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SUICÍDIO DE DOUTORANDO LEVANTA DEBATE SOBRE ESTRESSE ACADÊMICO

10/27/2017

Prazos apertados, pouco dinheiro, pressão para publicar artigos, carga de trabalho excessiva, cobranças, solidão. A vida de quem está na pós-graduação não é fácil.


Esses fatores não só trazem dificuldades pessoais e sociais àqueles que optam por seguir carreira acadêmica como também podem gerar consequências graves, como níveis altos de estresse, depressão, ansiedade e outros transtornos.

"É uma questão sobre a qual ainda se fala pouco, embora o mestrado e o doutorado tenham, sim, características que podem desencadear problemas psicológicos ou psiquiátricos", diz Tânia de Mello, coordenadora do Serviço de Assistência Psicológica e Psiquiátrica ao Estudante da Unicamp.

Em alguns casos, essa combinação pode levar a atos extremos. Há cerca de dois meses um aluno de doutorado do Instituto de Ciências Biomédicas da USP se suicidou no laboratório no qual trabalhava.

Deixou, numa lousa que havia no local, uma mensagem em que dizia estar cansado de tentar, de ter esperança, de viver. O texto terminava com a expressão em inglês "I'm just done" ("para mim, chega", em tradução livre).

Segundo colegas, ele estava próximo da qualificação (exame crucial que precede a defesa da tese) e vinha enfrentando problemas em sua pesquisa. "Ele estava travado. O doutorado dele parecia que não ia", disse um amigo que pediu à reportagem que não o identificasse.

Para Eduardo Benedicto, coordenador do Centro de Orientação Psicológica da USP de Ribeirão Preto, é preciso levar em conta as especificidades de cada caso, mas, algumas situações da pós, sobretudo em indivíduos mais suscetíveis, podem contribuir para o estudante achar que não tem saída e desencadearem, por exemplo, um quadro de ideação suicida.
Mello lembra que as áreas experimentais –como a do estudante que morreu– trazem um complicador a mais. "Às vezes um equipamento quebra, um reagente não chega e o trabalho fica parado. Estar sujeito a circunstâncias que não dependem de você é angustiante."

CRISES DE PÂNICO

Mesmo quando não está ligada a uma situação tão trágica, a rotina às vezes brutal da pós pode causar prejuízos.

Rita (nome fictício), 32, nunca havia tido nenhum transtorno psiquiátrico até entrar na pós, há cinco anos. A carga excessiva de trabalho levou a estudante, hoje doutoranda no Instituto de Biologia da Unicamp, a enfrentar problemas desde o mestrado.

"Eu recebi logo de cara muitas responsabilidades e comecei a achar que não daria conta, que era uma impostora. A impressão que eu tinha era a de que esperavam de mim mais do que eu poderia dar. Cheguei a pensar em suicídio."

Após buscar ajuda psicológica e psiquiátrica –dentro e fora da universidade–, Rita superou a crise e conseguiu concluir o mestrado.

No doutorado, os problemas reapareceram. As responsabilidades se tornaram ainda maiores e os prazos mais apertados. "Eu entrei em desespero. Tive crises de pânico. Sofria com insônia e não conseguia levantar de manhã."

Os sintomas, hoje, estão sob controle, mas Rita conta que a doença deixou sequelas. "Terminei o mestrado há três anos e até hoje não consegui abrir a minha dissertação".

Segundo a estudante, problemas como o que ela enfrentou são encarados, dentro do ambiente acadêmico, como uma fraqueza. "Te tratam como se você não estivesse aguentando a pressão, não tivesse maturidade para o curso".

As dificuldade a fizeram ainda repensar sua situação profissional. "Por mais que eu goste das coisas que eu estudo, tenho sérias dúvidas, não sei se devo continuar num meio que me machuca."

ORIENTADOR

Uma das figuras centrais para todo aluno da pós-graduação é o orientador, o professor incumbido de ajudá-lo a concluir a tese e prepará-lo para a pesquisa acadêmica.

Para Benedicto, seria importante que os orientadores estivessem atentos às dificuldades de seus alunos. "Verificamos, porém, que poucos têm essa perspectiva. Em geral, eles enfatizam a produção do estudante e o pressionam para que atinja os resultados esperados".

Mas o oposto, isto é, o orientador ausente, pode ser tão prejudicial quanto o exigente demais. "Eu escuto muitos alunos angustiados porque queriam alguém que lhes desse um cronograma de atividades, um prazo para fazer as coisas", diz Tânia de Mello.

"Não se trata de transformar a figura do orientador num terapeuta, mas me parece fundamental que ele tenha sensibilidade às características de cada aluno", diz Benedicto.

CRISE ECONÔMICA

As incertezas quanto ao futuro profissional, que acompanham quase todo estudante de pós-graduação, tornam-se ainda mais agudas num momento de crise como o atual, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem.

Neste ano, os recursos para a ciência, que já vinha em rota descendente, foram cortados em cerca de 40%, tornando-se os menores em mais de uma década.

Além disso, as universidades federais têm reduzido drasticamente as obras, atividades de pesquisas e concursos para novos docentes.


Do R$ 1,5 bilhão inicialmente previsto no orçamento para as federais investirem –valor um terço menor do que 2016–, apenas 60% foram liberados até o momento.

"Vejo os estudantes mais ansiosos diante dessa política de cortes. As agências de fomento têm restringido as bolsas e isso os afeta diretamente, inclusive o próprio envolvimento com o trabalho. Isso também os deixa com uma perspectiva pessimista em relação às possibilidades da carreira acadêmica", diz Eduardo Benedicto, psicólogo da USP de Ribeirão Preto.

Tânia de Mello, psiquiatra da Unicamp, vai na mesma linha. "Percebemos no atendimento ao estudante como a conjuntura econômica os deixa ansiosos e angustiados".

Trata-se de uma situação enfrentada pela pesquisadora Luciana Franci, 31, que hoje faz pós-doutorado –atuando como pesquisadora– na Universidade Federal do Paraná.

Franci, especialista na área de biologia vegetal, conta que, embora não tenha tido maiores problemas durante o doutorado, teve crises graves de depressão e ansiedade após o término do curso, em fevereiro de 2016.

"Bateu aquela incerteza sobre o que eu faria a seguir, já que os concursos nas universidades estavam parados e as bolsas de pós-doutorado não estavam sendo concedidas. Tive uma sensação de estagnação, de ter perdido tempo fazendo doutorado".

Ela diz que, então, teve de voltar por um período para a casa dos pais e caiu em depressão profunda, sem conseguir sair de casa ou conversar com as pessoas por semanas.

Hoje, contudo, está melhor. "Estou fazendo um tratamento com psiquiatra há mais de um ano."

A pesquisadora conta que a desolação quanto ao futuro é muito comum entre seus colegas. "Não temos perspectiva de que o cenário vá melhorar nos próximos anos. Vejo muita gente na pós-graduação se perguntando 'para onde isso vai?', ' o que vou fazer depois?'".

Tânia de Mello aponta que existe muita oferta e estímulo para estudantes cursarem a pós-graduação, mas que não se está parando para pensar nas perspectivas da carreira acadêmica.

ESTATÍSTICAS

Apesar da importância do tema, há poucas pesquisas sobre a influência da pós-graduação sobre a saúde mental dos estudantes. Uma delas foi feita com alunos da UFRJ e publicada em 2009 no periódico "Psicologia em Revista".

Após entrevistas com 140 estudantes de todos os centros da universidade carioca, os pesquisadores concluíram que 58,6% dos alunos apresentavam níveis médio e alto de estresse.

Um estudo publicado neste ano na Bélgica com quase 3.700 estudantes de doutorado mostrou que um terço deles estava sob alto risco de desenvolver uma patologia como a depressão. A taxa, segundo a pesquisa, é mais do que o dobro da apresentada por grupos de comparação fora da universidade.

Tânia de Mello diz que, embora seja difícil extrapolar tais resultados para os estudantes daqui, todos os fatores considerados no artigo como debilitadores da saúde mental do aluno de doutorado estão presentes na realidade brasileira.

Ela acrescenta ainda um dado a mais que compõe o quadro nacional: "a vulnerabilidade socioeconômica de alunos que não têm as bolsas aumentadas há anos".

O governo federal paga, desde 2013, R$ 1.500 para estudantes de mestrado e R$ 2.200 para os de doutorado, por sua dedicação exclusiva à pesquisa.

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
Imagem :  Pexels

CARTA DE DESPEDIDA

10/24/2017
Reprodução
Esse texto do vídeo (reproduzido abaixo) é a história verídica de Thalia Mendes Meireles, de 16 anos, que sofreu abuso sexual durante dois anos. A jovem recorreu ao suicídio no início da noite do dia 14/04/2017, na cidade de Monção (MA). Na carta de despedida, ela relata o suposto abuso sexual e afirma que a mãe a tratava de forma fria. Thalia informa ainda que já havia tentado suicídio em outras ocasiões. Em depressão, a adolescente se isolou do mundo recorrendo às drogas, automutilação, sem que os familiares percebessem.
* * *



"Eu sei que a decisão que eu tomei foi totalmente desqualificada e imoral. Quem diabos é para tirar a própria vida?
Mas eu posso dizer uma coisa:Pra que serve o livre arbítrio? A vida é minha, a essência é minha. Respeitem.
As pessoas passam a vida inteira julgando tudo que vêem. Jogam palavras que não voltam, olhares que machucam, rejeitam, maltratam, usam. Isso dói, tá legal? O ser humano vai guardando isso dentro de si até formar uma grande bola prestes a explodir. Você pode ver uma pessoa sorrindo, parecendo feliz, mas não se engane, sempre há coisas além.
Por isso somos cegos. Nunca vemos além.
Aquela menina sentada de cabeça baixa tá precisando de ajuda. Mas o que as pessoas fazem? “Fulana está na bad”. Que sociedade maldita. Como se tristeza fosse algo irrelevante, que nao precisa de atenção. Idiotas. Quando é tarde eles se perguntam o que tinha de errado. Pais que não vêem seus filhos se cortando, se drogando, se destruindo. Escolas que não vêem o bulling debaixo do seu nariz. Pais que estrupam os filhos, mães que humilham, irmãos que rejeitam. Malditos. Malditos.

Eu não queria morrer. Eu penso que tenho um futuro pela frente. Eu sei que tenho.
Tudo isso acima faz a mente humana enlouquecer, sabia? Ela definha, fica angustiada e cheia de coisas inexplicáveis, pensamentos perigosos. Você vê no jornal aquele jovem que matou inúmeros estudantes e julga. Já parou pra pensar o que levou ele fazer aquilo? Será que não foi a hipocrisia e idiotice da sociedade? Essa sociedade que nos coloca em um lugar durante anos, em total humilhação e depois quer escolher um futuro pra nós. Ninguém nunca vê. Até que é tarde. Tnho mais amigos para fazer, mais músicas para escutar, mais pessoas para namorar, mais shows para ir. Tanta coisa. Mas sabe o que eu e outras milhões de pessoas pensam sobre isso? “Eu não tenho força de vontade para continuar. Eu não sou forte, eu não consigo seguir em frente sem derrubar mais uma lagrima”.

Ela era uma mãe tão atenciosa, o que aconteceu? Porque ela ficou tão alheia? Porque ela demonstra amar mais a meu irmão? Porque ela não me ama? Porque ela não me abraca e me beija assim como ela faz com meu irmão?
Sejam mais gentis, por favor. Amem mais, ajudem mais, vêem mais, peguem na mão de pessoas que estão se afogando. Dê sua mão. Dê um sorriso. Eu tenho inúmeros motivos para ter feito o que fiz. Meu próprio pai me abusou e foi por isso que eu morri por dentro. Eu fui morrendo durante dois anos. Fui vendo minha morte sem poder fazer nada a respeito. Quantos cortes eu não fiz? Eu até apelei a drogas, o que não resultou em nada. Meu pai iniciou a destruição. Minha mãe me tirou minha rotina e passou a assistir tudo em total inconsciência. Eu sei que ela via, mas quem disse que ela percebia? Porque ela me humilha por causa de um erro tão pequeno? Porque ela não pergunta como foi meu dia na escola? Porque ela não quer saber o motivo de eu estar tanto tempo trancada no quarto? Porque ela não pergunta o motivo de eu usar tanta blusa de manga comprida?

Eu irei deixar muita coisa no mundo e o mundo ira perder muita coisa. Eu sou diferente. Eu sou uma daquelas pessoas que os outros precisam .
Ela ta deixando eu morrer sem fazer nada. E eu não quero as lágrimas de meus pais. Eu sentiria nojo delas. Eu sentiria nojo porque eu passei a odiar meu pai e odiar minha nova mãe. Porque eu ainda amo aquela mãe que me abraçava e me beijava. É como se ela não me amasse mais porque fui usada pelo meu pai, como se ela sentisse nojo de mim. Sim, ela sabe do abuso, mas jogou pra debaixo do tapete. Assim como aquela maldita escola em que eu passei os piores momentos da minha vida. Eu ja tentei suicídio outras vezes. E isso e é horrível, porque eu já sei a sensação. Pensar em suicídio é uma coisa, mas planejar e ir no ponto é outra. Dá aquele aperto no peito, aquela sensação de frio na barriga. “O que acontecerá depois disso?” Eu não acredito em deus, eu creio que depois disso não há nada. Mas enfim, fazer isso é difícil. Eu sou muito covarde. As vezes acho que sou hipócrita porque eu vejo pessoas depressivas e vou ajudar, dar conselhos, tirar a pessoa daquela situação. Mas eu não faço isso comigo. Porque não dá mais. Droga, eu queria tanto ficar aqui. Porque ninguém me ajudou antes?

E quando forem se lembrar de mim, pensem em uma Thalia verdadeira. Aquela feliz que vocês viam era total mentira.
Ontem vi pessoas dizendo que a série 13 Reasons Why influência jovens a se suicidarem. Mas eu não acho isso. Eu Estava planejando tirar minha vida a meses e essa serie só fez eu parar e pensar: Estou prestes a fazer algo muito idiota”. Sim, eu tinha desistido de tirsr minha vida por causa de uma série, mas depois algo mudou. Eu voltei com a decisão . Então eu digo: Eu não me matei porque uma serie me influenciou, não pensem isso . Eu me matei porque eu não aguentava mais existir assim. Eu ja estava morta, o que mais eu serviria nesse mundo? Uma garota totalmente sem essência, sem nada por dentro. Já imaginou um oceano no meio da tempestade? O céu escuro? É assim dentro de mim. Mas tudo silencioso. Tudo muito destruído e silencioso. Tudo muito angustiante e doloroso. É dificil acordar de manhã e pensar: “Mais um dia em que irei ter lembranças más” “Mais um dia ao lado de pessoas que não me amam, que me odeiam””Mais um dia sentindo uma imensa vontade de chorar em todos os momentos” “Mais um dia desejando morrer” Então eu quero pedir que sejam mais tolerantes. Depressão não e é frescura. Não neguem ajuda a aqueles que estão angustiados, no fundo do poço. Adeus"

Thalia Mendes Meireles

YOUTUBER DIZ QUE CONVIVE BEM COM A DEPRESSÃO

10/24/2017
Ele é o terceiro youtuber brasileiro que mais tem inscritos em seu canal (cerca de 13 milhões), mas odeia preparar o ambiente para gravar seus vídeos. Tem 1,80m, mas muita gente pensa que ele é baixinho. É super parceiro do irmão, mas já ficou quatro meses sem falar com ele por causa de uma briga. Faz caras e bocas em seus vídeos, mas se recusa a falar com voz de neném com a namorada. Tem depressão. Faliu quatro negócios antes de fazer sucesso. 

Essas e outras curiosidades sobre Felipe Neto, 29, estão reunidas no livro "Felipe Neto - A trajetória de um dos maiores youtubers do Brasil", que foi lançado na Bienal do Livro do Rio de 2017.

"Decidimos chamar de livrão porque é mais  que uma revista e menos  que um livro. É uma espécie de almanaque, atrativo para todas as faixas etárias. Tenho atualmente um público muito abrangente, que inclui crianças, adolescentes e adultos", diz.

Origem humilde

Antes de estourar como youtuber, Neto morou com a mãe, com a avó e com o irmão numa casa no Engenho de Dentro. No livro, ele compartilha memórias da época em que vivia na zona norte da capital fluminense. 

"Cresci vendo a minha mãe administrando dívida atrás de dívida e, mesmo assim, nos deu uma educação exemplar., sempre reforçando a importância dos bons valores. Falávamos muito que não tem problema ser pobre, o problema é ser mau-caráter. Ela nunca nos deu a visão de que o dinheiro é a coisa mais importante da vida”, relata, em uma passagem da obra.

Depois, o youtuber morou por cinco anos em um apartamento no Flamengo, zona sul do Rio. Há um mês, mudou-se para a atual casa, localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. 

Da revolta aos cabelos coloridos

O sucesso repentino de Felipe Neto veio quando ele tinha 22 anos e criou o canal "Não Faz Sentido", em 2010. Com óculos escuros, ele fazia críticas agressivas sobre diversos assuntos em seus vídeos.

Depois, fundou a produtora de vídeos on-line "Parafernalha", que acabou lhe afastando da produção de conteúdo do canal por três anos. Em 2015, vendeu a produtora e quis voltar com o canal, mas ele já não fazia mais sucesso como antes. Era hora de mudar.

Em 2017, resolveu fazer um reposicionamento de imagem e se despedir de vez do personagem revoltado que encarnava em seu antigo canal. “[...] Bethany Mota foi a maior influenciadora do YouTube durante muito tempo, até que decidiu sumir um pouco e, ao retornar, nunca mais conseguiu se reestabelecer. Como ela, todos os outros youtubers no mundo  que tentaram voltar depois do sucesso, falharam", diz Neto.

Ele  conta que não havia mais espaço em sua vida para um conteúdo de crítica e revolta. A nova fase do youtuber girava em torno de paz, amor e tranquilidade. "Queria mostrar isso para as pessoas."

Atualmente, o canal de Neto é o sétimo mais assistido no mundo e o primeiro no Brasil --ambos na categoria humor--, com 160 milhões de visualizações por mês. A cada um milhão de inscritos, ele muda a cor do cabelo, que já foi platinado, azul, rosa, multicolorido, verde e vermelho.

Depressão

O sucesso repentino do youtuber fez com que ele desenvolvesse depressão em 2010. "Não tive um sucesso gradativo. Fiquei com medo de perder aquilo que conquistei, de fazer vídeo ruim, de não ser bom o suficiente. Imagina: um dia você está 'de boa' na casa da sua mãe, sendo designer gráfico, e dois meses depois você é expulso de um shopping pelos seguranças, por causa da muvuca que causou."

Neto contou com a ajuda do pai, que é psicólogo, para lhe ajudar. Atualmente, convive bem com a depressão, mas ressalta a importância de colocar o assunto em discussão, para desestigmatizá-lo.

Leitor compulsivo

Felipe Neto é apaixonado por livros. Não cursou faculdade, mas é autodidata. Ele conta que, atualmente, está apaixonado por literatura do século 19, mas lê sobre diversos assuntos, como marketing, negócios e games.

"Eu sou um péssimo aluno. Sempre funcionei muito mal tendo que aprender com alguém me ensinando, e isso me fez buscar alternativas para aprender sozinho. Sou autodidata, mas não no sentido 'gênio' da palavra. Eu aprendo com literatura. Não tenho faculdade mas leio compulsivamente."

Seu horário preferido para ler é durante a madrugada. Este é o horário em que ele está mais "ligado". Não é à toa que acorda ao meio-dia e dorme por volta das 4h30. 

A partir do F5. Leia no original
Imagem : Wikipédia

APÓS 3 CIRURGIAS NO CÉREBRO, GAROTA LANÇA LIVRO E PLANEJA FESTA

10/09/2017

Heloíza Maria Carmona Santos, 14, nasceu com hidrocefalia grave, e o diagnóstico era de que, se vivesse, poderia ser em estado vegetativo. Já fez três cirurgias para implantar válvulas no cérebro e hoje vive sem sequelas. Sem condições financeiras, organizou vaquinha on-line para colocar no mercado um livro, cuja renda ajudaria em sua festa de 15 anos. A arrecadação superou a meta e ela ganhou quase tudo para a festa.


*     *     *

Minha luta pela vida começou quando eu era bem pequenininha, logo que nasci. Com 12 horas de vida passei por uma cirurgia delicada para implantar uma válvula no cérebro. Ela drena a água que se acumula na minha cabeça, devido à hidrocefalia, e ajuda a me manter viva. A cirurgia era de risco, eu poderia ficar com sequelas graves ou em estado vegetativo.

Nada disso aconteceu. mas, em 15 dias, o aparelhinho deu problema e novamente fui parar no centro cirúrgico. Uma nova válvula teve que ser implantada. Não lembro como foi, mas sei que minha mãe sofreu muito e fez de tudo por mim.
De lá para cá eu levo uma vida normal, os meus "defeitinhos" não me impedem de fazer nada. Vou para a escola, brinco com meus amigos e meu irmão. Em casa tenho minhas responsabilidades. Sou eu quem cuido do Max, o cachorro, e também tenho que lavar a louça todos os dias, apesar de não gostar.

Sou apaixonada por ler e escrever. Amo os gibis da Turma da Mônica! E foi a partir daí que surgiu meu gosto pela escrita.
Quando eu tinha nove anos, um jornalista amigo da minha mãe me viu escrevendo e quis ler a minha crônica. Ele gostou tanto que me convidou para escrever para o jornal dele e uma vez por mês um texto meu é publicado.

Estava indo tudo muito bem, eu tinha uma vida como qualquer outra criança da minha idade, quando mais uma vez fiquei entre a vida e a morte.

No início do ano passado comecei a passar mal, desmaiava na rua e sentia dores muito fortes num dos braços. Não queria acreditar, mas minha válvula estava dando problema de novo e eu teria que trocá-la. Mais uma vez eles iam "abrir" a minha cabeça. E lá fui eu para o hospital.

Me internei e em poucos dias já passei pelo procedimento. Não é nada legal ficar no hospital, era tanta medicação que eu ficava enjoada e não conseguia comer. Era só biscoito de polvilho e iogurte. Vendo a situação, um médico bonzinho me deixou comer um lanche. Foi uma alegria só.

Sabia que a cirurgia era complicada e que eu tinha 50% de chance de vida. Poderia voltar sem falar, andar, em estado vegetativo ou até mesmo não voltar.

Na madrugada que antecedeu o procedimento, acordei às 3h com a enfermeira me dando medicação. Pedi para falar com minha mãe, ela não queria me ouvir, mas insisti.

Falei em seu ouvido, bem baixinho: "mãe, se eu voltar da cirurgia sem conseguir falar quero que você saiba que eu amo muito vocês e nunca vou esquecer tudo o que vocês fazem por mim. E, se eu não voltar, vou pedir muito para Deus me enviar de novo nessa família, porque eu sei o quanto sou amada. Minha mãe chorou".

Fiquei três dias sem sentir as pernas, pensei que iria usar uma cadeira de rodas, mas, mais uma vez, contrariei as expectativas e me recuperei bem. Saí de mais essa sem sequela, estou mais forte do que nunca.

Deus tem o controle de tudo e acredito muito nele. Ele é muito bom e se eu estou aqui até hoje é porque ele ainda não quis desligar o botãozinho que me mantém viva. Só tenho que aproveitar e agradecer. A gente não pode ficar reclamando de um negocinho pequenininho que não está dando certo. Tem gente que tem problemas muito maiores. A gente tem que ser feliz.

15 ANOS

Sempre sonhei com uma festa de 15 anos. Não precisava ser algo grande, só queria dançar a valsa. Mas, como não temos condições financeiras, iria comemorar apenas com um bolo. Eu estava feliz, mas ainda queria dançar a minha valsa. Foi aí que tive a ideia de juntar os textos que escrevia para o jornal e lançar o livro "O Sol que Brilha em Torno de Mim", com 40 crônicas sobre assuntos como política, cultura e coisas do dia a dia.

Contei a ideia para minha mãe, que aceitou o desafio e, com a ajuda de uma amiga, lançamos uma vaquinha on-line. Queríamos arrecadar R$ 5.000 para fazer e lançar o livro e, com a venda dele, eu poderia então pagar a minha própria festa de 15 anos, que vai ser no dia 20 de outubro.

O resultado nem eu esperava, mesmo. O assunto foi ganhando força e já arrecadamos mais do que pretendíamos. E ganhamos quase tudo para a minha festa. Nem nos meus sonhos mais fofinhos eu imaginaria que tudo seria assim.

A VALSA

Eu vou poder dançar valsa, e o príncipe que vai me acompanhar nesse momento já está escolhido, é o Álvaro, um menino da minha escola. Ele tem Síndrome de Down, começou a estudar comigo no começo deste ano e nos tornamos muito amigos.

Eu até poderia escolher um amigo de infância, alguém que eu conheço há mais tempo, mas o Álvaro me cativou. Ele é muito especial, ele preza pelo respeito ao próximo, trata todos muito bem, é um verdadeiro príncipe. Não tinha como não ser ele.

O LIVRO

O dinheiro da vaquinha vai ajudar no lançamento do meu livro, que deve acontecer em outubro. Ele já está pronto e foi levado para a gráfica. A procura já está grande, tem muita gente ligando pedindo para encomendar. Serão feitos 1.000 exemplares e torço para que todos gostem.

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
Imagem : Reprodução
 
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