'Preciso de uma palavra. Estou de saco cheio, cansei de correr atrás de migalhas de afeto. Quando as pessoas tem problema me procuram, mas quando seus problemas são solucionado simplesmente somem da minha vida como num passe de mágica. Sou sempre usada pelas pessoas para acalmar a dor de quem está sentindo, mais ninguém ajuda a passar a minha. Tenho falado para Deus: eu preciso ser feliz. Estou em desespero pois ajudo a curar as feridas de todos e ninguém me ajuda. É muito grande a dor'. - (Mara - comentário em Estou aqui porque preciso de ajuda)
O desenvolvimento da espiritualidade pode alterar a forma como você vê o mundo e até mesmo mudar a sua vida
Com a palavra, Ed Diener, professor de psicologia da Universidade de Illinois: "A religião, em certo sentido, age como um manual para a vida". É só procurar em qualquer livro sagrado, como a Bíblia ou o Talmud (compilação de escritos judaicos), para encontrar lições sobre generosidade e respeito ao próximo, por exemplo. Dependendo de como você enxerga a questão, eis um bom punhado de atalhos para encontrar a felicidade.
As religiões formais também oferecem uma espécie de rede de proteção. Algumas pesquisas revelam que, quando comparados a ateus, os crentes são mais saudáveis e se recuperam melhor depois de um trauma. Um estudo com pais que haviam perdido seus bebês por síndrome da morte súbita demonstrou isso. A conclusão é que, além da crença em um mundo espiritual, em um deus e em vida após a morte serem reconfortantes, o apoio encontrado entre os companheiros de fé ajudou os casais a seguirem em frente.
Como aponta Diener em "Happiness - Unlocking the Mysteries of Psychological Wealth" (Felicidade - Revelando os Mistérios da Riqueza Psicológica, inédito no Brasil), muitos estudos mostram pequenos - mas significantes - benefícios da religião para o bem-estar. O pesquisador Neal Krause, da Universidade de Michigan (EUA), compilou informações sobre apoio social, estresse em relação a dinheiro e saúde, além de outras variáveis, entre milhares de cristãos idosos. Descobriu que receber e dar ajuda a outros fiéis ajudava a aliviar as preocupações financeiras, e os que freqüentavam a igreja com mais assiduidade tinham maior probabilidade de viver mais.
E isso não vale apenas para cristãos. Em um estudo célebre, Richard Davidson, da Universidade Harvard (EUA), vasculhou o cérebro de monges budistas durante a meditação. Suas pesquisas ajudaram a provar que, se há uma região que concentra os pensamentos de bem-estar no cérebro, ela fica do lado esquerdo do córtex pré-frontal. Até Tenzin Gyatso, o 14o Dalai Lama e líder do budismo tibetano, já visitou o laboratório de Davidson e participou de suas pesquisas de imageamento cerebral.
Religiosos costumam viver mais, ganhar mais dinheiro e reportar maior nível de satisfação. Mas a fé cega em Deus ou nas orações pode fazer muito mal à saúde
Diferenças culturaisSabe-se que, entre outros objetivos, a filosofia budista aspira superar os desejos mundanos. Em parte por meio do "pensamento correto", que enfatiza a consciência, a concentração e a consideração. Ou seja, meditação. "Ocorrem profundas mudanças no cérebro apenas com esse exercício mental", diz Davidson.
Outras pesquisas mostram que pessoas religiosas (independentemente do credo) são menos propensas a usar drogas e cometer crimes e têm mais potencial para educar-se e ganhar dinheiro. Para o filósofo norte-americano Daniel Dennet, um dos cabeças do novo ateísmo (Galileu 186), as religiões são bem-sucedidas em parte porque ajudam as pessoas a sentirem-se bem em relação a si mesmas e ao mundo. "É fácil reconhecer que qualquer religião não seria disseminada se deixasse as pessoas tristes", afirma Diener. É claro que não dá para dizer que todo religioso é feliz, mas pesquisas sustentam a idéia de que, na média, os crentes se sentem melhor do que os não-crentes.
E não dá para generalizar também porque, como muitas outras coisas na vida, a religião pode ter seu lado negativo. Segundo Sonja Lyubomirsky, estudos mostram que pessoas que acreditam cegamente no poder curativo de orações podem negligenciar exercícios físicos e cuidados com a saúde. E não é só isso: aqueles que transferem de modo passivo seus problemas para Deus mostram níveis mais baixos de saúde mental, afirmam os pesquisadores George Brown e Tirril Harris no livro "Social Origins of Depression" (As Origens Sociais da Depressão, inédito no Brasil).
Mas esses resultados também dependem do local onde as pesquisas são feitas. Para Diener, não surpreende que a relação entre felicidade e fé varie entre diferentes nações e indivíduos, já que a religião inclui diversas práticas. "Um cientologista e um muçulmano têm poucos princípios, costumes e regras em comum", afirma.
Um exemplo é o estudo dos pesquisadores Adam Cohen e Paul Rozin, respectivamente das universidades do Arizona e da Pensilvânia (EUA), sobre a relação de judeus e protestantes com o perdão. Eles descobriram que os primeiros estão mais propensos a relevar o pecado em pensamento, mas condenam mais fortemente as ações pecaminosas. Já os protestantes dão mais importância ao que se pensa. Portanto, um fiel dessa crença pode sentir-se mais culpado por pensar em trair o cônjuge, por exemplo. Essas diferenças certamente se refletem na influência que cada religião pode ter sobre o bem-estar.
MÃOS À OBRA
- Se você ainda não tem uma religião, pesquise sobre várias delas em livros, na internet e conversando com amigos
- Quando você descobrir qual fé quer seguir (ou mesmo se ainda não se decidiu), freqüente um templo ou grupos de estudos
- Reze. Independentemente de sua religião, crie esse hábito
- Estabeleça como objetivo assistir a uma prática religiosa de sua escolha ao menos uma vez por semana
- Desenvolva a capacidade de ver a santidade em todas as coisas, diariamente. Uma refeição pode ser sagrada, assim como o riso de uma criança ou uma paisagem
Juliana Tiraboschi
Ilustrações: Zé Otávio Zangirolami
A partir da revista Galileu. Leia no original
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