FILME FRANCÊS TRATA COM LEVEZA A DEPRESSÃO


Mais do que falar sobre a depressão, o diretor Pierre Salvadori (de “Uma Doce Mentira”, 2010), que assina também o roteiro, mostra a crueza de uma crise que envolve seus protagonistas em “Um Pátio de Paris”.

Ele desenvolveu personagens que vivem à deriva, cujas perspectivas lhes foram roubadas, não apenas pela doença em si, mas por recusa de seus círculos íntimos de entender o que realmente ocorre. O filme estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.O primeiro, e o mais performático, é o músico Antoine (Gustave Kervern), que deixa carreira, esposa e literalmente o palco, para trabalhar como zelador de um condomínio parisiense. Afeito a bebidas e drogas (único meio que lhe permite dialogar com outras pessoas), vê ali uma oportunidade de se entregar aos poucos a um inevitável fim.

No entanto, lá conhece a aposentada septuagenária Mathilde (Catherine Deneuve), que começa, passo a passo, a perder a noção de realidade. Um trabalho, aliás, brilhante da atriz, que se entrega ao papel, mesmo perdendo sua aura de realeza francesa, como o fez em “Ela Vai” (em 2013). Tragicamente perdido em seus devaneios, seu marido Serge (Féodor Atkine) não percebe o gradativo estado depressivo ao qual ela se encaminha.

Como se a torta relação entre Antoine e Mathilde não bastasse, Salvadori ainda coloca no caminho Stéphane (Pio Marmaï), um ex-atleta, que vive enfurnado em seu apartamento consumindo heroína e outras drogas, saindo ocasionalmente para roubar bicicletas. O trio, aparentemente trivial, consome a si, tendo Antoine, que nunca consegue dizer não, como ponte.

Apoiado em seu elenco afinado, o diretor evita carregar demais nas dores de seus protagonistas, incluindo aí doses ocasionais de humor para abarcar de maneira leve o tema. Mesmo assim, não se trata de uma história de superação, mas sim uma bem-pensada, tecnicamente, forma de assimilação do que é a depressão, com estágios, sintomas e enfrentamentos muito diferentes.

Em determinado momento, Antoine (percebendo que há algo de errado com sua amiga) diz que precisa falar algo para ela, mas não sabe como. Na cena em que ela segura sua mão, entendendo a ele e a si mesma, Salvadori mostra uma sensibilidade social, tão marcante como a grandeza cênica, de quem pensa através de imagens e metáforas. É, enfim, um forte pensamento figurativo, comovente e, até, útil.

A partir do G1. Leia no original

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