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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL AUXILIA NA DEPRESSÃO

7/15/2013
Imagem : sxc.hu
Você sabia que acontecimentos positivos - como a promoção em um emprego, o início na faculdade ou até mesmo o nascimento de um filho - podem desencadear uma depressão? De acordo com Rodrigo Fonseca, fundador da Sociedade Brasileira de Inteligência emocional, as pessoas que não tem habilidade para lidar com os acontecimentos da vida são prejudicadas até quando conseguem alcançar objetivos e realizar sonhos.

“Imagine, então, para aquelas pessoas que não sabem como superar uma adversidade, como uma demissão, ou a morte de alguém próximo. E quantas pessoas passam por situações como essas todos os dias? Como evitar essa dor invisível, que hoje afeta mais de 350 milhões de pessoas em todo o mundo?”, indaga o especialista.

Para Rodrigo, muitos mais do que uma tristeza passageira, a depressão é uma tristeza que não tem fim e atinge uma em cada seis pessoas ao longo da vida. Em 2030 deverá ser a doença mais comum, que em função dos gastos com a população afetada, será a doença que mais produzirá custos econômico-sociais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Quais são as reais causas dessa doença que só cresce?

A interação entre fatores genéticos, ambientais e psicológicos podem levar a essa doença silenciosa. Porém, os fatores psicológicos funcionam como um gatilho para o transtorno vir à tona.

“Se você tem uma predisposição genética para a doença, mas é capaz de usar seus recursos emocionais para lidar com os acontecimentos da vida, para recuperar e estabilizar suas emoções cada vez que algo novo acontece, poderá evitar o início de uma depressão e de tantas outras doenças. O desenvolvimento da Inteligência Emocional, que é a somatória de habilidades que permite as pessoas administrarem melhor suas emoções e as adversidades da vida, pode ser uma prevenção para que esse gatilho não seja acionado”, explica o especialista.

Segundo Rodrigo, a depressão, como todas outras doenças, é uma tentativa do nosso corpo nos trazer consciência sobre algo que estamos vivenciando, e que está nos gerando uma dor emocional que, se não for compreendida e tratada, acarretará naturalmente uma dor física.

Para ele, hoje, a partir de toda evolução científica neste campo emocional, podemos afirmar que a depressão é uma espécie de "Programa Emocional" que foi desenvolvido e gravado durante a fase mais importante da vida de todo ser humano: a gestação. De acordo com as experiências vividas e interpretadas por nós enquanto éramos "fetos", mais tarde essas mesmas memórias são acionadas por fortes experiências emocionais (positivas ou negativas), fazendo uma pessoa que vivia aparentemente saudável, começar a sentir desde angústias incontroláveis até a própria perda da vontade de viver.

Outra fase significativa para o desenvolvimento da doença é a infância. Estudos afirmam que entre 30% das crianças que sofreram maus tratos na infância, sofrerão com depressão quando chegarem aos 20 anos. Os traumas são seguidos de dores e tristezas que uma pessoa pode carregar por toda a vida se não der a eles um novo significado. Ficam registrados e mais tarde são interpretados de maneira que pode ser tão prejudicial a ponto de uma pessoa achar que não merece viver, ou que merece sentir a dor para o resto de sua vida. Pensamentos como esses podem desencadear os sintomas da depressão, como uma sensação de vazio e melancolia, a falta de prazer e motivação e o excesso de negatividade.

“A depressão é uma doença de origem emocional, psicológica e ambiental. Vai muito além de fatores genéticos e alterações químicas cerebrais. Por meio de medicamentos, a ciência nos permite controlar a parte química e genética, mas somente através do desenvolvimento da nossa Inteligência Emocional assumimos o poder de controlar e evitar a doença”, diz o Fundador da Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional. Entre as dicas:

• Atribuir novos significados para memórias que são registradas em nosso inconsciente quando éramos fetos e/ou crianças é um dos grandes passos para evitar que sejamos influenciados por essas memórias ocultas, que podem nos assombrar até o final de nossas vidas.

• Aprender a superar conflitos, aceitar as mudanças e todas emoções, especialmente as "negativas", são outros pequenos passos que podem ser aprendidos com o desenvolvimento desta Inteligência, evitando que as mudanças naturais das nossas vidas nos impeçam de alcançar aquilo que realmente queremos: SER FELIZ.

A partir do site Segs. Leia n o original

QUANDO ME DISSERAM QUE ELE DESISTIU

7/14/2013
Imagem : sxc.hu
Quando me disseram que ele desistiu, eu pensei, "que seja". Não se pode fazer muita coisa senão dar de ombros numa situação como essa. Apesar do que dizem, a derrota, assim como a vitória, só podem encontrar sua verdadeira dimensão dentro do derrotado ou do vitorioso, e nós de fora somos pálidos espectadores, por mais que nos solidarizemos. Dor e alegria são muito pessoais; por mais que tentemos sinceramente, só conseguimos arranhar a superfície. E ele desistiu, me falaram, e muito pouco podia ser feito disso.

Naturalmente, eu precisava refletir a respeito. Até mesmo desci e fui pra rua e, como fazia sol, perambulei pelo calçadão à beira-mar. E me coloquei a pensar sobre o que significa, precisamente, desistir nesse contexto. Faria sentido dizer que o detento que foge da penitenciária "desistiu" da cadeia? Que o faminto, ao comer, "desistiu" da fome, ou que o doente, ao se medicar, "desistiu" da doença? Porque a questão é simplesmente esta: o que nos obriga a algo se, decididamente, não há motivo plausível para tal? Desistir me parece uma palavra muito equivocada. O errado, ao contrário, está em insistir, na cadeia, na fome, na doença.

Há que deixar a natureza fazer seu trabalho, a natureza, que engloba esse mar e esse sol. Mas a natureza nos deu livre-arbítrio, que é conspurcado pela culpa e toda castração que a religião nos deixou. Uma vez saciados, pedimos a conta: é de uma simplicidade tal que talvez choque. Mas por que continuar no jogo, se já não há prazer no jogar? Se as fichas já acabaram e a banca levou tudo? Talvez o segredo esteja em ter esperança de que a maré se reverterá na próxima rodada. Mas a vida escoa enquanto aguardamos o golpe de sorte que não vem.

Dito isso, de olhar o mar e o sol, me dei por satisfeito. Voltei ao cotidiano, mas não gostaria, jamais, que dissessem de meu amigo que se tratava de um covarde, por ter desistido. Não direi que, ao contrário, covarde seja quem insiste. Não chego a tanto. Mas me parece óbvio que encostar o aço frio na própria têmpora não é, decididamente, coisa para fracos.

A partir do Blog Escrita Vulgar. Leia no original

DEPRESSÃO AOS 50 AUMENTA RISCO DE ALZHEIMER

7/14/2013
A depressão, especialmente a não tratada, é fator de risco para a doença de Alzheimer da mesma forma que a pressão alta aumenta o risco de infarto. E esse risco aumenta consideravelmente nos casos de depressão após os 50 anos de idade. A conclusão é de uma meta-análise de 23 estudos envolvendo 50 mil pessoas publicada esta semana pelo British Journal of Psychiatry e que tem o brasileiro Breno Satler Diniz como um de seus principais autores. Diniz é colaborador do Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e professor adjunto do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo mereceu destaque no jornal The New York Times.

Imagem : sxc.hu
A pesquisa mostra que pessoas com mais de 50 anos com depressão têm chances 65% maiores de desenvolver Alzheimer e duas vezes mais risco de ter demências vasculares no futuro. Isso significa que 31 a cada 50 depressivos nessa faixa de idade podem ter Alzheimer e 36 a cada 50 podem sofrer de demência vascular.

“Não é uma relação de causa e efeito, mas uma associação importante,” afirma o pesquisador. “Depressão não é uma doença benigna que afeta apenas o humor, mas uma doença com consequências sérias”, alerta. A depressão eleva os níveis de cortisol, que age sobre o hipocampo, em áreas responsáveis pelo aprendizado e memória de curto prazo. Além disso, ela produz inflamação crônica que afeta os vasos sanguíneos do cérebro e reduz os níveis de fatores neurotróficos, substâncias que protegem os neurônios.

“Importante ressaltar que a depressão não é único fator de risco para essas doenças, mas é um componente de peso”, explica Diniz, destacando a necessidade de tratamento. O próximo passo da pesquisa é entender e detalhar como isso acontece e determinar que marcadores biológicos estão envolvidos no processo.

O estudo pode ser lido através deste link.

ALIMENTOS PERIGOSOS PARA A DEPRESSÃO

7/13/2013
Descubra quais são os alimentos que podem intensificar a depressão ou mesmo induzir a ela, segundo a nutricionista Gabriela Tais Passoni. Todos eles atrapalham o bom funcionamento cerebral, principalmente a comunicação entre os neurônios e, consequentemente, afetam o equilíbrio emocional. Apesar de não precisarem ser banidos da dieta, controlar a quantidade de ingestão é fundamental:

1. Álcool

Por gerar alterações fisiológicas no trato gastrointestinal, prejudica a absorção de nutrientes como as vitaminas do complexo B, vitamina D, além de interferir em seu metabolismo e aumentar a excreção de vitamina C, magnésio, zinco, selênio, podendo causar danos cerebrais. O álcool pode interferir no humor, sono e motivação, e também afetar a eficácia dos medicamentos para depressão.

2. Carboidratos

A depressão está relacionada com a inflamação e com o desequilíbrio entre glicose e insulina. Com ingestão de uma quantidade elevada de carboidratos, há o aumento do índice glicêmico, que por sua vez aumenta os níveis do triptofano, fornecendo um bem-estar passageiro. O consumo de carboidratos aumenta a liberação de citocinas próinflamatórias, e a inflamação do organismo tem uma relação direta com a depressão.

3. Açúcar

Em excesso, pode prejudicar o equilíbrio emocional, porque afeta a transmissão neurológica e reduz os níveis de fator neurotrófico, que é um fator de crescimento do neurônio. A consequência desse mau funcionamento cerebral também afeta os receptores de membrana da serotonina, considerada o hormônio da felicidade, podendo causar transtornos depressivos.

4. Carne vermelha

Quando cozida, a carne vermelha forma as aminas heterocíclicas, que são substâncias indesejadas produzidas durante a exposição de alimentos a altas temperaturas, e que prejudicam uma série de funções do organismo, entre eles o bom funcionamento dos neurônios. As carnes também são fontes de aminoácidos que competem com o triptofano no cérebro e com isso diminuem a síntese de serotonina.

5. Alimentos industrializados

Estes são os alimentos mais ricos em gorduras trans, que são tóxicas para os neurônios. Essa gordura estimula a produção de citocinas pró-inflamatórias, que gera resistência à insulina e um desequilíbrio dos ácidos graxos essenciais (ômega-3) nas membranas cerebrais.

A partir da Revista Viva Saúde. Leia no original

AFINAL, O QUE É A DEPRESSÃO ?

7/13/2013
As mulheres, por causas puramente históricas, sociais e culturais, são mais sujeitas à depressão, mas o quadro clínico é o mesmo para os dois sexos. Entenda o que é a depressão

Estima-se que entre 15 e 25% das pessoas podem ter uma crise depressiva pelo menos uma vez na vida, que precise de tratamento, segundo o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na população em geral, as estatísticas mostram que de 5 a 12% dos homens têm ou já tiveram depressão. Entre as mulheres o percentual é de 10 a 15%. “Elas, por causas puramente históricas, sociais e culturais, são mais sujeitas à depressão, mas o quadro clínico é o mesmo para os dois sexos”, define Miguel Chalub, professor do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo Christian Dunker, psicanalista e professor do Departamento de Psicologia Clinica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) é possível definir a depressão das seguintes maneiras:

Imagem : sxc.hu
É um estado psicológico que exagera, intensifica ou prolonga a resposta esperada para a perda, ausência ou indisponibilidade de algo ou alguém. Neste sentido a depressão é um luto patológico. É por isso que encontramos no quadro clínico da depressão os mesmos sinais do luto. “A depressão não é o luto e sua experiência de tristeza, mas a exageração, a intensificação, a suspensão, o bloqueio ou prolongamento, do luto, que por si só é um trabalho e uma disposição psíquica útil e necessária”, define Dunker.

É um tipo de funcionamento, ou seja, um modo de realizar um laço social e interpessoal com o outro no que diz respeito à separação, desligamento ou distância. Assim como no caso anterior, ela pode estar presente em situações específicas durante a vida, ou pode acompanhar de modo crônico os sintomas da neurose, da psicose ou da perversão. Elas podem se acentuar ou se atenuar ao longo da vida (em função de contingências particulares), mas sempre estarão presentes, como que à espreita do momento oportuno para se manifestar.

É uma condição que organiza e define as relações do sujeito com os outros, de forma fundamental e mais ou menos permanente. Neste terceiro caso, a depressão possuiria uma autonomia diagnóstica. É o tipo de depressão que alguns autores ligam à clássica melancolia, depois também chamada de psicose maníaco-depressiva, e atualmente associada aos quadros bipolares de tipo mais grave.

Como em todos os transtornos de humor, não existem causas bem definidas para a depressão. O desencadeamento das crises geralmente acontece como resultado da soma de múltiplos fatores, que podem variar de uma pessoa para outra, de acordo com uma maior ou menor tendência para desenvolver a doença. A predisposição genética, por exemplo, é um desses fatores e se define pelo funcionamento do cérebro. Nele existem os neurotransmissores, que são moléculas que levam o impulso nervoso entre um neurônio e outro. As mais importantes são a serotonina, noradrenalina e dopamina. A depressão se caracteriza pelo mau funcionamento dessa cadeia de comunicação. “Como se a mensagem ficasse solta no cérebro e não desse a sequência necessária para o vigor do dia”, explica Edna Maria Motta, psicóloga com atuação em psicanálise, professora de Psicopatologia e idealizadora do Instituto Crescendo em São José dos Campos (SP).

Parece mas não é

Muitas enfermidades podem apresentar sintomas semelhantes aos da depressão. As mais comuns são as doenças endócrinas, como hipotireoidismo e obesidade, vários tipos de câncer, doenças crônicas dolorosas, assim como algumas doenças neurológicas. Some-se a elas medicamentos específicos, utilizados com outras finalidades mas que, entre seus efeitos colaterais, podem levar a quadros de depressão. O psicanalista Dunker alerta que certos tipos de depressão estão associados com outras perturbações. Ele cita como exemplo o alcoolismo, casos de adoecimento como pós-acidente cardíaco, pós-isquemias, dor crônica como a fibromialgia, como o luto e dificuldades ligadas a momentos de vida como a menopausa ou gravidez.
A partir da Revista Viva Saúde. Leia no original

LIVRO ABORDA DOLOROSO CAMINHO DA DEPRESSÃO

7/10/2013

Lana Valentim. Foto: Divulgação
Em 2012, a jornalista e escritora Svetlana Valentim deu entrada em um pronto-socorro do Recife tomada pelo desespero. Com as pernas doloridas e inchadas, implorava para os médicos amputá-las. Hoje, ao olhar para trás, ela reconhece que os sintomas eram todos psicológicos, frutos de uma das várias crises depressivas sofridas ao longo da vida. Não por acaso, o último episódio veio à tona justamente quando Lana transformava as agruras do passado em bandeira contra as doenças sociais. O projeto começa a tomar corpo nesta terça-feira (28), com o lançamento de Caminhos de Lana - como venci a depressão (Carpe Diem, 200 páginas, R$ 35).

Por meio de textos escritos durante uma grave crise depressiva, a pernambucana revela as muitas facetas da doença e os caminhos possíveis para a cura. De um lado, estão poesias densas e obscuras, capazes de lançar luz sobre as dores, a falta de interação com o mundo e a impotência diante da enfermidade psíquica. Do outro, as crônicas caminham leves, serenas, e são quase didáticas ao encarar o problema como um desequilíbrio biológico que precisa ser tratado.

“Não escrevi pensando em fazer livro, e sim como uma maneira de interagir comigo mesma e com a vida. Quando estava em crise profunda, me isolava, não falava com ninguém, mal me alimentava. Perdi todo o contato com o mundo”, diz. Após a superação do problema, Lana Valentim decretou como missão de vida o combate aos males da alma. “Quero ajudar o máximo de pessoas que sofrem bastante e muitas vezes nem sabem qual o problema”.

Além da própria doença, Lana Valentim destaca o preconceito como outro vilão de relevância no contexto. Ela própria foi vítima, inclusive dentro de casa. “Você se transforma em um peso. Se antes era uma pessoa produtiva e de repente não tem mais condições de manter o ritmo, ninguém aceita ou entende. O preconceito parte da sociedade e dos amigos, que privilegiam os vitoriosos e se afastam de quem está mal. Isso é desumano”, critica a autora.

Simultaneamente ao lançamento no Recife, entra no ar o portal www.lenteinterior.com.br, para expandir ainda mais o debate acerca da temática. Em seguida, estão agendados eventos de divulgação em livrarias de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília e Salvador. Terminada a maratona, Lana vai lançar novamente o livro, desta vez no formato de história em quadrinhos. “O esforço é no sentido de alcançar todo mundo. Em HQ, teremos um apelo visual maior, e tornaremos a obra mais interessante”.

Ainda na agenda de divulgação do livro e da página na internet, estão palestras em escolas, abrigos e instuições para jovens infratores. “Quero falar também para adolescentes que desde cedo têm a alma machucada, massacrada. São abandonados pela família, cobrados pela sociedade, sofrem diante dos apelos consumistas… e acabam seguindo caminhos errados. Essas são vítimas da vida”. Todas as apresentações serão gravadas e disponibilizadas na internet.

A partir do Diário de Pernambuco. Leia no original

SAIBA MAIS
Outros livros que abordam o tema
  
Sociedade x a depressão (Letras do Pensamento, 184 páginas, R$ 29), Roberto Hristos Ioannou
Depressão e autoconhecimento (Dufaux, 235 páginas, R$ 42), de Wanderley Oliveira
Depressão - teoria e clínica (Artmed, 248 páginas, R$ 79), de Antônio Geraldo Da Silva
Vencendo a depressão (Nossa Cultura, 363 páginas, R$ 44,90), de Richard O'Connor

SUICÍDO, MODO DE EVITAR

7/09/2013
Imagem : http://www.sxc.hu/photo/558236
Prevista para este ano, a inclusão de uma categoria de comportamentos suicidas no novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 5, referência na área de saúde mental em todo o mundo, pode ajudar os médicos a quantificar melhor esse fenômeno, em especial as tentativas, cujas taxas podem ser 40 vezes mais altas do que as dos suicídios consumados.

Essa é a opinião do psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar "O Suicídio e sua Prevenção" [Unesp, 142 págs., R$ 18]. Ele afirma, em entrevista, que a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia são as três principais causas por trás das mortes autoinflingidas.

Estima-se hoje em 1 milhão o número anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Isso o coloca como uma das "três principais causa de óbitos em determinadas faixas etárias de vários países e em várias regiões do globo", escreve Bertolote. No livro, o psiquiatra traça um histórico sobre o tema a respeito do qual já se debruçaram teólogos, juristas, filósofos, sociólogos entre outros, e analisa, sob o prisma da saúde pública, suas causas no Brasil e no mundo.

Bertolote, 65, trabalhou por quase 20 anos na OMS (Organização Mundial da Saúde), onde chefiou a equipe de transtornos mentais e neurológicos. Uma de suas atribuições nesse período era auxiliar países a elaborar políticas de prevenção de suicídio. Hoje, ele é professor voluntário na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, na qual se formou em 1971.

Durante a entrevista, Bertolote fez um pedido: gostaria que fosse incluído neste texto o número do telefone do Centro de Valorização da Vida, o CVV: 141.

*  *  *

Como o sr. vê a inclusão da categoria de comportamentos suicidas no novo manual de psiquiatria?
José Manoel Bertolote - Vejo com bons olhos. Hoje há boas estatísticas de mortes por suicídio para cerca de dois terços do mundo, mas não há um registro centralizado de tentativas de suicídio. Se uma pessoa ingere um veneno e vai parar no pronto-socorro, o caso é registrado como intoxicação; se ela corta os pulsos, lesão cortante. A intencionalidade acaba nunca sendo registrada.

A inclusão de uma categoria de comportamento suicida é bem-vinda, pois vai permitir dar uma visão melhor desse quadro. Estudos mostram que a taxa de tentativa de suicídios chega a ser 40 vezes mais alta que a taxa de suicídios consumados.

Como o suicídio se tornou um assunto da medicina?

Até cerca de três séculos atrás, o suicídio era basicamente um problema teológico. O catolicismo considerava o suicídio um pecado grave, o islamismo considera até hoje o pior pecado, pois é a destruição da obra divina. Havia também o interesse de filósofos e, na Inglaterra e em vários outros países, o suicídio era considerado uma morte indigna. O direito o tratava como um crime contra o Estado.

Foi a partir dos séculos 17 e 18 que médicos passaram a se interessar pela questão do suicídio e a considerar que o suicídio tinha uma relação estreita com a saúde, porque eles julgavam que todo suicídio era um ato de loucura. E isso foi ganhando adesão com o tempo. No século 20, consolidou-se a ideia de que o suicídio é um problema de saúde e, sobretudo, de saúde pública.

Há relação entre suicídio e doença?

O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. Na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social de distribuição irregular na sociedade. Mas há estudos em todo o mundo que mostram que, por trás de grande parte das mortes por suicídio, existem doenças.

A maioria dessas doenças são mentais, mas há também uma grande associação entre suicídio e doenças incuráveis e dolorosas. A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal. As doenças mais associadas ao suicídio são a depressão, o alcoolismo e, um pouco atrás, a esquizofrenia.

Quais são os limites da prevenção do suicídio?

Não acredito que o suicídio possa ser erradicado, pois é um fenômeno humano que existe desde sempre. Há, por exemplo, uma porcentagem de suicídios por trás da qual, por mais se investigue, não se encontra uma doença ou causa clara.

Durkheim, em sua tipologia de suicídios, fala do suicídio altruísta [situação em que um indivíduo está tão conectado a sua comunidade, que abdica de sua individualidade, acreditando que sua morte pode trazer benefícios para a sociedade]. Como é que se vai prevenir isso? Não há o menor sentido. Não é disso que a prevenção do suicídio se ocupa. A prevenção se ocupa dos casos considerados evitáveis, porque decorrentes de um fator que poderia ser removido [como o alcoolismo].

Um dado importante e comprovado é que a maioria das pessoas que tentam o suicídio não quer morrer. São pessoas que querem mudar uma situação, escapar de um problema e, às vezes, a situação é tão tantalizante que a pessoa não enxerga outra saída. Há estudos com pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio por um método muito letal e estão próximas de morrer. Elas são entrevistadas nesse momento. A imensa maioria fica desesperada quando percebe que vai morrer e que é irreversível.

A mídia deveria ter um papel nessa prevenção?

A mídia tem um grande papel na prevenção do suicídio. Há um mito de que não se pode tocar no assunto nos jornais. A imprensa pode ajudar ou atrapalhar de acordo com a forma que trata o assunto. Abordar o tema com sensacionalismo, promovendo o ato, explicando métodos etc. só atrapalha, já que sempre existe, em toda população, um certo número de indivíduos suscetíveis. Agora, abordar de uma maneira potencialmente educativa ajuda, sem dúvida.

O que o sr. acha de grupos como CVV e Samaritans [fundação inglesa aberta em 1953 dedicada à prevenção do suicídio]?

Eu já trabalhei com CVVs e Samaritans de vários países do mundo e tenho muita admiração pelo trabalho deles. Um ponto importante a ressaltar é que eles não fazem só a prevenção do suicídio; seu grande mérito é auxiliar uma pessoa em crise. Eles conseguem solucionar uma crise que talvez hoje não fosse suicida, mas que, pela falta de perspectiva, poderia evoluir para uma crise suicida. Penso que eles deveriam ser estimulados pelas autoridades sanitárias.

Como é o suicídio entre as populações indígenas?

As taxas de suicídios em populações indígenas são as mais altas em qualquer país do mundo, segundo estudos. Isso se explica com fatores sociológicos. Em geral populações indígenas são marginalizadas, pobres. Além disso, cada vez mais se identifica nessas populações indígenas o álcool como um fator desagregador, desestabilizador, causando conflitos e levando ao suicídio.

O álcool que havia em populações tradicionais indígenas brasileiras era o cauim, uma bebida de rituais, com baixo teor alcoólico; aí, de repente, eles pegam a cachaça, que tem um teor alcoólico altíssimo. E isso se agrava, pois as populações indígenas da América são de origem asiática, e é muito comum entre os asiáticos uma alteração genética que dificulta o metabolismo do álcool. Juntando todos os fatores, temos uma situação muito trágica numa população pequena de índios.

Pode-se falar de um luto diferente para os parentes de um suicida?

O luto de uma perda inesperada, sobretudo por uma forma inaceitável, é um luto mais complicado que o luto "normal". O suicídio sempre desperta nos que ficam no mínimo dois sentimentos: culpa e raiva. Isso causa um mal-estar tão grande que chega a ser um fator de risco de suicídio. São relativamente comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar.

Há um importante movimento internacional de sobreviventes, chamado Survivors, fundado por um casal americano que perdeu sua única filha pelo suicídio. Eles se aproximam de famílias em luto para conversar, compartilhar experiências. O resultado é o desenvolvimento de uma solidariedade intragrupal e o sentimento de solidariedade e responsabilidade pelos outros.

Entre 1980 e 2008 a taxa de suicídios de homens brasileiros quase dobrou. Quais são as possíveis explicações para isso?

Foi um aumento muito localizado, em jovens de 16 a 25 anos. O que vou dizer agora é mais uma impressão do que uma afirmação científica. Duas coisas que afetam particularmente esse grupo aconteceram nesse período: por um lado, houve uma explosão do número de usuários de drogas; por outro, houve a reforma psiquiátrica que fechou radicalmente o número de leitos psiquiátricos. Esses leitos foram fechados no momento em que o aumento dos usuários de drogas pedia um número maior. A sociedade nesse período também se tornou mais violenta. Na mesma época, houve aumento do número de homicídios, especialmente entre os jovens.

O que se sabe sobre as bases genéticas do suicídio?

Essa é uma área pobre de resultados. Eu, particularmente, acho muito improvável que alguém encontre o gene do suicídio. O que se sabe é que existem genes da violência. Nos indivíduos com alto risco de violência, isso pode se expressar como um suicídio dramático ou como um homicídio. Casos de pessoas que pegam uma arma, matam vários e depois se matam certamente envolvem pessoas extremamente violentas.

Uma grande dificuldade é que grande parte dos estudos genéticos é feito com gêmeos. Suicídio é um evento relativamente raro; encontrar gêmeos não é tão comum; e encontrar gêmeos nos quais um se matou e outro não é mais difícil ainda, o que torna as análises estatísticas muito pobres. O suicídio é uma coisa muito mais complexa do que pode ser expressada por um gene.

Como o sr. vê o direito ao suicídio?

Eu sou um pouco antiquado, acredito no juramento de Hipócrates, que diz que a tarefa principal do médico é preservar a vida. Claro que existem limites nos quais a preservação da vida não tem mais sentido. Filosoficamente, eu consigo entender alguém que, em plena posse de suas faculdades mentais, queira se matar; medicamente eu não tenho meios de justificar isso.

Vejo o direito ao suicídio com ressalvas, mas sempre fica a pergunta incômoda: quem sou eu para dizer a alguém aparentemente consciente dos seus atos e que quer se matar que ele não deveria fazer isso?
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no Original
 
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