DEPRESSÃO É DISCUTIDA POR ESPECIALISTAS


No início do ano, a revista Galileu convidou três renomados especialistas em doenças mentais para debater o tema da depressão. O encontro foi realizado no dia 9 de abril, em São Paulo. Participaram do evento o psiquiatra Geraldo Possendoro, o psiquiatra e médico do trabalho Duílio Antero de Camargo e o psicólogo José Roberto Leite. Em uma conversa franca, eles mostraram suas visões sobre tristeza, melancolia e depressão, entre outros assuntos. Leia a seguir os principais trechos do debate e veja o vídeo aqui :

A depressão pode ter um lado bom?
José Roberto Leite: Tenho sérias dúvidas sobre isso, principalmente vendo o prejuízo que a depressão causa em meus pacientes. A única visão que eu poderia ter a respeito de algo útil na depressão seria que ela provoca um impacto de tamanha grandeza na vida do indivíduo que poderia motivá-lo a buscar recursos para, talvez, modificar aquele estado.

Duílio Antero de Camargo: É difícil ver o lado bom da depressão, especialmente para o paciente depressivo. O sofrimento psíquico no trabalho é muito grande. A depressão chega a ser a terceira causa de incapacidade no trabalho no Brasil. De lado positivo mesmo, só consigo ver que a depressão trouxe, para nossa legislação trabalhista, leis de proteção à saúde do trabalhador.

Geraldo Possendoro: Parece que os autores das teorias que dizem que a depressão tem um lado bom confundem depressão com tristeza. A tristeza tem a função de recolher o indivíduo, de fazer com que ele reflita, pense onde erraram com ele, onde errou com as pessoas. Tudo isso faz com que ele tente se adaptar melhor a uma situação futura semelhante. Qual é o limite entre a tristeza funcional e a depressão? Os americanos, em seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, falam em 15 dias. Se você tem a vida prejudicada por mais de 15 dias, já pode ser medicado. Não acredito que a maior parte dos clínicos use rigorosamente essa marca. Para o luto patológico, por exemplo, em que o paciente perde um ente querido e acaba desenvolvendo uma depressão, os tratados mais antigos falam em seis meses para essa avaliação. Acredito que esse limite é uma questão de bom senso.

Na reportagem, citamos novos livros que dizem que houve uma patologização da melancolia, que a sociedade transformou tristeza profunda em doença que precisa ser tratada. Os senhores concordam?
Geraldo: Pessoas que têm parentes de primeiro grau com depressão unipolar têm três vezes mais chance de ter depressão. Veja o caso de gêmeos idênticos: se um deles tiver depressão, o outro tem 40% de chance de ter também a doença, mesmo se forem separados ao nascer e criados por famílias diferentes. O ser humano é biopsicossocial, claro. Os dados que citei, no entanto, trazem a ideia irrefutável de que há uma base biológica, não só para a depressão, mas para várias outras doenças.

José Roberto: O mundo moderno propicia o que chamamos de pseudoprogresso: em vez de beneficiar o homem, o progresso começa a se tornar um fator de extremo estresse a tal ponto que começa a manifestar um potencial patológico. Nesse sentido, esses livros podem ter uma parcela de razão.

Duílio: A depressão sempre existiu. Vale lembrar que a melancolia é um termo grego de 3.000 anos antes de Cristo. Na Idade Média, virou problema religioso: as pessoas deprimidas eram colocadas na fogueira. Só a partir da década de 1950, quando surgiram os antidepressivos, é que a depressão passou a ser vista como um problema médico.

Entrevistamos pessoas que disseram ser muito exigentes e perfeccionistas. Isso é uma característica comum a quem desenvolve a doença?
José Roberto: Acredito que seja uma característica comportamental que pode levar o indivíduo a manifestar algo que ele já tem em potencial. Até a própria criação da pessoa pode influenciar nisso. Os pais, muitas vezes, fazem uma barganha entre desempenho e afeto. Com isso, a criança acaba crescendo pleiteando o afeto e sempre se exigindo um maior desempenho. E isso gera um estresse para o resto da vida, ainda mais quando não se consegue alcançar o desempenho desejado. Esse estresse é de tamanha magnitude que pode levar o indivíduo a manifestar um quadro depressivo em alguma etapa da vida.

As pessoas que entrevistamos reconhecem que a depressão foi sofrida, mas importantíssima para fazê-las prestar atenção em certos aspectos da vida. O que vocês acham disso?
José Roberto: Acredito que o indivíduo não precisa entrar em um estado depressivo patológico para, de repente, dar importância à vida e alcançar um estado de bem-estar. É óbvio que um período de sofrimento, mesmo que seja uma simples tristeza, serve de alerta para a pessoa modificar alguma coisa na vida. Não diria que uma depressão genuína possa beneficiar um indivíduo em relação a isso.

Geraldo: É importante frisar que essas pessoas afirmaram que o período de tratamento da doença foi horrível. No processo, que geralmente alia psicoterapia e psicofarmacologia, eles podem, sim, ter aprendido uma série de coisas sobre seus limites e capacidades.

Na opinião de vocês, quando se trata de um quadro grave de depressão, não há como a pessoa tirar algo de bom da doença, mesmo após superá-la?
José Roberto: Jamais. Se a depressão foi grave, desconheço alguém que tenha falado que foi útil. Os pacientes se recordam do episódio com muito sofrimento. Lembram que não tinham energia para fazer absolutamente nada, com uma dor muito grande. Dizer que, em um quadro desses, a pessoa tem capacidade intelectual de tirar alguma coisa boa da situação é muito difícil. Impossível, acredito.

Geraldo: Em uma depressão moderada, o paciente muitas vezes não consegue nem se concentrar no que o psiquiatra está dizendo. Como psicoterapeuta, não trato um paciente antes de tirá-lo da depressão. Primeiro tiro-o da doença, com remédios, para que volte a viver tristezas funcionais, e não disfuncionais. Os remédios não são para abolir a tristeza, mas para abolir a depressão. Depois que ele sai da depressão, aspectos da personalidade dele surgem e são trabalhados. Assim é até compreensível que a pessoa tenha aprendido durante esse processo de melhora.

Participantes :

Duílio Antero de Camargo
 1. Duílio Antero de Camargo | Psiquiatra e médico do trabalho do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
 
José Roberto Leite
Geraldo Possendoro
2. Geraldo Possendoro | Psiquiatra, psicoterapeuta e
professor da atualização profissional em medicina comportamental da Unifesp


3. José Roberto Leite | Psicólogo, pesquisador e coordenador da unidade de medicina comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)


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3 comentários :

  1. Anônimo18/9/12

    nao acredito que depresao tenha cura nao aguento mais essa doença ta acabando comigo so quero morrer

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  2. Anônimo18/9/12

    quero falar com quem tem depressao sei que esse e um caminho sem volta que so pessoas que senten sabem muitas pessoas dizem que tem mas nao se tratam e mentira e mentira que tem pq a dor e tao insuportavel que te obriga a procurar ajuda medica ou...se mata de uma vez

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  3. Anônimo18/9/12

    Conheço uma pessoa que teve depressão e hoje está muito bem, eu o vejo três vezes por semana, uma na faculdade e duas na igreja. Fez terapia com o psicoterapeuta que também é pastor, Jesus o curou e o pastor o ajudou.
    Jesus pode te ajudar tente busca-lo, Ele pode te ouvir e responder. Eu lhes darei aquilo que mais desejam: um futuro de paz em sua própria terra. Jeremias 29:11b
    Procure uma igreja evangélica mais próxima da sua casa. Jesus te ama!

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