MEXA-SE, SAIA DO ISOLAMENTO !

'É muito fácil julgar aqueles que desejam a morte e chamar-lhes covardes, mas só aqueles que o sentem sabem o quanto impotentes nos sentimos, o quanto doloroso é viver todos os problemas. Já desejei a morte 24 horas por dia, já tentei o suicídio 3 vezes. Parece que algo me impede de morrer, talvez seja Deus que queira me manter aqui, pois tem algum objetivo para mim, não sei. A minha vida nunca foi fácil. Fui vítima de violência doméstica desde que me lembro. Estou desempregada e vivo às custas do ordenado do marido que mal dá para as contas. Tenho uma dívida enorme; não tenho amigos, nem familia, mas agora me preparo para sair do país. Vou tentar lá fora uma vida verdadeira melhor. Uma vida nova longe de tudo e de todos. Estou cheia de medo do que me espera, mas no meu íntimo sinto que é o melhor a fazer. Pode ser que venha a falhar, mas Deus nunca me vai largar e um dia vai me mostrar porque insiste em me manter viva, mesmo contra minha vontade. Tento ver a beleza da vida, o milagre que é estar vivo... Por isso, meus amigos, mesmo quando tudo esta negro, procure uma luz por mais fraca que seja e se agarre a ela. Boa sorte a todos e lembrem se não estão sozinhos, somos muitos.' - (Comentário em Magoei muita gente e não me perdoo)

Saia do casulo: a espécie humana é social e foi moldada para viver em bando. Encontre o seu

Talvez não haja nada que melhore imediatamente o humor de qualquer pessoa como um bom papo com um amigo, de preferência cheio de risadas. "Somos seres sociáveis. Uma pessoa tem que ter amigos, entes queridos, estar com pessoas próximas", afirma a neurocientista Silvia Cardoso. Segundo a pesquisadora, nosso cérebro foi moldado para isso. É só reparar que geralmente uma pessoa que está dando risada ou sorrindo está acompanhada de outra.

As boas relações, com amigos ou familiares, dizem os especialistas, atendem a muitas de nossas necessidades básicas. E isso é fruto da evolução da espécie humana. "Não teríamos sido capazes de sobreviver sem essa motivação", diz a psicóloga Sonja Lyubomirsky. Basta lembrar que, desde os primórdios, grupos sociais repartiam o alimento e uniam-se para combater o inimigo.

A psicóloga divide esse amparo social em três tipos: palpáveis (por exemplo, dar uma carona ao hospital ou consertar um eletrodoméstico de um amigo); emocional (escutar os problemas dos outros, ajudar a achar soluções) e informativo (dar conselhos financeiros). A junção desses três tipos forma uma rede de segurança em torno das aflições do dia-a-dia.

Outra chave para não deixar a satisfação cair nos nossos relacionamentos é sempre incorporar novos elementos à rotina. Isso serve para amizades, relações familiares e, principalmente, para o casamento. É por isso que as uniões mais bem-sucedidas são aquelas nas quais os cônjuges demonstram carinho um pelo outro, fazem planos juntos e têm interesse pelos desafios, sucessos e sentimentos do companheiro.

Apesar de tudo isso, quem quer melhorar sua satisfação com a vida precisa sair do seu mundinho particular. "É preciso interagir com a comunidade", sugere o professor Alexander Weiss. Claro que ninguém precisa ser uma Angelina Jolie, que roda o mundo como embaixadora da ONU, levando apoio e atenção a lugares destroçados pela guerra e pela miséria. Mas, partindo do exemplo da atriz, é possível fazer coisas para melhorar as condições de vida na sua cidade, no seu bairro ou na sua rua.

Até porque pesquisas mostram que nosso nível de satisfação não depende apenas de nós, mas do ambiente que nos cerca. Apesar de, como dissemos anteriormente, estudos apontarem que cerca de 50% das diferenças do nível de felicidade entre os indivíduos se deve a variações genéticas, tal estatística é variável. "O cérebro é muito complexo. Acho que é muito circunstancial, tem gente que possui uma grande capacidade de ser feliz, mas vive em um ambiente ruim", diz Silvia Cardoso.

O físico Stefan Klein também é cauteloso. "Sempre acho questionável estabelecer números sobre a influência do ambiente em nosso comportamento." Para o pesquisador, porém, está claro que, se as necessidades básicas são satisfeitas, a influência de fatores externos no bem-estar subjetivo é pequena.

O amparo fornecido por uma sólida rede social pode ser prático e palpável, emocional e informativo. E você, já falou com o seu melhor amigo hoje?

Qualidade de vida

Apesar disso, fatores externos como distribuição de renda, expectativa de vida, ausência de corrupção e respeito aos direitos humanos são computados por especialistas para inferir o nível de satisfação de uma nação. "Em cima desses fatores vêm a cultura e a visão de mundo em relação à vida. Os latino-americanos tendem a ser mais felizes do que esperaríamos se analisássemos apenas o lado financeiro", diz o psicólogo Ed Diener, autor do recém-lançado "Happiness - Unlocking the Mysteries of Psychological Wealth" (Felicidade - Desvendando os Mistérios da Riqueza Psicológica, inédito no Brasil). Para o pesquisador, nós latinos pontuamos alto em emoções positivas graças à forma como nos relacionamos. Na maioria dos casos, somos pouco críticos, buscamos o lado mais divertido das situações e tendemos a apoiar quem está mal.

Para o psicólogo Christian Kristensen, o processo é um ciclo. "A partir da nossa base biológica e ao longo de experiências ambientais, desenvolvemos nossa personalidade. Por sua vez, ela influencia decisivamente a capacidade de sermos felizes", diz.

Se o nível de bem-estar varia entre países e culturas, como determinar quais são as nações mais felizes do mundo? Um dos rankings mais abrangentes é o "World Database of Happiness" ("Banco de Dados Mundial sobre a Felicidade"), compilado pelo sociólogo Ruut Veenhoven, da Universidade Erasmus de Roterdã (Holanda). Não por acaso, os cinco primeiros colocados são países que oferecem excelente qualidade de vida: na ordem, Dinamarca, Suíça, Áustria, Islândia e Finlândia.

Sem culpas

Ou seja, mesmo que nossa capacidade individual seja decisiva, as circunstâncias de vida têm importância fundamental. "O movimento pela felicidade enfatiza que as pessoas têm capacidade para serem felizes o tempo todo, enquanto há um declínio na noção de que as sociedades devem prover os indivíduos com as oportunidades para alcançar o sucesso. Quando não conseguem, alguns indivíduos acabam sentindo-se culpados", diz Allan Horwitz, professor da Universidade de Rutgers (EUA), e co-autor do livro "The Loss of Sadness: How Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder".

Então, se as suas circunstâncias não são favoráveis para o seu sucesso, não aceite ser apontado como culpado. Tente mudá-las, além de transformar a si mesmo.

MÃOS À OBRA
  • Pratique gestos de cortesia com outras pessoas sempre que possível
  • Procure contribuir ativamente com alguma associação de seu bairro
  • Faça algum trabalho voluntário
  • Estabeleça parcerias com amigos ou vizinhos, como um revezamento para levar os filhos à escola
  • Crie rituais com os amigos: escolha um dia da semana para jantar com eles ou troque e-mails diariamente
  • Seja leal: dê apoio, guarde segredos, não rebaixe os amigos de seus amigos e retribua favores

Juliana Tiraboschi
Ilustrações: Zé Otávio Zangirolami

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