"Nunca pude imaginar estar em um lugar como este! E, no entanto, quanta ajuda recebi! Aliás, na minha vida toda só vivi e fiz coisas inesperadas. Desde muito pequeno sempre demonstrei ter um temperamento forte e rebelde. Acredito que isso também se deva a criação que meus pais me deram. Eles sempre me fizeram acreditar que eu podia ser e fazer tudo o que bem entendesse. Quero deixar claro, que não os culpo por nada que me aconteceu, apenas eles me fizeram crer que eu era uma espécie de super-herói e que por mais que eu me metesse em alguma enrascada, sempre daria um jeito e tudo acabaria bem. E foi assim que aconteceu até os meus vinte e sete anos.
Vivi de forma desregrada. Abandonei a faculdade, só ia até a empresa que era herdeiro quando bem entendia, ou melhor, quando precisava de grana. O meu tempo era tomado por viagens alucinadas, drogas e tudo o mais que leve um homem ao fundo do poço.
Lembro-me com nitidez da manhã chuvosa de março, quando acordei com muita febre. No início imaginei que fosse apenas um resfriado. Porém, como a febre não cedia, recorri a minha mãe, à qual não procurava e evitava há mais de um ano. Levado ao médico e depois de feito alguns exames, foi constatado que eu estava contaminado com a “Maldita”. Era assim que a AIDS era chamada no meio dos viciados no final da década de 80. Naquele momento, percebi que meu mundo restrito e superficial de super-herói havia desabado.
Foi com muita dor que percebi que aqueles que eu considerava como amigos foram se afastando de mim com certo ar de repugnância. No início achei que seria auto-suficiente para me cuidar sozinho, mas com passar do tempo, com a evolução do vírus e da depressão tive que recorrer àqueles que eu só procurava quando estava em apuros.
Depois de três anos, não resistindo mais as dores físicas e morais impostas por essa doença, apelei mais uma vez para minha covardia e acabei ingerindo uma dose muito alta de calmantes que me levaram ao suicídio. Santo Deus! Eu imaginava que era o fim, mas havia algo que podia ser pior que o preconceito e o HIV. Quanto desespero, quanta angustia senti! Faltam-me palavras para descrever os sentimentos que me acompanharam ao perceber que o fim não existe.
O conflito de sentimentos é tão intenso que não sei ainda como suportei. Mas diante da explosão de sensações, senti um arrependimento profundo e pedi perdão a minha mãe que ainda hoje está encarnada, foi aí que minhas dores começaram a ser suavizadas. Um amigo espiritual me levou até uma casa espírita, muito parecida com esta, onde recebi os primeiros–socorros para depois ir para uma colônia de tratamento.
Com o tempo fui recobrando minha lucidez e tendo consciência dos erros cometidos.
Ainda hoje me vigio constantemente para manter o equilíbrio e agora estou podendo contar minha história para pedir a todos aqueles que vierem a ler estas palavras que, por mais difícil que seja a caminhada, não desista, não abandone o milagre da vida que é tecido a cada segundo. Por mais que haja pedras no caminho, no final haverá uma estrada florida e um Deus de amor vos esperando de braços abertos dizendo que sempre esteve e estará ao nosso lado.
E nesta oportunidade, gostaria também de pedir perdão aos meus pais Luíz Antonio e Walquiria, com a fé que estas palavras chegarão até eles".
Assinado : Henrique de Souza Vasconcelos
Data : Junho de 2008
Local: Sorocaba (SP)
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ahaha.... essa foto que voce colocou é minha, é do meu olho!!! eheheh
ResponderExcluirEssa foto, estava juntamente com muitas outras na minha conta do Olhares... se voce quiser pegar algumas estao aqui http://olhares.aeiou.pt/MIARQ
ResponderExcluirinfelizmente, por motivos profissionais deixei de me dedicar a fotografia que era e é uma paixao...