CONVERSA DE AMIGO: O SENTIDO DA VIDA

Escrevo hoje sob o efeito da dor. Soube há pouco que um amigo, e mais que amigo: pai de estudante universitário, espírita desde a infância, profissional competente, pessoa agradável e aparentemente equilibrada, decidiu, sem razão (pois não existe razão justificável para tal ato), abreviar a própria jornada. Aos amigos e familiares fica a sensação de incompreensão, de dúvida, de inconformismo e decepção. Muitas possibilidades e conjecturas e a única certeza : o erro.

Erro, meu amigo... Perdoável, sem dúvida, pois Deus é maior que todos os imensos erros da humanidade. Mas, principalmente, um erro consigo mesmo e um elogio ao egoísmo, estranho e quase que inaceitável quando parte de uma pessoa da qual guardo as melhores recordações. Uma pessoa que, como me disse certa vez numa reunião de Evangelho, via o brilho da vida nos raios do nascer do Sol. Mas que obscurecido por sentimentos íntimos, que, diga-se, cultivou, levou-se à escuridão. Mas, como disse o mestre Herculano Pires, "negar socorro religioso a um espírito nessas condições é uma impiedade, é abandonar a si mesmo o espírito desequilibrado. Pensar no suicida como um condenado eterno é aumentar sua angústia e o seu desespero, colocando-nos na posição de torturadores cruéis.” De outro lado, "não podemos pensar no suicida que escapou aos seus deveres, sem nos lembrarmos também dos que ficaram abandonados a si mesmos ante a fuga e a deserção, do que engolfou-se no seu egoísmo, como se não tivesse com eles nenhum compromisso" (em "Educação para a Morte", capítulo XVII “Os Voluntários da Morte”).

Como espírita que somos, meu amigo, escrevo-lhe. Assim como a todos nossos leitores e companheiros da mesma fé. Escrevo como que travando uma última conversa que você não nos permitiu. E trago o ensinamento do livro "A Última Grande Lição" (Mitch Albom - Editora Sextante), que relata os últimos dias de vida de Morrie Schwartz, um professor universitário que, embora ciente da morte iminente, decide, por catorze semanas, enquanto seu corpo e mente se degradavam, celebrar a vida. Falando do sentido da vida, dizia :


"Hoje aprendi que o mais importante na vida é aprender a dar amor e a recebê-lo. Sem amor, somos pássaros feridos. Pensei nas muitas vezes que essa atitude é necessária na vida diária. Sei, por outro lado, quanto é doloroso não se poder estar com uma pessoa a quem se ama. Mas você precisa ficar em paz. O que significa aceitar as escolhas de cada um. Afinal, não existem fórmulas para os relacionamentos.

O caminho precisa ser negociado em clima de amor, com espaço para ambas as partes, para o que querem e o que necessitam, para o que podem fazer, levando em conta a vida de cada um.

No comércio, as pessoas negociam para ganhar. Talvez estejamos, em nossos relacionamentos, habituados a isto.

Mas o amor é diferente. O amor existe ( e é eterno ) quando estamos mais preocupados com a situação do outro do que com a nossa.

E lembre-se :
Sem amor, somos pássaros de asas quebradas


Um forte abraço. Marcos

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Um comentário :

  1. Yeda Fajardo23/11/09

    Amiga, trabalho como´psicóloga em hospital psiquiátrico e as pessoas falam da morte com facilidade. A maioria não quer lutar e está tomada por depressão profunda. Medicação resolve. Um abraço. Yêda Fajardo

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