SUICÍDIO: RAZÕES, ESTUDOS E INCERTEZAS

As estimativas sugerem que ocorram 24 suicídios por dia no Brasil. O número deve ser 20% maior, pois muitos casos não são registrados, e a quantidade de tentativas é 10 a 20 vezes mais alta do que as mortes. O país é o 11º colocado no ranking mundial de suicídios, segundo a Organização Mundial da Saúde, mas ainda existe muita divagação e os dados existentes ainda geram um ambiente inconclusivo sobre a real extensão do problema.  

“Os números são apenas a ponta do iceberg, pois, para cada suicídio, estima-se que haja pelo menos 20 tentativas. Para cada caso de tentativa que atendemos no hospital, outras cinco pessoas, na comunidade, estão planejando e 17 estão pensando seriamente em pôr fim à vida”, esclarece o pesquisador Neury José Botega, professor titular Psicologia Médica e Psiquiatria da UNICAMP, e autor das obras Comportamento Suícida (2004), escrito em parceria com Blanca Guevara Werlang, e Prática Psiquiátrica No Hospital Geral (2006). Ainda para Botega, os dados mostram a necessidade de práticas de Saúde Publica para enfrentar o problema. “Basta dizer que apenas uma em cada três tentativas de suicídio recebe atendimento médico”, disse. Já os pesquisadores da USP Daniel Hideki Bando e Ligia Vizeu Barrozo, autores de O suicídio na cidade de São Paulo (2010), mapearam a cidade com dados do IBGE de 1995 a 2006 e mostraram na obra quais regiões da cidade são mais afetadas pela prática. 

Um dos que mais se debruçou sobre o tema foi Émile Durkheim (1858-1917), tido por muitos estudiosos (incluindo Daniel Hideki Bando) como um dos mais conceituados pesquisadores do assunto. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia (posterior a Marx), que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Sua obra O Suicídio, publicada em 1897, foi um dos grandes marcos da sociologia que estuda o problema. As conclusões de Durkheim são um divisor de águas na pesquisa sobre suicídio, como, por exemplo, sua análise mostrando que, na maioria das vezes, quem “sofre de suicídio” quase sempre não sobrevive. Claro que a obra se baseia em estatísticas da época e que hoje devem ser complementadas com os modernos estudos de seus pares. Mas as reflexões de Durkheim são de uma textura racional que até hoje são usadas como parâmetros universais.

O tema é vasto, científico, complexo e está longe de ter abordagens definitivas. Desde os grandes romances do século XIX até os dias atuais poucos temas são tão discutidos e pensados como o suicídio, até porque são infinitos os fatores que levam o ser humano a pensar nele. Parece até que nem precisamos pensar para “estar” com ele, como escreveu o genial Balzac: “A resignação é um suicídio cotidiano”. De qualquer maneira é sempre um tema fascinante, seja tratado de forma romanesca ou ensaística.

* A pintura que abre o texto é a última de uma série de trípticos que Francis Bacon pintou depois que seu companheiro George Dyer cometeu suicídio em 1971, em um banheiro de um hotel parisense onde ele e Bacon estavam hospedados.

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2 comentários :

  1. Anônimo17/12/11

    Olá:

    Bacana (e IMPORTANTE/ÚTIL) o blog...
    Serve como uma AUTO-AJUDA/SOLUÇÃO mesmo!
    Todos nós tivemos/temos (e TEREMOS!) situações de desespero/angústia na vida; entende-se que se deseje SUMIR DO MAPA/FUGIR DE TUDO (e TODOS) em crises/coisas assim... Só que devemos REFLETIR/PENSAR sobre tais fugas/decisões.
    Tive uma pessoa que cometeu tal ato há bastante tempo; foi um choque para a família - pois tal era considerado modelo para todos... Não soube receber um não referente À UMA PROPOSTA DE CASAMENTO QUE FEZ À UMA NAMORADA (ele tinha 19 anos e ela 22). Foi ele (meu primo) que fez isso. Depois descubriu-se que ele era MIMADO/NÃO SABIA OUVIR NÃOS... E imagino se a tal namorada tivesse o traído/coisas piores: além de se matar teria matado ela também!
    Meses depois, pensei em tal coisa - estudava numa escola onde era agredido (bullying/falsos amigos/entre outras coisas piores); e para piorar havia feito uma viagem aos EUA (DISNEY/MUNDO IRREAL/FANTASIAS!)onde achava que na volta eu mudaria de escola e tudo bem... Foi um dos MEUS PIORES ANOS (início da década de 90).
    Hoje, vivendo no sul do Brasil: vivia no RJ nessa época (lá as coisas não são fáceis) - aproveito cada átomo da vida; faço artesanato/quando posso viajo/ajudo entidades que cuidam de bichos necessitados... A FILOSOFIA me ajuda a entender coisas/razões da vida (muitas vezes as RUINS/PÉSSIMAS).
    Imagino que quem comete o suicídio tem ao mesmo tempo CORAGEM E COVARDIA; pois vai para um MUNDO DESCONHECIDO sem saber o que há - embora não enfrente os problemas/mazelas da vida.
    Agradeço por poder relatar minha história... E que possamos viver num mundo melhor!

    Abraços,
    Rodrigo O. Rosa (Porto Alegre)
    kateter@live.com

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  2. Anônimo12/9/12

    nao sei mais o que e ser feliz faz tempo e venho pensando numa forma de acabar om este sofrimento, inclusive pesquisas sobre venenos que agem rapidamente. se me perguntam como me sinto? so sei dizer que me sinto um zumbi. ja tentei de tudo e nada me devolve a vontade e viver

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