O DIREITO DE DECIDIR A PRÓPRIA MORTE

Raquel (nome fictício), uma aposentada paulistana, fala da própria vida com orgulho. “Aproveitei minha juventude, peguei muito sol, viajei pelo mundo, namorei, casei, tive duas filhas maravilhosas, me divorciei e trabalhei duro”, afirma. Aos 68 anos, mora sozinha num bairro nobre de São Paulo. Caminha diariamente, para ver a vizinhança e para não conviver com a bagunça que a reforma de sua cozinha anda provocando. Raquel é organizada. Dentro de um armário, na sala de estar, guarda uma pasta com instruções que poucos amigos seus conhecem e pouquíssimos se comprometeram a cumprir. Lá está escrito o destino que Raquel arquitetou para si: viajar até a Suíça, onde médicos, enfermeiros e psicólogos a aguardam numa clínica. Ela espera ser examinada e, uma vez aprovada, receber um copo com um barbitúrico misturado a 100 mililitros de água. A bebida, de gosto amargo, descerá em poucos goles. Cinco minutos depois, virá o sono. Em meia hora, promete a clínica, a senhora satisfeita com a vida estará morta. Há quatro anos, Raquel pagou R$ 400 para associar-se à Dignitas, organização suíça que cobra cerca de R$ 15 mil para ajudar pessoas a se matar. Entre os 6.261 inscritos, de 74 países, há dez brasileiros. Quatro deles revelaram à revista Época por que decidiram planejar a própria morte.

Na reportagem, reproduzida nas postagens a seguir, conheça a história dessas pessoas e como funciona a clínica especializada em morte.

Sob que condições – se em alguma – seria moralmente aceitável que um ser humano tirasse a própria vida? Tal questão intriga filósofos desde a Antiguidade e persiste como tema de debate intelectual até os dias de hoje – a ponto de o escritor francês Albert Camus, um dos grandes pensadores do século XX, ter dito que o suicídio constitui a questão central de qualquer sistema de pensamento. Em outro texto, o físico Stephen Hawking fala sobre sua aposta na vida: "Encerrar a própria vida seria um grande erro. Sempre é possível triunfar".

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Argumentos na tela: filmes que discutem o suicídio assistido

Mar adentro (2004) -
 Retrata a história verídica do marinheiro espanhol Ramon Sampedro (vivido por Javier Bardem), que ficou tetraplégico após mergulhar no mar e bater a cabeça num banco de areia. Fisicamente incapacitado de se matar, por cinco anos lutou na Justiça espanhola para fazer suicídio assistido. Derrotado, implora ajuda aos amigos.

Menina de ouro (2004) -
 A personagem Maggie Fitzgerald (papel que rendeu o Oscar a Hillary Swank), de família pobre, conquista a felicidade ao se tornar boxeadora. Durante um combate, Maggie quebra o pescoço e fica tetraplégica. Sem condições de lutar, ela pede que seu treinador, Frankie Dunn (Clint Eastwood), a mate como um gesto de carinho.

Você não conhece o Jack (2010) -
 Conta a história de Jack Kevorkian (interpretado por Al Pacino), médico americano conhecido como Doutor Morte. Kevorkian, que lutou para tentar legalizar o suicídio assistido nos Estados Unidos, desafiou as cortes do país ao ajudar seus pacientes terminais a morrer na década de 1990. O médico passou oito anos preso por assassinato.

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