IDENTIFICAR DOR EMOCIONAL EVITA TRAGÉDIAS

Simplesmente tocar no assunto já é um tanto pesado. Mas talvez não haja nada mais desolador do que receber a notícia de suicídio, principalmente de alguém conhecido. Contudo, a pessoa que se foi, apesar de ter dado cabo da própria vida, está longe de ser a vilã de toda essa triste história. Pelo contrário. É mais uma vítima de dor emocional, que se desencadeou em tragédia, a aumentar a exatidão e frieza das estatísticas.

E, por mais gélidos que pareçam, os números assustam. Somente em Bauru, entre 2008 e 2010, o índice de pessoas que tiraram a própria vida saltou de forma alarmante. Em apenas dois anos, o número cresceu 72%, segundo o Ministério da Saúde.

Em 2008, 18 pessoas tiraram a própria vida em Bauru, conforme o mesmo levantamento. O ato extremo fez outras 19 vítimas no ano seguinte, contingente que saltou para 31 em 2010. Embora impressione, os números locais estão abaixo da média nacional, que é de 25 suicídios por dia, o que faz o País figurar na 11.ª posição no ranking mundial de índices de suicídio, de acordo com estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Se as porcentagens não evidenciam o tamanho do drama, casos próximos e recentes ajudam a ilustrar o quanto a situação, e o aumento dela, é preocupante, para não dizer desoladora.

Entre esses casos, muitos outros, que passaram longe da esfera criminal, mas que desencadearam tragédias semelhantes, como o da mulher de 30 anos, que sofria de depressão, segundo amigas e, conforme registro policial, teria dado cabo à própria vida atirando-se do viaduto da avenida Duque de Caxias sobre os carros e caminhões em alta velocidade da rodovia Marechal Rondon, em setembro passado.

Esse ato extremo, entretanto, cresceu como uma bola de neve de emoções negativas que poderiam ter sido contidas caso os problemas fossem mais facilmente percebidos e tratados. Além disso, recomendam psicoterapeutas, nunca se deve ignorar quando alguém sinaliza que, algum dia, poderá chegar a acabar com a própria vida.

Ou seja: diferentemente do que muita gente pensa, não se trata apenas de “querer aparecer” quando alguém fala que quer se matar. “Quando alguém falar sobre isso, em primeiro lugar, quem ouve, deve sempre acreditar e procurar conversar sobre o modo de pensar dessa pessoa”, orienta o psicoterapeuta Arnaldo Vicente, presidente da Associação Brasileira de Psicoterapia Cognitiva e coordenador do Centro de Terapia Cognitiva (CTC) de Bauru.

Quem muito fala... faz

Apesar de alguns sinais comuns, não é fácil identificar se alguém pode ou não apresentar tendências suicidas. Não são raros os casos de pessoas com a vida aparentemente tranquila, seja em aspectos financeiros, afetivos, familiares ou sociais, e que surpreendem a todos da maneira mais cruel e triste.

Entre as deixas com mais facilidade de percepção, o terapeuta destaca: “Pessoas que agem com comportamento excessivamente raivoso, vivendo constantemente em depressão crônica. Gente que apresenta falas de que ‘nada vai mudar’, e acredita que ninguém pode ajudar”, descreve.

Uma deixa muito clara de que alguém próximo ao menos possa demonstrar uma tendência a esses pensamentos, acrescenta Vicente, é uma visão entristecida, ressentida ou até mesmo raivosa com relação ao futuro. “São essas pessoas que podem ficar cada vez mais deprimidas e achar que o suicídio é uma saída. Impulsivamente, em algum momento, põem na cabeça que nada vai dar certo e acabam tentando (se matar). Não podemos menosprezar. Quem vai morrer anuncia sim.”


Luiz Beltramin
A partir do JCNET. Leia no original

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