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QUANDO ME DISSERAM QUE ELE DESISTIU

7/14/2013
Imagem : sxc.hu
Quando me disseram que ele desistiu, eu pensei, "que seja". Não se pode fazer muita coisa senão dar de ombros numa situação como essa. Apesar do que dizem, a derrota, assim como a vitória, só podem encontrar sua verdadeira dimensão dentro do derrotado ou do vitorioso, e nós de fora somos pálidos espectadores, por mais que nos solidarizemos. Dor e alegria são muito pessoais; por mais que tentemos sinceramente, só conseguimos arranhar a superfície. E ele desistiu, me falaram, e muito pouco podia ser feito disso.

Naturalmente, eu precisava refletir a respeito. Até mesmo desci e fui pra rua e, como fazia sol, perambulei pelo calçadão à beira-mar. E me coloquei a pensar sobre o que significa, precisamente, desistir nesse contexto. Faria sentido dizer que o detento que foge da penitenciária "desistiu" da cadeia? Que o faminto, ao comer, "desistiu" da fome, ou que o doente, ao se medicar, "desistiu" da doença? Porque a questão é simplesmente esta: o que nos obriga a algo se, decididamente, não há motivo plausível para tal? Desistir me parece uma palavra muito equivocada. O errado, ao contrário, está em insistir, na cadeia, na fome, na doença.

Há que deixar a natureza fazer seu trabalho, a natureza, que engloba esse mar e esse sol. Mas a natureza nos deu livre-arbítrio, que é conspurcado pela culpa e toda castração que a religião nos deixou. Uma vez saciados, pedimos a conta: é de uma simplicidade tal que talvez choque. Mas por que continuar no jogo, se já não há prazer no jogar? Se as fichas já acabaram e a banca levou tudo? Talvez o segredo esteja em ter esperança de que a maré se reverterá na próxima rodada. Mas a vida escoa enquanto aguardamos o golpe de sorte que não vem.

Dito isso, de olhar o mar e o sol, me dei por satisfeito. Voltei ao cotidiano, mas não gostaria, jamais, que dissessem de meu amigo que se tratava de um covarde, por ter desistido. Não direi que, ao contrário, covarde seja quem insiste. Não chego a tanto. Mas me parece óbvio que encostar o aço frio na própria têmpora não é, decididamente, coisa para fracos.

A partir do Blog Escrita Vulgar. Leia no original

O POUCO QUE NOS FALTA E O MUITO QUE TEMOS

1/23/2013

Chove e chove e chove, sem parar...

O dia fica mais escuro e nos remete, sem querer, ao passado. Em uma viagem onde tudo era simples e brincar na chuva, nada mais era do que uma maneira de se divertir e ser feliz. 

Me lembro que quando ameaçava chuva, esperava ansiosa para poder correr pra ela e me molhar e andar debaixo do beiral da casa, onde formava uma cortina de água. Depois corria pra rua e quando a chuva já estava mais forte a ponto de formar uma enxurrada na beira do meio fio, eu me sentava para bloquear o caminho da água e fazer com que passasse por cima das minhas pernas. Ou, ainda, quando não me atrevia a tanto, colocava meus pés, um na frente do outro pra fazer a mesma barragem. E ficava ali, olhando, como se fosse a coisa mais legal do mundo. Sem falar no barquinho improvisado que fazia, de papel, e deixava correr como se tivesse rumo certo e pressa em chegar ao destino: “bueiro”.

Não me lembro de ter ficado doente ou pego alguma bactéria por ter cometido tamanho desatino...rs

Me lembro também, das vezes em que passava férias na casa da minha avó, no sítio, e lá me deparava com uma outra espécie de chuva. Uma que chegava apavorando, gritando e esparramando tudo o que via pela frente. Com direito a pedras e tudo mais. E quando a coisa ficava mais séria, minha avó mandava a gente se esconder debaixo da mesa, pois havia o risco do granizo quebrar as telhas e elas caírem sobre a gente. É, porque não tinha forro, nem laje como é tão normal nos dias de hoje. Na hora era um pavor só, mas ao mesmo tempo, uma aventura que, duvido muito, que alguma criança tenha nestes tempo.

Antigamente as casas eram pequenas, as pessoas ficavam mais unidas, tanto no carinho quanto nas horas de medo. Não tinha muito pra onde correr, era só rezar pra que a chuva fosse embora sem fazer muitos estragos.

Hoje temos construído casas gigantes, com muitos cômodos, muitas salas e muitos banheiros, sendo que, na verdade pouco usufruímos de tudo isto. Já não nos satisfazemos com uma casa térrea, precisamos ter um andar, dois... e nem sempre  sente-se o calor e a sensação de um lar, de que ali abriga uma família. Parece mais uma caixa grande, dividida em várias caixinhas, com pessoas espalhadas por ali.

Temos salas, que em metros quadrados, tem o mesmo tamanho de pequenas residências. O mesmo tamanho das nossas casas na infância, onde éramos felizes e o pouco espaço não diminuía em nada esta felicidade.

Li uma frase estes dias no Facebook, onde dizia “sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos”. É a mais pura verdade. Somos exigentes demais e quando pensamos em uma fase em que a vida tenha sido maravilhosa, vamos direto para a infância, onde tínhamos muito menos, mas éramos muito mais.

A chuva ainda continua, o domingo vai se acabando devagar e amanhã talvez venha o sol ou mais chuva (quem sabe?!), mas com certeza uma nova oportunidade de diminuir os erros e sermos melhores que hoje.

Solange Grignolli
A partir do Angel Blog. Leia no original

TODO DIA É DIA DE SER FELIZ

11/16/2012

A felicidade está nas coisas simples da vida.

Mas, para poder perceber as coisas simples, aquelas que podem fazê-lo feliz, você precisa estar aberto para a felicidade. Mais ainda, você precisa dar-se permissão para ser feliz."

Todo dia é dia de ser feliz. E tudo é apenas uma questão de atitude que você tem perante a vida.

Levante-se pela manhã, olhe-se no espelho e diga a si mesmo, em voz alta e com convicção: "Apenas pelo dia de hoje, eu escolho ser feliz".

Isso será o começo de uma transformação positiva que vai tomar conta de sua vida. Que vai torná-lo mais aberto à felicidade.

Roberto Shinyashiki
Psiquiatra, escritor e palestrante
A partir do livro "Todo dia é dia de ser feliz"

O DIA DE NÃO SABER

5/13/2012
Andei uns dias com uma tristeza e ura desanimo sem razão que eu pudesse detectar, mas que me sobrevoavam como ave agourenta. Eu a mandava embora, ela depressa voltava. Fiz meus cálculos: filhos, netos e marido bem, saúde boa, trabalho bastante, ainda dando para pagar as contas. Mas eu me sentia doente.

"Exames, consultas,tudo ótimo, você vai fácil aos 100”, tranquilizou o médico amigo. Mas eu me sentia doente e nunca fui de hipocondrias. "Repouse um pouco. Pegue leve", ele disse. Obedeci. Em lugar de saltar da cama antes das 7, preparar o café e tomá-lo na sala enquanto assis¬tíamos ao noticioso, fiz o que, brincando, chamei de "vida de celebridade"; ficava até mais tarde na cama, às vezes o marido até trazia a simpática bandejinha. Procurei controlar minha natural ansiedade, nada de me preocupar com tudo e com todos. Mais contemplativa, do jeito que na verdade eu gosto.

E aos poucos memorei. Um dia acordei, e tinham-se ido os sintomas e a tristeza. Levei algum tempo para entender o que se passava: nos meus dias de preguiça deixei de ler os jornais e assistir aos noticiosos logo de manhã. Que santo remédio para meus males. Pois o que se lê ou vê não deveria ser o primeiro alimento da alma, co¬mo não comeríamos feijoada ao sair da cama, ao menos imagino eu.

Então retomei meu ritmo antigo bem de mansinho. Abro jornais e vejo noticiosos perto do meio-dia (assim também perco um pouco a fome e os quilos necessários). Pois o que vemos, lemos, ouvimos é mais de 90% deprimente, se não assustador. Lembrei-me de um senador da República,  Jefferson Peres, dizendo que deixaria a sua cadeira no Senado “com profundo desalento” pelo que ocorria neste país. Um dos raros pilares da grandeza e da ética, ele morreu em 2008, do coração, se não me engano em sua casa em seu estado natal. Não deve ser grave erro atribuir essa morte, em parte, ao peso daquele desalento que devia ser enorme, vasto e profundo, para o levar àquele passo.

(...)

Assim, higienizando minhas manhãs, eu me sinto muito melhor. Estaria curada se quisesse me alienar de todo. mas isso não posso: sou uma habitante deste planeta e deste país, e quero que tudo de bom ainda possa florescer por estas bandas, antes de se passarem aqueles meus profetizados 100 anos.

A partir da Veja (25/04/12). Leia no original

DEPRESSÃO: CUIDE-SE PARA VOLTAR À VIDA

3/18/2012
Eu já tive depressão profunda, a ponto de não ter forças para levantar da cama,depressão clínica diagnosticada por médicos e tratada,porque do contrário eu não estaria aqui teclando essas letras. Quem tem depressão, segundo diz a medicina,a tem pela vida toda porque atualmente  é um problema crônico. Então eu Tenho depressão;mas não estou depressiva, e não sou louca como muitos definem a loucura, embora eu mesma me defina como não muito normal. O que quero dizer é que quem tem depressão não é afetado nas faculdades mentais, só que uma crise depressiva é algo que eu não desejo para a pior pessoa do mundo.

Não pense que depressão é estar muito triste, não é, embora a tristeza profunda seja uma característica dos sintomas. Eu costumo usar uma comparação que li uma vez e achei muito apropriada: "A diferença entre depressão e tristeza é a mesma entre um raio e uma faísca". Acho que dá para definir bem. Então, se você tiver algum amigo deprimido, por favor evite aquelas máximas de dizer que a pessoa tem que lutar para sair dessa, que seja forte,que vá passear. Se você gosta dessa pessoa, ouça-a se ela desejar falar, e dê um jeito de se possível levá-la a um médico.

Depressão se trata com medicação, terapia, mas numa fase de crise costuma ser necessário remédio mesmo para equilibrar a química do cérebro. Aí é onde mora o problema, muitos inclusive o deprimido costumam ter preconceito com o termo "tarja preta" que define remédios controlados, ou psicotrópicos. Psiquiatra, então nem se fala!

É "médico de louco"! Não precisa esperar ficar louco para consultar um psiquiatra,pode ir antes...rsrsr E acredite, ajuda e muito!

Sim eu confesso, já consultei psiquiatras, já usei remédios tarja preta, mas não precisa ter medo: eu não rasgo dinheiro (até porque eu não tenho) não mordo, e não costumo babar nem espumar. O motivo de estar escrevendo isso é quem sabe ser de ajuda para alguém que esteja vivendo um período de profunda aflição mental,com inúmeros sintomas físicos,ansiedade, e tantos outros sentimentos conflitantes sem entender porque. Não se sinta preguiçoso pela fadiga e falta de energia, não fique dando ouvidos a gente que não entende de fato do que fala. 

Depressão é um problema sério, a ponto de levar alguns ao suicídio, mas há esperança, e tratando corretamente a gente recupera a vontade de viver. Não seja preconceituoso, vá a um psiquiatra, se necessário tome os psicotrópicos prescritos por ele, cuide-se para voltar à vida. Porque por mais improvável que pareça numa fase de crise,há vida após a depressão! E sendo devidamente diagnosticado o problema, devidamente tratado, a gente aprende a usar as armas contra o nosso monstro. E passa a conviver com ele de forma a manter uma certa distância, controlando a situação na medida do possível.

Caso esteja vivendo uma situação de tristeza prolongada, falta de energia, desmotivação pra tudo, dor física inexplicável, busque ajuda médica, porque talvez você esteja com depressão. Cuide-se, trate-se e sobreviva da melhor forma possível. Cada pessoa acaba achando suas ferramentas de lidar com a situação, porque cada ser humano é ímpar. Busque coisas de que gosta, que lhe façam bem,cerque-se de amor. Principalmente amor próprio. E se você não sabe o que é depressão, agradeça a Deus por isso, mas na dúvida sobre o que dizer a alguém depressivo não diga que "entende",se não souber o que dizer não diga nada. Mostre à pessoa que se ela precisar, estará disponível e que é amigo de verdade, porque nessas horas... A gente descobre que está bem sozinho. E uma amizade genuína é uma verdadeira cura!

Elenite Araujo

EDIFÍCIO TRÊS MARIAS

10/01/2011
Terça-feira, 7h43, av. Brasil: "aí eu peguei e liguei na hora...", "parei de fumar semana passada e...", "acredita que engordei outra vez...", "ali ninguém presta. Mesmo...", "comprei na liquidação, mas não conta...", "isso! Na gaveta de baixo, abre ela...". As pessoas passavam por ele como se não existisse. Usavam roupas coloridas, uniformes, casacos, decotes. Era como se não estivessem na mesma estação, na mesma cidade, na mesma época. Ele seguia em linha reta, com um olhar altivo. Passou pela faixa de pedestres, banca de jornal, Banco Itaú, Mercantil e Bradesco. A cada minuto batia a mão no peito conferindo se a carta estava no bolso. Havia tomado banho decente e se barbeado após semanas. No pescoço, uma pequena cicatriz: culpa da navalha e da falta de prática. Os sapatos estavam engraxados e combinavam com a camisa de linho. Dobrou à direita na Getúlio Vargas e quase pisou nuns pombos que bicavam a calçada. Parou por um momento e olhou pra cima. O céu, já azul, era invadido por algumas nuvens. Ao redor, alguns prédios e letreiros de publicidade. À frente, a catedral. Era bem alta, pena não ter janelas. Andou mais alguns passos e entrou no Edifício Três Marias. Disse ao porteiro que iria à radio e entrou no elevador. Avaliou que oito andares eram suficientes. Conferiu a carta no bolso da camisa e apertou o botão do 8º. O elevador era barulhento. O edifício, um dos mais antigos de Maringá, década de 1960. Saltou no andar escolhido assoviando as notas de Lady Writer, o andar vazio. Verificou as janelas, todas fechadas. Olhou a cidade de cima e achou antipática. Tomou impulso no corredor e pulou contra a vidraça, depois contra o vento e caiu em cima dos pombos.

NÃO TENHO A RECEITA DE SER FELIZ

8/29/2011
Não se preocupem: não vou dar, pois não tenho, receita de ser feliz. Não vou querer, pois não consigo, dar lição de coisa alguma. Decido escrever sobre esse tema tão gasto, tão vago, quase sem sentido, porque leio sobre felicidade. Recebo livros sobre felicidade. Vejo que, longe de ser objeto de certa ironia e atribuída somente a livros de autoajuda (hoje em dia o melhor meio de querer insultar um escritor é dizer que ele escreve autoajuda), ela serve para análises filosóficas, psicanalíticas. Parece que existe até um movimento bobo para que a felicidade seja um direito do ser humano, oficializado, como casa, comida, dignidade, educação.

O PONTO NEGRO

6/23/2011
Circula pela internet um texto de inspiração religiosa, e cuja autoria não consegui apurar, que trata com delicadeza a questão de como vemos a vida, de como encaramos os problemas e, por fim, de como esta postura afeta toda nossa relação com as pessoas, com as coisas e nosso bem ou mal estar. Na reprodução abaixo decidi manter o texto com sua redação original, mas peço que leia com "boa vontade", abstraindo o fundo religioso e até a palavra "Deus". Isto, para nós, não importa.

Quero apenas que preste atenção na idéia e pense se não é exatamente assim que vê as coisas. Há algum tempo, lendo uma crônica semelhante, que falava de bolas de uma árvore de Natal, cheguei à mesma conclusão do texto e percebi que valorizava tudo o que havia de negativo, que menosprezava as conquistas e fertilizava minha infelicidade. Decidi mudar e, pelo menos pra mim, deu certo. Espero que goste.

* * *

Certo dia, um professor entrou na sala de aula e disse aos alunos para se prepararem para uma prova relâmpago. Todos se sentiram assustados com o teste que viria. 

O professor entregou então, a folha com a prova virada para baixo, como era de costume... 

Quando puderam ver, para surpresa de todos, não havia uma só pergunta ou texto, apenas um ponto negro no meio da folha. 

O professor analisando a expressão surpresa de todos, disse: - Agora vocês vão escrever um texto sobre o que estão vendo. 

Todos os alunos, confusos, começaram a difícil tarefa. Terminado o tempo, o professor recolheu as folhas, colocou-se na frente da turma e começou a ler as redações em voz alta. 

Todas, sem exceção, definiram o ponto negro tentando dar explicações por sua presença no centro da folha. 

Após ler todas, a sala em silencio, ele disse: - Esse teste não será para nota, apenas serve de aprendizado para todos nós. 

Ninguém falou sobre a folha em branco. Todos centralizaram suas atenções no ponto negro. Assim acontece em nossas vidas. Temos uma folha em branco inteira para observar, aproveitar, mas sempre nos centralizamos nos pontos negros.

A vida é um presente de Deus dado a cada um de nós, com extremo carinho e cuidado. Temos motivos pra comemorar sempre. A natureza que se renova, os amigos que se fazem presentes, o emprego que nos dá sustento, os milagres que diariamente presenciamos. 

No entanto, insistimos em olhar apenas para o ponto negro. O problema de saúde que nos preocupa, a falta de dinheiro, o relacionamento difícil com um familiar, a decepção com um familiar, a decepção com um amigo. Os pontos negros são mínimos em comparação com tudo aquilo que temos diariamente, mas são eles que povoam nossa mente. 

Tire os olhos dos pontos negros da sua vida. Aproveite cada benção, cada momento que Deus lhe dá. Creia que o choro pode durar até o anoitecer, mas a alegria logo vem no amanhecer.

Tenha essa certeza, tranquilize-se e seja feliz!!!

A partir de sugestão de J.R.M. (Comunidade Quero Morrer)

O FUNDO DA MINHA ALMA (SE...)

4/18/2011
Se o meu sorriso mostrasse o fundo da minha alma, todos ao me verem sorrindo chorariam comigo.

Se o meu rosto pudesse denotar o que sinto, tornaria-me irreconhecível a qualquer um que já tenha me conhecido, hoje ou no passado.

Se meus olhos cogitassem tudo aquilo o que vejo e observo, tão mais distante eu me tornaria de tudo e todos quando me exaltasse às coisas que evito.

Se meus gestos compartilhassem da minha vontade mais concreta, ainda mais inerte eu pareceria ao mundo, pois meus atos estariam tão absortos na verdade mais profunda que já não teriam valia relevante.

Se minhas mãos pudessem dissipar a tristeza contida nas lágrimas que já não tenho, então eu poderia dizer adeus pela última vez.

Se minha boca fosse capaz, agora, de expressar todas as coisas que me afligem, eu talvez deixasse de ser uma pessoa se encaminhando para o fim das coisas e passaria a ser uma pessoa que sempre fez parte do fim.

Se o meu coração fosse dono de todas as soluções, meus pensamentos de todas as vontades, meus lábios de todas as verdades... somente então eu compreenderia e conseguiria explicar porque tanto fiz por todos, porque tanto fiz por mim, porque tanto deixei de fazer, e principalmente porque tão pouco faço.

(Autor Desconhecido)
Sugestão de J.R.M.
A partir da Comunidade Q.M.

ANTES DE MORRER

12/24/2010
Muitos anos antes de morrer já estou convencida de que finjo que a vida é literatura. Não vou mudar isso justo antes de morrer. Quem sabe, no máximo, melhorar o enredo. E transitar melhor entre os gêneros.

1) Viver a vida de uma outra mulher, muito diferente de mim. Uma mulher da roça, como eu gostava de brincar na infância. Das que acorda antes do sol, trabalha na horta, dorme ao escurecer, sem luz e sem televisão. Fogão de lenha, bichos no quintal, solidão sem abandono. A mulher que nunca fui na roça que não há.

2) Descobrir, em qualquer parte do Brasil, uma reserva de escuro e silêncio absolutos. Caminhar no escuro no meio das estrelas uma noite inteira. Com um pouquinho de medo: o medo é uma espécie de embriaguez.

3) Gravar um CD cantando, sozinha, músicas das que mais gosto de cantar. Ou, radicalizando, mudar de profissão. Virar cantora. De boate, se é que ainda existem.

4) Ficar amiga do Chico Buarque. Só amiga. Andar a pé pelo Rio conversando com ele, horas a fio. Recordar letras de música, sambas antigos. Contar e ouvir coisas da vida.

5) Conhecer um compositor (não precisa ser o Chico Buarque) que me peça letras para as músicas dele. Virar parceira, ouvir nossos sambas no rádio.

6) Virar artista plástica. Trocar a noite pelo dia em um atelier enorme, brincando com os materiais, com as tintas, com o peso e a densidade da matéria. Encontrar o estranho silêncio da matéria. Desintoxicar a mente do excesso de palavras.

7) Virar escritora de ficção. Acordar todos os dias com saudades de meus personagens, ansiosa para entrar mais uma vez na vida deles.

8) Queimar – isso é urgente – todos os meus diários, dos quinze aos quarenta e cinco anos. Uma fogueira e tanto.

9) Ir a um pai ou mãe de santo para iniciar-me no Candomblé; virar mãe de santo também, receber entidades, aprender a jogar búzios. Gostaria de ter acesso à experiência do inconsciente pré freudiano – o inconsciente revelado a contrapelo da psicanálise.

10) Saber como é a morte. Ficar acordada até o fim. Despedir-me de tudo. Dizer a meus filhos, como o Coelho, do John Updike: “não é tão mau assim”.

A partir do blog da autora. Leia no original

DEPRESSÃO PODE NOS TORNAR MELHORES - 3

10/19/2010
Minha mãe morreu e eu ganhei um apartamento com vista para o mar. Uma ilha distante — da vida que costumávamos viver, ao menos. Depois que eu saí de casa e meu pai morreu de câncer de pulmão, minha mãe, que costumava não sorrir para não causar rugas de expressão, decidiu torrar o resto da vida sob o sol. Eu nunca fui visitá-la — não naquela ilha, ao menos. Nos encontrávamos quando ela vinha a São Paulo, no Natal, na casa da minha tia, no Dia das Mães. Agora eu me encontrava numa casa estranha, numa nova vizinhança, com uma vizinha explicando onde minha mãe guardava as contas, onde guardava o sal.

Fui até a ilha cuidar do enterro, dar baixa nos papéis, ventilar o apartamento. Pretendia vender a propriedade, mas ponderava se não podia viver por lá. Deixado há três meses de um longo namoro, suspeitando que a qualquer momento eu podia ser demitido, viajei com o leve prurido da possibilidade que, se eu fosse outra pessoa, vivendo aquela minha mesma vida, eu poderia deixar tudo para trás. Deixar o quê?

Deixando o sol e o sal entrarem pela janela, aquela balneabilidade toda entre paredes, reafirmei a mim mesmo que eu não poderia ficar por lá. Acendi um cigarro tentando recuperar o carbono da cidade. Abri gavetas, peguei papéis, decidi ser rápido e objetivo. Minha camisa era escura e pesada demais para aquele clima, eu suava. A vizinha pareceu reparar na minha palidez — me olhava com pena — mas não ousaria sugerir que eu aproveitasse a praia; o luto me absolvia de ser feliz.

Eu voltava pelo calçadão no dia seguinte. Sábado de praia, ainda de manhã. Tive de ir cedo ao escritório do advogado, ou teria de esperar até segunda. Eu pensava de fato quanto tempo teria de ficar. Quanto tempo demoraria para vender o apartamento. Se eu teria de ficar por lá. Se seria capaz de cuidar de todos os detalhes, de todos os cuidados, não podia apenas deixar minha mãe partir? A morte é uma lenta e dolorosa burocracia — mesmo quando se morre de um câncer de pele fulminante, como minha mãe. Talvez não tenha sido exatamente assim, a vizinha deixou implícito. Já fazia alguns meses que minha mãe descobrira; estava se tratando em casa, silenciosamente. Quem sabe com a ajuda das amigas — a vizinha guardava isso como um rancor contra mim? Eu voltava pelo calçadão, pensando, vendo todas aquelas pessoas queimando sob o sol...

Uma felicidade intensa refletia da areia em mim. Lamentei não ter passado protetor. Abri a camisa o máximo que pude, e ainda não pude conter a vergonha da magreza generalizada, a gordura nos lugares errados, os pelos escuros e indecisos em minha pele pálida. Pensei se todos aqueles olhares ao redor eram de pena, ou nojo, mas as pessoas não conseguiam deixar de sorrir.

Um ruflar de asas me fez levantar o olhar. Um urubu pousava num poste próximo. Tão vestidinho de preto, veja só, de luto como eu. Todos aqueles mamíferos despidos na praia, e o urubu circunspecto e soturno, como eu.

Mais à frente, mais um.

Um segundo urubu pousou num poste próximo, quando eu passava. Estão me seguindo? Me perguntei. O segundo urubu também olhava para mim. De repente era como uma figura bi-dimensional, que parece sempre estar nos olhando, onde quer que estejamos. Essa é a mágica dos urubus, pensei eu, essa é a mágica da natureza, seu truque de sobrevivência. Parecem que estão sempre alerta, sempre nos olhando, onde quer que estejam. Um terceiro urubu pousou no próximo poste, assim que passei.

Na praia, as pessoas sorriam e se esqueciam, nadavam à superfície, dançavam o Rebolation. Não notavam os urubus nem o que se passava comigo. Logo, todos os postes da orla, do calçadão em frente à praia, estavam tomados pelos pássaros.

Cheguei no apartamento e tranquei a porta. Eu pingava. Tirei minha camisa encharcada de suor. Meu corpo não fora feito para aquilo. De repente, meu corpo se adaptava àquilo? As glândulas se ativando, a pele se preparando para o sol. Eu me transformando num mamífero despido, como aqueles que tostavam e se esqueciam, meu corpo se moldando para dançar o Rebolation. Tomei uma ducha fria para interromper a metamorfose.

Olhei pela janela, os urubus ainda estavam lá. Com aquele olhar bi-dimensional, olhando para a mim e para a praia. E as pessoas ainda tostando, bebendo, dançando sob o sol e o mar. Já nem se lembravam de mim, pálido animal de luto. Era começo de um sábado de sol, e as pessoas ainda teriam muito mais a queimar. Mas urubus ficavam à espreita. Eram pacientes. Os urubus poderiam esperar.

* Autor de seis romances, o escritor de 32 anos escreveu conto sobre o lado bom da depressão
Imagem :  por dani m.

PRECISA-SE

7/02/2010
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. 

P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.

Crônica de Natal : 'O bom de ser criança'

12/24/2009
Acordo cedo e saio a caminhar pela casa. Entro na sala de estar, que ainda tem os destroços da festa. Papel de embrulho descartado, restos da algazarra que fizemos abrindo os presentes na noite anterior. Os cheiros da festa também ainda estão no ar. Bebida, peru assado.

Lembro que os presentes também tinham cheiro. Bola de futebol nova, por exemplo. As bolas eram de couro mesmo, com a cor natural e o cheiro do couro, e com cadarço. Você não sabia se já saía chutando a bola ou se guardava aquela preciosidade à salvo de chutes e arranhões, só para cheirar.

Lembro que no mesmo Natal em que ganhei minha primeira bola de tamanho oficial ganhei outro presente: um kit com uma estrela de xerife, um revólver, um cinturão de caubói com coldre e um cilindro cheio de fitas de espoletas. Colocava-se uma fita de espoletas no revólver e acionava-se o gatilho, fazendo estourar as espoletas. Outro cheiro inesquecível do Natal, o de espoleta recém-deflagrada. Sem saber escolher entre um presente e outro, eu afivelei o cinturão (com babados no coldre) em torno do corpo franzino e saí abraçado com a bola e dando tiros, iniciando uma carreira inédita de jogador de futebol caubói, até a mãe ordenarque parasse porque ninguém conseguia conversar na sala. E foi nesse Natal que conheci o Papai Noel.

Tinham anunciado que naquele ano receberíamos o Papai Noel em casa.

Ele não deixaria apenas os nossos presentes, misteriosamente, como das outras vezes. Apareceria. Em pessoa! E à noite lá estava o Papai Noel batendo na nossa porta, e sendo recebido por mim, minha irmã, um primo e várias crianças da vizinhança, todos de boca aberta. Era ele mesmo, não havia dúvida. A roupa vermelha grossa, o gorro, a barba branca, as bochechas rosadas e o saco.

O maravilhoso saco, de dentro do qual tirou nossos presentes - a bola de futebol, o revólver de espoleta, como ele sabia que era o que eu queria? Depois deu tapinhas na cabeça de cada um, disse qualquer coisa e desapareceu. Mais tarde entrei na cozinha e dei com o Papai Noel sentado, conversando com a cozinheira e tomando uma cerveja. Tinha tirado a máscara. Reconheci a sua cara suada: era o Bataclan, uma figura folclórica de Porto Alegre, um negro que fazia propaganda - "reclame", chamava-se então - na rua. Não lembro como eu racionalizei a revelação. Se deixei de acreditar no Papai Noel ali mesmo, se passei a acreditar que o Papai Noel, quando não estava em serviço, era o Bataclan, e vice-versa. Talvez não tenha concluído nada. O bom de ser criança é que a gente não precisa racionalizar.

SUICÍDIO : DEDICATÓRIA PARA UM GRANDE AMOR

12/02/2009
Agora era tarde para voltar. A mulher estava me esperando e eu já havia adiantado um pouco do assunto pelo telefone…

Nem sei porque a procurei. Curiosidade? Bom, acho melhor explicar como aconteceu…

Há dois meses atrás fui ao sebo, que ficava quase na esquina da Farrapos com a São Pedro, em Porto Alegre, e comprei um livro. Não era um livro qualquer, era “O Livro”. Era, para mim, um livro tão importante, que provocou tanto impacto em minha maneira de ver o mundo e o Universo que eu queria ler apenas quando julgasse estar pronto…

O filme era o meu preferido, o diretor do filme também, assim como o escritor do livro. Mas o livro propriamente eu jamais havia lido. Sabe aquela lista que a gente sempre faz dos “livros para ler este ano”? Eu jamais colocava este livro na lista. Sei lá, pode parecer idiota, mas é como uma sobremesa onde primeiro comemos a “pior” parte, deixando a melhor para o final…

2001, Uma Odisséia no Espaço, de Arthur Charles Clarke (dizem que ele não gosta do Charles. Desculpe…). Uma barbada. 10 reais. Se você que estiver lendo essas palavras, mora no futuro, saiba que esses 10 reais equivalem a cinco garrafas de coca-cola, ou a um ingresso de um bom cinema.

Bom, chega de divagações. Comprei o livro. Ponto. Isso era uma quarta-feira e no sábado, aproveitando a folga, refestelei-me no sofá pronto para ler o livro.

Geralmente quando escolho um livro em um sebo, não olho as páginas finais e nem as iniciais. Pra não estragar a surpresa, acho. Abri a primeira página, a da contracapa, e lá estava, uma dedicatória escrita em letras bonitas, angulosas. Se fosse possível imaginar alguém através da letra, eu diria que aquela moça (era na época, descobri mais tarde…) era alta, elegante, gostava de vestir-se bem e ouvia bossa nova. Tinha preferência por tudo o que fosse sóbrio e altivo. Em suma, uma pessoa “clássica”, como a música.

Essas coisas me passaram pela mente, mas não tenho nenhum processo lógico para explicar como cheguei a essas conclusões. Não me peçam para destrinchar os intrincados mecanismos da mente humana, tão diferentes de pessoa para pessoa.

Eram oito linhas. Oito simples linhas.

“Que você encontre a felicidade e que ao abrir este livro lembre-se desta que tanto o ama. Lílian Marlene Fuchs” (22 - 2 - 1969) . “Lili”

Comecei a ler o livro mas aquilo sempre me voltava à mente: o que teria acontecido àquele grande amor da Lílian? Afinal, o livro fora vendido ou emprestado para alguém que, ao invés de devolvê-lo, vendeu-o para um sebo. É triste, é engraçado, mas não impossível de acontecer…

Teria o “amor da Lílian”, morrido? Teria Lílian também morrido?

E me veio a vontade de conhecer a Lílian.
A partir do blog Stapafurdius. Leia no original.
Imagem: Flickr. Autor: 1Happysnapper
 
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