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"DOENÇA DO MAL HUMOR": COMO ELA PODE VIRAR DEPRESSÃO

5/23/2015
Distimia pode evoluir para depressão se não for tratada. Saiba mais sobre esse quadro crônico e como evitar complicações


A distimia corresponde a uma alteração crônica do humor, mas que não preenche os critérios necessários para ser considerada um quadro depressivo. Os pacientes com distimia apresentam uma alternância entre períodos de depressão e períodos em que se sentem relativamente bem. Na maioria do tempo, entretanto, sentem-se deprimidos, preocupados excessivamente e sobrecarregados; tudo é um esforço, e nada basicamente é desfrutado; apresentam pouca energia e pouca disposição, sentem-se cansados, com mau humor e irritados em graus variáveis; não obstante, são capazes de lidar com as exigências do dia a dia, como as responsabilidades domésticas e profissionais, mas sofrem uma queda na qualidade de vida.

Os estudos científicos demonstram que a distimia aumenta consideravelmente o risco de depressão. Uma pesquisa realizada por Akisal mostrou que 90% dos pacientes com distimia evoluem para um episódio de depressão maior. A maioria destes pacientes sequer sabe que está doente e que poderia ganhar qualidade de vida se estivesse em tratamento.

Tratamento é prevenção

A principal medida para evitar que a distimia se transforma em um quadro depressivo maior é o tratamento. Em medicina a principal medida é a preventiva, ou seja, agirmos antes que as tendências se transformem em doenças. Todos apresentam flutuações de humor que dependerão de inúmeras variáveis ? por exemplo condições do meio exterior, clima, estresse, excesso de informações, problemas circunstanciais, oscilações hormonais, condições de sono, perdas, ganhos, idade e outros. Se pudermos agir logo que os primeiros sintomas da distimia aparecem, o risco desta evoluir para depressão será muito menor.

Os cuidados básicos para evitar a depressão compreendem prevenção do estresse, muita atenção aos hormônios, comorbidades (a presença de outras doenças associadas como distúrbios de ansiedade, compulsões, traumas e fobias), doenças orgânicas (hormonais por exemplo), obesidade, alterações da qualidade do sono, uso ou abuso de álcool e drogas. Todos estes fatores isolados ou somados irão facilitar o desencadeamento da distimia.

Referências
AKISKAL H S,et alii.Chronic depressions . 1981, pp 297-315

 Persio Ribeiro Gomes de Deus
A partir de Minha Vida. Leia no original
Imagem : Gateiro

RESENHA : ENTENDIDOS, MAL ENTENDIDOS, DESENTENDIDOS E TOLOS

5/22/2015
“A única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior” (Laing)

Mês qualquer de 2007. A pilha de notícias recortadas amiúde, como diria o Zé Ramalho, me olhava naquele sábado. Vontade louca de ler. Daquelas que somente os fins de semana me permitem realizar em compulsão. Do jeito que eu gosto. Uma possível página amarelada de jornal, daquelas que a gente obsessivamente guarda para ler depois (provavelmente do caderno Dois ou da Ilustrada), me deu piniqueira. Uma comichão de desejo de ler. Titulo ponta de lança. Direto ao assunto. Lancei na lista.

No Brasil a partir de 2005, vagava pela Argentina desde 1967. Ano em que nasci. A fórceps. Na epígrafe a sentença de Albert Camus que eu viria a conhecer somente em 2010: “Todos os homens sãos pensaram em suicídio alguma vez”. Li 42 anos depois por terceiras mãos. “O meu pai pôs fim à sua vida numa tarde de sexta-feira. Tinha 33 anos. Na quarta sexta-feira do próximo mês eu terei a mesma idade”, ele me contou, o jornalista medíocre. Começava a sina. Dele. Minha. Nossa.

Por três anos. Em duas mudanças de apartamento ele não se perdeu. Mas precisou de uma preciosa visita jogar Antonio Di Benedetto novamente em meus braços. Ele, que sempre esteve ali, mirando na altura do meu queixo, diariamente, mais se fez notar esmagado entre a poeira dos tablóides do que em sua postura entrosadamente deitada. Tranqüilo. Alaranjado em meio a José Luis Peixoto e Luiz Antonio de Assis Brasil. “Ver claro é muito difícil”;

Sua conversa sem aspas, ou outros sinais, e direta me atraiu rapidamente. Como nos momentos fáticos dos pontos de ônibus ou elevadores nos quais nos vemos monossilábicos e atamancando as palavras. Entre um respiro e outro. “Tem razão. Trabalhe com Marcela. Por que a Marcela? Lembra, a reportagem do avião caído na cordilheira. Sabe se arriscar. Neste assunto não haverá riscos, vamos lidar com mortos. Não haverá? Assim espero. Quem sabe”. Sem travessões.

Fernanda queria um livro para passar o tempo enquanto eu trabalhava ou dormia. Rotina de visitante, de feriado. Uma semana entremeando 164 páginas. Por que Tiflis e Pizarro não suportaram viver? Qual é o mistério daqueles que se matam? Haveria sete dias para ela conhecer os rumos de Júlia, Mercedes, Bibi, Paolo, Maurício e outros. Tempos depois Fernanda me disse a literatura lhe ajudava a esperar meu alerta. As horas acabarem. Desentendi. “Justamente, ontem à noite sonhei de novo que estava andando nu”. Por muitas vezes isso se repetiria. Conosco.

O encontro do novo grupo de literatura viria acontecer somente quatro meses depois que a Fer tinha voltado para São Paulo. Eu e alguns amigos tínhamos inaugurado o bate-papo com “A Trégua”, do quase homônimo, o uruguaio, Benedetti. E, no mesmo dia, procurávamos por uma obra a ser debatida. Lembrei dos comentários da Fernanda dizendo o quanto a parte que ela lera de “Os suicidas” era divertida e engraçada. Leve. Sugeri. Tolas.

“Pergunto-lhe se seria capaz de fotografar um tremor. […] Insisto: ‘O tremor em si mesmo, não os efeitos e conseqüências: nem pessoas que correm nem uma parede rachada nem a torre caída de uma igreja’”. Era o argumento do personagem para se pensar o significado dos olhos estáticos e abertos de um morto naquele último instante; diante da morte sentiu algo. O que? É possível captar, interpretar? Do mesmo jeito Benedetto ia me guiando pelas impossibilidades de uma leitura só. Além dos entendimentos. Comuns.

Vieram os conceitos de morte. A pesquisa do autor na voz dos personagens. Os fragmentos de textos. Reportagens. Explicações filosóficas. Estatísticas e manipulações. Casadas ficção e realidade. Interpretação. A linguagem pós-moderna tomava as páginas daquele livro do século passado. “Viver é bom, às vezes. […] Ele ficou, no retrato, para sempre, jovem. Nunca será velho. Ninguém poderá humilhá-lo. Se não se vive, não é preciso agüentar que nos deixem viver. Os demais nos deixam viver, mas determinam como”.

Eu tinha apenas uma noite para decifrar a escrita entrecortada e fascinante; para mim – novidade. O grupo literário já revelava, virtualmente, o desapontamento e a nota desfavorável. A pontuação da turma beirava de zero a menos da metade. Muito longe da nove; eu lhe daria. “Prescindo do café-da-manhã, tomo um café preto, na cozinha, onde permanece com seu vinho tinto o copo que servi à Mae West”. Deliro – “Nascemos com morte dentro de nós […] Os corpos já se encontram nas padiolas, mas estas permanecem no chão. Panos ásperos os cobrem. Quero ver o rosto.” – sob edredons que vestem a noite gelada do cerrado. É julho em Brasília.

“Acho que é um pacto. É um pressentimento meu”. A trama vai envolvendo desentendimentos familiares. Traição. Ciúme. Competição. Melancolia. “O meu irmão se suicidou aos 60 anos. Eu nunca havia me preocupado seriamente com isso, mas, quando cheguei aos 50, a lembrança adquiriu vivacidade para o meu espírito, e agora eu a tenho presente”.

A narrativa é atraentemente descompassada, feito peito em arritmia frente ao medo ou à excitação. Ela coloca em plano secundário os nomes dos personagens e o fio da investigação sobre a motivação dos suicidas; apresentados como cadáveres nas primeiras páginas do enredo. Não importa. O mote é outro. O foco, o que se pretende instigar, está do outro lado do miolo impresso pela editora Globo. O livro é a arma que o leitor aponta para si. Para os próprios miolos.

Interessante, além da polêmica que o livro gerou no debate literário sobre a sua qualidade, é o preconceito que o título evidencia. “Os suicidas”. Colado ao lado do nome de seu autor. Logo abaixo da mancha alaranjada que escorre do topo para ilustrar sua capa. Aquarela? Sangue? Quem enxerga o que? A escolha em ler a obra, tardiamente traduzida no Brasil, gerou suspeitas. Um amigo disse: ela (eu) deve estar muito desiludida, deprimida e melancólica para sugerir essa leitura. “Doze, doze suicidas já houve entre os nossos. Eram fantasias de glória, revanches de quem vinha de uma existência de humilhada adversidade? Ele sonhava isso ou eu sonhei que ele sonhava?”. Mal entendidos. Desentendidos.

“Senti um tremor e indaguei na minha alma se era medo e eu não soube me responder, mas descobri que também podia ser a irrupção de um vivo gozo. Nesse momento, me acometeu algo inesperado, uma espécie de forte ataque de vaidade: enrolei o papel…”. Tive a chance de saber mais da morte por outras mentes e viventes. Durkheim. Cleópatra. Hamlet. Kierkegaard. Kant. Camus. Platão. Pitágoras. Camus. Balmes. Buda. Confúcio. Voltaire. Hegel. Nietzsche. Schopenhauer. Hume. Napoleão. Em complemento às religiões. “A tarde flui lentamente para o ocaso”.

“De fato, a questão não é por que eu me matarei, mas por que não me matar”. Às 17 horas, quatro antes do encontro, fechei a última capa entre: entendidos, mal entendidos, desentendidos e tolos. “São 11 horas. Terei de avisar, o que será embaraçoso. Devo me vestir porque estou nu. Completamente nu. Assim se nasce”. Vesti uma calça preta, uma blusa azul. Passei batom. Cheguei atrasada no Café com Letras. Pedi um chopp. Entre seis, o debate começou. “O vento continua, faz uuh, enfia-se por entre os edifícios”. Eu sonho também que vou descalça para o trabalho. “Sobra-me noite”. Ela chega.

Solange Pereira Pinto
A partir do Blog Mal de Montano. Leia no original

TRISTEZA É RUIM, FELICIDADE É BOA ?

5/02/2015

A Fundação Edge, uma associação que reúne intelectuais da ciência e da tecnologia, convidou 175 especialistas para responder a uma pergunta difícil: qual ideia científica está bloqueando o progresso da humanidade? As respostas, divulgadas ao longo de 2014, agora foram compiladas no livro This Idea Must Die (“Esta ideia deve morrer”, em tradução livre).

A revista Galileu selecionou 15 teorias da física, da medicina, da matemática e da psicologia que, na opinião de alguns dos mais brilhantes estudiosos do mundo, precisam ser enterradas para que a humanidade vá para a frente. Por sugestão de D.P., um dos membros da Comunidade QM, destacamos aqui apenas uma delas, justamente a que tem tudo a ver com nosso tema constante : tristeza x felicidade. 

Conheça e, na sequência, veja as observações de M.K., também integrante de nosso grupo de discussão.

Teoria : Tristeza é ruim, felicidade é boa

Quem matou : June Gruber, professora da Universidade do Colorado.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim” – e isso pode ser bom para você. “Existem muitos trabalhos científicos que sugerem que emoções ruins são essenciais para nosso bem-estar psicológico”, defende June Gruber. Do ponto de vista evolutivo, a tristeza nos faz ficar atentos a problemas ou situações perigosas. Também ajuda a melhorar o foco e facilita uma visão analítica, enquanto felicidade demais nos torna egoístas e propensos a situações de risco. Mas ela não defende o fim da felicidade: o contexto de cada emoção é importante, e saber respeitá-las, em vez de suprimi-las, é a chave para o bem-estar psicológico.

*   *   *
Análise de M.K.

"A pesquisadora June Gruber defende a ideia de que uma pessoa que se considera feliz tem disfunções similares a quem é triste ou depressivo. A diferença se dá pela manifestação dessas disfunções no comportamento de cada indivíduo: o triste tende a focar sempre no próprio sofrimento (o que não significa que ele não tenha sentimentos bons) e o feliz, foca o tempo todo apenas na alegria (o que não significa que ele não tenha sentimentos tristes).

Seria a tristeza um estado normal da alma, mente, ou sei lá? Da mesma forma que uns se satisfazem com tudo e acham tudo uma festa, nós outros teremos uma inexplicável dificuldade em nos alegrarmos com o simples, com o banal, com a s coisas efêmeras da vida. Será que, de alguma forma, somos condicionados a não aceitarmos este estado de abatimento melancólico que nos envia para um banco de memórias de perdas, erros, fracassos, dificuldades, dor, angústia, Os ditos felizes não gostam de falar sobre sentimentos negativos, pois parecem temer que isso lhes retire a mascara da vida perfeita. 

Se para estar bem consigo mesmo temos de aceitar nossas limitações, sofrimentos, incompetências, fracassos, então, aceitar nossa tristeza seria uma forma de aceitar que felicidade pode ser ficar triste?

A tristeza é classifica como um sentimento frio, doloroso, corrosivo. Mas vejo nas pessoas tristes tanto sentimento, compreensão – embora não sejam compreendidas".

Trecho do livro O Demônio do Meio-dia – Uma Anatomia da Depressão, de Andrew Solomon.

“O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade, e minha vida, enquanto escrevo isto, é vital, mesmo quando triste. Posse acordar de novo sem minha mente em algum dia do próximo ano: provavelmente ela não ficará por aí o tempo todo. (...) Por um instante petrificador aqui e ali, um rápido relâmpago, quero que um carro me atropele e tenho que cerrar os dentes para continuar na calçada até o sinal abrir; ou imagino como seria fácil cortar os pulsos; ou experimento famintamente o metal do cano de uma arma na boca; ou fantasio dormir e jamais acordar de novo. Detesto essas sensações, mas sei que elas me impeliram a olhar a vida de modo mais profundo, a descobrir e agarrar razões para viver. A cada dia, às vezes combativamente e às vezes contra a razão do momento, eu escolho ficar vivo. Isso não é uma rara alegria?”

A partir da Comunidade QM
Imagem : Pexels

FILHO DE SUICIDA INVESTIGA O DESEJO DE MORRER

4/25/2015
O suicídio leva um número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio, tentou investigar as razões.


Os 44 anos de idade, uma idade não muito memorável para a maioria das pessoas mas, no meu caso, foi um aniversário que sempre terá uma importância especial. Foi a idade em que meu pai cometeu suicídio, há 25 anos, por razões que ainda não consegui esclarecer totalmente.

Como resultado, sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre suicídio no noticiário e notei também a frequência com que estas histórias envolviam homens.

O que não percebi até recentemente é que o suicídio é a mais frequente causa de morte de homens abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales. Cem homens morrem por semana. É a causa de morte mais prevalente atualmente, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 14 anos e homens têm quatro vezes mais chances de acabar com a própria vida do que as mulheres.

Queria descobrir o porquê. Qual a razão de homens serem mais suscetíveis e o que pode ser feito a respeito, se é que algo pode ser feito?

Meu próprio pai, na faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.

A incidência de suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É possível adivinhar as razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o homem perde o emprego em uma idade em que é difícil conseguir outro. Tudo isso pode gerar estresse em homens que se sentem pressionados a sustentar a família.

No caso do meu pai, nenhuma destas razões poderia explicar seu suicídio. Ele era um homem popular, gregário e talentoso, com uma mulher amorosa e quatro filhos, dos quais eu era o mais velho.

Pesquisa

Para tentar descobrir as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja pesquisa é baseada em 60 anos de experiência. O trabalho deles destaca uma série complexa de fatores - incluindo problemas financeiros e emocionais, traços de personalidade, desafios da idade e questões de saúde mental.

Todos estes problemas afetam mulheres também. Então, qual a razão de que, apesar de metade dos telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de mulheres, quatro vezes mais homens acabam mortos?

Existe uma opinião muito comum de que suicídio é prova de doença mental. O argumento é que, se você comete suicídio, você precisa estar sofrendo de uma doença mental diagnosticável como depressão.

Rory O'Connor é responsável por um dos mais importantes centros de pesquisa sobre suicídio no mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia. Faz experiências em psicologia e comportamento suicida. Frequentemente, a doença mental é parte do problema, mas não é uma explicação suficientemente completa para isto.

"Acreditamos que a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma doença mental, mas menos de 5% das pessoas com uma doença mental acabam com a própria vida", diz O'Connor.

Eu precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de meu pai quando ele cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar com minha mãe, algo que estava pendente há muito tempo. Quase nunca tocamos neste assunto na família.

E isto é uma parte importante do problema para muitas famílias. Meus irmãos e eu não conseguíamos conversar, provavelmente temendo choro ou discussões familiares durante a conversa.

Apesar das ressalvas e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe, com muita coragem, permitiu que a conversa fosse filmada. Naquela conversa, descobri que, assim os casos extraconjugais que meu pai teve, os problemas financeiros que enfrentava só foram descobertos depois da morte. E nunca discutidos antes.

Estes tipos de problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de suicídio entre homens da faixa dos 40 anos, mas o suicídio também é a maior causa de morte entre os homens 20 e 34 anos, quase um quarto de todos os óbitos.

Experiência

Conversei com Stephen Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e, novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um grande choque para a família.

"Ele era tão atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz Habgood.

Mas, por mais eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre seu estado com sua família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou relutância dos homens de todas as idades para falar sobre o que sentem é a chave para explicar o número maior de suicídios masculinos.

Há uma experiência mental muito útil para ilustrar estes casos, segundo Joe Ferns, diretor-executivo de políticas dos Samaritanos.

"Imagine chegar no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar alguém triste no escritório, chorando por algo que acontece no fim de semana. Se fosse uma mulher, alguém a levaria ao banheiro, teria uma conversa com ela e ninguém pensaria nada muito sobre isto."

"Se o mesmo acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a reação das pessoas seria muito mais dramática. As pessoas presumem que algo muito ruim deve ter acontecido", acrescentou.

Há uma diferença na forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.

Conversas que salvam?

Então, simplesmente conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em suicídio, mas não o fez.

Ele estava desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em sua comunidade.

"Sempre fui uma pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e acredito que era muito afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito bem com meu grupo de amigos, sempre me senti como um estranho. Era difícil, pois quando você está crescendo, ninguém quer se sentir excluído", disse.

Depois de decidir pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos Samaritanos em Manchester e, como pensava que não tinha nada a perder, entrou.

Agora ele percebe que esta decisão salvou sua vida.

"A razão principal que me levava a não conversar com ninguém era esta ideia de fraqueza. Se você não pode resolver os problemas sozinho, então é uma pessoa fraca."

E esta percepção é a chave para entender a razão de os homens tirarem a própria vida em números tão altos, segundo Jane Powell, diretora da Campanha contra uma Vida Triste (CALM, na sigla em inglês).

Rugby

Se alguém procura estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.

Ian Knott era um jogador profissional bem-sucedido do time Warrington Wolves quando sofreu uma lesão que acabou com sua carreira e o deixou sentindo dores constantes. Knott sentia que não conseguia mais cumprir seu papel como jogador, marido e pai. Isto o levou a tentar o suicídio.

"A dor chegou a tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e meus filhos continuavam ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte (da família)."

Knott agora dá palestras em reuniões de uma instituição chamada State of Mind, que exibe vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para falar sobre suas carreiras e funciona como um fórum para discussões a respeito de problemas emocionais.

"Estou orgulhoso pois agora posso falar de minhas experiências e talvez ajudar outras pessoas, principalmente outros homens", afirmou Knott.

"Este é o principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam absolutamente ter nada do que se envergonhar."
A partir do Terra. Leia no original
Imagem: Pexels

PRECISAMOS FALAR SOBRE O SUICÍDIO

4/08/2015
Embora o suicídio seja hoje, no Brasil e no mundo, um problema concreto de saúde pública, pouco ou quase nada é publicado na imprensa sobre o assunto no dia a dia. Como uma das máximas da era da informação é a tese de que, se algum fato ocorreu mas não se tornou notícia, então não aconteceu, exageros à parte é mais ou menos assim o que acontece com as dezenas de casos de suicídio que ocorrem no Brasil diariamente. Coisa rara na imprensa é notícia sobre suicídio e suicidas. A não ser quando se trata de alguém famoso ou quando o suicídio vai além da morte de quem o cometeu, como é o caso da tragédia com o Airbus 320 da Germanwings, cujo copiloto, Andreas Lubitz, suicidou-se usando o avião que pilotava e levou à morte mais 149 pessoas. O fato obrigou a imprensa a fazer o que ela não quer, não pode e não deixam: falar sobre suicídio. 

A primeira recomendação ética para que os casos de suicídios sejam evitados pelos jornalistas é de natureza médica. Há uma orientação internacional da Organização Mundial de saúde recomendando à imprensa todo o cuidado do mundo ao abordar suicídio, sob o seguinte argumento: diante de uma notícia sobre uma morte dessa natureza, as pessoas com ideações suicidas sentem-se encorajadas a repetir o gesto.

Uma segunda razão forte para a imprensa não noticiar mortes por suicídio é o critério de não interesse público na morte de uma pessoa que, tragicamente, decidiu interromper a própria vida. Ou seja, o interesse de um episódio dessa natureza diz respeito tão somente à própria família, cuja dor e luto em nada se relacionam com a opinião pública. Esse critério desaparece, por exemplo, quando se trata dos famosos ou quando o suicídio em si traz consequência para a vida de terceiros, como nos casos em que as pessoas atiram-se de prédios e viadutos e causam a morte ou ferimentos graves de/em quem passava pela via pública naquele instante. O pressuposto de que o suicídio é algo intrinsecamente da ordem da vida privada da vítima e da família faz com que não sejam raros os casos de processos judiciais movidos por familiares contra veículos de comunicação que desafiam essa norma implícita. 

FORA DA CURVA 

Quem tem amigos pouco sensíveis no whatsapp e não recebeu nos últimos meses vídeos de suicídios recentes em Salvador? Desses, raríssimos apareceram na imprensa e aqueles que fugiram à regra receberam tratamento eufemístico. No entanto, apesar dos raros casos noticiados e da forma eufemística como são narrados (“mulher morre ao cair do 20º andar”), fora do mundo das notícias os índices de suicídio no Brasil são assustadores. Hoje, no país, cerca de 30 pessoas suicidam-se por dia. E o contexto é ainda mais alarmante: para cada morte há entre 10 e 20 casos de tentativas mal sucedidas, além de a taxa de mortes por suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos ter crescido 40% nos últimos e 33% entre 15 e 19 anos.

Independentemente dos tabus que norteiam os limites do noticiamento do suicídio, é preciso encontrar um modo de reduzir o sofrimento de suicidas em potenciais que dão sinais às suas famílias de não estarem suportando o peso de suas próprias vidas, antes que seus planos sejam concretizados. O caso Andreas Lubitz é um ponto fora da curva, pois se há coisa rara, segundo os especialistas, é um suicida clássico levar em conta, na hora de tomar sua decisão, a morte concreta do outro. Mas não deixa de ser uma brecha e tanto para enfrentar um problema de saúde e um tabu que pode, nesse instante, estar pairando silenciosamente sobre milhões de famílias, algumas delas bem mais perto do que se imagina.
Jornalista e professora da Ufba

VIVER É MELHOR

4/07/2015

De vez em quando, surge alguém a falar sobre o suicídio, como se ele fosse uma glória, a do desaparecimento das dores e das perturbações da vida.

No entanto, isso é um grande engano, no qual ninguém deve precipitar-se, porquanto todo aquele que procurar no fim da existência humana o esquecimento de tudo encontrará o supremo despertar da inteligência flagrada em delito, porque, buscando o fim, achará vida e suas cobranças acerca do que o suicida terá feito com ela.

A morte não é o término da existência humana. Como dizia o saudoso Proclamador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, Alziro Zarur (1914-1979), “ela não existe em nenhum ponto do Universo”.

Realmente, porque nem o cadáver está morto. Ao desfazer-se, libera bilhões de formas minúsculas que vão gerar outras maneiras de existir.

Você não acredita? Tem todo o direito. Mas se for verídico?! Premie-se, minha amiga, meu amigo, com o direito à dúvida, base do discurso científico, que, na perquirição incessante, continua rasgando estradas novas para a Humanidade.

Pense no fato de que, se o que afirmamos aqui for realidade, Você encontrar-se-á, após um pseudoato libertário (o suicídio), terrivelmente agrilhoado (ou agrilhoada). Achar-se-á em uma situação para a qual, de jeito algum, estava preparado (ou preparada). Para quem apelar se, de início, afastou de si todos os entes queridos e alegrias que teimava em não ver?! Naquele momento, tardiamente, gostaria de voltar a enxergá-los. E, somente à custa de muitas orações, que Você, talvez, jamais, ou raras vezes, tenha proferido na Terra, perceberá, num gesto de humildade, uma luz que se lhe acendam nas trevas. Apenas desse modo poderá reencetar, depois de muitas dores, cobradas por seu próprio Espírito, uma caminhada que se terá tornado mais áspera.

Como se diz, na Religião Divina, “o suicídio não resolve as angústias de ninguém”; portanto, nem as suas.

Meu Irmão, minha Irmã, a Vida continua sempre, e lutar por ela vale a pena. Por pior que seja a escuridão da noite, o Sol nascerá, trazendo claridade aos corações.

Ainda mais, se passarmos os olhos pelo redor do nosso dia a dia, veremos que existem aqueles, seres humanos e até mesmo animais, em situação mais dolorosa, precisando que lhes seja estendida mão amiga. Não devemos perder a oportunidade de ajudar. Àquele que auxilia não faltará nunca o amparo bendito que lhe possa curar as feridas.

Viver é melhor!

DEPRESSÃO NEM SEMPRE ACARRETA PENSAMENTO SUICIDA

4/02/2015

Na semana passada, Andreas Lubitz, copiloto num voo da empresa aérea Germanwings, de Barcelona a Düsseldorf, parece ter jogado propositalmente o avião contra os Alpes franceses, matando todos os ocupantes –passageiros, tripulação e ele mesmo. Existem mais que uma dúzia de casos em que se suspeita que pilotos ou copilotos tenham provocado desastres aéreos intencionalmente. 

Os usuários de transportes coletivos se sentiriam mais tranquilos se a gente encontrasse uma explicação. Mas não é fácil: as autoridades são avarentas com suas informações, e a pressa não é boa conselheira.

1) A imprensa destacou o depoimento de uma ex-namorada de Lubitz, segundo a qual, no passado, ele teria dito: "Um dia, farei algo que mudará o sistema, e então todos saberão meu nome e se lembrarão de mim". Talvez a gente encontre uma declaração de Lubitz afirmando que destruiria um avião para ficar famoso.

Mas, até lá, fala sério: quase todos os homens entre 15 e 30 anos pronunciaram ao menos uma vez uma frase parecida para sua mãe, para seus amigos, ou para uma menina que eles esperavam impressionar. Só uma parte pequena dos que falam isso se engaja em assassinatos em massa.

2) Sete anos atrás, Lubitz passou por um tratamento psiquiátrico e psicoterápico durante um tempo (um ano?).

Quase briguei com duas amigas queridas: elas exigiam que, por decreto, ninguém pudesse passar por um "tratamento psiquiátrico" e se tornar piloto.

Claro, em tese, ninguém ganha um brevê de piloto sofrendo de um transtorno grave da personalidade. Mas "tratamento psiquiátrico" é uma expressão MUITO genérica.

Até 1980, a homossexualidade era considerada como um transtorno psiquiátrico –suscetível de ser tratado; portanto, o brevê de piloto deveria ser proibido aos gays?

Ou, então, seu psiquiatra lhe prescreveu, sei lá, Clonazepam sublingual de 0,5 mg porque você estava tenso durante os exames finais de sua formação. É um tratamento psiquiátrico. Você deve ser excluído de sua profissão por isso?

E se você estiver deprimido? Deveria ser impedido de pilotar um avião?

Note-se: poucas depressões acarretam pensamentos suicidas. E, de qualquer forma, esses pensamentos não transformam ninguém em assassino em massa.

Ou seja, muitas pessoas passam por episódios depressivos e, com remédios e psicoterapia, continuam perfeitamente funcionais no exercício de sua competência, seja ela qual for. Em suma, "tratamento psiquiátrico" não equivale a invalidez.

3) No dia da catástrofe, o copiloto tinha um atestado que o dispensava do trabalho –que ele não usou. Talvez fosse por uma gripe, mas imaginemos que fosse por uma condição psíquica.

Minhas amigas pedem que o médico particular que assinar um atestado seja obrigado a informar o empregador de seu paciente.

Se o médico, o psiquiatra ou o terapeuta se tornarem informantes do empregador, quem ainda pedirá ajuda para quem quer que seja?

4) Então, o que aconteceu com Lubitz? Não sei, mas Sansão era invencível enquanto obedecia a Jeová e enfrentava os Filisteus. Se apaixonou por Dalila, uma mulher filistina, que desvendou o segredo de sua força e o traiu.

Cego e escravizado, Sansão foi mostrado ao povo filistino. Enquanto ele era o objeto de escárnio de seus inimigos, pediu que o Senhor lhe devolvesse sua força por um instante e derrubou as colunas do templo de Dagom, dizendo: "Morra Sansão com todos os Filisteus".

A Bíblia comenta que ele matou mais inimigos na sua morte do que na sua vida. A história é complexa, leia: Juízes, 13-16.

Os exegetas bíblicos acham que não foi um suicídio –porque Sansão morreu indiretamente, se envolvendo no desastre (legítimo) que levava a seus inimigos, e porque o ato foi impulsionado pelo Espírito Santo.

Em 1989, I. Kutz publicou um artigo, no British Journal of Medical Psychology, sobre o "complexo de Sansão".

Oferecendo a história de um paciente como exemplo, Kutz propunha que o herói bíblico se tornasse símbolo de um traço de personalidade pelo qual a traição da amada e o ludíbrio público podem levar alguém a uma vingança contra o mundo e contra si próprio.

A história de Sansão, de fato, é um exemplo clínico menos simplório do que a ideia de um Lubitz deprimido e suicida.

Seja como for, um comportamento como o do copiloto é dificilmente previsível. A única providência sensata é fazer com que ninguém nunca fique sozinho na cabine de pilotagem de um avião. 

Cottardo Caligaris
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
 
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