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IMPLANTE REALMENTE MELHORA A DEPRESSÃO ?

9/18/2023

De acordo com Campos, os benefícios podem ser sentidos pelos pacientes entre três a sete meses após o implante e os sintomas melhoram em até 70%.

Nos EUA, um estudo observacional acompanhou por cinco anos 795 pacientes que sofriam com depressão resistente. Os participantes tinham o problema há pelo menos dois anos e falharam em quatro tratamentos ou mais. Os pesquisadores compararam os resultados de melhora clínica entre os pacientes que tiveram o nervo vago estimulado e os que não tiveram.

O grupo com estimulação elétrica do nervo apresentou melhora clínica dos sintomas 26,7% maior em comparação ao grupo que adotou o tratamento usual, e uma taxa de remissão dos sintomas 17,6% superior.

Para Campos, dispositivos semelhantes na neurocirurgia estão se tornando cada vez mais comuns e representam um avanço significativo na vida dos pacientes

Já existem técnicas semelhantes para tratar Parkinson, distúrbios de movimento, toque, agressividade e para inibir os sinais da dor. Esses métodos físicos mudaram a partir do entendimento de como funciona cada doença e os circuitos neuronais envolvidos, e quais sinapses devemos interferir para tratar as disfunções.Wuilker Knoner Campos, neurocirurgião

Por que é difícil tratar a depressão resistente?

Rodrigo Marques, psiquiatra, professor da UFPE, explica que a depressão refratária é caracterizada por um quadro que é mais difícil de tratar do que a maioria dos casos. "Apesar do crescente arsenal terapêutico para tratamento, alguns pacientes ainda irão persistir sintomáticos", diz.

Além das limitações clínicas, ainda há o problema do diagnóstico correto da doença e o preconceito relacionado ao tratamento da saúde mental.

"É preciso a verificação que de fato foram feitos tratamentos eficazes previamente. Outra questão importante é que muitas vezes a depressão não é considerada tão importante como deveria ser. Às vezes, os pacientes demoram muitos anos antes de procurar tratamento pelo estigma e por receio das medicações", diz a psiquiatra e professora Catarina de Moraes Braga, mestre em neuropsiquiatria e ciências do comportamento pela UFPE.

Publicado originalmente no UOL

Confira no original 

COMO FUNCIONA IMPLANTE QUE TRATA DEPRESSÃO

9/18/2023


Um dispositivo de eletroestimulação para tratar depressão resistente foi implantado pela primeira vez no Brasil no dia 11 de agosto, no Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis (SC). Os dois pacientes foram selecionados pela área psiquiátrica da instituição porque passaram por outros tratamentos protocolares para o transtorno no hospital, mas não apresentaram resultados satisfatórios.

"Existe um dispositivo semelhante aplicado para epilepsia, projetado para controlar crises, e já era feito no Brasil há cerca de 20 anos. Em 2017, foi aprovado nos EUA, com a finalidade de tratar depressão resistente. No ano seguinte, [foi aprovado] na Inglaterra, com outro tipo de carga e dosagem dos estímulos. No Brasil, seu uso foi aprovado em 2019 pela Anvisa", diz o neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, que aplicou o primeiro implante.

A depressão refratária ou resistente é caracterizada quando pacientes já passaram por tratamentos convencionais, com o uso de antidepressivos duas ou mais vezes, mas não houve melhora do quadro. Um estudo feito na América-Latina apontou que 30% das pessoas afetadas pela doença apresentam esse tipo. A terapia VSN, como é chamado esse tratamento com o uso desse aparelho, entretanto, tem mostrado resultados.

Como funciona implante contra depressão

O dispositivo estimula o nervo vago, um dos principais responsáveis pelos estímulos parassimpáticos (aqueles involuntários) do nosso organismo. Esse nervo passa atrás de nossas orelhas e se estende até a região do tórax e abdome, conectando o tronco cerebral a quase todos os órgãos essenciais. Ele é como se fosse uma estrada para impulsos elétricos, relatando ao cérebro o que está acontecendo no corpo.


"A estimulação [do nervo], faz com que esses impulsos elétricos subam e estimulem áreas do cérebro ligadas aos afetos humanos, melhorando o humor e a depressão", explica Campos, que também é doutor em neurociências pela UFSC e presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Funcional e Estereotaxia.

É como se você estivesse sem bateria e precisasse de uma carga extra. De forma coloquial, é isso que fazemos, damos uma carga nesta área do sistema do humor e das emoções.Wuilker Knoner Campos, neurocirurgião

A cirurgia para o implante que trata a depressão resistente precisa ser feita com anestesia geral. São feitas duas incisões: uma próxima à clavícula e à axila esquerda, que recebe o gerador, e outra próxima ao pescoço, em que são conectados os eletrodos ao nervo. O funcionamento do aparelho se assemelha ao muito conhecido marca-passo cardíaco.

Campos afirma que os riscos da cirurgia são baixos e o paciente recebe alta no mesmo dia. "O implante pode ser removido, mas a indicação de retirada é somente com algum tipo de infecção ou quando o paciente não tolera os estímulos. Como a depressão não tem cura, é preciso um tratamento contínuo, então provavelmente não haverá alta", comenta.

Quem pode fazer o implante?

Os pacientes eletivos a esse tipo de implante precisam já ter passado por tratamentos da depressão resistente e não terem obtido resultado satisfatório, entre os quais está o uso da cetamina, estimulação magnética transcraniana (técnica que usa campos magnéticos de baixa intensidade para estimular áreas do cérebro) e eletroconvulsoterapia, que aplica correntes elétricas no cérebro e induz a convulsões controladas.

Segundo Campos, os implantes dos primeiros aparelhos foram doados pela empresa LivaNova, dos EUA. O médico afirma que, atualmente, só é possível fazer a cirurgia por meio particular.


Para chegar ao SUS, essa tecnologia precisa ser submetida ao Conictec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde).

"A Conitec não leva só essa questão de melhorar o paciente ou não, mas principalmente a questão econômica e se seria viável ter isso no SUS. Esse mesmo aparelho foi submetido para epilepsia, mas não foi aprovado mesmo sendo uma técnica aprovada há mais de 20 anos para controle da doença", analisa Campos.

Publicado originalmente no UOL.

Confira no original 


'ESTOU MEDICADO, NUM PARAÍSO ARTIFICIAL "

12/03/2017


Olá senhoras e senhores.

É possível curar a depressão? Deixar de ser um suicida? De desejar a morte de todas as formas? Não tenho essas respostas. Na verdade estou medicado, num "paraíso" artificial.

Venho experimentando um pequeno coquetel de drogas em que eu, minha psicóloga e a psiquiatra vem há meses tentando acertar a dose e a melhor forma de terapia. Acontece que sou extremamente cético, ateu, desgrudado dessas coisas que dão esperança.

Não acreditava numa melhora possível. Já tentei me matar 8, 9x, perdi até a conta exata. E sempre foi muito doloroso essas experiências até que conheci a Venlaxina. Calma. Não é só isso. Um dia acordei, o mundo estava igual. Eu não dei um alegre bom dia pro sol. Não vi arco íris, pássaros, borboletas celestiais. Nem se quer um pingo de felicidade extravagante brotou. Meus problemas materiais ainda estavam lá. Só mais tarde percebi...o dia tá estranho. Eu tô estranho. Passei ao lado da forca que até hoje tenho no meu quarto, presa atrás de um espelho e senti certo arrepio.

 Peguei minhas giletes de mutilação, olhei minhas cicatrizes evidentes nos braços e senti certa pena de mim...que coisa macabra. Estaria eu querendo viver a essa altura do campeonato? Não rola! Meu suicídio é certo... Alguma coisa não estava em seu lugar e eu quase, quase vi uma luz no fim do túnel. Pudia jurar... até que vasculhei meu pensamento e achei.

Sim, ainda me escapole o olhar em direção ao vazio, aquele oco ainda habita meu ser. Então o que é isso que estou sentindo? Também não sei. Mas com 4 meses experimentando essa dose que foi inicialmente de 75mg até hoje, estacionando com 300mg de Venlaxin, um potente inibidor seletivo de recaptação da serotonina, norepinefrina e dopamina, responsáveis pelas sensações de prazer e felicidade + 1mg de Respiridona, que para mim vem como um lubrificante que ajuda a desgrudar e colocar para fluir pensamentos repetitivos + Rivotril pela manhã para relaxar e booom. 

Consegui atravessar dias e noites sem pensar em morrer. Me senti cafona, pois a morte para mim era sinônimo de luxo. E lá estava eu dizendo SIM para as coisas sociais, porque minha psicóloga disse que eu falava muito não, e por isso vivia trancado, que eu tinha um padrão de pensamento negativo, e então passei a pensar duplo, triplo, ou seja, para cada coisa que eu pensava e identificava como negativo eu tentava encontrar 2 ou 3 pensamentos contrários, positivos.

 Algo estava acontecendo! Não posso dizer que estou curado (disse minha psiquiatra que não tem cura). Só posso dizer que hoje vivo melhor que ontem e que estou com vontade de ver até onde isso vai. O pensamento de morte ainda vem e já fui alertado que ele vai continuar. Ainda tenho dias de desespero, mas são menos e mais fracos do que eu costumava ter. E assim tenho passado meus dias nessa Terra. 

Ainda persiste na minha cabeça a ideia de que só estou vivo para não fazer minha mãe sofrer e no minuto seguinte que ela morrer eu vou me matar porque a vida não terá o menor sentido. Só que ultimamente, nesses últimos 3 meses, isso não tem me feito sentir vontade de apressar as coisas e sim deixar que o tempo me revele o que sentir e como agir, ao invés de tentar prever o futuro e o trazer imediatamente para o presente. 

Então meus amigos e amigas. Como disse no início, ainda não tenho respostas definitiva e bem provável que nunca terei. Porém me parece certamente que existe como tornar essa vida mais suportável, melhor do que hoje, do que ontem. E nada disso é caro, inacessível. Pelo contrário. Esta disponível no SUS. É um direito do cidadão brasileiro. Experimentem! Não os mesmos medicamentos e doses que uso, e sim um tratamento na área de saúde mental. Tem que persistir! 

Esses remédios demoram de semanas a meses para funcionar, sem contar a psicoterapia, que demora de meses a anos (no meu caso, apesar de fazer há anos, só nos últimos 2 que me tornei frequente, indo toda semana). É pronto. Quero que todos melhorem! E podem contar comigo para o que precisar, pois eu já contei com esse grupo e já fui ajudado em meio a desgraça que se instalou no meu ser. Gritem! Chorem! Desabafem! E acima de tudo, tentem outra vez, por mais exausto que você esteja. Vale a pena? Sei lá... 

Talvez nunca saiba, mas estou descobrindo que também posso tentar. E se eu posso, porque você não? Um beijo para quem é de beijo e um abraço para quem é de abraço.

Roosevelt Soares
Depoimento no Grupo QM
Imagem : Pexels

'QUERO UMA MORTE DIGNA", DIZ JOVEM QUE ABANDONOU TRATAMENTO

11/30/2017
José Humberto Pires de Campos Filho, 23,  em Trindade (GO)

Na última vez que José Humberto Pires de Campos Filho, 23, entrou na piscina, há dois meses, os pés se retorceram. A dor latejante invadiu o corpo. Teve de se sentar na borda, em um clube de Caldas Novas, a 170 km de Goiânia.

Eram os reflexos da doença renal crônica da qual padece desde 2015. Tão diferente dos tempos em que vencia torneios de natação nos Estados Unidos, na adolescência.

Agora, aos 23, José Humberto decidiu parar. Quer ficar distante das piscinas e das sessões de hemodiálise. Não tem mais vontade de viver.

"Quero uma morte com dignidade, sem a dor do tratamento", diz o jovem.

A mãe não concorda e buscou ajuda na Justiça. O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás divulgou esta semana sentença do juiz Éder Jorge em favor da costureira Edina Maria Alves Borges, 56, para a interdição do rapaz.

A sentença segue o mesmo entendimento de uma liminar (decisão inicial do processo) que o juiz havia concedido em fevereiro. Ela determina a interdição parcial do paciente, e nomeia como curadora a sua mãe, por um ano, só para levá-lo à hemodiálise.

A interdição vale sem nenhum uso de força ou sedação. Por isso, na prática, Edina sente ter em mãos um papel vazio, já que o filho se recusa a seguir o tratamento.

Das quatro sessões semanais na máquina que funciona como rim artificial, para filtrar o sangue, ele decidiu ir só a duas. E alertou a mãe que, a partir de 2 de janeiro, não fará mais nenhuma.

"Ver um filho morrendo aos poucos é muito difícil. Suportar tudo isso é terrível."

A hemodiálise libera o corpo dos resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos, controla a pressão arterial e ajuda a manter o equilíbrio de substâncias como sódio, potássio, ureia e creatinina.

"Não dou conta de ficar na máquina porque dói muito. Quero morrer na data que deve ser, naturalmente, sem ter intervenção da medicina me forçando a viver", diz o jovem, deitado em uma grande cama, suficiente para acomodar os seus 1,85 m e 73 kg.

Fora do Brasil

Mãe e filho moram sozinhos. José fica boa parte do dia trancado no seu quarto, com janela e cortina fechadas. Enquanto o rapaz dava entrevista, Edina costurava no cômodo ao lado.

Ela lembra de quando viu o caçula de seus três filhos pousar no aeroporto de Goiânia, em maio do ano passado, dez meses depois de ser diagnosticado com a doença nos Estados Unidos, onde morou com o pai.

Fora do Brasil, só tomou remédio paliativo. "Ele chegou bastante inchado. Estava quase irreconhecível", lembra. Três meses depois, começou a hemodiálise.

A lado da cama, José tem a companhia de um computador, uma cesta de remédios e uma cadeira de rodas que passou a usar, há um mês, para se locomover em casa, em Trindade, na Grande Goiânia.

Ele sai para a rua só para ir à hemodiálise. Não consegue mais andar. Os pés não suportam o peso do corpo, e as pernas estão se atrofiando.

"Antes eu andava me arrastando, mas agora os pés não mexem mais. Não sou obrigado a fazer tratamento que não quero. Nada vai fazer eu mudar de opinião."

On-line

O jovem passa grande parte do tempo conectado às redes sociais ou ocupando a mente em jogos on-line, enquanto fica de olho no relógio para se medicar.

Ele toma dez medicamentos de alto custo. Alguns são fornecidos pela central de distribuição do Estado.

Concluiu o ensino médio e prestou o Enem no ano passado. Antes da doença, o jovem dizia que seu sonho era rodar o mundo todo.

Desde a sua última tentativa de entrar na piscina, em setembro, mês de seu aniversário, José só piorou.

"Ele voltou mais revoltado por causa disso", conta a mãe, com a aflição estampada no rosto.

A junta médica do Judiciário goiano, formada por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais, não identificou sinais de depressão em José.

A perícia atesta que ele é lúcido e está com a consciência preservada, mas considera que a sua capacidade de entendimento e determinação está prejudicada, o que o prejudica a ter "vontade efetivamente livre".

Os especialistas entendem que esse é um caso de transtorno de ajustamento, já que, na avaliação deles, o diagnóstico da doença fez o jovem ser tomado por fortes emoções e perder perspectivas de vida.

Longo e sofrido

Na sentença inicial, apesar de afirmar que, em alguns casos, o uso de medicamentos pode transformar a morte em um processo longo e sofrido, o juiz Éder Jorge diz entender que só com a vontade completamente livre o jovem poderia fazer escolhas e assumir as responsabilidades decorrentes delas.

O magistrado sugeriu acompanhamento terapêutico, porque o paciente "possui capacidade cognitiva compatível com sua idade e grau de instrução e pode alcançar, com acompanhamento profissional, o adequado desenvolvimento emocional".

Para o juiz, José é "muito inteligente e simpático".

Apesar de ciente da preocupação da mãe e de ver o organismo padecer aos poucos, José pretende usar a sentença como o seu principal álibi, já que a decisão proíbe, expressamente, o uso de qualquer tipo de força ou sedação para submetê-lo ao tratamento.

Também a ética médica impede que o paciente seja obrigado a se tratar.

Inconformado, José afirma que irá recorrer até a última chance para negar o tratamento. Por outro lado, a sua mãe afirma que vai fazer de tudo para que o caçula viva.

"Eu não quero entrar nem na fila de transplante de rim. Nada vem na minha cabeça para eu mudar de ideia. Só a cura naturalmente."

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

YOUTUBER DIZ QUE CONVIVE BEM COM A DEPRESSÃO

10/24/2017
Ele é o terceiro youtuber brasileiro que mais tem inscritos em seu canal (cerca de 13 milhões), mas odeia preparar o ambiente para gravar seus vídeos. Tem 1,80m, mas muita gente pensa que ele é baixinho. É super parceiro do irmão, mas já ficou quatro meses sem falar com ele por causa de uma briga. Faz caras e bocas em seus vídeos, mas se recusa a falar com voz de neném com a namorada. Tem depressão. Faliu quatro negócios antes de fazer sucesso. 

Essas e outras curiosidades sobre Felipe Neto, 29, estão reunidas no livro "Felipe Neto - A trajetória de um dos maiores youtubers do Brasil", que foi lançado na Bienal do Livro do Rio de 2017.

"Decidimos chamar de livrão porque é mais  que uma revista e menos  que um livro. É uma espécie de almanaque, atrativo para todas as faixas etárias. Tenho atualmente um público muito abrangente, que inclui crianças, adolescentes e adultos", diz.

Origem humilde

Antes de estourar como youtuber, Neto morou com a mãe, com a avó e com o irmão numa casa no Engenho de Dentro. No livro, ele compartilha memórias da época em que vivia na zona norte da capital fluminense. 

"Cresci vendo a minha mãe administrando dívida atrás de dívida e, mesmo assim, nos deu uma educação exemplar., sempre reforçando a importância dos bons valores. Falávamos muito que não tem problema ser pobre, o problema é ser mau-caráter. Ela nunca nos deu a visão de que o dinheiro é a coisa mais importante da vida”, relata, em uma passagem da obra.

Depois, o youtuber morou por cinco anos em um apartamento no Flamengo, zona sul do Rio. Há um mês, mudou-se para a atual casa, localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. 

Da revolta aos cabelos coloridos

O sucesso repentino de Felipe Neto veio quando ele tinha 22 anos e criou o canal "Não Faz Sentido", em 2010. Com óculos escuros, ele fazia críticas agressivas sobre diversos assuntos em seus vídeos.

Depois, fundou a produtora de vídeos on-line "Parafernalha", que acabou lhe afastando da produção de conteúdo do canal por três anos. Em 2015, vendeu a produtora e quis voltar com o canal, mas ele já não fazia mais sucesso como antes. Era hora de mudar.

Em 2017, resolveu fazer um reposicionamento de imagem e se despedir de vez do personagem revoltado que encarnava em seu antigo canal. “[...] Bethany Mota foi a maior influenciadora do YouTube durante muito tempo, até que decidiu sumir um pouco e, ao retornar, nunca mais conseguiu se reestabelecer. Como ela, todos os outros youtubers no mundo  que tentaram voltar depois do sucesso, falharam", diz Neto.

Ele  conta que não havia mais espaço em sua vida para um conteúdo de crítica e revolta. A nova fase do youtuber girava em torno de paz, amor e tranquilidade. "Queria mostrar isso para as pessoas."

Atualmente, o canal de Neto é o sétimo mais assistido no mundo e o primeiro no Brasil --ambos na categoria humor--, com 160 milhões de visualizações por mês. A cada um milhão de inscritos, ele muda a cor do cabelo, que já foi platinado, azul, rosa, multicolorido, verde e vermelho.

Depressão

O sucesso repentino do youtuber fez com que ele desenvolvesse depressão em 2010. "Não tive um sucesso gradativo. Fiquei com medo de perder aquilo que conquistei, de fazer vídeo ruim, de não ser bom o suficiente. Imagina: um dia você está 'de boa' na casa da sua mãe, sendo designer gráfico, e dois meses depois você é expulso de um shopping pelos seguranças, por causa da muvuca que causou."

Neto contou com a ajuda do pai, que é psicólogo, para lhe ajudar. Atualmente, convive bem com a depressão, mas ressalta a importância de colocar o assunto em discussão, para desestigmatizá-lo.

Leitor compulsivo

Felipe Neto é apaixonado por livros. Não cursou faculdade, mas é autodidata. Ele conta que, atualmente, está apaixonado por literatura do século 19, mas lê sobre diversos assuntos, como marketing, negócios e games.

"Eu sou um péssimo aluno. Sempre funcionei muito mal tendo que aprender com alguém me ensinando, e isso me fez buscar alternativas para aprender sozinho. Sou autodidata, mas não no sentido 'gênio' da palavra. Eu aprendo com literatura. Não tenho faculdade mas leio compulsivamente."

Seu horário preferido para ler é durante a madrugada. Este é o horário em que ele está mais "ligado". Não é à toa que acorda ao meio-dia e dorme por volta das 4h30. 

A partir do F5. Leia no original
Imagem : Wikipédia

APÓS 3 CIRURGIAS NO CÉREBRO, GAROTA LANÇA LIVRO E PLANEJA FESTA

10/09/2017

Heloíza Maria Carmona Santos, 14, nasceu com hidrocefalia grave, e o diagnóstico era de que, se vivesse, poderia ser em estado vegetativo. Já fez três cirurgias para implantar válvulas no cérebro e hoje vive sem sequelas. Sem condições financeiras, organizou vaquinha on-line para colocar no mercado um livro, cuja renda ajudaria em sua festa de 15 anos. A arrecadação superou a meta e ela ganhou quase tudo para a festa.


*     *     *

Minha luta pela vida começou quando eu era bem pequenininha, logo que nasci. Com 12 horas de vida passei por uma cirurgia delicada para implantar uma válvula no cérebro. Ela drena a água que se acumula na minha cabeça, devido à hidrocefalia, e ajuda a me manter viva. A cirurgia era de risco, eu poderia ficar com sequelas graves ou em estado vegetativo.

Nada disso aconteceu. mas, em 15 dias, o aparelhinho deu problema e novamente fui parar no centro cirúrgico. Uma nova válvula teve que ser implantada. Não lembro como foi, mas sei que minha mãe sofreu muito e fez de tudo por mim.
De lá para cá eu levo uma vida normal, os meus "defeitinhos" não me impedem de fazer nada. Vou para a escola, brinco com meus amigos e meu irmão. Em casa tenho minhas responsabilidades. Sou eu quem cuido do Max, o cachorro, e também tenho que lavar a louça todos os dias, apesar de não gostar.

Sou apaixonada por ler e escrever. Amo os gibis da Turma da Mônica! E foi a partir daí que surgiu meu gosto pela escrita.
Quando eu tinha nove anos, um jornalista amigo da minha mãe me viu escrevendo e quis ler a minha crônica. Ele gostou tanto que me convidou para escrever para o jornal dele e uma vez por mês um texto meu é publicado.

Estava indo tudo muito bem, eu tinha uma vida como qualquer outra criança da minha idade, quando mais uma vez fiquei entre a vida e a morte.

No início do ano passado comecei a passar mal, desmaiava na rua e sentia dores muito fortes num dos braços. Não queria acreditar, mas minha válvula estava dando problema de novo e eu teria que trocá-la. Mais uma vez eles iam "abrir" a minha cabeça. E lá fui eu para o hospital.

Me internei e em poucos dias já passei pelo procedimento. Não é nada legal ficar no hospital, era tanta medicação que eu ficava enjoada e não conseguia comer. Era só biscoito de polvilho e iogurte. Vendo a situação, um médico bonzinho me deixou comer um lanche. Foi uma alegria só.

Sabia que a cirurgia era complicada e que eu tinha 50% de chance de vida. Poderia voltar sem falar, andar, em estado vegetativo ou até mesmo não voltar.

Na madrugada que antecedeu o procedimento, acordei às 3h com a enfermeira me dando medicação. Pedi para falar com minha mãe, ela não queria me ouvir, mas insisti.

Falei em seu ouvido, bem baixinho: "mãe, se eu voltar da cirurgia sem conseguir falar quero que você saiba que eu amo muito vocês e nunca vou esquecer tudo o que vocês fazem por mim. E, se eu não voltar, vou pedir muito para Deus me enviar de novo nessa família, porque eu sei o quanto sou amada. Minha mãe chorou".

Fiquei três dias sem sentir as pernas, pensei que iria usar uma cadeira de rodas, mas, mais uma vez, contrariei as expectativas e me recuperei bem. Saí de mais essa sem sequela, estou mais forte do que nunca.

Deus tem o controle de tudo e acredito muito nele. Ele é muito bom e se eu estou aqui até hoje é porque ele ainda não quis desligar o botãozinho que me mantém viva. Só tenho que aproveitar e agradecer. A gente não pode ficar reclamando de um negocinho pequenininho que não está dando certo. Tem gente que tem problemas muito maiores. A gente tem que ser feliz.

15 ANOS

Sempre sonhei com uma festa de 15 anos. Não precisava ser algo grande, só queria dançar a valsa. Mas, como não temos condições financeiras, iria comemorar apenas com um bolo. Eu estava feliz, mas ainda queria dançar a minha valsa. Foi aí que tive a ideia de juntar os textos que escrevia para o jornal e lançar o livro "O Sol que Brilha em Torno de Mim", com 40 crônicas sobre assuntos como política, cultura e coisas do dia a dia.

Contei a ideia para minha mãe, que aceitou o desafio e, com a ajuda de uma amiga, lançamos uma vaquinha on-line. Queríamos arrecadar R$ 5.000 para fazer e lançar o livro e, com a venda dele, eu poderia então pagar a minha própria festa de 15 anos, que vai ser no dia 20 de outubro.

O resultado nem eu esperava, mesmo. O assunto foi ganhando força e já arrecadamos mais do que pretendíamos. E ganhamos quase tudo para a minha festa. Nem nos meus sonhos mais fofinhos eu imaginaria que tudo seria assim.

A VALSA

Eu vou poder dançar valsa, e o príncipe que vai me acompanhar nesse momento já está escolhido, é o Álvaro, um menino da minha escola. Ele tem Síndrome de Down, começou a estudar comigo no começo deste ano e nos tornamos muito amigos.

Eu até poderia escolher um amigo de infância, alguém que eu conheço há mais tempo, mas o Álvaro me cativou. Ele é muito especial, ele preza pelo respeito ao próximo, trata todos muito bem, é um verdadeiro príncipe. Não tinha como não ser ele.

O LIVRO

O dinheiro da vaquinha vai ajudar no lançamento do meu livro, que deve acontecer em outubro. Ele já está pronto e foi levado para a gráfica. A procura já está grande, tem muita gente ligando pedindo para encomendar. Serão feitos 1.000 exemplares e torço para que todos gostem.

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
Imagem : Reprodução

A FACE FELIZ DE QUEM SOFRE DE DEPRESSÃO

10/05/2017
O vocalista do Linkin Park, Chester Bennington, com a mulher Talinda, em 2012; ele se matou neste ano

Trinta e seis horas antes de cometer suicídio, Chester Bennington, do Linkin Park, se divertia com a família num vídeo divulgado por sua mulher. "A depressão não tem rosto ou mau humor", escreveu Talinda, no Twitter.

Não sei como é para outras pessoas que sofrem com a doença, mas ouvi muitas vezes que eu parecia ótima. Eu queria estar bem, me divertir, voltar a experimentar aquilo que chamamos de felicidade. Desejava reencontrar a pessoa que sempre fui até sofrer uma crise de pânico e mergulhar numa tristeza profunda. Era a vontade de superar o problema que fazia com que, na maioria das vezes, eu não parecesse triste. Mas eu sabia que estava.

Durante mais ou menos um ano a hora mais feliz do meu dia era quando eu deitava na cama e fechava os olhos, com a esperança de que aquela noite de sono não terminasse nunca. Não era vontade de morrer, mas eu imaginava que se dormisse muito talvez acordasse mais disposta a ser feliz de novo.

Nunca era o suficiente. Nem o sono, nem os remédios, nem a paciência do meu psicanalista ou o infinito amor que recebi do meu marido e dos meus pais naquele período.

Eu queria estar bem. Me esforçava a reagir e parecer recuperada. Não podia decepcionar quem estava em minha volta. Então, eu tentava alcançar dentro de mim a pessoa que havia se perdido, mas durante a maior parte do tempo não tive forças para mergulhar tão fundo para resgatar aquela parte que havia naufragado.

Lembro que alternava entusiasmo exagerado em qualquer coisa que fizesse com dias e dias em que não queria sair de casa para nada. E era durante os episódios em que bancava a esfuziante que eu mais me enganava. E os outros acreditavam. E eu confiava no que eles viam.

Gostava de ouvir que estava bem, talvez eles conseguissem ver nitidamente o que eu não conseguia sentir. Em alguns momentos pensei que pudesse estar fingindo. Não estava. Estava tentando me arrancar daquele buraco. Mas entendi que a felicidade que eu transmitia era só a tarja preta que anestesiava a tristeza.

Funcionava. Cheguei a interromper a medicação, tudo com acompanhamento médico, porque me sentia melhor. Achava que tinha uma parte naquele processo que dependia apenas de vontade. Não adianta só querer. Levei um tombo. Mas foi dessa vez que entendi que dá para conviver pacificamente com a doença, embora os sintomas estejam apenas adormecidos.

Quase tudo que vivi naquele período parece meio nublado agora. Mesmo as lembranças dos bons momentos nem sempre têm a nitidez que a felicidade carimba em nossa memória. O cérebro não conseguia assimilar.

Não sei o que a depressão causa nos outros. Em mim, era como se a doença sufocasse no peito a pessoa alegre, divertida e bem-humorada que sempre fui. Era como se, por mais que eu tentasse, não conseguisse sentir prazer em pequenas coisas ou euforia nos grandes acontecimentos. Me olhava no espelho e não me enxergava. Passei um ano e meio da vida chapada de tristeza.

Deixei de fazer muitas coisas que gostava. O único prazer que eu tinha era afundar no sofá e beber. Beber até anestesiar os sentimentos e dormir noites intermináveis de sono. Tenho sorte. Muita gente não tem. Tornam-se alcoólatras, viciados em drogas, tiram a própria vida, tudo para fugir da dor de sentir-se triste.

Pessoas passam a vida lutando diariamente contra a depressão, algumas conseguem colocar a cabeça para fora da lama e respirar. Não sei o que funcionou no meu caso. Mas quando isso aconteceu, percebi que a doença tinha causado transformações em mim, inclusive fisicamente. Foi como se eu estivesse ficando sóbria aos poucos e me dando conta do estrago que ela tinha feito. E a ressaca é grande. Mas ela passa.

Imagine que você consegue recuperar o seu HD inteiro e ele te ajuda a lembrar quem você é, te mostra os caminhos que costumava fazer para sentir-se feliz. Dançar, correr, comer ovos mexidos no café da manhã, fazer piadas bobas, soltar o verbo. Você consegue se lembrar de como era antes da doença, que nem sempre teve que lidar com o desequilíbrio causado por suas emoções. Foi o que aconteceu comigo. E eu me agarrei a isso. E todos os dias faço um baita esforço para não soltar essa corda.

Hoje, sinto-me sóbria, e não porque não tomo mais remédios, mas porque voltei a experimentar sentimentos na intensidade que eles têm de fato. Fico feliz, alegre, decepcionada, animada e triste também. Faz parte da vida experimentar disso tudo no dia a dia. Já a depressão é um mergulho profundo na tristeza, mas nem sempre ela parece, aos olhos de quem está de fora, tão triste e devastadora quanto pode ser.

A partir do UOL. Leia no original
 
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