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QUEM VAI SE MATAR NÃO AVISA ? VEJA COMO PREVENIR SUICÍDIOS

9/13/2017

“Falar é a melhor solução” é o slogan do “Setembro Amarelo”, campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), 90% dos casos poderiam ser evitados e, um dos caminhos, é conversar e fazer o tema deixar de ser um tabu.

A seguir, com a ajuda de Karen Scavacini, psicoterapeuta e autora do livro “E Agora? Um Livro para Crianças Lidando com o Luto por Suicídio” (AllPrint Editora), e Eliane Soares, voluntária do CVV (Centro de Valorização da Vida) há 18 anos, listamos dicas práticas de como você pode ajudar a prevenir essas mortes.

Leve ameaças a sério

Um dos grandes mitos sobre o suicídio está em pensar que quem vai se matar não dá sinais. Se alguém chega ao ponto de dizer algo do gênero, é porque tem algo errado. Portanto, diante de uma ameaça, coloque-se à disposição para ajudar essa pessoa. 

Cuide de quem está de luto

Existem grupos --presenciais e online--  de apoio para ajudar pessoas que viveram o suicídio de uma pessoa amada. Para cada pessoa que se mata, cerca de dez são afetadas diretamente, segundo Karen. Por isso, é preciso cuidar de quem fica. A culpa é um sentimento frequente entre filhos, pais, parceiros e outros que conviviam com o suicida por acharem que poderiam ter evitado a morte. Entretanto, ninguém é culpado.

Não guarde segredos

Principalmente entre os adolescentes, é comum que a pessoa que pensa em tirar a própria vida desabafe e peça segredo. Para ajudar a prevenir, o indicado é não se calar diante de uma ameaça de suicídio. É preciso entender que, ao dividir o assunto com um adulto de confiança, por exemplo, você não estará expondo a pessoa, mas ajudando-a a sair da melhor forma da situação. No caso de adultos que receberem uma notícia como essa, o ideal é procurar um familiar que possa ajudar de maneira efetiva a encontrar um caminho.

Seja um bom ouvinte

Quando o assunto é suicídio e você se coloca à disposição para ajudar, o ponto principal é ouvir sem criticar e julgar. Eliane diz que quando o suicida tem a oportunidade de desabafar e sinalizar o sofrimento, a probabilidade de cometer o ato diminui. Deixe a pessoa falar o que sente.

Ajude a diminuir o tabu

A falta de conhecimento sobre o assunto é uma das chaves para a prevenção do suicídio não funcionar. Quando falamos sobre o suicídio, não estamos incentivando a prática, mas clareando os caminhos para preveni-lo. Diante de uma mudança brusca de comportamento, preste atenção no próximo e coloque as dicas anteriores em ação.

A partir do UOL. Leia no original
Imagem : Wikimedia

CAMPANHA 'SETEMBRO AMARELO' É ATACADA EM REDE SOCIAL

9/11/2017


Sobre a difamação da campanha "Setembro Amarelo" (iniciativa do CVV), promovida por postagem (imagem com texto) de um dos administradores (G. Alves) da página do facebook denominada "Mentes Insanas", que anexo abaixo, esclareço o seguinte:

1º) Dias atrás, quando vi tal post compartilhado num dos grupos que frequento aqui no facebook, acessei a página "Mentes Insanas", e postei comentário criticando o mesmo. Crítica, como era de se esperar, totalmente ignorada pelos administradores da página;

2º) Denunciei ao Facebook a referida publicação, mas infelizmente o sistema de denúncia, que fica em link nos recursos da própria publicação (no topo da mesma, à direita), tem itens pré-selecionados pelo Facebook e vc não pode escrever nada. Não pode apresentar sequer uma palavra de argumento. Procurei tanto no Facebook, como no sistema de "buscas" do Google, um e-mail ou telefone do Facebook para solicitar providências, mas simplismente não existe. A Administração do Facebook é uma "entidade superior" a qual nenhum cidadão, mortal como qualquer um de nós, tem acesso - talvez apenas via processo judicial;

3°) Por fim, resolvi enviar mensagem aos administradores da página "Mentes Insanas", que colo abaixo:

DENUNCIEI AO FACEBOOK SUA PUBLICAÇÃO DE 06 DE SETEMBRO DE 2017, ÀS 20:00 HORAS, NA QUAL O SENHOR, USANDO PALAVRAS DE BAIXO CALÃO E ARGUMENTOS ESTAPAFÚRDIOS, PROMOVE A DIFAMAÇÃO DA CAMPANHA "SETEMBRO AMARELO".

Como não consigo enviar o texto com os fundamentos da minha denúncia para o Facebook, envio aqui para sua apreciação. Segue:

Quero denunciar esta publicação, pois é abusiva e o autor incorre em crime de difamação, pervisto no Código Penal Brasileiro, "Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.".

Cheguei a postar nos comentários da publicação o seguinte:
"Como não existe botão "dislike" no facebook, sou obrigado a comentar o post, que é uma pérola de "nonsence" (contrassenso). Seguindo esse linha torta de raciocínio, a campanha "Outubro Rosa" de prevenção ao câncer de mama, por exemplo, também é uma campanha hipócrita, feita por hipócritas, pois apenas quem já teve câncer de mama pode mensurar o sofrimento de ter tal doença, e pessoas com câncer de mama morrem durante todos os meses do ano.

O autor desse infeliz post, além de querer se passar por "porta voz dos suicidas" (linha 9: " ... mais um de nós acaba de cometer suicídio ..."), é um sujeito que se acha "o dono da verdade", pois tem a pretensão de julgar a subjetividade de centenas (talvez milhares) de pessoas que de boa fé se engajam, participam, apoiam ou de alguma forma se solidarizam com a campanha "Setembro Amarelo", de conscientização sobre a prevenção do suicídio, que, basta dizer, foi iniciada no Brasil, em 2014, pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), que é uma entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente na prevenção do suicídio desde 1962, respeitada não só no Brasil, mas em todo mundo. Quantas milhares de vidas já devem ter sido salvas pelos voluntários do CVV?

Sr. "G. Alves", pelas palavras de baixo calão que usou no post, e sobretudo pelos seus estapafúrdios argumentos para difamar e desmerecer uma campanha séria e edificante como a "Setembro Amarelo", pelo menos para mim, ficou bem fácil entender porque você mesmo colocou o nome da sua triste página do facebook de "Mentes Insanas".

Link da história da campanha "Setembro Amarelo" pode ser encontrado no site "setembroamarelo.org.br".
PS: "O sábio duvida com freqüência e altera sua mente; o tolo é obstinado e não duvida, ele sabe todas as coisas, menos sua própria ignorância." "

Infelizmente meu comentário foi ignorado pelo autor deste post criminoso, que é o administrador da página.

Solicito que a Administração do Facebook retire imediatamente o post e comunique ao administrador da página que ele não pode, sob hipótese nenhuma, difamar uma campanha como a "Setembro Amarelo", séria e de cunho humanitário, realizada pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), entidade sem fins lucrativos. Em razão de atuar há mais de meio século, milhares e milhares de vidas já devem ter sido salvas pelos seus voluntários.

Na hipótese da Administração do Facebook "fazer vista grossa" e se omitir do seu dever legal de impedir a continuidade dessa prática delituosa, na condição de advogado que sou, entrarei em contato com o CVV e gratuitamente irei oferecer os meus serviços para tomar as medidas legais cabíveis contra "o autor da página" e "a empresa Facebook", também fazendo uso dos meios de comunicação de massa para divulgar os fatos aqui narrados e a omissão da empresa no cumprimento da Lei.

Atenciosamente, Dom Campos (OAB/RJ nº XXXXX). Niterói, 08/09/2017.;

4º) A resposta que recebi do administrador da página "Mentes Insanas" foi uma palavra: "Que?". Não creio que caiba réplica, ou qualquer tipo de diálogo, pois tudo que tinha a dizer está contido na minha mensagem. Só a "má fé" justifica a publicação e uma resposta dessas aos meus questionamentos e pedido de retirada do post. Chamar os voluntários do CVV , bem como todas as pessoas que se engajam, participam, apoiam ou de alguma forma se solidarizam com a campanha "Setembro Amarelo" de "HIPÓCRITAS" é ultrapassar todos os limites. Um dos princípios mais básicos de respeito à Lei e a boa convivência entre as pessoas já diz: "A liberdade de um vai até onde começa o direito do outro";

5º) O pior de tudo é que a página "Mentes Insanas" dispõe de enorme visibilidade, com mais de 704 mil seguidores. E a publicação em questão, já apresenta 7.569 compartilhamentos e mais de 5 mil curtidas (em 10/09/2017, às 19 horas). 

Assim sendo, na minha opinião, o estrago causado pela publicação da página "Mentes Insanas" à séria e edificante Campanha "Setembro Amarelo" já está consumado. Mesmo que a publicação fosse retirada da página nesse exato momento, ela já se encontra espalhada por toda rede social. Um enorme desserviço à toda sociedade, e sobretudo as pessoas que trabalham com seriedade na prevenção do suicídio.

Isto me faz lembrar o conto "Penas ao Vento", que fala sobre a Maledicência (falar mal dos outros, fofocar) e suas consequências. Corta-se um travesseiro de penas com uma faca do alto de um prédio. As penas se espalharão por toda parte e depois será impossível recolhe-las. O mesmo ocorre quando se espalham calúnias e inverdades sobre alguém, ou como no caso, sobre uma Campanha séria e uma entidade sem fins lucrativos e acima de qualquer suspeita como o CVV (Centro de Valorização da Vida).

Agradeço a todos que tiveram a paciência de ler este meu extenso relato, cuja publicação me senti no dever moral de fazer.

Confessando-me perdido, sem saber agora que rumo tomar, cordialmente me despeço, Dom Campos, 10/09/2017.

A publicação na página "Mentes Insanas" você pode acessar clicando aqui.


'PENSAMENTOS SUICIDAS ESTAVAM LÁ', DIZ VIÚVA DE CHESTER BENNINGTON

9/09/2017
Viúva de Chester Bennington publica foto do cantor com os filhos: 'pensamentos suicidas estavam lá'


Foto foi tirada dias antes do vocalista do Linkin Park ter sido encontrado morto.

“Isso aconteceu dias antes do meu marido tirar a própria vida. Os pensamentos suicidas estavam lá, mas você nunca sabe”, escreveu Talinda Bennington em sua conta no Twitter.

A viúva de Chester Bennington publicou, no dia 07/09/17, uma foto tirada alguns dias antes do suicídio do vocalista da banda Linkin Park em julho deste ano.

Talinda já havia se manifestado sobre a morte do marido:

"Eu perdi minha alma gêmea, e minhas crianças perderam o herói delas - o papai. Nós tínhamos vida de conto de fadas e agora se tornou uma tragédia de Shakespeare. Como eu posso seguir a vida?", destacou a viúva.

TAXA DE SUICÍDIOS SUPERA A DE MORTOS POR AIDS E CÂNCER

9/09/2017

O câncer, a AIDS e demais doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) há duas ou três décadas eram rodeadas de tabus e viam o número de suas vítimas aumentando a olhos nus. Foi necessário o esforço coletivo, liderado por pessoas corajosas e organizações engajadas, para quebrar esses tabus, falando sobre o assunto, esclarecendo, conscientizando e estimulando a prevenção para reverter esse cenário.

Um problema de saúde pública que vive atualmente a situação do tabu e do aumento de suas vítimas é o suicídio. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Tem sido um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas.

A esperança é o fato de que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário a pessoa buscar ajuda e atenção de quem está à sua volta.

Mas como buscar ajuda se sequer a pessoa sabe que ela pode ser ajudada e que o que ela passa naquele momento é mais comum do que se divulga? Ao mesmo tempo, como é possível oferecer ajuda a um amigo ou parente se também não sabemos identificar os sinais e muito menos temos familiaridade com a abordagem mais adequada?

SETEMBRO AMARELO : FALAR É A MELHOR SOLUÇÃO

9/04/2017

Setembro está se iniciando e, com ele, chamamos a todos para falar sobre suicídio, um tema ainda tabu na nossa sociedade.

O CVV (Centro de Valorização da Vida), a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e Conselho Federal de Medicina (CFM) trouxeram para o Brasil, em 2014, a campanha "Setembro Amarelo". Na mesma lógica do “Outubro Rosa” e “Novembro Azul”, o "Setembro Amarelo" tem como objetivo chamar a atenção das pessoas à problemática do suicídio e estimular a conversa sobre a questão por meio de diversas atividades que serão realizados no decorrer de setembro.

O dia 10 de setembro foi oficializado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.

O suicídio é uma questão urgente e preocupante. Um dado alarmante é que o suicídio é a segunda maior causa de mortes entre jovens na faixa de 15 a 29 anos. No Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa morre por suicídio (32 por dia), de acordo com dados do Ministério da Saúde de 2014. Segundo a OMS, a cada ano, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo. A OMS prevê que o número de suicídios no mundo pode dobrar até 2020.

Esses dados mostram que o suicídio é uma questão de saúde pública.

O suicídio é uma questão que impacta a sociedade como um todo, pois ele não escolhe cor, raça, nível social ou cultural.  Estudo realizado pelo IBGE, com coordenação da OMS, na região de Campinas, mostrou que ao longo da vida, 17,1% dos brasileiros “pensaram seriamente em por fim à vida”, 4.8% chegaram a elaborar um plano para tanto, e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio.

O silêncio é a pior solução. De cada três pessoas que tentaram o suicídio, apenas uma foi, logo depois, atendida em um pronto-socorro. Um dado importante para ser compartilhado é que 90% dos casos pode ser prevenido.

Ações

Uma das ações que mais chamam a atenção durante a campanha é a iluminação de pontos turísticos e de destaque com a cor amarela, como aconteceu com o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, nos últimos anos. O desafio é aumentar o número de pontos iluminados de amarelo e ações de engajamento nas ações de prevenção ao suicídio este ano, mas é necessária a adesão de prefeituras, clubes, condomínios comerciais e residenciais e qualquer outra organização que possa ajudar nas ações.

Para colaborar, qualquer pessoa pode divulgar em suas redes sociais, iluminar ou identificar a fachada de uma casa ou prédio e sugerir a iluminação do local de amarelo, promover passeios de motos ou bicicletas com balões, fitas ou panos amarelos, caminhadas com camisetas amarelas, debates ou outras ações que impactem a população.

O site setembroamarelo.org.br traz mais informações e alguns materiais de apoio que podem ser utilizados sem prévia autorização. Todos que enviarem fotos de suas iniciativas para o e-mail setembroamarelo@cvv.org.br poderão ver o material compartilhado na fanpage do CVV (facebook.com/cvv141) ou do Setembro Amarelo (facebook.com/setembroamarelo).

Sobre o CVV

O CVV - Centro de Valorização da Vida, fundado em São Paulo em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal em 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo. Os mais de um milhão de atendimentos anuais são realizados por 2.000 voluntários em 18 estados mais o Distrito Federal, pelo telefone 141 (24 horas), pessoalmente (nos 76 postos de atendimento) ou pelo www.cvv.org.br via chat, Skype e e-mail. Desde setembro de 2015 realiza o atendimento pelo telefone 188, primeiro número sem custo de ligação para prevenção do suicídio, nesse primeiro momento exclusivamente no estado do RS.

Atividades Marcadas para o Mês de Setembro:

Dia 10/09 –  Caminhada pela Valorização da Vida e Pedalada pela Vida. Local da Concentração: Av. Paulista, esquina com a Brigadeiro Luiz Antonio. Horário: 10 horas. Não é preciso fazer inscrição.

Dia 11/09 – Seminário Setembro Amarelo. Conversando sobre Prevenção do Suicídio - Local: Câmara Municipal de São Paulo, Viaduto Jacareí, 100 - 1º Andar. Horário: 14 às 18 horas. Não é preciso fazer inscrição.

Dia 12/09 - Seminário Setembro Amarelo. Conversando sobre Prevenção do Suicídio - Local : Assembleia Legislativa ​do Estado de São Paulo - ​      ​                   Auditório​ Franco Montoro​.-​ Av Pedro Alvares Cabral, 201 - Horário a partir das 14 horas - ​Não​ ​é preciso fazer inscrição.

Dia 14/09 – Caminhada Noturna pela Valorização da Vida. Local da Concentração: em frente ao Teatro Municipal de São paulo, no centro. Horário: 20 horas. Não é preciso fazer inscrição.

'SURTO DE SUICÍDIOS' NA USP MOBILIZA ALUNOS E PROFESSORES

9/03/2017
Marcos Santos/USP Imagens

Um série de tentativas de suicídio entre alunos do quarto ano de medicina da USP tem mobilizado estudantes e professores de uma das melhores faculdades do país.

Ao menos seis casos foram registrados neste ano –três nas últimas semanas de abril.

O clima de tensão aparece em páginas do Facebook dos estudantes –que citam "surto de suicídios"– e em textos de professores aos alunos.

"Ficamos muito chocados com os acontecimentos recentes envolvendo a saúde dos alunos. Há uma grande apreensão e tristeza pairando em todos nós", escreveu o coordenador do curso de clínica médica do quarto ano, Arnaldo Lichtenstein.

Em outra carta, um grupo de profissionais do serviço de psicoterapia do IPq (Instituto de Psiquiatria da USP) fala sobre a angústia dos alunos.

"Esgotamento, ansiedade, depressão, internações psiquiátricas, tentativas de suicídio, mortes. Os relatos [dos estudantes] nos parecem crescentes em frequência e intensidade, e soam como um pedido de ajuda."

O texto fala sobre as dificuldades em lidar com o assunto no ambiente acadêmico e termina com um convite para que os alunos saiam do silêncio e falem "do que não se fala, a não ser na privacidade dos corredores".

Na condição de anonimato, a Folha conversou com seis estudantes. Eles relatam que, no quarto ano, o aluno fica mais vulnerável porque as pressões se multiplicam.

"A formatura está próxima e a realidade da profissão vai matando as ilusões dos tempos de calouros. Há disputas infantis por notas, muitas divulgadas nominalmente."

Outro afirma que não existe tempo suficiente para atividades que não estejam ligadas ao mundo médico. As aulas começam às 8h e terminam às 18h quase todos dias.

"Além do cansaço mental, da desumanização cotidiana, temos que ter a cabeça tranquila para estudar doenças."

Os alunos apontam como um dos focos do problema a disciplina de clínica médica. "Em apenas dez semanas de duração, somos cobrados sobre fisiopatologia das doenças, sobre diagnósticos e sobre quais exames solicitar para excluir ou confirmar hipóteses", relata um deles.

Ele se queixam também que a saúde mental do aluno não é considerada quando se trata de faltas. "As notas de conceito [quase 50% da nota final] são multiplicadas pela frequência. Se o aluno está deprimido, não consegue ir às aulas. Mas não podemos faltar sem punição. Não temos tempo para cuidar da nossa saúde mental e física."

Outro fator de estresse são as "panelas". No quarto ano, são formados grupos de cerca de 15 alunos para o estágio obrigatório (internato).

Em várias universidades, como na Unicamp, os grupos são formados por sorteio, mas, na USP, é por livre escolha. São os alunos que decidem com quem se agruparão, o que gera grupos de exclusão e perseguição.

"Alunos mal vistos ou que não são bem relacionados, por inúmeros motivos, acabam sobrando e formando a famigerada 'panela lixo' ou são excluídos e têm que mendigar uma vaga entre os grupinhos já formados."

APOIO PSICOLÓGICO

Para Francisco Lotufo Neto, professor de psiquiatria indicado pela diretoria da FMUSP para falar sobre o assunto, as tentativas de suicídio estão relacionadas a uma soma de fatores.

"São jovens em amadurecimento, enfrentando a entrada numa profissão que tem contato com o sofrimento humano. É um curso difícil, que exige das pessoas. Também há a pressão pelo sucesso."

Em sua opinião, isso tudo leva a uma maior predisposição à depressão, que é mais prevalente entre os estudantes de medicina do que na população em geral.

Segundo ele, na comissão de graduação já existe um grupo que acompanha os alunos com dificuldades (por exemplo, que foram mal nas provas ou que têm faltado às aulas), mas que agora, após as tentativas de suicídio, foi criado um grupo de atendimento psicológico para atendimento individualizado.

Foi instituída também uma linha telefônica que funciona 24 horas para onde os alunos podem ligar em situações de emergência. "Fiquei como plantonista o fim de semana todo, mas ninguém ligou", diz Lotufo.

Sobre as queixas relativas à falta de tempo dos alunos, ele afirma que a nova grade curricular da medicina, implantada a partir de 2015, já prevê mais tempo livre aos alunos. "O atual quarto ano ainda segue a grade antiga."

Em relação às panelas, disse que já houve uma proposta da direção em adotar sorteios na formação dos grupos, mas que a maioria dos alunos foi contrária à ideia.

Sinais de Alerta

Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress
  • falar sobre querer morrer
  • procurar formas de se matar
  • falar sobre estar sem esperança ou sobre não ter propósito
  • falar sobre estar se sentindo preso ou sob dor insuportável
  • falar sobre ser um peso para os outros
  • aumento no uso de do álcool e drogas
  • agir de modo ansioso, agitado ou irresponsável
  • dormir muito ou pouco
  • se sentir isolado
  • demonstrar raiva ou falar sobre vingança
  • ter alterações de humor extremas
  • quanto mais sinais, maior pode ser o risco da pessoa
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress
O que fazer
  • não deixar a pessoa sozinha
  • tirar de perto armas de fogo, álcool, drogas ou objetos cortantes
  • ligar para canais de ajuda
  • levar a pessoa para uma assistência especializada
Ilustração Carolina Daffara/Editoria de Arte/Folhapress
Alguns pontos de alerta para depressão em adolescentes:
  • Mudanças marcantes na personalidade ou nos hábitos
  • Piora do desempenho na escola, no trabalho e em outras atividades rotineiras
  • Afastamento da família e de amigos
  • Perda de interesse em atividades de que gostava
  • Descuido com a aparência
  • Perda ou ganho inusitado de peso
  • Comentários autodepreciativos persistentes
  • Pessimismo em relação ao futuro, desesperança
  • Disforia marcante (combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva)
  • Comentários sobre morte, sobre pessoas falecidas e interesse por essa temática
  • Doação de pertences que valorizava
Cerca de 90% das pessoas que morrem de suicídio possuíam transtornos mentais. Elas poderiam ser tratadas e acompanhadas


Mitos em relação ao suicídio

Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir uma pessoa a isso

Questionar sobre ideias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco, fortalece o vínculo com uma pessoa, que se sente acolhida e respeitada por alguém que se interessa pela extensão de seu sofrimento.

Ele está ameaçando o suicídio apenas para manipular...

Muitas pessoas que se matam dão previamente sinais verbais ou não verbais de sua intenção para amigos, familiares ou médicos. Ainda que em alguns casos possa haver um componente manipulativo, não se pode deixar de considerar a existência do risco de suicídio.

Quem quer se matar, se mata mesmo

Essa ideia pode conduzir ao imobilismo. Ao contrário dessa ideia, as pessoas que pensam em suicídio frequentemente estão ambivalentes entre viver ou morrer. Quando falamos em prevenção, não se trata de evitar todos os suicídios, mas sim os que podem ser evitados.

Veja se da próxima vez você se mata mesmo!

O comportamento suicida exerce um impacto emocional sobre nós, desencadeia sentimentos de franca hostilidade e rejeição. Isso nos impede de tomar a tentativa de suicídio como um marco a partir do qual podem se mobilizar forças para uma mudança de vida.

Uma vez suicida, sempre suicida!

A elevação do risco de suicídio costuma ser passageira e relacionada a algumas condições de vida. Embora a ideação suicida possa retornar em outros momentos, ela não é permanente. Pessoas que já tentaram o suicídio podem viver, e bem, uma longa vida.

Telefones e sites de ajuda

Centro de Valorização da Vida (CVV): 141

Também é possível entrar em contato e receber apoio emocional do CVV via internet, a partir de email, chat e Skype 24 horas por dia


Fontes: American Foundation for Suicide Prevention; Centro de Valorização da Vida; "Comportamento suicida: vamos conversar sobre isso?", de Neury José Botega, membro-fundador da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio; "Preventing Suicide: A Global Imperative", da Organização Mundial da Saúde

A partir da Foilha de S.Paulo. Leia no original

SUICÍDIOS EM FAMÍLIA SÃO EXPLICADOS, EM PARTE, PELA GENÉTICA

7/30/2017
Getúlio Vargas (ao microfone) em cena do documentário "Imagens do Estado Novo"

Suicídios recorrentes na mesma família –como os do presidente Getúlio Vargas, de seu filho Manuel Antônio e, recentemente, de seu neto, também Getúlio – podem ser influenciados por um componente genético, dizem especialistas.

A relação entre esse aspecto hereditário e a decisão de pôr fim à própria vida, porém, é indireta, complicada e difícil de esmiuçar, sem nenhuma semelhança com uma suposta "maldição no DNA".

"Quando você olha de perto a questão, ela é sempre multifatorial", adverte o psiquiatra Carlos Cais, que é professor colaborador do departamento de psicologia médica e psiquiatria da Unicamp.

"Por mais sedutor que seja encontrar culpados, eles não existem", concorda Maila de Castro Neves, professora do Departamento de Saúde Mental da UFMG.

"É como a queda de um avião: em geral, ele cai por uma sequência de problemas. Essa coisa de dizer que o sujeito perdeu o emprego e por isso se matou, ou se matou porque estava com depressão, nunca conta a história toda", compara Cais.

Cerca de 90% dos casos de suicídio estão associados a algum tipo de transtorno mental, e é por essa via que os pesquisadores tentam elucidar a associação entre o ato e determinadas predisposições genéticas.


Numa análise de mais de 15 mil casos de suicídio, a ligação com transtornos mentais se mostrou comum

Em tais casos, a ideia é que variantes de determinados genes produzem problemas mentais e, de forma indireta, os sintomas desses problemas é que deixariam seus portadores mais vulneráveis a ideias suicidas.

A importância desse fator, porém, varia muito com o tipo de transtorno mental. Segundo Cais, o transtorno bipolar, seguido da esquizofrenia, parecem ter peso relativamente bem estabelecido no aparecimento de comportamentos suicidas. "Depois disso, os demais transtornos possuem uma força de evidência muito menor", diz.

Outra possível via pela qual os comportamentos suicidas se manifestam é a da impulsividade e agressividade mais elevadas, que não podem ser classificadas propriamente como doenças mentais, explica o psiquiatra.

Os métodos usados para investigar o tema do ponto de vista genético são, inicialmente, os que envolvem a comparação controlada de membros da mesma família.

O ideal seria estudar gêmeos idênticos separados no nascimento –cada um adotado por uma família diferente, por exemplo.

Numa situação como essa, embora os irmãos tenham basicamente o mesmo material genético, justamente por serem idênticos, o ambiente em que são criados é distinto, o que ajudaria a desemaranhar a influência da hereditariedade e o componente ambiental.

Também se pode comparar uma pessoa adotada com seus irmãos adotivos e seus irmãos de sangue (não gêmeos).

Se os irmãos idênticos ou os de sangue apresentarem uma propensão maior ao suicídio do que a de seus irmãos adotivos, mesmo que jamais tenham tido contato entre si, a tese de que há um componente genético ligado ao problema se fortalece. De fato, é o que algumas revisões da literatura científica sugerem.


Irmãos

Dados reunidos em 2008 por David Brent e Nadine Melhem, do Western Psychiatric Institute (EUA), por exemplo, indicam que o risco de um gêmeo idêntico cometer suicídio depois que seu irmão o fez é bem mais elevado do que o entre gêmeos fraternos (não idênticos): 15% versus 0,7%, respectivamente, e outras revisões apontam números semelhantes.

Em estudos de adoção compilados pelos mesmos pesquisadores, a probabilidade de que os irmãos biológicos de uma pessoa adotada que se suicidou também cometessem suicídio chegava a ser seis vezes maior do que a dos irmãos adotivos (em números absolutos, ainda assim a chance é baixa –a Organização Mundial da Saúde calcula que 11 em cada 100 mil pessoas morram por ano dessa maneira).

Maila cita um levantamento recente que aponta que a herdabilidade do comportamento suicida (ou seja, quanto da variação entre as pessoas nesse quesito pode ser atribuída a fatores hereditárias) seria de 43%. "Na minha opinião, é impossível e artificial separar a influência genética da ambiental."

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

MENTES DEPRESSIVAS : AS DIMENSÕES DA DOENÇA

7/11/2017
A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva fala sobre depressão e suicídio, tema abordado no livro "Mentes Depressivas: as três dimensões da doença do século".


Em Mentes depressivas: as três dimensões da doença do século, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa desmistifica a doença considerada um problema de saúde pública. Com linguagem envolvente e acessível a um público amplo, a autora aborda a depressão de maneira inovadora por meio das dimensões que a estruturam, a física, a mental e a espiritual.

Pesquisas comprovam que os índices de pessoas acometidas por quadros de depressão clínica aumentam a cada ano. Contudo, a falta de informação sobre o assunto impede o diagnóstico e impossibilita o tratamento adequado e eficaz contra o sofrimento crônico.

Os capítulos de Mentes depressivas abordam as diferentes faces da depressão, suas causas, sintomas e tipos, como a depressão infantojuvenil, aquelas que acometem pessoas na terceira idade e a depressão feminina, que acontecem principalmente durante o período pós-parto ou na menopausa. Na obra, Ana Beatriz ajuda a compreender a fundo o problema e apresenta estratégias para a recuperação e os tratamentos existentes.

Estudos científicos atuais revelam que 90% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais que, se fossem corretamente diagnosticados e adequadamente tratados, evitariam um número significativo de perdas vitais. Por esse motivo, a autora dedica parte do livro para analisar o assunto, que ainda é considerado um tema tabu e tratado com preconceito e ignorância.

'CHORO POR MIM, CHORO POR TER ME PERDIDO... "

4/08/2017

E
u não tenho uma história propriamente dita, afinal, só tenho 17 anos. Pensar que com essa idade já penso em dar um fim a minha vida, estranho não é? Perspectivas e sonhos ainda podem ser concretizadas porém, eu não tenho mais vontade de saber o que vai acontecer amanhã. Gosto de permanecer na minha zona de conforto, todos os dias eu levanto, vou para escola e lá eu sorrio, finjo estar completamente bem mas, choro todos os dias por razões não muito importantes mas, choro por mim, choro por ter me perdido e por perceber a cada dia que passa que o mundo em que vivemos é mais frustrante do que eu acreditava que fosse.


Não sou protagonista da minha história para me utilizar como personagem principal, mas acredito que tenha que expor minha história, então, vamos lá. Nasci doente, não uma doença pesada que gerasse coisas muito ruins mas, tudo começa ali, um erro, um fardo e uma irmã perfeita - perfeita mesmo, uma irmã sensacional - pais queridos e amorosos porém, briguentos e com algumas palavras rudes as quais ninguém é capaz de esquecer. 


A vida escolar anteriormente era promissora, agora, infelizmente, estou fadada ao extremo fracasso e os professores costumam dizer que “quem for mal nisso nunca vai passar no vestibular” o que me deixa ainda mais desacreditada: para que lutar se já sou dada como derrotada? Isso é o que me pergunto todos os dias quando me levanto, quando me deito e até quando vou assistir televisão. Eu não consigo ter vontade de ler, não consigo ter vontade de sair porque me sinto extremamente cansada, com a mente pesada. 

Nada de grave aconteceu comigo e você até pode pensar que sou uma ridícula por cogitar suicídio mas, tudo isso tem um sentido: o mundo, sim, ele mesmo, ele é uma grande mentira, ele é cheio de maldade e pouco importa se tens o coração bom ou mau: isso não consta no currículo muito menos lhe dá capacidade de fazer algo e, no fim, poucos valorizam aquilo que para mim é de verdade. 

O mundo parece muito errado e costumam dizer “então o mude”, olhe em torno as bases arcaicas as quais utilizamos como suporte. Todas elas intransponíveis, todas elas maciças e, infelizmente, tristes. Quando eu era menor eu olhava para o céu e conseguia ver muita coisa, conseguia fitar a imensidão azul e senti-la dentro de mim mas, hoje, me sinto oca, acabada, saturada e sem nenhuma razão ou objetivo de vida. Eu sei que aparentemente tenho muita vida pela frente mas, em vez de isso me dar esperanças, me assusta. 

Às vezes eu quero gritar e dizer o quanto isso está errado porém eu sou como todos os outros: eu sou má e tento fingir que não porque lidar com isso é horrível. Eu costumo riscar a parede de casa, surtar com músicas, arrancar meus próprios cabelos enquanto choro, ingerir remédios para dormir, ingerir remédios com bebidas porque me canso. Antes eu odiava bebidas, repugnava toda e qualquer droga, porém hoje, mesmo que não use frequentemente, eu entendo quem as usam, afinal, para mim faz todo o sentido querer fugir de tudo isso. Eu queria ser forte, eu queria acreditar, e eu acredito em Deus, acredito que ele cuide de todos nós porém, estragamos tudo, colocamos maldade em tudo aquilo considerado bonito. 

Às vezes prefiro pensar que Deus esqueceu de mim porque está cuidando de pessoas que precisam muito mais que eu. E eu entendo, eu entendo que eu só estou dramatizando minha situação, mas, a cada dia que passa eu menos sei porque vive e mesmo vendo nos olhos das pessoas que amo meu reflexo, não consigo me enxergar ali. Não gosto de falar disso, não quero falar disso, eu não quero ser a egoísta que pensa em suicídio sem nunca ter passado por algo horrível mas, a pior merda é se sentir mal sem ter razões para isso, saber que está sendo fútil e ridícula mas, me perdoe, eu me sinto assim. Eu tinha sonhos, muitos, e eu costumava me visualizar em histórias, porém, meus sonhos foram esmagados com o tempo e não consigo mais ter predições para o futuro: só decepções. 

Eu queria ser escritora, eu quero ser, eu quero que algum dia pessoas leiam minhas palavras mas isso nunca vai acontecer, primeiro porque pelo que vê meu texto é horrível e segundo porque eu não sei se vou viver muito ou pouco. Eu tenho medo de lâminas, de remédios, de sequelas e de me atirar da ponto, na verdade eu tenho medo da dor mesmo que esteja sangrando internamente. Eu só queria conseguir dize um adeus descente e, também, queria ter coragem de acabar com isso, com tudo, eu sei que isso é covarde, afinal, só corajosos vivem, mas eu cansei de fingir ser uma super-heroína, sou mais frágil do que muitos imaginam e mesmo que eu soe extremamente engraçada e feliz isso é só para que você possa sorrir, pelo menos, possa sorrir mais que eu.

Sinto muito se isso não contribuiu com sua vida, com seus sonhos, mas eu quero que lute por nós e por mim, eu ainda me importo, eu ainda quero ajudar aquela velhinha a atravessa a rua e tentar conscientizar o mundo que jogar lixo no chão é errado e, por fim, mostrar que não é preciso um diploma para isso… eu ainda quero isso mais que tudo, mesmo que pareça utópico, eu prefiro pensar assim, faz com que eu continue, mesmo que infeliz me faz ter um fio de esperança, um fio que me segura apesar de estar prestes a cair.
Depoimento de F.
Imagem : Pexels

OS SUICÍDAS, LIVRO DE ANTONIO DI BENEDETTO

5/22/2015
Antonio di Benedetto

Publicado pela primeira vez em 1969, o livro conta a história de um jornalista que, ao se aproximar de seu trigésimo terceiro aniversário, começa a recordar o suicídio do pai, que se matou justamente com essa idade. Para piorar a situação, o jornalista é incumbido de fazer uma reportagem justamente sobre suicidas. O livro, então, se desenvolve com a principal personagem caçando histórias de suicidas, visitando necrotérios e locais onde as pessoas tentam se suicidar e, até mesmo, testemunhando uma cena, descrita em ritmo quase vertiginoso, em que um rapaz ameaça saltar de um edifício. Como se não bastasse, o jornalista ainda precisa percorrer a literatura sobre os suicidas. 

O livro, assim, recolhe um grande número de citações da literatura, filosofia e ciências sociais, formando uma espécie de antologia irônica sobre o suicídio. Paralelamente, o jornalista recorda-se do pai e começa, sempre muito turvamente, a pensar no próprio suicídio. No dia do fatídico aniversário, a personagem principal acaba mergulhando em um torvelinho psicológico cuja conseqüência é completamente inesperada. 

O final do livro, tão surpreendente quanto sua estrutura formal, talvez deixe o leitor perplexo. Aliás, o engenho do autor se revela principalmente na capacidade de conseguir extrair sensações diferentes, como humor, ironia e perplexidade, de um tema não raro na literatura e muitas vezes trágico. Esquematizado em pequenos fragmentos, que conduzem a literatura a uma velocidade tão vertiginosa quanto a psicologia das personagens, a narrativa de fato reordena diversos tópicos literários: temos aqui um livro argentino que se passa na Europa, cuja trama reclassifica sua possível tragicidade em outros níveis, tudo por meio de uma estrutura inovadora e bastante diferente da que era praticada pelos pares latinos de Di Benedetto. 

O livro é traduzido por Maria Paula Gurgel Ribeiro, já experiente em trazer para o português autores argentinos, e conta ainda com um interessante prefácio do escritor Luis Gusmán, conterrâneo de Antonio Di Benedetto e uma das estrelas da atual ficção da Argentina. A Editora Globo publicará seus três romances principais – Los Suicidas, El Silenciero e Zama – e dois livros de contos. 

A organização da coleção é de Ana Cecília Olmos, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, especializada em literatura argentina. El Silenciero e Zama terão prefácio do escritor argentino de Juan José Saer. 

CRÍTICAS :  “O Brasil foi apresentado à sua obra somente no ano passado, com a tradução do singular Os suicidas (1969), romance que explora as diversas faces de seu tema, expresso no título: referências literárias, dados estatísticos, condenações religiosas, explicações filosóficas em torno do suicídio, obsessão pactual do narrador.” Elias Ribeiro Pinto, Diário do Pará, 9 jul. 2006, Caderno D.

Sobre o Autor

Antonio di Benedetto nasceu em Mendoza, Argentina, em 1922. Desde cedo exerceu o jornalismo e a partir da década de 195 passou a dividir seu tempo entre as redações e a literatura. Logo no primeiro dia da ditadura militar que assolou a Argentina a partir de março de 1976, foi preso, o que demonstra inequivocamente o prestígio que seu nome atingira. Depois de intensa movimentação de intelectuais no exterior, di Benedetto foi para o exílio. Em 1984, retornou à Argentina, vindo a falecer em Buenos Aires dois anos depois. Seu livro mais importante, Zama, recebeu, dentro outros, o prestigioso prêmio Itália-América Latina de Literatura. A obra de di Benedetto foi traduzida para, entre outros idiomas, o alemão, o francês, o italiano e o polonês.

TRECHO DO LIVRO 'OS SUICÍDAS"

5/22/2015
Primeira parte
Os dias carregados de morte

O meu pai pôs fim à sua vida numa tarde de sexta-feira.

Tinha 33 anos.

Na quarta sexta-feira do próximo mês eu terei a mesma idade.

Embora a tia Constanza, com reserva mas sem tato, tenha mencionado esta coincidência, não voltei meu pensamento a ela até hoje, já que o tema, de certa forma, saiu ao meu encontro.

Na agência, o chefe me disse: "Pode ser a sua chance".

Sem requerer consentimento, ele me introduziu na tarefa. Sobre a escrivaninha, esparramou três fotografias e me incitou a descobrir o que possivelmente ele já havia observado.

- O que vê nelas?

Considerei que esperava de mim uma dedução fora do comum. Inclinado, examinei as fotos, que tinham, cada uma, um corpo humano, deitado e vestido. Eu disse:

- Vejo que estão mortos, os três.

- Não é uma resposta muito sagaz.

Aceitei sua mordacidade como uma advertência de que devia ver melhor, e rápido. Incomodou-me, mas transigi, mais pelo pressentimento de que começava a decifrar. Indiquei:

- Uma é mulher, dois são homens.

Realcei, lentamente, como se custasse a se inteirar. Prossegui, sem pressa:

- Ela e este outro conservam os olhos abertos. O terceiro, não.

- Oh! - disse o chefe, deixou de lado a escrivaninha e caminhou.

Então pensei que não sou um gozador e já bastava porque ele também podia dizer basta. Eu disse:

- Aqueles que estão com os olhos abertos continuam olhando...

O chefe se deteve, eu também.

Senti que entendia e que me importava o que havia entendido:

- Olham... como se olhassem para dentro, mas com horror.

Não precisava de sua aprovação - um som que me lançou -, nem o silêncio com que propiciou a impressão de que faltava alguma coisa. Sim, na minha mente havia um sinal, confuso, até que pude afirmar:

- Estão espantados, têm o espanto nos olhos e, no entanto, em suas bocas se esboçou uma careta de prazer sombrio.

Não duvidei de que havia acertado, que lhe havia ampliado a visão. Isso já bastava. O que em seguida, com urgência, eu precisava saber era o que lhe perguntei:

- Foram mortos?

- Não, se mataram.

 *   *   *

Era o embrião de uma série de matérias. Um embrião disforme.

Discutimos a série: história dos dois casos dos olhos espantados. Não conhecemos a história. Alguém, um profissional respeitável, proporcionou as fotos; não pode nos ajudar nem nos dizer quem são nem quem as tirou. Dois casos não dão para uma série. Mas a sua história é necessária. É preciso averiguar, pesquisa própria.

A polícia não vai colaborar. Pode-se experimentar. Não vai colaborar, não informa sobre suicídios. A publicação provoca o contágio. Suicídios por imitação, epidemia de suicídios, peste de suicídios.

Por que o horror introspectivo? Por que o prazer sombrio? Por aí se pode generalizar, mais material para mais matérias, a série, se confirmarmos a generalização. Sim. Não pode ser a história de dois, ou duas histórias que deixaram de ser notícia. Precisamos de casos frescos. Será preciso esperar. Esperar o quê? Que se produzam, e ver. Não, não se pode esperar, dispõe de dois meses. Temos pronta a circular para oferecer a série para os jornais. Podemos vendê-la para trinta vespertinos e três revistas coloridas. Quer que a matéria seja sensacionalista? Não, séria. A nossa agência não é sensacionalista. Como o senhor disse, vespertinos... Eu disse só isso. Para as revistas, você vai precisar de slides. Por que só as revistas coloridas? Pelo sangue, para que se aprecie o vermelho; senão, é preciso marcá-la com uma flecha e explicar na epígrafe, e se perde. Tem razão. Trabalhe com a Marcela. Por que a Marcela? Lembra, a reportagem do avião caído na cordilheira. Sabe se arriscar. Neste assunto não haverá riscos, vamos lidar com mortos. Não haverá? Assim espero. Quem sabe.

Recorro: Seria melhor o Pedro, eu preferiria trabalhar com um homem. Manda: Não, a Marcela.

Sem dizer, penso na Marcela como num negócio particular.

É ascética. É quase nova na agência e mal a conheço. Não nos gostamos. Não gosto dela, soltei por aí. Alguém me perguntou por quê. Eu disse: "Tem 30 ou 32". Anos, eu quis dizer.



Saio e me alivio. O verão me deslumbra. Me deslumbra e rapidamente deixa o meu corpo pegajoso.

Uma blusa com interiores vem pela calçada. Eu poderia lhe dizer alguma coisa. Outra, decotada. Nada digo a esta tampouco, é inútil para o vínculo, passam; mas eu a olho, quem sabe como, porque uma senhora me olha. É a censura e pretende me acuar.

Penso na série. Terei de ver pessoas que não me importam, porque não são as que fizeram; pessoas prevenidas, arredias (talvez a Marcela me ajude a chegar a elas; em seu estilo é um chamariz, tem 30).

Ponho o pé no caixote do engraxate.

E terei de falar, falar disso.

Penso no meu pai. Eu era como este menino, o engraxate, pequeno assim. Soube que ele havia morrido, ignorava como. Chorei até secar, dormi, acordei, a cerimônia continuava, as visitas sussurravam. Alguém, possivelmente a minha mãe, clamava: "Morte injusta!". Compreendi a história do injusta - deixava-nos sem ele -, mas não pude entender como a Morte se introduziu em casa e se apoderou do meu pai. Porque de manhã ele estava vivo, de pé e são como qualquer um de nós, e morreu de tarde, enquanto havia sol, e eu tinha o convencimento de que a Morte era uma figura sinistra que dava seus golpes na escuridão da noite.

Pergunto, ao menino que engraxa os meus sapatos, o que é a morte.

Ele levanta seus olhos marrons e me considera, de cima a baixo, entre surpreso e intimidado, embora não pare de escovar.

A minha pergunta foi excessivamente abstrata. Eu me corrijo e sorrio, para atraí-lo:

- Nunca morreu alguém que você conhecia, um vizinho, um tio?...

O menino se encurva sobre o seu trabalho, concentra-se e diz:

- Sim, o meu pai.

Emudeço.

Ele me espia, com curiosidade: advirto que não me rechaça. Procuro estabelecer - comecei a minha tarefa? - o que ele conhece dos alcances da morte, onde supõe que está aquele que morre.

Responde que o pai está num nicho, mas a mãe, no início contava que ele tinha viajado, e agora diz que ele está no Céu. Ele não acredita. Não acredita no Céu? No Céu sim, mas o Céu é para os bons e o pai batia na mãe.

Estou passando um dia carregado de morte. É suficiente. Entro num cinema onde está passando Alphaville. Trabalharei amanhã.



No entanto, de noite, separado da Júlia, embora junto dela, repasso o que disse o engraxate e noto que, definitivamente, não cheguei de volta à interrogação inicial: o que é, para um menino, a morte?

Peço para a Júlia que averigúe isso entre os seus alunos, na escola. Ela se alarma, defende-se, ofusca-se. Explico, apaziguo.

A série, o meu trabalho...

Nega-se obstinadamente. Diz que não é normal.

"Eu não sou normal?...", e a desconcerto.

Sei perfeitamente que ela não disse isso.

 *   *   *

Tomo café-da-manhã com a minha mãe. Habitualmente, é o único momento que passamos reunidos.

Ela me conta que se encontrou com a Mercedes, sua amiga,

e a dona Mercedes lhe disse: "Não tenho família, tenho televisor". Eu objeto: "Tem filhos e netos, e vive com eles".

- É, mas a deixam sozinha: entram e saem; jantam com o televisor ligado.

Não é uma recriminação para mim, embora eu possa deduzir uma moral.

O calor, que está se apoderando do dia, me altera. A minha mãe repara. Baixa persianas, oferece-me o ventilador.

Acredito que a minha mãe é a única pessoa que gosta de mim.

- Eu gostaria de viver num país com neve - diz.

Ela sempre disse isso. Eu, de minha parte, ofereci-lhe umas férias de inverno. Anualmente renovo o plano.

Repito: "Este ano iremos".

- Aonde?

- Para a neve.

- Ah, é. Sim, filho, iremos.

Em algumas manhãs ela se opõe e me diz para economizar para o carro pequeno. "Você precisa, é para o teu trabalho."

Isso me deprime, outros conseguem: carro e neve.

O meu irmão, que tem um Fiat 1500, oferece:

- Posso te levar?

A minha mãe compreende que a sua ração diária desse filho terminou e se entristece. Eu percebo, mas a minha vida está enredada com a rua.

O meu irmão beija o seu filho e a sua filha e o segundo menino e o terceiro menino. O terceiro traz nas mãos, bem destruída, Minotauro 7. Reconheço-a pelos pedaços de capa. Dou-lhe um bofetão e tiro a revista dele. A minha cunhada, da porta da cozinha, diz: "Maurício!", mais nada. Dá o alarme ao marido, reclama com ele, por causa desse irmão que o marido tem.

O meu irmão se abstém. Diz: "Calma", como um magistrado.

No caminho, não fala.

Um imprudente se mete e se salva porque o Maurício cravou os freios. Podia insultá-lo, com todo o direito; não o faz, eu o faço.

Normalmente não insulto ninguém, exceto aos sábados.

 *   *   *

A Marcela é do turno da tarde. Não poderei vê-la até as 4. Sem dúvida, não está sabendo que vão colocá-la comigo.

Aceituno, o cronista da agência que atua no Departamento Central de Polícia, não liga as fotos com acontecimentos dos quais ele se ocupou. Ele as faz circular entre os colegas da sala de jornalistas e as imagens voltam ao meu poder sem suscitar nenhuma lembrança entre os especializados.

Aceituno me vincula com a polícia científica. Deixa-me com o chefe.

Solicito colaboração informativa para a agência. A agência terá toda a colaboração de que precisar, a menos que se trate de causas pendentes de decisão judicial, delitos em investigação reservada, abusos morais contra menores e suicídios.

Eu não mencionei, ainda, as fotografias. Farei que não estou entendendo que elas se enquadram nas exceções que me vedam.

Disponho de tempo para conhecer o museu interno? Sim, disponho. O que vai contar, no final, é o lado amistoso.

Tomamos café junto à cabeça de um mafioso com a cara perfurada por três balas. Está há trinta anos na vitrine. Existe uma fórmula para conservar a cor da pele.

Ele nomeia os "cadáveres judiciais" e eu lhe formulo o problema: se eu possuo a foto de um cadáver judicial - quer dizer, com circunstâncias que dão lugar à intervenção da polícia e da Justiça -, mas desconheço nome e qualquer outra referência, como pode ser identificado?

Menciona o arquivo de pessoas desaparecidas, o protocolo de tudo o que se passou na autópsia, a memória visual dos técnicos, o critério seletivo que fecha o campo de investigação determinando o sexo, a idade aproximada, a época em que morreu (pela roupa), o ambiente e muito mais.

- Então, é possível?

- Absolutamente possível.

Conseqüentemente, extraio as fotos e peço a identificação e a história.

Recebe-as, observa-as, separa-as e diz:

- Aparentemente, são suicidas.

- São suicidas.

Então ele diz:

- Absolutamente impossível.

Ao sair, passamos pelos gabinetes. Há uma moça de avental branco e de pele muito branca. Ela me nota. É alguma coisa.

 *   *   *

Ando para escolher um restaurante com duas virtudes: peixe na grelha e pessoas que eu não conheça e que não me falem do que eu já sei, do que sai nos jornais, formamos opinião nas mesmas revistas.

Coincido diante do menu da vitrine com um turista que me pergunta onde se pode comer pratos típicos, e muda de idéia, não sei se adivinha o que eu estava procurando para o meu almoço: quer que o informe como se chega ao aquário. Finalmente, me agradece e declara: "Têm uma cidade muito bonita, vocês", e a este cumprimento respondo que ele não pode dizer "têm", porque eu não tenho nada, a cidade não é minha. Talvez nós não tenhamos nos entendido bem, porque ele disse: "Ah, o senhor tampouco é daqui".

É a época, e vêem-se muitos turistas, as turistas "são muito vistas", elas querem assim, o que se torna muito agradável.

Justamente, ontem à noite eu sonhei de novo que estava andando nu.
Antonio di Benetto

 
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