A importância dos exercícios físicos e do sexo, aliados poderosos do esforço mental na busca pela felicidade
Contrariando pesquisas passadas, um recente estudo da Universidade VU, de Amsterdã (Holanda), concluiu que não há relação de causa e efeito entre praticar exercícios físicos e obter alívio nos sintomas da depressão. O que ocorre, dizem os holandeses, é que quem não gosta de praticar exercícios tende a ser mais depressivo.
Porém isso não quer dizer que a atividade física não seja recomendada para a saúde mental. Pelo contrário. Exercícios liberam o neurotransmissor endorfina no cérebro. A substância melhora a memória, o humor, faz bem para os sistemas imunológico e circulatório, diminui o risco de doenças da próstata no homem e combate os radicais livres responsáveis pelo envelhecimento das células.
Além disso, segundo o psiquiatra Hermano Tavares, há o benefício psicológico em obter um retorno causado pelo esforço corporal. "A atividade ainda promove a regulação dos hormônios do estresse", afirma. Tavares coordenou um estudo com dependentes químicos atendidos pelo ambulatório em que trabalha no Hospital das Clínicas de São Paulo, no qual os voluntários passavam por sessões semanais de caminhada ou corrida. A maioria conseguiu reduzir a fissura causada pelo vício.
Por falar em cuidados com o corpo, onde entra a aparência na equação da felicidade? Cuidar de si mesmo é importante, claro. Mas, assim como o dinheiro, a beleza pode trazer somente uma felicidade temporária. Neste ponto voltamos à tal "adaptação hedonista", citada no início da reportagem. Ela ocorre quando nos acostumamos com uma determinada fonte de prazer, seja ela um bem material ou uma cirurgia plástica, ao ponto em que ela deixa de proporcionar satisfação.
Foi o que aconteceu com Denise, também entrevistada pela psicóloga Sonja Lyubomirsky. Aos 40 anos, mãe de três crianças, estressada, fora de forma e com a pele castigada pelo sol, sentia-se muito mais velha do que dizia sua identidade. Um belo dia, Denise foi selecionada para o "Extreme Makeover", programa de TV que transforma radicalmente a aparência dos participantes. Após 12 horas de cirurgia, que incluiu lifting facial, rinoplastia, lipoaspiração e tratamento com laser, seu rosto ficou novo. Sentia-se mais jovem e tão bonita como uma "estrela de cinema" com a atenção que passou a receber da família, dos amigos e da mídia. Cogitou deixar o marido para iniciar uma nova vida. Um ano depois, a euforia baixou. Denise confidenciou à psicóloga que, apesar de ser ótimo ter menos rugas, a plástica não se traduziu em verdadeira felicidade.
Qualquer tipo de atividade física (incluindo a sexual) libera endorfina, que melhora a memória, o humor e os sistemas imune, cardiológico e circulatório
Malhação da mente
Bem, se você já se convenceu de que ser bonito é bacana, mas não é tudo, está na hora de passar para a última parte dessa etapa: o treino mental, mais precisamente por meio de meditação ou outras atividades introspectivas. "Estudos mostram que a prática regular de meditação pode promover uma alteração da fisiologia do cérebro provavelmente associada ao bem-estar, durante e depois da atividade", diz Tavares.
De acordo com o autor de best sellers de auto-ajuda Deepak Chopra, médico indiano radicado nos EUA, o exercício mental da meditação pode ajudar a aliviar o incômodo causado por questões existenciais como "quem sou eu?" e "para onde vou?". Conhecido por fazer uma ponte entre ensinamentos milenares hindus e conceitos avançados da ciência ocidental, Chopra acredita que a felicidade duradoura vem do reconhecimento daquilo que temos de eterno por sermos manifestações de uma consciência universal. Logo, não teríamos início nem fim. Você não precisa acreditar nisso, mas esse pode ser um ponto de partida para suas reflexões.
Richard Davidson, autor do estudo com monges budistas cujos cérebros foram monitorados, também gosta de fazer essa ponte. "Na cultura ocidental não levamos nossas mentes tão a sério quanto em outras. Creio que a mente emocional não deve ser tratada de forma diferente do que qualquer outro componente do corpo", diz Davidson.
E essa mente emocional está ligada ao circuito do bem-estar no cérebro. Um dos grandes marcos nos estudos da felicidade aconteceu em 1950, quando os psicólogos americanos James Olds e Peter Milner descobriram os "centros de prazer" do cérebro. Esse mecanismo está ligado a um processo chamado "sistema de recompensa". Nele, determinadas ações geram como resposta uma sensação de prazer imediato. "Esse sistema é tão bom que pode ser ruim", diz a neurocientista Silvia Helena Cardoso. Segundo ela, o problema está na ligação entre ele e todos os tipos de dependência, das drogas às compras ou o jogo compulsivo. Mas é preciso lembrar que ele está ligado à alimentação, ao sono e à atividade sexual, ações fundamentais para nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie.
Além disso, o sexo também estimula a produção de endorfinas e todas as conseqüências benéficas acima citadas. Exatamente por isso a falta de prazer (e de felicidade) na cama é um alerta. Além das disfunções serem um enorme problema do ponto de vista das relações e da saúde mental, elas podem ser um sinal de que há outros perigos para a saúde do indivíduo, como as doenças cardíacas. Em suma, o sexo "dá liga" nos relacionamentos, promove a intimidade e a sensação de conexão com outro ser humano. Felicidade pura.
MÃOS À OBRA
- Lembre-se da conexão entre mente e corpo. O que fazemos - ou deixamos de fazer - por um influencia o outro
- Se você é sedentário, comece devagar. Uma caminhada diária de 20 minutos já ajuda a melhorar o humor
- Sono adequado e hábitos alimentares saudáveis também são fundamentais
- Se começar a meditar, seja formal: estabeleça horários e um lugar (tranqüilo) específico
- Comece a prática respirando profunda e lentamente. Procure sentir todas as partes do corpo. Depois, tente focar seus pensamentos em um tópico específico, como um problema que está enfrentando
- Lembre-se que a meditação não precisa necessariamente estar ligada à religião budista ou qualquer outra
- Procure ter uma vida sexual saudável e prazerosa - para você e seu(sua)
Juliana Tiraboschi
A partir da revista Galileu. Leia no original
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