Estudos & Pesquisas

Últimas Postagens

Mostrando postagens com marcador vida. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador vida. Mostrar todas as postagens

"Meu foco é viver, deixo a doença de escanteio", conta mulher com ELA

4/11/2021
Em 2017, Larissa Takashima Ouriques, 42, minha tia, começou a sentir fraqueza no pescoço e falta de ar. Eram os primeiros sintomas da ELA (esclerose lateral amiotrófica), um distúrbio dos neurônios motores do cérebro e da medula espinhal. A mãe de Larissa morreu em decorrência da enfermidade. A ELA pode afetar qualquer pessoa em qualquer lugar. Mas, no caso de Larissa, é o tipo familiar. Neste relato, Larissa conta quando descobriu a doença, episódios em que quase morreu em duas cirurgias e como se reinventou criando uma associação para ajudar pacientes.

"Minha mãe, Geney, morreu com ELA em maio de 1999. Acompanhei a evolução da enfermidade. Minha mãe ficou fraca e, a cada dia, perdia a força dos músculos até não conseguir mais se mexer. Tinha medo de desenvolver a doença, mas não era algo que me abalava. Até começar a sentir os primeiros sintomas durante a ginástica. Em 2017, não conseguia levantar o pescoço para fazer abdominal e sentia dificuldade em respirar quando corria na esteira. Alguns dias depois, acordei sem conseguir falar, pois meus pulmões estavam enfraquecidos. Meu pescoço estava mole. Tive medo de que pudesse ser a temida doença da família.

Em junho de 2018, comecei a sentir falta de ar com frequência. Contei para o meu irmão, que é médico. Ele ficou muito preocupado. Viajamos juntos até São Paulo para realizar exames e saber se eu realmente tinha ELA. Fui até o Setor de Investigação em Doenças Neuromusculares da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Lá, os pacientes estavam sendo atendidos por médicos e residentes da ABrELA - Associação Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica.

"Após os exames, os médicos falaram que havia uma forte suspeita de que eu tivesse ELA. Foi um choque. O diagnóstico veio com o teste genético. Descobri que é uma mutação de um gene."

Pesadelo no hospital 

Sentia a doença avançar dia após dia. Emagreci muito em pouco tempo. Perdi 25 quilos. Em junho de 2019 fiz uma gastrostomia, um procedimento cirúrgico para fixar uma sonda alimentar no estômago. Após a cirurgia, senti muita dor na barriga. Pedi para o médico um analgésico forte. E ele respondeu que eu estava fazendo 'manha'. No dia seguinte, ele me deu alta do hospital, apesar de eu estar visivelmente mal. Saí muito fraca, de cadeira de rodas. Quando entrei no carro, não conseguia respirar. Achei que ia morrer. Pensei nos meus filhos.

Nesse momento, desmaiei. Meu marido, George, me pegou no colo e me levou para o hospital. Quando abri os olhos vi o pessoal da enfermagem ao meu redor. O médico pediu para a equipe de enfermagem me dar oxigênio. Só que esse tipo de procedimento faz mal para os pacientes com ELA. Nós não podemos receber uma carga alta de oxigênio sem um aparelho de ventilação não invasiva. O equipamento pressiona a parede torácica e facilita a entrada de ar. Os pacientes de ELA não têm força para expirar, então, o oxigênio que se transforma em gás carbônico e acaba se concentrando no corpo.

Meu marido sabia disso. Por isso, quando o enfermeiro colocou a máscara de oxigênio no meu rosto, George retirou o dispositivo. Rapidamente, ele colocou o aparelho de ventilação em mim e, por fim, a máscara de oxigênio. Nessa hora, voltei à consciência. Esse foi o primeiro episódio de terror no hospital. Quase morri novamente em fevereiro de 2020. Fiz uma cirurgia para trocar o cano da traqueostomia. Respiro por meio de um orifício artificial acoplado no pescoço.

médico tirou a cânula, um tubo localizado na traqueia, mas não conseguiu colocar novamente. Tive uma parada respiratória, desmaiei e quando acordei estava intubada. Vi os médicos me reanimando. Fiquei alguns dias na UTI. Vivi um pesadelo. 

Meu foco não é a doença, meu foco é viver...

Desde a primeira vez que estive internada no hospital, pensei em criar uma associação para ajudar os pacientes com esclerose lateral amiotrófica. É difícil encontrar uma equipe multidisciplinar especializada em ELA.

Sou promotora de Justiça, mas por conta da doença fui obrigada a me aposentar. Em setembro de 2020 criei a ARELA (Associação Regional de Esclerose Lateral Amiotrófica), em Santa Catarina (@arela.sc). O grupo conta com fisioterapeutas, neurologistas, psicólogos, nutricionistas e juristas. O tratamento multidisciplinar é muito importante e gera qualidade de vida e aumento de sobrevida para os pacientes. Meu desejo é que os profissionais e os pacientes saibam o que deve ser feito em casos de ELA —desde o diagnóstico até o tratamento. Criei uma frase que carrego na vida e até se tornou lema da associação: 'Há vida com ELA e não vamos desistir por causa dELA'. 

Viver com a doença é uma transformação. Mas nós, pacientes, continuamos com os nossos sentimentos e vontades. Se tivesse vontade de morrer quando recebi o diagnóstico, não teria conhecido a minha neta Isabella Yumi, que nasceu em junho de 2020, e não teria criado a ARELA. Não vejo dificuldades, mas, sim, caminhos. Estou forte apesar de estar quase imóvel. A minha mente não para. E a vontade de viver também não. Tenho muita fé em Deus. Ele me traz paz e me conforta. Estou vivendo bem, de uma forma intensa, com muitos momentos de felicidade e poucos de tristeza.

Não fico pensando: 'por que eu não ando?', 'por que eu não me mexo?'. Sou feliz assim. Não penso que vou morrer e que meu pulmão vai parar. Às vezes até esqueço que tenho ELA. O meu foco não é a doença, o meu foco é viver. A esclerose lateral amiotrófica que venha comigo se quiser, se não quiser 'rala', pode me deixar. Deixo a doença de escanteio. Sou a protagonista, a atriz principal da minha vida."

 A partir  do Portal UOL
Veja mais em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/04/11/meu-foco-e-viver-deixo-a-doenca-de-escanteio-conta-mulher-com-ela.htm?cmpid=copiaecola

'ESTOU MEDICADO, NUM PARAÍSO ARTIFICIAL "

12/03/2017


Olá senhoras e senhores.

É possível curar a depressão? Deixar de ser um suicida? De desejar a morte de todas as formas? Não tenho essas respostas. Na verdade estou medicado, num "paraíso" artificial.

Venho experimentando um pequeno coquetel de drogas em que eu, minha psicóloga e a psiquiatra vem há meses tentando acertar a dose e a melhor forma de terapia. Acontece que sou extremamente cético, ateu, desgrudado dessas coisas que dão esperança.

Não acreditava numa melhora possível. Já tentei me matar 8, 9x, perdi até a conta exata. E sempre foi muito doloroso essas experiências até que conheci a Venlaxina. Calma. Não é só isso. Um dia acordei, o mundo estava igual. Eu não dei um alegre bom dia pro sol. Não vi arco íris, pássaros, borboletas celestiais. Nem se quer um pingo de felicidade extravagante brotou. Meus problemas materiais ainda estavam lá. Só mais tarde percebi...o dia tá estranho. Eu tô estranho. Passei ao lado da forca que até hoje tenho no meu quarto, presa atrás de um espelho e senti certo arrepio.

 Peguei minhas giletes de mutilação, olhei minhas cicatrizes evidentes nos braços e senti certa pena de mim...que coisa macabra. Estaria eu querendo viver a essa altura do campeonato? Não rola! Meu suicídio é certo... Alguma coisa não estava em seu lugar e eu quase, quase vi uma luz no fim do túnel. Pudia jurar... até que vasculhei meu pensamento e achei.

Sim, ainda me escapole o olhar em direção ao vazio, aquele oco ainda habita meu ser. Então o que é isso que estou sentindo? Também não sei. Mas com 4 meses experimentando essa dose que foi inicialmente de 75mg até hoje, estacionando com 300mg de Venlaxin, um potente inibidor seletivo de recaptação da serotonina, norepinefrina e dopamina, responsáveis pelas sensações de prazer e felicidade + 1mg de Respiridona, que para mim vem como um lubrificante que ajuda a desgrudar e colocar para fluir pensamentos repetitivos + Rivotril pela manhã para relaxar e booom. 

Consegui atravessar dias e noites sem pensar em morrer. Me senti cafona, pois a morte para mim era sinônimo de luxo. E lá estava eu dizendo SIM para as coisas sociais, porque minha psicóloga disse que eu falava muito não, e por isso vivia trancado, que eu tinha um padrão de pensamento negativo, e então passei a pensar duplo, triplo, ou seja, para cada coisa que eu pensava e identificava como negativo eu tentava encontrar 2 ou 3 pensamentos contrários, positivos.

 Algo estava acontecendo! Não posso dizer que estou curado (disse minha psiquiatra que não tem cura). Só posso dizer que hoje vivo melhor que ontem e que estou com vontade de ver até onde isso vai. O pensamento de morte ainda vem e já fui alertado que ele vai continuar. Ainda tenho dias de desespero, mas são menos e mais fracos do que eu costumava ter. E assim tenho passado meus dias nessa Terra. 

Ainda persiste na minha cabeça a ideia de que só estou vivo para não fazer minha mãe sofrer e no minuto seguinte que ela morrer eu vou me matar porque a vida não terá o menor sentido. Só que ultimamente, nesses últimos 3 meses, isso não tem me feito sentir vontade de apressar as coisas e sim deixar que o tempo me revele o que sentir e como agir, ao invés de tentar prever o futuro e o trazer imediatamente para o presente. 

Então meus amigos e amigas. Como disse no início, ainda não tenho respostas definitiva e bem provável que nunca terei. Porém me parece certamente que existe como tornar essa vida mais suportável, melhor do que hoje, do que ontem. E nada disso é caro, inacessível. Pelo contrário. Esta disponível no SUS. É um direito do cidadão brasileiro. Experimentem! Não os mesmos medicamentos e doses que uso, e sim um tratamento na área de saúde mental. Tem que persistir! 

Esses remédios demoram de semanas a meses para funcionar, sem contar a psicoterapia, que demora de meses a anos (no meu caso, apesar de fazer há anos, só nos últimos 2 que me tornei frequente, indo toda semana). É pronto. Quero que todos melhorem! E podem contar comigo para o que precisar, pois eu já contei com esse grupo e já fui ajudado em meio a desgraça que se instalou no meu ser. Gritem! Chorem! Desabafem! E acima de tudo, tentem outra vez, por mais exausto que você esteja. Vale a pena? Sei lá... 

Talvez nunca saiba, mas estou descobrindo que também posso tentar. E se eu posso, porque você não? Um beijo para quem é de beijo e um abraço para quem é de abraço.

Roosevelt Soares
Depoimento no Grupo QM
Imagem : Pexels

'QUERO UMA MORTE DIGNA", DIZ JOVEM QUE ABANDONOU TRATAMENTO

11/30/2017
José Humberto Pires de Campos Filho, 23,  em Trindade (GO)

Na última vez que José Humberto Pires de Campos Filho, 23, entrou na piscina, há dois meses, os pés se retorceram. A dor latejante invadiu o corpo. Teve de se sentar na borda, em um clube de Caldas Novas, a 170 km de Goiânia.

Eram os reflexos da doença renal crônica da qual padece desde 2015. Tão diferente dos tempos em que vencia torneios de natação nos Estados Unidos, na adolescência.

Agora, aos 23, José Humberto decidiu parar. Quer ficar distante das piscinas e das sessões de hemodiálise. Não tem mais vontade de viver.

"Quero uma morte com dignidade, sem a dor do tratamento", diz o jovem.

A mãe não concorda e buscou ajuda na Justiça. O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás divulgou esta semana sentença do juiz Éder Jorge em favor da costureira Edina Maria Alves Borges, 56, para a interdição do rapaz.

A sentença segue o mesmo entendimento de uma liminar (decisão inicial do processo) que o juiz havia concedido em fevereiro. Ela determina a interdição parcial do paciente, e nomeia como curadora a sua mãe, por um ano, só para levá-lo à hemodiálise.

A interdição vale sem nenhum uso de força ou sedação. Por isso, na prática, Edina sente ter em mãos um papel vazio, já que o filho se recusa a seguir o tratamento.

Das quatro sessões semanais na máquina que funciona como rim artificial, para filtrar o sangue, ele decidiu ir só a duas. E alertou a mãe que, a partir de 2 de janeiro, não fará mais nenhuma.

"Ver um filho morrendo aos poucos é muito difícil. Suportar tudo isso é terrível."

A hemodiálise libera o corpo dos resíduos prejudiciais à saúde, como o excesso de sal e de líquidos, controla a pressão arterial e ajuda a manter o equilíbrio de substâncias como sódio, potássio, ureia e creatinina.

"Não dou conta de ficar na máquina porque dói muito. Quero morrer na data que deve ser, naturalmente, sem ter intervenção da medicina me forçando a viver", diz o jovem, deitado em uma grande cama, suficiente para acomodar os seus 1,85 m e 73 kg.

Fora do Brasil

Mãe e filho moram sozinhos. José fica boa parte do dia trancado no seu quarto, com janela e cortina fechadas. Enquanto o rapaz dava entrevista, Edina costurava no cômodo ao lado.

Ela lembra de quando viu o caçula de seus três filhos pousar no aeroporto de Goiânia, em maio do ano passado, dez meses depois de ser diagnosticado com a doença nos Estados Unidos, onde morou com o pai.

Fora do Brasil, só tomou remédio paliativo. "Ele chegou bastante inchado. Estava quase irreconhecível", lembra. Três meses depois, começou a hemodiálise.

A lado da cama, José tem a companhia de um computador, uma cesta de remédios e uma cadeira de rodas que passou a usar, há um mês, para se locomover em casa, em Trindade, na Grande Goiânia.

Ele sai para a rua só para ir à hemodiálise. Não consegue mais andar. Os pés não suportam o peso do corpo, e as pernas estão se atrofiando.

"Antes eu andava me arrastando, mas agora os pés não mexem mais. Não sou obrigado a fazer tratamento que não quero. Nada vai fazer eu mudar de opinião."

On-line

O jovem passa grande parte do tempo conectado às redes sociais ou ocupando a mente em jogos on-line, enquanto fica de olho no relógio para se medicar.

Ele toma dez medicamentos de alto custo. Alguns são fornecidos pela central de distribuição do Estado.

Concluiu o ensino médio e prestou o Enem no ano passado. Antes da doença, o jovem dizia que seu sonho era rodar o mundo todo.

Desde a sua última tentativa de entrar na piscina, em setembro, mês de seu aniversário, José só piorou.

"Ele voltou mais revoltado por causa disso", conta a mãe, com a aflição estampada no rosto.

A junta médica do Judiciário goiano, formada por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais, não identificou sinais de depressão em José.

A perícia atesta que ele é lúcido e está com a consciência preservada, mas considera que a sua capacidade de entendimento e determinação está prejudicada, o que o prejudica a ter "vontade efetivamente livre".

Os especialistas entendem que esse é um caso de transtorno de ajustamento, já que, na avaliação deles, o diagnóstico da doença fez o jovem ser tomado por fortes emoções e perder perspectivas de vida.

Longo e sofrido

Na sentença inicial, apesar de afirmar que, em alguns casos, o uso de medicamentos pode transformar a morte em um processo longo e sofrido, o juiz Éder Jorge diz entender que só com a vontade completamente livre o jovem poderia fazer escolhas e assumir as responsabilidades decorrentes delas.

O magistrado sugeriu acompanhamento terapêutico, porque o paciente "possui capacidade cognitiva compatível com sua idade e grau de instrução e pode alcançar, com acompanhamento profissional, o adequado desenvolvimento emocional".

Para o juiz, José é "muito inteligente e simpático".

Apesar de ciente da preocupação da mãe e de ver o organismo padecer aos poucos, José pretende usar a sentença como o seu principal álibi, já que a decisão proíbe, expressamente, o uso de qualquer tipo de força ou sedação para submetê-lo ao tratamento.

Também a ética médica impede que o paciente seja obrigado a se tratar.

Inconformado, José afirma que irá recorrer até a última chance para negar o tratamento. Por outro lado, a sua mãe afirma que vai fazer de tudo para que o caçula viva.

"Eu não quero entrar nem na fila de transplante de rim. Nada vem na minha cabeça para eu mudar de ideia. Só a cura naturalmente."

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

APÓS 3 CIRURGIAS NO CÉREBRO, GAROTA LANÇA LIVRO E PLANEJA FESTA

10/09/2017

Heloíza Maria Carmona Santos, 14, nasceu com hidrocefalia grave, e o diagnóstico era de que, se vivesse, poderia ser em estado vegetativo. Já fez três cirurgias para implantar válvulas no cérebro e hoje vive sem sequelas. Sem condições financeiras, organizou vaquinha on-line para colocar no mercado um livro, cuja renda ajudaria em sua festa de 15 anos. A arrecadação superou a meta e ela ganhou quase tudo para a festa.


*     *     *

Minha luta pela vida começou quando eu era bem pequenininha, logo que nasci. Com 12 horas de vida passei por uma cirurgia delicada para implantar uma válvula no cérebro. Ela drena a água que se acumula na minha cabeça, devido à hidrocefalia, e ajuda a me manter viva. A cirurgia era de risco, eu poderia ficar com sequelas graves ou em estado vegetativo.

Nada disso aconteceu. mas, em 15 dias, o aparelhinho deu problema e novamente fui parar no centro cirúrgico. Uma nova válvula teve que ser implantada. Não lembro como foi, mas sei que minha mãe sofreu muito e fez de tudo por mim.
De lá para cá eu levo uma vida normal, os meus "defeitinhos" não me impedem de fazer nada. Vou para a escola, brinco com meus amigos e meu irmão. Em casa tenho minhas responsabilidades. Sou eu quem cuido do Max, o cachorro, e também tenho que lavar a louça todos os dias, apesar de não gostar.

Sou apaixonada por ler e escrever. Amo os gibis da Turma da Mônica! E foi a partir daí que surgiu meu gosto pela escrita.
Quando eu tinha nove anos, um jornalista amigo da minha mãe me viu escrevendo e quis ler a minha crônica. Ele gostou tanto que me convidou para escrever para o jornal dele e uma vez por mês um texto meu é publicado.

Estava indo tudo muito bem, eu tinha uma vida como qualquer outra criança da minha idade, quando mais uma vez fiquei entre a vida e a morte.

No início do ano passado comecei a passar mal, desmaiava na rua e sentia dores muito fortes num dos braços. Não queria acreditar, mas minha válvula estava dando problema de novo e eu teria que trocá-la. Mais uma vez eles iam "abrir" a minha cabeça. E lá fui eu para o hospital.

Me internei e em poucos dias já passei pelo procedimento. Não é nada legal ficar no hospital, era tanta medicação que eu ficava enjoada e não conseguia comer. Era só biscoito de polvilho e iogurte. Vendo a situação, um médico bonzinho me deixou comer um lanche. Foi uma alegria só.

Sabia que a cirurgia era complicada e que eu tinha 50% de chance de vida. Poderia voltar sem falar, andar, em estado vegetativo ou até mesmo não voltar.

Na madrugada que antecedeu o procedimento, acordei às 3h com a enfermeira me dando medicação. Pedi para falar com minha mãe, ela não queria me ouvir, mas insisti.

Falei em seu ouvido, bem baixinho: "mãe, se eu voltar da cirurgia sem conseguir falar quero que você saiba que eu amo muito vocês e nunca vou esquecer tudo o que vocês fazem por mim. E, se eu não voltar, vou pedir muito para Deus me enviar de novo nessa família, porque eu sei o quanto sou amada. Minha mãe chorou".

Fiquei três dias sem sentir as pernas, pensei que iria usar uma cadeira de rodas, mas, mais uma vez, contrariei as expectativas e me recuperei bem. Saí de mais essa sem sequela, estou mais forte do que nunca.

Deus tem o controle de tudo e acredito muito nele. Ele é muito bom e se eu estou aqui até hoje é porque ele ainda não quis desligar o botãozinho que me mantém viva. Só tenho que aproveitar e agradecer. A gente não pode ficar reclamando de um negocinho pequenininho que não está dando certo. Tem gente que tem problemas muito maiores. A gente tem que ser feliz.

15 ANOS

Sempre sonhei com uma festa de 15 anos. Não precisava ser algo grande, só queria dançar a valsa. Mas, como não temos condições financeiras, iria comemorar apenas com um bolo. Eu estava feliz, mas ainda queria dançar a minha valsa. Foi aí que tive a ideia de juntar os textos que escrevia para o jornal e lançar o livro "O Sol que Brilha em Torno de Mim", com 40 crônicas sobre assuntos como política, cultura e coisas do dia a dia.

Contei a ideia para minha mãe, que aceitou o desafio e, com a ajuda de uma amiga, lançamos uma vaquinha on-line. Queríamos arrecadar R$ 5.000 para fazer e lançar o livro e, com a venda dele, eu poderia então pagar a minha própria festa de 15 anos, que vai ser no dia 20 de outubro.

O resultado nem eu esperava, mesmo. O assunto foi ganhando força e já arrecadamos mais do que pretendíamos. E ganhamos quase tudo para a minha festa. Nem nos meus sonhos mais fofinhos eu imaginaria que tudo seria assim.

A VALSA

Eu vou poder dançar valsa, e o príncipe que vai me acompanhar nesse momento já está escolhido, é o Álvaro, um menino da minha escola. Ele tem Síndrome de Down, começou a estudar comigo no começo deste ano e nos tornamos muito amigos.

Eu até poderia escolher um amigo de infância, alguém que eu conheço há mais tempo, mas o Álvaro me cativou. Ele é muito especial, ele preza pelo respeito ao próximo, trata todos muito bem, é um verdadeiro príncipe. Não tinha como não ser ele.

O LIVRO

O dinheiro da vaquinha vai ajudar no lançamento do meu livro, que deve acontecer em outubro. Ele já está pronto e foi levado para a gráfica. A procura já está grande, tem muita gente ligando pedindo para encomendar. Serão feitos 1.000 exemplares e torço para que todos gostem.

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
Imagem : Reprodução

SETE MITOS SOBRE A FELICIDADE

9/28/2017

Não existe um manual para ser feliz. Muitas vezes ficamos à mercê de certos pensamentos e crenças que acabam nos sabotando, sabia? Há mitos sobre a felicidade que, além de nada realistas, fazem com que a gente deixe de viver plenamente. Esperar que grandes mudanças encham nosso coração de uma satisfação plena e imutável é apenas uma entre várias ideias equivocadas que cercam o tema.

1. Se eu emagrecer, fizer uma cirurgia plástica, viajar para o exterior, comprar um carro e/ou mudar de casa, serei mais feliz

É uma ilusão atribuir a felicidade à conquista de algo, mesmo de uma transformação na aparência. Todas essas coisas nos deixam alegres e até proporcionam entusiasmo por algum tempo, mas, efetivamente, não têm o poder de fazer ninguém feliz. Segundo o psicólogo norte-americano Shawn Achor, autor de "O jeito Harvard de ser feliz" (Ed. Saraiva), primeiro precisamos ter uma atitude mental positiva para depois atingirmos as conquistas materiais e vibrarmos com elas. A felicidade não é algo externo a nós, como temos tendência a idealizar, e sim interna. É o que o senso comum chama de “estado de espírito”. Senti-la é uma escolha de nossa responsabilidade, o que acaba assustando - por isso tendemos a idealizá-la como algo externo. Depois que a boa sensação vivenciada com uma viagem ou com a compra de um carro se esvai, se a pessoa tem um vazio interior a tendência é criar novas crenças e expectativas para preenchê-lo. E mais: há quem perca anos da vida reformando uma casa ou economizando para viajar e acaba deixando de lado várias circunstâncias felizes ao longo do caminho. É preciso ter objetivos, sim, mas sem virar escravo deles.

2. Quando eu ganhar mais dinheiro, encontrarei a felicidade

Não há dúvida nenhuma que o dinheiro proporciona acesso a certas coisas. Pesquisas mostram que até mesmo um simples aumento no salário pode deixar a pessoa mais feliz. Porém, depois essa felicidade se estabiliza e, muitas vezes, até cai. Mais do que ter um saldo bancário recheado, é fundamental aprender a viver com o que se ganha e a manter os boletos pagos em dia. Dívidas, contas atrasadas, cartão de crédito estourado e extrato no vermelho afetam o bem-estar físico e emocional.

3. A maternidade realiza a mulher

Para uma parcela das mulheres, sim. A maternidade promove mudanças emocionais profundas que transformam a vida significativamente. Porém, não deve ser encarada como a única ou maior realização feminina. Para qualquer mulher se sentir feliz de verdade, é preciso haver um equilíbrio entre os diversos papéis desempenhados em sociedade: mãe, esposa, amiga, amante, profissional, filha, etc. Vale lembrar que depositar toda a capacidade de encontrar satisfação nos ombros de uma criança é um peso muito grande para o filho.

4. Quando eu me apaixonar, serei feliz

Não necessariamente, viu? A paixão proporciona alegria e entusiasmo, mas não traz felicidade. Na verdade, durante o ápice ela atrapalha a razão e leva as pessoas a fazerem coisas sem sentido e, dependendo da habilidade e estrutura emocional, a chegarem a limites extremos. Entretanto, quando a paixão entra na maturidade, aí, sim, vira amor e faz a pessoa feliz. Mesmo assim, é importante aprender a gostar de si primeiro antes de amar alguém. Nós é que devemos ser responsáveis por nossa própria felicidade, em vez de atribuí-la aos outros.

5. Não se deve ostentar a felicidade, pois isso atrai inveja e olho gordo

Reflita: ao evitar demonstrar sua felicidade, você consegue usufruir 100% dela? Qual a serventia de disfarçar algo que se manifesta em seu olhar, no sorriso, em seus gestos, na expressão facial? Será que esse tipo de crença toma conta de seus pensamentos porque, na verdade, é você quem se incomoda com o sucesso e o bem-estar alheio? E, portanto, projeta nos outros algo que pertence a você? Enfim, quem quer ser feliz precisa se libertar da preocupação limitadora com a opinião alheia.

6. Meu tempo feliz já passou

Você é da turma que acredita que não dá pra ser feliz depois de uma certa idade? Acha que o auge da sua existência foi a adolescência ou relembra com saudosismo e pesar os dias gloriosos da sua infância? Continuar a viver assim só vai limitar a sua rotina. Ser feliz é uma questão de escolha, portanto é possível criar um cotidiano produtivo e interessante em qualquer momento da vida. Se você está respirando,  o aqui e o agora é o momento certo.

7. Felicidade é encontrar o trabalho perfeito

Todo trabalho é perfeito até que o tempo prove o contrário. Quando vislumbramos a possibilidade de trocar de emprego, o próximo sempre parece muito melhor do que o anterior. O ambiente diferente, os colegas novos, os desafios e os benefícios extras formam um cenário atraente e promovem uma sensação de realização plena. No entanto, à medida que o tempo passa, o doce sabor da novidade se esvai e o peso da rotina se impõe, trazendo de volta a insatisfação e demais sentimentos negativos anteriores. Não é o trabalho que deve te fazer feliz, e sim você precisa se sentir o mais feliz que pode com o trabalho que tem. E mais: um emprego sozinho não torna ninguém feliz. É preciso se sentir bem em família, com os amigos, na própria pele etc., ou seja, buscar contentamento contínuo e em todas as esferas.

Fontes: Hebe de Camargo, psicóloga especialista em depressão e em psicologia com ênfase em comunicação, arte e educação, de São Paulo (SP); Heloísa Capelas, especialista em inteligência comportamental, consteladora familiar, autora dos livros "O mapa da felicidade" e "Perdão – A revolução que falta" (Ed. Gente) e diretora do Centro Hoffman no Brasil, em São Paulo (SP); master coach Paulo Vieira, pós-graduado em gestão de pessoas, master coach e autor dos livros "O poder da ação" e Fator de enriquecimento" (Ed. Gente), e Sabrina Gonzalez, psicóloga e psicoterapeuta, de São Paulo (SP)

A partir do UOL. Leia no original
Imagem : Pexels

O IMPORTANTE É SAIR DOS TRILHOS

9/10/2017


Sair dos trilhos é fugir a um padrão de comportamento, não agir conforme o esperado. Todos nós temos paradigmas. Desses que encalacram a vida da gente. Eles nascem, brotam, surgem do nada, pelos cantos, frestas e paredes, por cima, por baixo, de pé, deitado, em nossa casa, nas padarias, nos escritórios, nas empresas, nos jornais, nas tevês. 

Mas o que são paradigmas? Diriam  as testemunhas do trabalho e das idéias de Albert Einstein: “ele fez o seu trabalho mais brilhante quando desafiou os paradigmas da ciência e ousou sair dos trilhos, violando regras que constrangiam seu pensamento. Felizmente não se deixou limitar pelo mundo tridimensional que conhecia. Ele usou a
imaginação para ir além das suas experiências e entrar de corpo e alma num universo multidimensional. Nós, físicos e amigos de Einstein, descobrimos que essa idéia se aproxima
mais do  modo pelo qual o universo se estrutura na realidade. Einstein só pode chegar a ela por seu espírito transgressor. De maneira imaginativa e inovadora, e de natureza perseverante, saiu dos trilhos, voou sentado na ponta de um raio de luz.”

Mas quer ver como nasce um paradigma?

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No centro dessa jaula puseram uma escada e no ponto mais alto da escada, no último degrau, um bonito e maduro cacho de nanicas, a marca de bananas preferida dessa macacada. Quando um macaco subia a escada para apanhar uma banana que fosse, os cientistas esguichavam água fria – atente para o detalhe – nos que estavam no chão. Esses pagavam o maior mico. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam o pobre coitado de pancada. Passado algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada. E as nanicas continuavam lá, tentadoras. Então os cientistas substituíram um dos cinco macacos.

primeira coisa que ele fez, morrendo de fome que estava, foi subir tranquilamente a escada. Os outros macacos, antes que o jato gelado de água fosse detonado, retiraram o novato rapidinho e não deixaram por menos, pancada em cima de pancada no calouro. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo aprendeu, não subia mais a escada. Um segundo macaco foi substituído, e a mesma coisa acabou acontecendo, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato.

Bem, um terceiro foi trocado, e o fato repetiu-se. Subiu a escada, pancada. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse
chegar às bananas. 

Se fosse possível perguntar a algum deles porque batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui…”

Agora continue fora dos trilhos e troque essa jaula pela sua casa, padaria, escritório, empresa. Em grandes companhias o pessoal da administração diz que isso não pode porque o ‘policy’ da empresa não permite. As coisas sempre foram assim por aqui! Daí a gente traduz ‘policy’ e vê que é a linha política, o plano de ação, a orientação, o método, as normas, os programas, os TRILHOS. Bem que Einstein dizia, “é mais fácil desintegrar um átomo do que um paradigma, um preconceito.”


*     *     *
Sobre a animação

A divisão entre os poderosos e os impotentes nunca foi tão grande. E nestes tempos difíceis, temos de perceber que, se queremos mudar o mundo, precisamos mudar a forma como ele funciona. AIME é uma organização de caridade que faz exatamente isso, usando mentoring para tornar o sistema de educação mais justa e inclusiva para todos. 

Porque as crianças com acesso a uma boa educação têm condições de sair da pobreza e começar a quebrar o ciclo de desigualdade. Na Austrália, AIME já capacitou dezenas de milhares de crianças para mudar o curso de suas vidas. 

Créditos 
Filme: Dirigido por Laurent Witz Animado por Zeilt produções criadas por M & C Saatchi, Sydney música composta por Olivier Defradat letras cantadas por Mariot Pejot

A partir de artigo Cláudio Corrêa de Almeida
Imagem : Pixabay

'PARTILHE SUAS DORES", DIZ PADRE FÁBIO DE MELO

6/30/2017

No programa "Direção Espiritual" do dia 16 de agosto de 2017, na TV Canção Nova,  Padre Fábio de Melo fala sobre as perdas que enfrentamos para sermos quem somos, e sobre a importância de partilhar nossas dores, pois isso nos dá força para seguir em frente. Padre Fábio partilha as dificuldades que tem vivido ultimamente, em que tem sofrido com crises de síndrome do pânico.

Por outro lado, no Fantástico deste domingo (20/08), Poliana Abritta conversa com o padre Fábio de Melo sobre a síndrome do pânico, doença que o afetou no último mês. Em uma rede social, o padre admitiu que ficou uma semana trancado em casa, com sensação de morte e tristeza profunda. "Nunca chorei tanto na minha vida", disse. Ele se emocionou ao falar sobre a relação com a família, a fé, a morte recente da irmã e as redes sociais, além de assumir que pensa em fazer terapia. Fábio de Melo chegou a se esconder embaixo da cama por causa do medo, mas agora está medicado e cumprindo seus compromissos.

Acompanhe abaixo o trecho do programa em que Padre Fábio de Melo fala da dificuldade que tem vivido.


 
Copyright © QUERO MORRER. . OddThemes