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PRECISAMOS FALAR SOBRE O SUICÍDIO

4/08/2015
Embora o suicídio seja hoje, no Brasil e no mundo, um problema concreto de saúde pública, pouco ou quase nada é publicado na imprensa sobre o assunto no dia a dia. Como uma das máximas da era da informação é a tese de que, se algum fato ocorreu mas não se tornou notícia, então não aconteceu, exageros à parte é mais ou menos assim o que acontece com as dezenas de casos de suicídio que ocorrem no Brasil diariamente. Coisa rara na imprensa é notícia sobre suicídio e suicidas. A não ser quando se trata de alguém famoso ou quando o suicídio vai além da morte de quem o cometeu, como é o caso da tragédia com o Airbus 320 da Germanwings, cujo copiloto, Andreas Lubitz, suicidou-se usando o avião que pilotava e levou à morte mais 149 pessoas. O fato obrigou a imprensa a fazer o que ela não quer, não pode e não deixam: falar sobre suicídio. 

A primeira recomendação ética para que os casos de suicídios sejam evitados pelos jornalistas é de natureza médica. Há uma orientação internacional da Organização Mundial de saúde recomendando à imprensa todo o cuidado do mundo ao abordar suicídio, sob o seguinte argumento: diante de uma notícia sobre uma morte dessa natureza, as pessoas com ideações suicidas sentem-se encorajadas a repetir o gesto.

Uma segunda razão forte para a imprensa não noticiar mortes por suicídio é o critério de não interesse público na morte de uma pessoa que, tragicamente, decidiu interromper a própria vida. Ou seja, o interesse de um episódio dessa natureza diz respeito tão somente à própria família, cuja dor e luto em nada se relacionam com a opinião pública. Esse critério desaparece, por exemplo, quando se trata dos famosos ou quando o suicídio em si traz consequência para a vida de terceiros, como nos casos em que as pessoas atiram-se de prédios e viadutos e causam a morte ou ferimentos graves de/em quem passava pela via pública naquele instante. O pressuposto de que o suicídio é algo intrinsecamente da ordem da vida privada da vítima e da família faz com que não sejam raros os casos de processos judiciais movidos por familiares contra veículos de comunicação que desafiam essa norma implícita. 

FORA DA CURVA 

Quem tem amigos pouco sensíveis no whatsapp e não recebeu nos últimos meses vídeos de suicídios recentes em Salvador? Desses, raríssimos apareceram na imprensa e aqueles que fugiram à regra receberam tratamento eufemístico. No entanto, apesar dos raros casos noticiados e da forma eufemística como são narrados (“mulher morre ao cair do 20º andar”), fora do mundo das notícias os índices de suicídio no Brasil são assustadores. Hoje, no país, cerca de 30 pessoas suicidam-se por dia. E o contexto é ainda mais alarmante: para cada morte há entre 10 e 20 casos de tentativas mal sucedidas, além de a taxa de mortes por suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos ter crescido 40% nos últimos e 33% entre 15 e 19 anos.

Independentemente dos tabus que norteiam os limites do noticiamento do suicídio, é preciso encontrar um modo de reduzir o sofrimento de suicidas em potenciais que dão sinais às suas famílias de não estarem suportando o peso de suas próprias vidas, antes que seus planos sejam concretizados. O caso Andreas Lubitz é um ponto fora da curva, pois se há coisa rara, segundo os especialistas, é um suicida clássico levar em conta, na hora de tomar sua decisão, a morte concreta do outro. Mas não deixa de ser uma brecha e tanto para enfrentar um problema de saúde e um tabu que pode, nesse instante, estar pairando silenciosamente sobre milhões de famílias, algumas delas bem mais perto do que se imagina.
Jornalista e professora da Ufba

VIVER É MELHOR

4/07/2015

De vez em quando, surge alguém a falar sobre o suicídio, como se ele fosse uma glória, a do desaparecimento das dores e das perturbações da vida.

No entanto, isso é um grande engano, no qual ninguém deve precipitar-se, porquanto todo aquele que procurar no fim da existência humana o esquecimento de tudo encontrará o supremo despertar da inteligência flagrada em delito, porque, buscando o fim, achará vida e suas cobranças acerca do que o suicida terá feito com ela.

A morte não é o término da existência humana. Como dizia o saudoso Proclamador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, Alziro Zarur (1914-1979), “ela não existe em nenhum ponto do Universo”.

Realmente, porque nem o cadáver está morto. Ao desfazer-se, libera bilhões de formas minúsculas que vão gerar outras maneiras de existir.

Você não acredita? Tem todo o direito. Mas se for verídico?! Premie-se, minha amiga, meu amigo, com o direito à dúvida, base do discurso científico, que, na perquirição incessante, continua rasgando estradas novas para a Humanidade.

Pense no fato de que, se o que afirmamos aqui for realidade, Você encontrar-se-á, após um pseudoato libertário (o suicídio), terrivelmente agrilhoado (ou agrilhoada). Achar-se-á em uma situação para a qual, de jeito algum, estava preparado (ou preparada). Para quem apelar se, de início, afastou de si todos os entes queridos e alegrias que teimava em não ver?! Naquele momento, tardiamente, gostaria de voltar a enxergá-los. E, somente à custa de muitas orações, que Você, talvez, jamais, ou raras vezes, tenha proferido na Terra, perceberá, num gesto de humildade, uma luz que se lhe acendam nas trevas. Apenas desse modo poderá reencetar, depois de muitas dores, cobradas por seu próprio Espírito, uma caminhada que se terá tornado mais áspera.

Como se diz, na Religião Divina, “o suicídio não resolve as angústias de ninguém”; portanto, nem as suas.

Meu Irmão, minha Irmã, a Vida continua sempre, e lutar por ela vale a pena. Por pior que seja a escuridão da noite, o Sol nascerá, trazendo claridade aos corações.

Ainda mais, se passarmos os olhos pelo redor do nosso dia a dia, veremos que existem aqueles, seres humanos e até mesmo animais, em situação mais dolorosa, precisando que lhes seja estendida mão amiga. Não devemos perder a oportunidade de ajudar. Àquele que auxilia não faltará nunca o amparo bendito que lhe possa curar as feridas.

Viver é melhor!

QUANDO ME DISSERAM QUE ELE DESISTIU

7/14/2013
Imagem : sxc.hu
Quando me disseram que ele desistiu, eu pensei, "que seja". Não se pode fazer muita coisa senão dar de ombros numa situação como essa. Apesar do que dizem, a derrota, assim como a vitória, só podem encontrar sua verdadeira dimensão dentro do derrotado ou do vitorioso, e nós de fora somos pálidos espectadores, por mais que nos solidarizemos. Dor e alegria são muito pessoais; por mais que tentemos sinceramente, só conseguimos arranhar a superfície. E ele desistiu, me falaram, e muito pouco podia ser feito disso.

Naturalmente, eu precisava refletir a respeito. Até mesmo desci e fui pra rua e, como fazia sol, perambulei pelo calçadão à beira-mar. E me coloquei a pensar sobre o que significa, precisamente, desistir nesse contexto. Faria sentido dizer que o detento que foge da penitenciária "desistiu" da cadeia? Que o faminto, ao comer, "desistiu" da fome, ou que o doente, ao se medicar, "desistiu" da doença? Porque a questão é simplesmente esta: o que nos obriga a algo se, decididamente, não há motivo plausível para tal? Desistir me parece uma palavra muito equivocada. O errado, ao contrário, está em insistir, na cadeia, na fome, na doença.

Há que deixar a natureza fazer seu trabalho, a natureza, que engloba esse mar e esse sol. Mas a natureza nos deu livre-arbítrio, que é conspurcado pela culpa e toda castração que a religião nos deixou. Uma vez saciados, pedimos a conta: é de uma simplicidade tal que talvez choque. Mas por que continuar no jogo, se já não há prazer no jogar? Se as fichas já acabaram e a banca levou tudo? Talvez o segredo esteja em ter esperança de que a maré se reverterá na próxima rodada. Mas a vida escoa enquanto aguardamos o golpe de sorte que não vem.

Dito isso, de olhar o mar e o sol, me dei por satisfeito. Voltei ao cotidiano, mas não gostaria, jamais, que dissessem de meu amigo que se tratava de um covarde, por ter desistido. Não direi que, ao contrário, covarde seja quem insiste. Não chego a tanto. Mas me parece óbvio que encostar o aço frio na própria têmpora não é, decididamente, coisa para fracos.

A partir do Blog Escrita Vulgar. Leia no original

SUICÍDIO : REFLEXÕES

4/11/2013
Era sábado de manhã, eu estava em um hotel fazenda dando conta do calendário de férias escolares, e na véspera tinha me divertido com "Uma coisa supostamente divertida que eu nunca mais vou fazer", ensaio/reportagem de David Foster Wallace sobre sua experiência em um cruzeiro de luxo no Caribe. Me divertindo em termos. Cada vez que ele fazia uma de suas digressões geniais, me flagrava pensando: que raiva desse sujeito. Como assim ele não vai mais escrever essas coisas, nunca mais, com tanto mundo para ser escrito, tanta vida disponível para ser vivida? Que raiva. 

Pois naquele sábado, na varanda que desabava por cima de um jardim impecável, salpicado de flores e cercado por colinas verdes sobrepostas no horizonte, eu já estava lendo outro texto do livro Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo. Não tinha me detido tanto (ainda) no título do livro, uma frase retirada de outro ensaio sobre uma feira agrícola e que parecia referir-se ao fato de os moradores do meio-oeste rural americano já viverem "meio que Longe o tempo todo". Avançava para o final do livro em outro texto. Lembro de estar degustando o momento, um daqueles em que o tempo escorre devagar o suficiente para se perceber o privilégio de estar atento ao tempo presente. 

Wallace falava sobre a importância de estar atento. Atento e forte, acrescentei caetana e mentalmente. Eu estava lendo "Isto é água", discurso de paraninfo no Kenyon College que depois descobri ser cultuado na internet, com direito a áudio e tudo. Venerar David Foster Wallace, de certa forma, ganha sentido no discurso:

"Não existe isso de não venerar. Todo mundo venera. Nossa única escolha é o que venerar. E se existe uma ótima razão para talvez venerar algum tipo de deus ou coisa espiritual - seja Jesus Cristo ou Alá, YHWH ou uma deusa-mãe wiccan, as Quatro Verdades Nobres ou algum conjunto inviolável de princípios éticos - é que provavelmente todas as outras coisas vão devorar vocês vivos. Quem venerar o dinheiro e os bens materiais, quem buscar neles o sentido da vida, nunca terá o suficiente. Nunca terá a sensação de que tem o suficiente. É a verdade. Quem venerar o próprio corpo, beleza e encanto sexual sempre vai se achar feio, e quando o tempo e a idade começarem a deixar marcas morrerá um milhão de mortes antes de finalmente ser enterrado por alguém. (...) Quem venerar o intelecto, ser visto como inteligente, vai acabar se sentindo burro, uma fraude na iminência de ser desmascarada. E por aí vai.

"Essas formas de venerar são traiçoeiras não por serem malignas ou pecaminosas, mas por serem inconscientes. São configurações padrão. É o tipo de veneração pelo qual nos deixamos levar gradualmente, dia após dia, e que nos torna cada vez seletivos em relação ao que vemos e a como atribuímos valor às coisas, sem jamais termos plena consciência do que é isso que estamos fazendo. E o suposto 'mundo real' nunca desencorajará vocês de operarem nas configurações padrão, porque o suposto 'mundo real' dos homens, do dinheiro e do poder avança tranquilamente movido pelo medo, pelo desprezo, pela frustração, pela ânsia e pela veneração do ego."

Eu estava dialogando com Wallace, claro. Não sou de venerar (pelo menos de forma consciente), tenho dificuldade em manter ídolos e me sentia atraída pela possibilidade de tê-lo como objeto de veneração, para ajudar na minha luta contra a configuração padrão. Caramba, como me identifiquei com aquilo. Só que eu chamava de luta contra os lugares comuns e as verdades cristalizadas. Sim, é preciso questionar tudo, o tempo todo, estar atento e forte... Mas a vigilância cansa. "Atento e forte" pode ter se tornado um clichê? O fato de eu grudar uma palavra na outra me acendeu uma luz interna amarela. Mas Wallace diz para mim que muitos clichês são também grandes verdades. Por exemplo: o velho clichê segundo o qual "a mente é uma excelente empregada, mas uma péssima patroa": 

"Esse clichê, que como tantos outros é tolo e banal na superfície, no fundo expressa uma grande e terrível verdade. Não há um pingo de coincidência no fato de que a maioria dos adultos que cometem suicídio com armas de fogo faz isso com um tiro na... cabeça. E a verdade é que muitos suicidas já estão mortos muito antes de puxar o gatilho."

Para tudo. Não, eu não tinha parado para pensar na forma como Wallace se suicidou em 2008, enforcado, três anos, três meses e vinte dias depois deste discurso. É que havia chegado, finalmente, o jornal de sábado. Como eu o solicitara na portaria, o funcionário apressado acabara de me entregá-lo. Na capa, a morte do ator Walmor Chagas. 

*  *  *
O problema do suicídio é não ter parte 2 - pelo menos é nisso que acredito. Então o escritor David Foster Wallace, o ator Walmor Chagas e o programador Aaron Swartz não nos darão explicações para suas decisões. Como o suicídio é um tabu dentro de outro maior ainda, que é a morte (há quem defenda que a morte tomou o lugar do sexo no ranking de tabus da modernidade), simplesmente temos dificuldades em pensar nele. No mínimo, não estamos acostumados. 

Por muito tempo o suicídio sequer era noticiado na imprensa brasileira, e o primeiro a falar disso, se não me engano, foi o jornalista Arthur Dapieve, que escreveu o livro Morreu na contramão - o suicídio como notícia. Eu mesma, em redação de jornal, lembro de ter ouvido: não "damos" suicídios. Tabus são assim, e quem os estuda sabe como essas frases lacônicas silenciam tudo. 

Mas os tempos já são outros, são os tempos da internet, e o fato é que os três suicídios foram considerados notícia, receberam ampla cobertura, e, para mim, de certa forma coincidiram: soube das mortes de Walmor e de Aaron na época em que estava lendo Wallace. Ou melhor, enquanto estava descobrindo o escritor americano e percebendo em sua escrita uma espécie de compromisso com o futuro, uma pregação sobre a importância de se estar atento a tudo - principalmente a si próprio - para poder fazer escolhas verdadeiras.

Tradutor do primeiro romance de Wallace que será lançado no Brasil, Caetano Galindo reconheceu que pode ser "inescapável" entender o escritor a partir de sua depressão e seu suicídio. (Ah, sim: como tantos suicídios, o de Wallace costuma ser "explicado" pela convivência com a depressão e pelas dificuldades com a medicação.) Em entrevista a Francisco Quinteiro Pires, Galindo parece lamentar: "Ficou a sombra de que a morte dele representava uma confissão do fracasso da missão enorme que tinha se imposto".

Ao se matar, Wallace não teve oportunidade, por exemplo, de escrever algo sobre o fenômeno Facebook - embora parecesse bastante visionário sobre os impactos das tecnologias no comportamento humano. Depois de ler seus ensaios, me flagrei tentando reproduzir o seu olhar para pensar as redes sociais. Ou melhor, em como 'nós' agimos nas redes sociais (e ele colocaria a palavra 'nós' em destaque). Por que andamos tão pouco questionadores sobre tanta coisa? Será que os leitores de Wallace, após a sua morte, consideraram a missão pesada demais? 

Impossível não relacionar isso tudo, também, ao suicídio de Aaron Swartz, um dos criadores do RSS e fundadores do Reddit. Como Wallace, o programador americano tinha uma mente privilegiada, talento de sobra e a mania de questionar tudo sobre todos. Seu questionamento incessante o levou a ser um ativista na internet e usar a própria genialidade como hacker, em prol do livre acesso ao conhecimento. Parecia ter uma missão, uma missão que talvez tenha pesado demais - estava sendo pressionado e processado. Enforcou-se, aos 26 anos. 

Um diagnóstico de depressão também acompanhava Aaron, e realmente seria muito confortável para todos nós que suicídios sempre tivessem como "explicação" uma patologia. De preferência uma patologia com cura possível: fulano se matou porque não tomou o remédio. 

Como diria Wallace, individualmente somos serzinhos egoístas, que transpomos para nosso universo pessoal toda e qualquer experiência alheia. É o nosso ponto de vista e são os nossos interesses que imperam, porque não conseguimos de fato 'estar' no lugar do outro. E, para nosso conforto pessoal, buscar explicações fáceis para as mortes dos outros nos desobriga a pensar em nossa própria morte. Ou, mais provavelmente, nos desobriga a pensar em nossa própria existência.

E foi por esse motivo que, numa manhã de sábado, uma semana depois do suicídio de Aaron, quando eu estava lendo Wallace e soube da morte de Walmor Chagas, parei tudo para buscar uma explicação. Walmor era um ator genial. O obituário exaltava isso, e mesmo quem não teve oportunidade de constatá-lo pessoalmente podia percebê-lo por sua postura e conduta (vale a pena rever sua entrevista ao programa Starte, da Globo News). Sabe qual foi o nome da última peça que ele encenou, em 2005? Um homem indignado, de sua autoria.

Se pensar na morte como opção é difícil porque também temos que pensar na vida como uma opção, e no que devemos fazer com toda uma existência sem sentido, naturalmente a explicação fácil nos conforta. Walmor, eu leria, estava deprimido. Isolado há anos em um sítio, reclamava das limitações físicas da velhice. A pior delas, a dificuldade para ler - uma de suas últimas paixões - teria sido a gota d'água. Então era isso: Walmor Chagas se matara com um tiro de revólver calibre 38 na cabeça porque estava cego. E ainda dava para subtrair uma mensagem edificante de seu ato final: é mesmo terrível não poder ler, e viva a literatura.

Mas não era possível ignorar que havia, já em 2005, um homem indignado com a mediocridade reinante, um homem que não estava cego e tinha sete anos a menos que os 82 com que se mataria. Como já deve ter ficado claro, eu resistia em pensar que pessoas admiráveis só se mataram por uma contingência física ou um desequilíbrio químico no cérebro. Só que, ao rejeitar a justificativa da depressão para os suicídios, eu acabava caindo numa outra tentativa de "explicar a morte": eram pessoas geniais, e com uma consciência exacerbada, que queriam mas não conseguiam mudar o mundo. 

No fundo, tratava-se apenas de uma hipótese formulada por um serzinho egoísta, ávido por justificar as inquietações de sua própria existência... Pelo menos o suicídio está deixando de ser tabu, e estamos falando e pensando nele ele aqui, agora.
Marta Barcellos 
A partir do Digestivo Cultural. Leia no original

ACREDITO EM DEUS, MAS NÃO QUERO MAIS VIVER

4/07/2013
Tenho 21 anos, sou cristã, acredito muito em Deus e no evangelho. Mas não quero mais viver... não vejo sentido para isso, não sou feliz porque algo me falta, morro todos os dias um pouco e estou oca por dentro. De uns 2 meses a 3 meses para cá, eu vivo entre altos e baixos, e não sei como controlar as minhas crises. Hoje foi um dos dias mais difíceis pra mim...

Acho que chorei umas 2 horas seguidas dentro do carro no meio da rua, pensei em me internar em um hospital de 'doido'que tem perto da minha casa pensei em todas as formas que eu poderia me matar. 
Desde q começou essa fase da minha vida, eu comecei a ter vontade de me suicidar...mas hoje foi bem mais crítico, pensei em me enfocar, cortar a jugular, jogar o carro num barranco, me jogar de um viaduto... enfim...

Sei que não tenho motivos para viver dessa forma porque tenho uma família maravilhosa.Mas algo me falta. Nunca tive uma vida 'normal', porque minha mãe morreu quando eu era criança, e desde então eu tive que crescer e ser forte pra tudo na minha vida. Mas com o tempo a gente vai cansando de ser forte, cansando de ser surrado pela vida e pelas circunstâncias, as vezes me sinto mais mãe do meu pai do que filha. Para falar a verdade, acho que fui filha por pouco tempo.

Desde que minha irmã casou, sou eu que cuido da casa...e as vezes me sinto sobrecarregada de responsabilidade, porque não tenho ninguém para me ajudar com nada. 

AS vezes converso com minhas amigas sobre isso,converso com minha irmã,meu namorado, mas acredito que só a minha irmã que realmente entende, porque ela passou por tudo que estou passando...ela quase se suicidou na minha frente quando eu era criança ( Hoje ela está curada).

Não tenho forças para mais nada...nem orar eu consigo, meu namoro mal começou e já está por um fio porque ele não consegue se adaptar as crises. Fico muito triste, porque ele disse que não consigo fazê-lo feliz.Me sinto incompetente, fraca, medíocre... um lixo.

Tento ficar feliz...ser mais tranquila e maleável...mas parece que uma gota vira um oceano, e ele disse que não dá mais conta.

Já não sei o que eu faço da minha vida...só tenho vontade de ficar em casa..mas infelizmente tenho q me arrastar para o trabalho e para faculdade que termino daqui 3 meses.

Não tenho mais vontade de nada...só de morrer. Antes o medo do inferno me 'segurava' para não fazer nada contra minha própria vida, mas hoje parece que nem isso importa mais.

Sei que todos que entram nesse site estão passando por algo parecido, mas honestamente eu tenho a esperança que alguém possa ler isso e me ajude, porque sei que estou no fundo do poço. E que preciso de ajuda. Não sei o que eu tenho...nem sei se é depressão..transtorno bipolar...ou apenas uma fase.
To confusa.

Mas ainda assim quero que o Senhor me leve. Essa é a única oração q eu tenho feito. Quem pode me ajudar ...

SENCIÊNCIA VERSUS CONSCIÊNCIA

3/26/2013
Imagem por alexandre_vieira
Cansados da vida por esta já ter sido demasiado preenchida de emoções e acontecimentos marcantes, talvez comparáveis a uma vida demasiado longa... isso nos dá essa sensação, de nos sentirmos demasiados velhos para a idade que temos, o peso no nosso interior parece cada vez maior e mais denso.

Em astronomia os buracos negros são considerados como os objectos cósmicos mais pesados e densos. Parece que é isso que está a acontecer no nosso interior, um vazio cada vez mais pesado e denso, e que se todo esse interior for libertado cá para fora vai destruir os que nos rodeiam, tamanha é a nossa dor e o nosso sofrimento... esse abismo é alimentado por nós a cada dia que passa por ser mais forte que nós, porque por fora nos sentimos cada vez mais transparentes, a nossa identidade a ser sugada para esse interior voraz.

Pensar na nossa longevidade, refletindo sobre o que até agora foi suportado, parece que o fim da nossa existência está tão longe de nós como a eternidade.

Por tudo isso é compreensível querer antecipar o fim da nossa vida, para deixarmos de alimentar esse nosso interior que está sugando tudo.

Admito, não consigo segurar o meu próprio buraco negro, é mais forte que eu em muitas ocasiões, destrói-me de dentro para fora, e mais facilmente atrai o negativo do nosso exterior não me deixando apreciar o que me rodeia com a atenção e a perspectiva merecida...

A minha solução? Desligo-me do que é exterior a mim, enfrento o meu próprio abismo como se ele fosse o meu oposto e me alimento dele. Não somos culpados por ter esse buraco dentro de nós, o mundo assim nos criou, nos prometendo e  fingindo felicidade, nesta vida e em outras existências... devíamos ter aprendido desde pequenos que o sofrimento faz parte da nossa natureza humana, enquanto criaturas sencientes. Essa é a nossa dávida e a nossa maldição enquanto criaturas...

Charles Darwin disse: "Não existe nenhuma diferença fundamental entre o ser humano e os animais superiores em termos de faculdades mentais. A diferença entre a mente de um ser humano e de um animal superior é certamente em grau e não em tipo". São sencientes, tem sentimentos, dor, medo, e querem preservar suas vidas tanto quanto nós humanos. (in dicionarioinformal.com.br)

Sensciência é a "capacidade de sofrer ou sentir prazer e felicidade".

Mas temos uma vantagem sobre as outras criaturas: a nossa consciência.

Então enfrento esse meu abismo interior, não mais viro as costas para "ele", fico de frente para ele, fecho os olhos e observo-o intensamente, e aprendi a me alimentar dele... o negativo se torna positivo, porque estou consciente que não o quero mais alimentar nem me deixar ser consumido por ele, apenas com a minha perseverança, insistência, determinação.

Depois de enfrentar esse nosso interior, o que está cá fora, aqueles pequenos pormenores que nos provocavam tão facilmente, deixam de ser assim tão relevantes, nos tornamos neutros porque estamos em equilíbrio, não há mais negativo nem positivo, deixamos de ter duas naturezas dentro de nós e passamos a ser um só...

Gostaria de ter aprendido isso em pequeno para não pensar que andei este todo tempo a sofrer pensando que um dia poderia ser feliz quando esse sofrimento terminasse, me alimentar de esperanças supérfluas e inventadas pelos outros, me deixar iludir... e apenas aceitar que a senciência faz parte de nós, a nossa consciência é que tem de se adaptar a ela.
सचेतन
A partir da Comunidade Q.M. 

A PERDA DE MIM MESMO

3/21/2013
Efeitos da personalidade egóica
"É pela segunda vez que venho postar neste espaço. Como da outra vez me sinto muito mal. E para piorar o céu está muito nublado e isso contribui (e muito!) para que eu me se esconda no meio dessas negras nuvens.

Há cerca de dez dias me separei de minha namorada. Estávamos juntos há quase dois anos. No começo, o relacionamento estava super bem, nos amávamos intensamente, transavamos de forma louca, fazíamos muitas coisas legais juntos, ela, eu e nossos filhos. Mas como, muita das vezes, como é de se esperar, veio o declínio juntamente com sua obsessão e neuroses. 

Chegou ao ponto em que não estava entendendo mais nada. Muitas brigas, desconfianças, acusações, cobranças, idas e voltas etc. Por fim nos separamos! O mais intrigante é que desta vez nem conversamos sobre nossa separação, simplesmente cada um foi para seu lado sem falar nada. 

Sabe por mais que não estivéssemos bem sempre tive otimismo e achei que poderíamos chegar à paz, pois também sei que no fundo eu a amo e também sei que é recíproco. Mas devido nossa falha egóica, de não suportar a dor da frustração, silenciosamente, nos separamos. 

Mas na minha vida sempre foi assim. Muitas perdas significantes tive, inclusive a perda de mim mesmo. Tenho a sensação de estar em um eterno labirinto onde passo, repasso e nunca transpasso; vou e volto e nunca encontro a saída. O meu grito é silencioso no qual não quero que ninguém o ouça, inclusive eu; a minha carapaça existencial é de tal resistência que muitas vezes desconheço minha existência. Já que não existo, logo não penso, logo estou morto! 

Obrigado por deixar compartilhar minha dor." 
Anônimo
Depoimento em Suicídio : Frases
 
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