“Ainda não desistiu de mim, né?” Essa pergunta me foi feita por um querido ex-aluno no chat do Facebook. Dentre tantos, apenas algumas dezenas travam algum contato “real” comigo, fora de sala de aula, a maioria entre 20 e 30 anos, recém-formados ou quase, inquietos e acossados pelas fantasias de inconformismo que começam a ceder diante da urgência de “ganhar a vida”. É quase uma crônica de desespero abafado, típica de sua geração que se vê às voltas com o teste do valor de verdade de suas juvenis aspirações de “mudar o mundo”. Do alto do meio século que já se aproxima contemplo as minhas próprias e, com crueldade melancólica investigo-me especialmente os fracassos, pessoais e geracionais.
A história de nossas vidas é feita das incongruências entre o que sonhamos, pensamos, dizemos e o que efetivamente fazemos. Desse intrincado nó se revela não apenas nossa psique individual, mas, sobretudo, o espírito da época que forjou-se por determinada geração. Nosso conformismo ou resistência, serenidade ou aspereza, cinismo auto-complacente ou obstinação comporá o enigma a ser decifrado pelos biógrafos e historiadores críticos, atentos especialmente aos motivos pelos quais realizamos ou deixamos de realizar as tarefas que nos cabiam, numa palavra, ao legado de nossa geração.
Minha geração cantou que “seus heróis morreram de overdose”. Emblemática narrativa para desistências niilistas. Mas ouça Aaron Swartz, o prodígio ativista libertário da internet: “Eu sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo como ele é....eu cresci e através de um lento processo percebi que o discurso de que nada pode ser mudado e que as coisas são naturalmente como são é falso...e mais importante: há coisas que são erradas e devem ser mudadas. Depois que percebi isso, não havia como voltar atrás. Eu não poderia me enganar e dizer: “Ok, agora vou trabalhar para uma empresa”. Depois que percebi que havia problemas fundamentais que eu poderia enfrentar, eu não podia mais esquecer disso.” Sua curta e revolucionária vida e o caráter enfaticamente político de seu suicídio, aos 26 anos, pode vir a ser um anátema para toda a sua geração. Ou um desafio para os menos acomodados. Um espelhamento pedagógico para quase trintões e também para quase cinquentões.
Que coisas erradas devem ser mudadas? Uma sugestão a quem vive na quinta cidade mais desigual do mundo e tem vinte e tantos anos: envergonhe-se, olhe ao redor, avalie seus ideais simbólicos, e comprometa-se politicamente com as causas comuns. A seu modo engaje-se, incomode, surpreenda e não cale diante de injustiças.
Grata, meu jovem amigo. Em plena fúria autoinspecional diante do que considero uma vida quase irrelevante, sua queixa aflita revolve o que em mim ainda é vontade e força. Há inúmeros campos de batalha para os bons combates. Não desisto de vocês, não quero; seria igualmente desistir de mim.
Professora de Filosofia e Ética da Unifor
A partir do jornal O Povo. Leia no original
Quero muito morrer sei que e pecado mas nao aguento Mais essa vida solitaria que estou levando
ResponderExcluirBoa tarde, hoje estou desesperada pensando até em me suicidar, já não aguento mais tanta dividas, quanto mais pago mais aparece, procuro uma saída nada, todas as portas estão fechadas pra mim, me sinto abandonada, (se até Jesus se sentiu assim, iamgine eu), já não aguneto mais, acho que hoje é o múltimo dia da minha vida, por favor orem por mim pra que eu não tenha coragem de me matar, estou desesperada e desamparada.
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