílias mais pobres abandonavam crianças e idosos. Já no século seguinte, desde anos 50, mais de 500 pessoas entraram na floresta, também conhecida por Mar de Árvores, para cometer suicídio. Supostamente, tudo teria começado depois que Seicho Matsumoto publicou o romance Kuroi Jukai (O Negro Mar de Árvores), que termina com um dos personagens entrando na floresta para morrer. Desde então, cerca de trinta corpos são encontrados anualmente.

Nos anos 70, o problema ganhou atenção nacional e o governo japonês passou a organizar buscas anuais na floresta. Anualmente, cerca de 70 pessoas vão para Akigahara e nunca mais voltam. A forma mais comum de suicídio é por enforcamento. 

Como uma última tentativa de impedir os suicidas, as autoridades espalharam cartazes pela floresta com a seguinte mensagem: “Um momento, por favor. A vida é um dom precioso que seus pais lhe deram. Não guarde seus problemas só para você. Procure ajuda”.



Nos últimos anos, as autoridades japonesas vêm tomando medidas para desestimular os suicídios. Muitos prédios em Tokyo foram reformados para impedir o acesso fácil a amuradas que servem de trampolim. No metrô de Tokyo, instalaram-se barreiras para evitar que pessoas pulem nos trilhos, uma forma tão comum de suicídio que o governo cobra das famílias das vítimas os estragos feitos nos trens e nas linhas. Também no metrô foram colocados enormes espelhos que cobrem inteiramente as paredes das plataformas, com a intenção de dissuadir os que planejam a própria morte. Espera-se que, ao olhar o próprio rosto, os suicidas pensem duas vezes e desistam de seu intento. Nada disso, porém, tem freado as estatísticas que fazem do Japão o céu dos suicidas. 

Fontes: Boca Aberta e Veja

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Um comentário :

  1. Anônimo22/1/13

    Adorei conhecer esta faceta dos japoneses. De forma sutil tu colocaste a questão da cultura influenciando a decisão de viver ou morrer. Eu me pergunto: onde fica a situação do pecado quando acreditamos que a vida pode ser interrompida em função de um recomeço. Parabéns !

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