Simplicidade, foco e maturidade são fundamentais para quem quer encontrar sua fórmula de bem-estar
Simplificar a vida e definir o que é importante para você. Eis a última etapa da nossa busca pela felicidade. Avalie: você precisa mesmo daquele celular de última geração? Se achar que sim, vá em frente. Mas pense se não vale mais a pena investir o dinheiro em uma viagem, por exemplo. Segundo Tal Ben-Shahar, Ph.D. em psicologia e filosofia e professor de psicologia positiva na Universidade de Harvard (EUA), pesquisas mostram que uma vez que nossas necessidades básicas estejam supridas - alimento, abrigo e educação, por exemplo -, renda extra ou prestígio fazem pouca diferença.
Uma prova viva disso é Mitch Dorge, outro entrevistado pela psicóloga Sonja Lyubomirsky e ex-percussionista da banda canadense Crash Test Dummies, que atingiu relativo sucesso mundial no começo dos anos 1990 com o hit "Mmm Mmm Mmm Mmm". Na época, o músico concorreu ao prêmio Grammy, participou de programas como o "Saturday Night Live" e viajou pelo mundo. Mas as coisas começaram a dar errado. Ele saiu da banda, perdeu sua mansão e rompeu com a mulher. Hoje, vive próximo a Winnipeg (Canadá), em uma região pouco habitada e gelada, em companhia dos dois filhos pequenos. Em paz e envolvido com sua música. "Já tive dinheiro e fama. Agora não os tenho, mas meu nível de felicidade é o mesmo. Não há nenhuma diferença", diz Neil. Esse estilo de vida não funcionaria para todo mundo, obviamente. Mas o importante aqui é que o músico encontrou seu foco.
Às vezes, a promessa de ganhar um bom dinheiro motiva mudanças radicais. Esse é o caso de centenas de jovens jogadores de futebol que vão trabalhar em outros países. Em troca de um bom (às vezes milionário) salário, enfrentam obstáculos como idioma, comida, clima e diferenças culturais. Mas muitos não estão preparados. De acordo com o livro "Futebol Exportação" (Editora Senac-Rio), dos jornalistas Fernando Duarte e Claudia Silva Jacobs, dos 804 boleiros que em 2005 deixaram o Brasil, mais da metade retornou: 491.
Nossa crença na importância do acúmulo de bens, dinheiro e prestígio para nossa felicidade pode ter raízes evolucionárias
Mania de acumular
Muitos ainda não têm a maturidade para adaptar-se a uma situação adversa, fator determinante no percurso rumo à satisfação, segundo os psicólogos. Esse foi o caso do jogador Denílson de Oliveira, atualmente no Palmeiras. Em 1998, com quase 21 anos e destacando-se no futebol brasileiro, o atacante foi comprado pelo time espanhol Real Bétis, tornando-se o jogador mais caro do mundo. "Era impossível recusar, mas se o contrato fosse assinado hoje eu teria reagido de outra maneira. A pressão para ser o melhor do mundo pesou muito", afirmou em entrevista aos autores do livro. Até seu jeito espontâneo atrapalhou a convivência em outra cultura. "Ser alegre me prejudicou. Você sorri e não te levam a sério", afirma Denílson.
Então por que ainda acreditamos que ter mais bens ou status vai nos trazer felicidade? Sob uma abordagem evolucionária, pode ser que nosso passado distante determine nosso comportamento atual. "Quando éramos coletores caçadores, o estoque de riquezas - comida, principalmente - determinava se iríamos sobreviver à próxima seca ou inverno rigoroso", afirma Tal Ben-Shahar. Estocar tornou-se parte de nossa existência, mas hoje acumulamos muito mais do que realmente precisamos.
Isso não significa que você não deve se preocupar com dinheiro ou trabalho. Afinal, a realização profissional também pode ser uma fonte de satisfação. Principalmente se você estiver envolvido com um trabalho que traga um senso de valor e pertencimento, cujos esforços resultem em efeitos palpáveis. "Isso vale tanto para a atividade de um médico quanto para a de um varredor de rua", diz o psiquiatra Hermano Tavares. Afinal, ambas as ocupações trazem um benefício para a sociedade.
A chave neste ponto é descobrir o que move você. Gretchen Rubin, a advogada do "Projeto Felicidade", dá seu palpite. "Quando me pedem conselhos de carreira, eu pergunto: 'O que você faz no seu tempo livre?' Sugiro que transformem isso em trabalho". Para Gretchen, pode ser difícil descobrir sua paixão, mas é fácil se lembrar do que você curtiu fazer nos últimos domingos. Ela mesma deixou um emprego bem-sucedido na Suprema Corte americana para se dedicar em tempo integral ao hobby de escrever. Alguém dúvida que Bill Gates, fundador da Microsoft, acertou em cheio quando transformou sua paixão por informática em trabalho?
MÃOS À OBRA
- Simplifique sua vida. Geralmente estamos muito ocupados tentando espremer mais e mais atividades em cada vez menos tempo
- Segundo o psicólogo Tal Ben-Shahar, a felicidade situa-se na intersecção entre prazer e significado. No trabalho ou em casa, o objetivo é engajar-se em atividades que sejam importantes e agradáveis. Se você adora animais, que tal colaborar com algum projeto de adoção de cães e gatos, por exemplo
- Tenha controle sobre a própria vida. Aprenda a dizer não quando não puder ou não quiser fazer algo
- Tente transformar seu hobby em fonte de renda
- Faça uma lista de objetivos concretos, como conseguir um emprego melhor, fazer exercício, passar mais tempo com a família ou, por que não, comprar uma roupa bacana - afinal, se você chegou até aqui já entendeu que o segredo é dosar as coisas, e um pouco de consumo não faz mal
SAIBA MAIS
"A Ciência da Fe
licidade", Sonja Lyubomirsky. Campus. 2008
"A Fórmula da Felicidade", Stefan Klein. Sextante. 2005
"Happiness", Ed Diener e Robert Biswas-Diener. Blackwell/Wiley. 2008
"The Loss of Sadness", Allan Horwitz e Jerome Wakefield. Oxford. 2007
Juliana Tiraboschi
A partir da revista Galileu. Leia no original
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