Motivos mais comuns são a depressão,
a esquizofrenia e o uso de substâncias tóxicas
a esquizofrenia e o uso de substâncias tóxicas
Imagem por Gustavo Vara |
A morte do ator Walmor Chagas aos 82 anos em seu sítio remonta uma discussão intrigante e que sempre causa consternação, o ato de suicídio. O corpo do ator foi encontrado caído na cozinha com um tiro na cabeça pelo caseiro José Arteiro de Almeida. De acordo com relatos de pessoas próximas e familiares, Walmor já estava recluso há muito tempo em seu sítio na cidade de Guaratinguetá por conta de problemas de saúde. O ator sofria com a diabetes e com fortes dores nas pernas, tinha dificuldade de locomoção, problemas de visão e quase não se alimentava. Walmor Chagas estava sozinho em casa e de acordo com a perícia, foi achado pólvora nos dedos do ator, o que fomenta a ideia de suicídio.
Todo este quadro, a saúde debilitada e o isolamento denunciam um estado de abandono e solidão, afinal, o ator não recebia muitas visitas e aos poucos o estado emocional se enfraquecera. Um dos motivos mais comuns a consumar o suicídio é proveniente de depressão, situação na qual a pessoa vai perdendo sua própria identidade, descuidando de si próprio, fica engessado a pensamentos negativos até permanecer apático e melancólico em relação a si, às pessoas e à vida. O segundo maior motivo de suicídio é a esquizofrenia e a terceira o uso de substâncias tóxicas.
O suicídio se divide em algumas categorias, como o suicídio consumado, ou seja, o ato concretizado. Caso não aconteça o suicídio é frustrado, pois, por alguma causa a intenção não foi sustentada pelo indivíduo. A intenção de suicídio é um dano auto-infligido e com o intuito de morrer ou causar fortes lesões. Este comportamento aproxima-se da concepção dos gestos suicidas que são comportamentos também destrutivos e permeados de significados inconscientes. Ainda a estas categorias temos o suicídio coletivo, grupo de pessoas que, geralmente, induzidas por um líder, são conduzidas a concretizar o ato. Caso que ilustra isso aconteceu nos Estados Unidos em 18 de Novembro de 1978, quando Jim Jones, líder de uma seita religiosa promoveu um suicídio coletivo de 918 pessoas, sendo 270 crianças, através da ingestão de veneno.
No caso do ator Walmor Chagas, o suicídio cometido foi racional, ou seja, ele escolheu exatamente como e onde seria sua morte. A pessoa está decidida a acabar com aquilo que está fazendo mal para ela, e para tal, prepara-se internamente para tirar a própria vida.
O psicanalista Sigmund Freud, em uma de suas teorias, descreve a pulsão, uma pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Embora não seja instinto, a pulsão é uma energia que transita entre o psiquismo e o aspecto somático, força propulsora da personalidade. Existe uma dualidade entre as pulsões, Eros (vida) e Tânatos (morte). Uma pulsão é construtiva e evolucionista, que faz com que a pessoa consiga enaltecer características próprias, ao prazer de si mesmo. Já na pulsão de morte acontece a redução completa das tensões, ou seja, são pulsões autodestrutivas e conduzem a pessoa a um estado anorgânico. Manifestam-se de maneira agressiva e autodestrutiva. No suicídio poderíamos dizer que as pulsões de morte predominam sobre as pulsões de vida.
Somos imersos em nossas próprias incapacidades e temos que lidar com a própria impotência de não saber de tudo. Na vida as respostas não são imediatas, ora buscamos, ora construímos. As perguntas e questionamentos sobre si, o mundo, as pessoas e o sentido da vida se multiplicam e, ao indivíduo, resta administrar estas indagações e dar sentido a idéias e concepções obscuras. A morte desperta curiosidade e até certo fascínio, tanto quanto viver e todos os prazeres atribuídos a esta vida. Mas assim como se escolhe viver, igualmente a morte é uma escolha. A existência é sentida como um castigo divino.
O suicídio é um assunto que não é explorado na sociedade e tampouco na mídia, que deveria ter um papel importante para a compreensão deste fenômeno de massa. O que permeia o suicídio como a depressão, angústia, receios, melhor qualidade de vida não dá ibope. As futilidades, frivolidades e banalizações são mais lucrativas. Um desafio para psicólogos, médicos e psiquiatras que devem se antecipar e prevenir situações de risco e perigo, bem como a sociedade precisa olhar com mais atenção às manifestações, impasses e conflitos da alma.
Breno Rosostolato
Psicólogo clínico, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM
A partir do Portal Hospitais do Brasil. Leia no original
Psicólogo clínico, terapeuta sexual e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM
A partir do Portal Hospitais do Brasil. Leia no original