“… com as taxas de suicídios mantendo curvas ascendentes, continuamos como testemunhas, mas de um tipo muito particular: aquele que se recusa a ver o que ocorre à sua volta…” - Arthur Dapieve – “Morreu na contramão: o suicídio como notícia” – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.
A cada 40 segundos, um suicídio no mundo. Olho o relógio enquanto escrevo. No
prédio da dona Zeli, em Fortaleza-CE, Terra do Sol, uma mocinha de 23
anos jogou-se da janela do décimo andar. Às 7hs da manhã de uma
segunda-feira. Dentro das estatísticas oficiais, apenas mais um número
de morte prematura e voluntária.
“Ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar. Nada é fácil de entender” – Legião Urbana.
Embora
não se fale muito a respeito, criei uma página no Facebook, chamada
‘Suicídio nem pensar’ que conta – hoje – com 2226 participantes. Alguns
falam das suas intenções, das suas tentativas… e a maior parte diz: ‘tentei, mas não deu certo, graças a Deus’.
Os números do Suicídio
Dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, que é responsável por mais de 1 milhão de mortes anuais.
- 3.000 por dia.
- 1 a cada 40 segundos.
Faz mais vítimas que o somatório de mortes em guerras + violência urbana + homicídios em geral.
Um
problema que se alastra silenciosamente. A OMS – Organização Mundial de
Saúde – estima que este número possa chegar, até 2020, a 1,5 milhões
anuais. Porque os casos aumentaram em 60% nos últimos 50 anos,
principalmente nos países em desenvolvimento.
A
OMS calcula ainda que, por ano, de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o
suicídio. Embora as mulheres tentem com maior freqüência, os homens são
mais eficazes porque “recorrem a meios mais radicais do que as mulheres”, conforme estudos realizados por Lars Mehlum, professor de psiquiatria e suicidologia da Universidade de Oslo, Noruega.
Por que alguém recorre ao suicídio?
Para
a OMS, as causas podem ser são psicossociais, culturais e/ou
ambientais: a pobreza, o desemprego, a perda de um ente querido,
histórico familiar de suicídio, uso de drogas, isolamento social,
problemas de saúde como a depressão, a esquizofrenia…
“Os
números tendem a aumentar com a idade, mas tem havido um crescimento
alarmante de comportamentos suicidas de jovens entre os 15 e os 25
anos”, disse
Mehlum. E isso ocorre porque, segundo este, as expectativas de sucesso
do jovem hoje são maiores. E muitos não suportam o confronto dessas com a
realidade que enfrenta.
Talvez
isso seja verdade. O canadense Don Tapscott, expert em internet disse,
em entrevista à revista Veja de 13 de abril de 2011, que “os
jovens de hoje cresceram ouvindo que se estudassem com dedicação e não
se metessem em problemas teriam uma vida confortável na idade adulta.
Mentimos pra eles. Chegaram ao mercado de trabalho e não há emprego.
Esses jovens esperavam mais do que a realidade está lhe oferecendo”.
Estamos
na era da colaboração através da Inteligência Conectada. Na pesquisa,
para escrever sobre o assunto, encontrei o trabalho do jornalista Arthur
Dapieve, que menciono acima e corrobora com Mehlum e Tapscott. E soube
que Marx escreveu, em 1846, um texto nominado “Sobre o suicídio”. Segundo Dapieve, Marx baseou-se em um texto de “Jacques
Peuchet (1758-1830), exarquivista policial em Paris, entre outras
coisas, como jornalista e funcionário de ministério, e subscreveu as
opiniões dele sobre o assunto, apenas acrescentando, aqui e ali, suas
próprias palavras e reflexões. “Unidos”, o conservador francês e o
progressista alemão viram, em quatro casos de suicídio, três deles
cometidos por mulheres, a “coisificação” do ser humano na vida
burgueso-capitalista. “A classificação das diferentes causas do suicídio
deveria ser a classificação dos próprios defeitos de nossa sociedade”,
escreveu Peuchet, encampou e adaptou Marx…” –
Seja qual for a causa, o problema existe e precisa ser enfrentado.
Precisamos – órgãos públicos e sociedade civil – fazer algo além da mera coleta de números.
Como
método preventivo, o médico Américo Marques Canhoto repassou-nos uma
dica simples o objetiva que pode ajudar a salvar vidas: “Para
atenuar a tendência depressiva, procuro inventar motivos e metas para
levar o cotidiano; e começo a descobrir, a cada dia, que viver vale
muito; e que é preciso voltar a ser criança – SEM EMBURRAR” – http://americocanhoto.blogspot.com/
A partir do site Eco&Ação. Leia no original
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