OS SUICÍDAS, LIVRO DE ANTONIO DI BENEDETTO

Antonio di Benedetto

Publicado pela primeira vez em 1969, o livro conta a história de um jornalista que, ao se aproximar de seu trigésimo terceiro aniversário, começa a recordar o suicídio do pai, que se matou justamente com essa idade. Para piorar a situação, o jornalista é incumbido de fazer uma reportagem justamente sobre suicidas. O livro, então, se desenvolve com a principal personagem caçando histórias de suicidas, visitando necrotérios e locais onde as pessoas tentam se suicidar e, até mesmo, testemunhando uma cena, descrita em ritmo quase vertiginoso, em que um rapaz ameaça saltar de um edifício. Como se não bastasse, o jornalista ainda precisa percorrer a literatura sobre os suicidas. 

O livro, assim, recolhe um grande número de citações da literatura, filosofia e ciências sociais, formando uma espécie de antologia irônica sobre o suicídio. Paralelamente, o jornalista recorda-se do pai e começa, sempre muito turvamente, a pensar no próprio suicídio. No dia do fatídico aniversário, a personagem principal acaba mergulhando em um torvelinho psicológico cuja conseqüência é completamente inesperada. 

O final do livro, tão surpreendente quanto sua estrutura formal, talvez deixe o leitor perplexo. Aliás, o engenho do autor se revela principalmente na capacidade de conseguir extrair sensações diferentes, como humor, ironia e perplexidade, de um tema não raro na literatura e muitas vezes trágico. Esquematizado em pequenos fragmentos, que conduzem a literatura a uma velocidade tão vertiginosa quanto a psicologia das personagens, a narrativa de fato reordena diversos tópicos literários: temos aqui um livro argentino que se passa na Europa, cuja trama reclassifica sua possível tragicidade em outros níveis, tudo por meio de uma estrutura inovadora e bastante diferente da que era praticada pelos pares latinos de Di Benedetto. 

O livro é traduzido por Maria Paula Gurgel Ribeiro, já experiente em trazer para o português autores argentinos, e conta ainda com um interessante prefácio do escritor Luis Gusmán, conterrâneo de Antonio Di Benedetto e uma das estrelas da atual ficção da Argentina. A Editora Globo publicará seus três romances principais – Los Suicidas, El Silenciero e Zama – e dois livros de contos. 

A organização da coleção é de Ana Cecília Olmos, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, especializada em literatura argentina. El Silenciero e Zama terão prefácio do escritor argentino de Juan José Saer. 

CRÍTICAS :  “O Brasil foi apresentado à sua obra somente no ano passado, com a tradução do singular Os suicidas (1969), romance que explora as diversas faces de seu tema, expresso no título: referências literárias, dados estatísticos, condenações religiosas, explicações filosóficas em torno do suicídio, obsessão pactual do narrador.” Elias Ribeiro Pinto, Diário do Pará, 9 jul. 2006, Caderno D.

Sobre o Autor

Antonio di Benedetto nasceu em Mendoza, Argentina, em 1922. Desde cedo exerceu o jornalismo e a partir da década de 195 passou a dividir seu tempo entre as redações e a literatura. Logo no primeiro dia da ditadura militar que assolou a Argentina a partir de março de 1976, foi preso, o que demonstra inequivocamente o prestígio que seu nome atingira. Depois de intensa movimentação de intelectuais no exterior, di Benedetto foi para o exílio. Em 1984, retornou à Argentina, vindo a falecer em Buenos Aires dois anos depois. Seu livro mais importante, Zama, recebeu, dentro outros, o prestigioso prêmio Itália-América Latina de Literatura. A obra de di Benedetto foi traduzida para, entre outros idiomas, o alemão, o francês, o italiano e o polonês.

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