TRISTEZA OU DEPRESSÃO: QUE DOR É ESTA?

Tristeza e depressão têm sido usadas nas últimas décadas como correlatos. Mas não o são. Um é uma emoção o segundo um transtorno. Tristeza é algo pontual, é um sentimento que resulta de uma situação específica que angustia, machuca, choca, dói. Não há como saber sua durabilidade, mas em geral, conforme a situação é elaborada interna e externamente este sentimento se apazigua.
Freud escreveu um texto clássico sobre o assunto chamado Luto e Melancolia, nele o psicanalista explica e diferencia tais termos. O luto é usado neste texto como correlato de tristeza, que é compreendido como uma emoção de grande aflição decorrente de uma perda. Perda pode ser de qualquer natureza: falecimento de alguém amado, fim de um relacionamento, divórcio, um acidente que deixa marcas físicas profundas, a morte de um sonho, uma doença, a perda de um emprego, o fim de uma etapa da vida (como faculdade ou aposentadoria), enfim, tudo que significa mudança implica em deixar algo de lado, isto nos faz entrar em luto.
E a perda no luto é real e exige que toda a libido seja retirada de suas ligações com aquele objeto. Ou seja, a pessoa fica sem energia e vontade de fazer as coisas, lembranças e lágrimas parecem ser a única possibilidade deste momento. O semblante fica triste, não há motivação, só vazio. Contudo, quando o trabalho do luto se conclui (sim, a dor aos poucos é amenizada), o individuo retoma suas atividades, capacidades e prazeres.
Já a melancolia, chamada de depressão maior pelo CID 10 (livro que lista a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Tem outras características que vão além da tristeza. Há um humor deprimido, um sentimento de menos valia e risco de suicídio. Têm vários graus e vários tipos. A melancolia/ depressão pode se iniciar – em geral é o que acontece – de uma tristeza, porem a dor não consegue elaboração. Pois faz muito uso de projeções, onde sentimentos de inconstância e instabilidade perduram o tempo todo num jogo de vai e vem, ora se sentindo vítima ora culpada.
Isto é resultado de um desenvolvimento emocional precário, no qual a capacidade de amar foi desenvolvida de forma deficiente, com vínculos frágeis e idealizados. Desta maneira, quando ocorre uma perda a sensação de que tudo dará errado, de que não é capaz de superar ou viver novas oportunidades fica muito forte, o que impede a elaboração do luto. Assim, há uma disposição patológica para este transtorno.
O contrário da melancolia é a mania, porem, no fundo ocorre o mesmo processo. No polo da mania a pessoa entra na fantasia do triunfo, do poder, de excessos. Mas quando a realidade se interpõe (as coisas não saem como esperadas) surge a dor, que desencadeia a dor narcísica (olha para si e só vê negativos, incapacidades, deficiências) é quando a melancolia volta a se fazer presente. São os casos de bipolaridade.
Além do que, o melancólico tem uma fragilidade emocional intensa, o que faz situações pequenas, simples, serem vivenciadas de maneira muito mais dolorosa do que a realidade. São conhecidos como casca de ovo, qualquer fala mais alta, ou olhar mais severo já desencadeia sentimentos de desconsideração, desprezo ou desapontamento. A pessoa não faz isto por querer, e sim porque há um sofrimento interno que lhe impede de ter traquejo social, de enfrentar a vida de maneira forte e resoluta.
Desta forma, existe uma correlação entre luto e melancolia, no sentido de que as mesmas causas que levam ao luto podem levar, para algumas pessoas, à melancolia. Entretanto, a diferença esta que a melancolia é uma predisposição patológica, onde algo já não estava bem antes, só não havia sido detectado. Enquanto que o luto é um sofrimento inerente à circunstância e que com a devida elaboração é superada.

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