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SUICÍDIOS : O FUTURO INTERROMPIDO

7/13/2012
Livro discute a realidade sombria dos que escolhem partir – e dos que são deixados para trás

Depois do suicídio do pai e da morte do irmão,
Paula Fontenelle decidiu investigar por que algumas
pessoas tiram a própria vida e escreveu o
livro Suicídio, O Futuro Interrompido:
Paula Fontenelle tem alguma experiência com suicídios. Seu pai se matou e seu irmão morreu num acidente de asa-delta, depois de um longo flerte com a auto-destruição. Matou-se também o irmão de um namorado. É uma cota bem maior do que a maioria de nós já teve de suportar. Como lidar com um peso desses? Como espantar os demônios da culpa e do medo? Para Paula, a resposta foi um livro: Suicídio, O Futuro Interrompido, lançado pela Geração Editorial. 

Escrito na primeira pessoa, o livro é um passeio pelas obsessões da autora. Ela mergulha fundo na própria biografia e na história familiar para (tentar) entender por que seu pai fez o que fez. Também vasculha, laboriosamente, a literatura médica, preocupada em descrever a construção do suicídio, seus sinais e as tendências apontadas pelas estatísticas. Entrevista médicos para compreender as doenças que acometem quem desiste (depressão, acima de todas) e coleta relatos tocantes dos que chegaram às portas do suicídio sem tê-lo consumado. Enfim, Paula cerca o tema por todos os lados com o objetivo declarado de aboli-lo. Se precisasse de outro título, o livro poderia chamar-se: Suicídio, como evitar. 

Há várias maneiras de olhar para o resultado desse trabalho. A primeira é a originalidade: escreve-se muito pouco sobre suicídio. O assunto é tabu bíblico e foi tornado ainda mais marginal por uma sociedade em que o sucesso e a felicidade são obrigatórios. Paula e seu livro nos lembram que as coisas não são assim. As pessoas sofrem e se matam em número cada vez maior, inclusive no Brasil, e é importante que saibamos disso. 

O segundo aspecto importante do livro é a desglamurização do suicídio. Ele não é romântico, não é bonito, não é nobre e raramente – talvez nunca –, representa uma opção filosófica ou existencial. Suicídio é sinônimo de doença, de falta de socorro, de solidão e desespero. Kurt Cobain e Virginia Wolf – dois suicidas famosos, dois grandes artistas – dão ao ato uma aura de legitimidade intelectual que ele não tem. Dos relatos de Paula emergem mentes confusas, cabeças mal pensantes, pessoas tornadas quase incomunicáveis pelas circunstâncias da vida ou por patologias mentais. 

Por fim, há os que ficam – e deles Paula fala com largueza e com generosidade. Parece haver em todo suicídio um componente de agressão que reverbera de forma duradoura na vida dos que estão ao redor. O livro relata o caso do rapaz que encerra uma discussão com a irmã, dirige-se à varanda do prédio e salta para a morte. A irmã ainda não se recuperou dessa brutalidade, talvez nunca se recupere. Essa dor é a grande herança dos suicidas. 

Voluntarioso e desigual, mas útil, imensamente útil, Suicídio, O Futuro Interrompido, não é uma leitura agradável e nem leve. De forma dura, abre o diálogo com milhares que pessoas que sofreram com essa tragédia ou vivem sob a sua ameaça. Servirá aos que tentam entender o que já ocorreu e aos que tentam evitar o que pode vir a ser. É um livro honesto e laborioso, sobre um tema gravíssimo, que não é romântico e nem elevado, apenas trágico. Talvez o livro ajude a chamar a atenção para a tragédia e reduzi-la.

A partir da Revista Época. Leia no original

PARALISADA, ELA VIVE NUMA CAMA HÁ 36 ANOS

4/26/2012

Em 1976, pouco antes de completar dois anos de idade, Eliana Zagui chegou ao Hospital das Clínicas de São Paulo. Vítima da poliomielite, ficou paralisada do pescoço para baixo e sobrevive com ajuda de um respirador artificial. Eliana Zagui vive internada na UTI desde que foi vítima de poliomielite. Em "Pulmão de Aço", Eliana reúne memórias de 36 anos vivendo em uma cama de hospital e conta como é a vida na "horizontal", como ela mesmo se refere.

"Quem vive numa cama não tem a mesma perspectiva das outras pessoas. Depois de tanto tempo deitados, não conseguimos mais ver o mundo na vertical. No meu caso, principalmente, a perspectiva é toda horizontal. Há anos, por problemas respiratórios, não posso mais usar nem travesseiro. Vejo o mundo de baixo para cima ou de lado. Não sei o que é olhar para baixo", conta no livro.

Paulo Machado, 43, com quem convive desde a infância, foi colocado em raras oportunidades no chão. Eliana conta que, quando ele ainda era um menino, o amigo queria saber se o solo era realmente duro e jogava objetos no solo, como se fosse um teste. "A experiência não aplacou sua curiosidade, e ele resolveu torná-la mais concreta: atirou-se no chão. Descobriu da maneira mais difícil que o chão era mesmo duro: duas pernas fraturadas e meses de imobilização."

O título da edição faz referência à máquina chamada "pulmão de aço", usada para exercer pressão negativa sobre o tórax e facilitar a respiração. No caso de Eliana, o tratamento não foi adequado, obrigando-a a usar o respirador artificial.

Abaixo, leia o depoimento de Eliana Zagui sobre a sua experiência no pulmão de aço. O trecho faz parte de seu livro de memórias.
*
Claro que não me recordo de quase nada de meus primeiros dias aqui no hospital. Mas tenho vagas lembranças de crianças dentro dessas geringonças. Lembro me também de espelhos colocados sobre nossas cabeças, presos aos pulmões de aço ou mesmo às cabeceiras de nossas camas. Não sei de quem foi a ideia, mas a achei genial. Por meio dos espelhos pude ver que não estava só. Ao meu lado, dezenas de outras crianças encontravam se na mesma situação.

Minha estreia no pulmão de aço durou cinco dias. A máquina era considerada muito eficiente. Ela revertia o quadro de insuficiência respiratória em quase 90% dos casos, diziam os médicos. Mas não foi capaz de solucionar o meu.

Mais de 60% de meus pulmões estavam definitivamente comprometidos. A pólio havia também paralisado completamente o diafragma e afetado a deglutição. Caso raro e grave. Nessas condições, a única alternativa era conectar o paciente a um respirador artificial. Ainda dentro da máquina, fui ligada por uma sonda nasal a um pequeno respirador mecânico conhecido como AGA.

Na verdade, AGA era a fabricante do aparelho. O equipamento é, de certa forma, rudimentar. Parece um quadradinho de ferro com um mecanismo dentro semelhante a uma panela de pressão. Não é mais utilizado.

Essa combinação - respirador e pulmão de aço - costumava funcionar, pelo menos de forma emergencial, em 99% dos casos de insuficiência respiratória grave. Não funcionou comigo. Restou me a alternativa de ser ligada, pela traqueostomia, a uma máquina de ar comprimido. Uso respirador artificial até hoje. 
Naquela época, das mais de cem crianças que chegavam aqui por mês com paralisia, apenas 1% precisou ser submetida ao procedimento. Ou seja, uma média de uma criança por mês. Era sempre uma coisa que os médicos tentavam evitar ao máximo. Dessas dezenas de meninos e meninas que foram traqueostomizados, quase ninguém sobreviveu.

*
"Pulmão de Aço"  -  Autor: Eliana Zagui
Editora: Belaletra   -  Páginas: 240
Quanto: R$ 31,00 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

A FELICIDADE NÃO ESTÁ NO OUTRO

4/20/2012
A vida é busca. De prazer e de sentido. Vivemos um surto hedonista. As pessoas consumindo por prazer. O mundo pós-moderno, embora já conectado em rede, é caracterizado, paradoxalmente, pelas experiências individuais. 

A doença do século 21 é a depressão (“o câncer é o suicídio das células”) porque as pessoas perderam a capacidade de sentir prazer ou se envergonham dela. Clarice Lispector que tem um livro fundamental “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres” falando de alguém sofrendo da vida e de amor disse: “Não procure alguém que te complete. Complete a si mesmo e procure alguém que te transborde”

A tal felicidade não está no outro. Está dentro de nós. “Sua visão se tornará clara somente quando você olhar para dentro do seu coração. Aquele que olha para fora sonha. Aquele que olha para dentro desperta”, disse Carl Gustav Jung. 

No entanto, é a busca de dar um sentido a vida que faz ela valer a pena. “A pedra tem mais sossego que a planta. A planta tem mais repouso que o réptil. O réptil é mais sonolento que o leopardo. O homem, este é pura insônia — trabalho futuro, vôo e flecha.” (Hélio Pellegrino, Minérios Domados). O sentido é quem pacifica a alma, eterniza. 

O prazer é uma canção de liberdade, mas não é a liberdade, que somente o sentido pode dar e, ainda, vencer a morte, a indesejada. Que o digam homens como Mandela, Gandhi e Luther King. Venceram os seus medos e foram livres. O tempo é a única coisa que existe no mundo igual para todos: 24 horas por dia para viver. 

A questão do tempo está interligada a necessidade de prazer, de viver o presente (Carpe Diem), de lutar contra a morte. Luxo é ser dono e usufruir o seu tempo. Todo homem é um tempo, um lugar e deveria ser uma causa. E no final da jornada é um regresso de onde partirmos: do ventre da mãe para o ventre da Terra. Dê sentido a sua vida, compartilhe os seus sonhos, seu viver, e faça disso um prazer.

A SUFOCANTE VIDA INTERIOR DE VIRGÍNIA WOOLF

3/16/2012
Virginia Woolf – A medida da vida (Cosac Naify, 584 pgs. R$77) não é uma biografia convencional. Concentrando-se nos últimos 10 anos da existência da escritora – da criação do ambicioso romance As Ondas até seu suicídio, em 1941 – Herbert Marder parece menos preocupado em reconstituir em minúcias a trajetória de Virginia – empreendimento, aliás, já realizado por outros autores, começando por Quentin Bell (sobrinho de Virginia) – que em realizar uma investigação psicológica de determinados temas recorrentes em sua vida e em sua obra. Dessa forma, a cronologia dos capítulos que se sucedem também se torna peculiar, como se fossem camadas nos quais Marder buscasse elementos e um núcleo comuns, expondo com cada vez mais intensidade a fragilidade emocional e a angústia essencial que se tornou uma segunda natureza para a autora de Orlando, Entre os atos e Ao farol.

Como pano de fundo histórico, Marder apresenta uma Inglaterra em crise, nos anos em que a Europa testemunhava a ascensão do totalitarismo e avançava inexoravelmente para a guerra. Contrastadas com essa atmosfera coletiva de crescente tensão e violência, as crises depressivas de Virginia ganham um sentido político, ainda que ela abominasse a política. Em seus diários, em mais de um momento ela demonstrou intuir a gravidade da situação com mais clareza que seus amigos intelectuais do grupo de Bloomsbury, sinal da crescente consciência social da escritora e de sua percepção do risco coletivo iminente. O seu colapso pessoal refletia o colapso do mundo em que ela vivia.

Virgínia Woolf em 1927
Virginia Woolf É com base principalmente nesses diários e na correspondência de Virginia que Marder sugere que seu suicídio foi ensaiado e simbolicamente encenado diversas vezes, ao longo daqueles anos. Reforçando a tese, olivro inclui um apêndice com cartas reveladoras, e desconhecidas até a publicação original da biografia, trocadas entre Virginia e Octavia Wilberforce, sua prima e médica. As cartas mostram também a obsessão de Virginia pelo trabalho: ela enxergava na escrita uma espécie de porto seguro de uma existência que carecia de alicerces emocionais e de sentido prático, assombrada pelo medo do fracasso e da loucura até os últimos dias, medo só atenuado pela dedicação dos amigos e do marido, Leonard.

Elegantemente escrito, com um estilo envolvente e sinuoso que em alguns momentos lembra a literatura de sua personagem – o que valoriza a tradução de Leonardo Fróes – A medida da vida é bem-sucedido em humanizar e mostrar as contradições e dificuldades da mulher Virginia Woolf, sobretudo sua incapacidade de administrar os sentimentos, seus problemas com os criados, seus recorrentes mergulhos na prostração e na impotência diante do mundo. Suas emoções parecem sempre mal graduadas, a ponto de ela se culpar por não sentir suficientemente a morte da mãe e de pessoas próximas, como Roger Fry e Dora Carrington, outra suicida, após viver um caso platônico com Virginia.

Desdenhando as convenções das narrativas jornalísticas, Herbert Marder – professor na Universidade de Illinois e autor de ensaios sobre feminismo e literatura – mergulha assim na sufocante vida interior de Virginia Woolf, investindo numa interpretação pessoal de suas motivações e idiossincrasias, seus impasses e angústias.

LEIA TAMBÉM:
Virginia Woolf de Alexandra Lemasson. L&PM, 192 pgs. R$16.

“Não quero ser célebre nem grande”, escreveu Virginia Woolf. “Quero avançar, mudar, abrir meu espírito e meus olhos, recusar ser rotulada e estereotipada. O que conta é liberar-se por si mesma, descobrir suas próprias dimensões, recusar os entraves.” Para Virginia (1882-1941), os livros eram o único refúgio, e a literatura a última salvação. Fundadora, ao lado do marido, de uma das mais influentes editoras britânicas do século XX, a Hogarth Press, Virginia viveu e escreveu atormentada por alucinações e por sucessivas crises depressivas. Em março de 1941, decidiu abreviar a vida deixando-se levar pelas águas.

SE TE QUERES MATAR

11/30/2011
Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

O SUICÍDIO E A IMORTALIDADE

11/27/2011

Está claro que o suicídio, quando se perdeu a ideia da imortalidade, torna-se de uma imprescindibilidade absoluta e inevitável para todo o homem que tenha alguma noção da sua superioridade sobre os animais. Pelo contrário, a imortalidade que nos promete uma vida eterna amarra o homem, por isso mesmo, mais fortemente à Terra. Poderá parecer que há aqui contradição; se há tanta vida, quer dizer, a imortal, além da terrena, porque estimar tanto esta última? Acontece o contrário; é em virtude da sua fé na imortalidade que o homem alcança o seu fim razoável na Terra. Sem fé na imortalidade quebram-se os laços que prendem o homem à Terra, tornando-se mais subtis, mais frouxos, e a perda do alto conceito da vida (ainda que se sinta apenas em forma de inconsciente pesar) leva, inevitávelmente, ao suicídio.

A VISÃO ESPIRITUAL SOBRE O SUICÍDIO

10/06/2011
Por trás de cada ato há sempre uma força-poderosa, que chamamos de motivação. É a motivação que determina cada ato de nossas vidas -- não apenas o suicídio. Como sempre afirmo, há uma lei natural de causa e efeito, ou seja, a ação é resultado direto da motivação.

 
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