
Segundo ele, paixão, o amor proibido e o conflito de gerações afetam tragicamente os Guarani Kaiowá. “Não dá para dizer que seja efeito direto e simples da falta de espaço. Existe uma conjunção entre esses fatores estressantes para a organização social e fatores mais íntimos, que vêm da educação, da visão cosmológica dos Guarani Kaiowá, em que o indivíduo em sua formação psicológica é muito contido, fechado e suscetível às relações afetivas dentro do mundo doméstico”, afirmou o antropólogo.
Ainda conforme Mura, muitos jovens indígenas dizem que o homem branco sabe lidar com a paixão, mas eles não. Por causa disso, até jovens e crianças Guarani Kaiowá cometem suicídio. “Há registros de suicídio de uma menina com nove anos. Os conflitos geracionais fazem com que o jovem queira fugir do controle social, que é esmagador dentro do contexto familiar. (...) Quando ocorre uma briga com a mãe ou com o pai, em situação pública especialmente, em que o jovem sinta-se ridicularizado ou maltratado, ele pode atingir um estado que chama nhemyrô”, explica.
O nhemyrô é uma profunda mágoa, que causa perda da consciência e leva a pessoa a sentir-se chamada pelos espíritos de companheiros que se suicidaram ou estão mortos. “Se um índio brigou com os pais porque queria namorar com uma pessoa não permitida, e essa se suicidou, é possível que na sequência aquele índio possa se suicidar porque se sinta chamado enquanto a alma daquela pessoa está em um patamar do céu, que ainda é muito próximo da terra”, afirma.
Em 2009, foram registrados 60 assassinatos e 34 suicídios de índios brasileiros. Dos assassinatos, 42 ocorreram em Mato Grosso do Sul. Já os suicídios foram todos no Estado.