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'TIVE MEDO DE SER O PRÓXIMO A SE SUICIDAR'

4/03/2015
“Era de manhã quando recebi o telefonema avisando que meu irmão tinha se suicidado. Enforcou-se. Levei um susto muito grande, foi um choque. No caminho até minha casa, senti vergonha por ser da família de um suicida. Tenho três tias velhinhas, que são de uma geração em que o suicídio era ainda mais estigmatizado – e disse a elas que devíamos contar para todos que o meu irmão havia se suicidado. Preferi não ocultar. O gesto dele me trouxe uma sensação dolorida de que também poderia acontecer comigo. Tive medo de ser o próximo. Fiquei muito assustado. Venho de um núcleo de morte – minha mãe morreu jovem, de câncer, quando eu era criança, e meu pai sofreu um infarto agudo há alguns anos. Não acredito que tenham sido mortes naturais, talvez eles quisessem mesmo morrer.

Me senti muito culpado, foi inevitável. Pensei que talvez pudesse ter feito alguma coisa. O suicídio é uma violência muito grande. Parece uma bomba, uma explosão. Era meu irmão mais velho. Acho que ele nunca desejou alguma coisa com empenho. Tudo, para ele, tanto fazia, qualquer coisa estava bem. Era uma situação crônica. Ele entrou em várias faculdades e não terminou de cursar nenhuma. Tentou vários empregos, mas saiu de todos eles. Foi casado, separou-se, tinha uma namorada. Aparentemente sua vida estava estruturada. E ele não era depressivo. Talvez não estivesse vendo perspectivas. As razões do suicídio são um mistério. Pensei muito em quais teriam sido os motivos. Só relaxei quando assumi que não podia entendê-los. No enterro, senti uma raiva muito, muito grande. Naquele instante, experimentei uma profunda sensação de abandono. Nunca tinha sentido isso antes. Meu irmão foi enterrado no mesmo túmulo onde já estavam os meus pais.

Fiquei sozinho. Tenho muita vontade de viver. Acho que é uma espécie de resistência – gosto de festas, brigo pela vida, vivo intensamente, tenho amigos, curto meu trabalho, sou afetivo... Sempre fui assim, mas o suicídio me fez ver de maneira mais consciente que a vida é uma só. Não sou nada religioso, mas acho que todos nascemos para ser felizes, para desfrutar.
Pensei muito nisso, logo depois do suicídio. Um dia, fiquei parado uns 15 minutos diante de uma avenida onde os carros vinham em alta velocidade e não havia faixa de pedestres. Era só um passo, tão fácil, e tudo se acabaria. Depois, ao visitar um novo apartamento, também contemplei a janela demoradamente... Num ato poderia resolver tudo, todos os meus problemas. Mas prefiro os meios mais difíceis. Não acredito em outra maneira.”

E.S., médico e professor universitário, 45 anos

Para saber mais

NA LIVRARIA
Quando a Noite Cai – Entendendo o Suicídio
Kay Redfield Jamison. Gryphus, Rio de Janeiro, 2002
Suicídio, Testemunhos do Adeus
Maria Luiza Dias. Brasiliense, São Paulo, 1991
O Deus Selvagem – Um Estudo do Suicídio
A. Alvarez. Companhia das Letras, São Paulo, 1999
O Que é Suicídio
Roosevelt M.S. Cassorla. Brasiliense, São Paulo, 1985
Do Suicídio – Estudos Brasileiros
Roosevelt M.S. Cassorla (org.). Papirus, Campinas, 1998
Suicide and the Unconscious
Antoon Leenaars and David Lesters (ed.).
Jason Aroson, Estados Unidos, 1996
Dicionário de Suicidas Ilustres
J. Toledo. Record, Rio de Janeiro, 1999
O Suicídio: Um Estudo Sociológico
Émile Durkheim. Zahar, Rio de Janeiro, 1982

NA INTERNET
www.queromorrer.com
www.cvv.org.br
www.who.int/mental_health

'SE DISSÉSSEMOS O QUE REALMENTE DESEJAMOS, TODOS SERÍAMOS LOUCOS'

3/29/2015
A realizadora austríaca fala sobre “Amor Louco”, o filme sobre um pacto de suicídio duplo que ganhou o grande prêmio do Lisbon Estoril Film Festival



O poeta Heinrich von Kleist procura companhia para o suicídio e acaba por encontrar Henriette Vogel, casada com um parceiro de negócios e a quem foi diagnosticada uma doença incurável. A história verídica ideal para que Jessica Hausner deitasse para o lixo o seu antigo argumento sobre um suicídio que corre mal e remexesse nos baús da Alemanha no início do século xix. “Amor Louco”, o filme da realizadora austríaca de 42 anos, estreou em Cannes o ano passado na secção “Un Certain Regard”, foi premiado no Lisbon & Estoril Film Festival e chega agora a Portugal. Num hotel em Lisboa, a realizadora fala ao i sobre loucura, suicídio e como tentou fazer um filme que fugisse aos clichés históricos.

De onde surgiu a ideia para um filme sobre um suicídio a dois?

O primeiro rascunho do argumento para este filme foi feito há muito tempo. Há uns dez anos, por aí. O plano inicial era contar a história de um suicídio duplo e lembro-me da primeira história que escrevi, a de um casal que tenta matar-se em conjunto mas que não consegue. Um deles morre antes do outro e o outro não morre de todo… Era qualquer coisa deste género, uma história sobre o falhanço do plano, passada nos dias de hoje.

Mas acabou por concentrar-se num episódio real e histórico.

Não gostava deste argumento porque era muito trágico e pesado. Então fiz outro filme [“Lourdes”, de 2009, que ganhou o prémio de Melhor Filme em Veneza] e só depois voltei a concentrar-me no suicídio. Foi nessa altura que encontrei um artigo sobre a morte de Heinrich von Kleist e Henriette Vogel.

O que a fascinou na história?

O facto de Kleist ter perguntado a várias pessoas se queriam morrer com ele. Primeiro perguntou ao melhor amigo, mas ele não estava interessado. Depois perguntou à prima, Marie, mas ela não queria morrer com ele. E só então encontrou Henriette Vogel, que pensava que ia morrer de qualquer forma por causa da doença que tinha e disse-lhe que sim.

Abandonou então o argumento antigo.

Sim, depois nem toquei no outro argumento. Comecei do início. Até porque gosto que seja uma coisa histórica, ajuda-me a ter alguma distância sobre os acontecimentos e a estudar tudo o que está à volta. Não gosto de contar só uma história individual, gosto de perceber o grupo ou a sociedade em que estas pessoas vivem. E aqui tenho distância em relação a 1800, posso ver como era a situação nessa altura, é por isso que o filme fala dos dois lados de um acontecimento, que é verdadeiro e falso ao mesmo tempo.

Leu muita coisa sobre a época e sobre a vida de Heinrich von Kleist ou preferiu ter a sua própria interpretação das coisas?

Não li muitas biografias de Kleist porque não queria influenciar a minha interpretação da história. Mas li muita correspondência dessa altura, muitos diários e cartas, artigos de jornal e ensaios filosóficos para aprender como era a linguagem. Também fui muito influenciada por pinturas. Por exemplo, por Vermeer mas também por pintores do Renascimento.

Já que fala em pinturas, o filme é mais colorido que os filmes da época a que estamos habituados. Foi propositado?

Quisemos ser rigorosos nos detalhes históricos, mas não quisemos que fosse um filme histórico clássico. O guarda-roupa, por exemplo, foi influenciado por detalhes de moda dos dias de hoje. Mesmo os filmes clássicos que tentam replicar o que aconteceu em determinada altura não conseguem ser rigorosos. Ninguém estava lá nessa altura. E a partir do momento em que se percebe isso há uma certa liberdade para seres diferente, por isso tentámos investigar detalhes e imagens que não são muito comuns. Na maior parte destes filmes sobre o início do século XIX na Alemanha vês cores como o preto, o branco, o castanho e o cinzento. E pensámos: porque não fazer o contrário, com cores? E o material está lá. Os tapetes, as cores, é tudo de 1800, por isso é tudo uma questão de liberdade de escolha.

Como é que têm sido as reações ao filme?

Na Alemanha as pessoas já conheciam a história porque o Kleich é muito conhecido. Estive a seguir as estreias em várias cidades por todo o mundo [a seguir a Lisboa estará na Coreia] e as reacções têm sido diferentes. Riem-se por causa da obsessão de Kleich pelo suicídio. Em geral gostam do humor, já que o filme não está escrito de uma maneira trágica.

É por isso que decidiu chamar-lhe uma “comédia romântica”?

Sim, é uma espécie de piada. Mas algumas pessoas ficaram chocadas com a ideia de que a Henriette ainda queria dizer alguma coisa [antes de Kleich a matar]. O que acho interessante é que as pessoas têm sempre muitas interpretações. Já tinha experimentado isso também com outros filmes meus, todos eles têm alguma ambiguidade e por isso há espectadores muito certos de uma coisa e outros que dizem o contrário.

O que lhes costuma dizer?

Digo que estão todos certos. O filme está aberto a várias interpretações e era isso que queria. É essa a razão principal para fazer filmes, para dar a conhecer esta abertura numa altura em que tentamos sempre arranjar títulos ou categorias para as coisas. Elas podem ser muito contraditórias.

Algumas pessoas acham que Kleist era doente mental. Qual é a sua interpretação?

Consigo percebê-lo muito bem. Acho que ele, de alguma forma, é louco. Mas todos nós o somos de alguma maneira. Uns escondem-no melhor que ele. Ele diz o que quer e isso é muito estranho. Mas, sinceramente, acho que se disséssemos o que realmente desejamos os resultados seriam incríveis. Todos nós seríamos loucos. Nós só nos adaptamos melhor ao que é esperado. Ele é um homem teimoso que não tem nenhuma incapacidade, por isso até o percebo e gosto dele.

E Henriette?

Ela é o oposto. É tão inconsciente de si própria e do que ela quer que se torna o oposto. Ela é levada a fazer alguma coisa [neste caso ao suicídio] mas ainda assim não é uma vítima.

Ganhou o prémio de Melhor Filme no Lisbon & Estoril Film Festival. Como reage a premiações como esta?

Não estive cá durante o festival, mas fico feliz quando os filmes que faço têm algum sucesso, até porque sou uma pessoa muito autocrítica e por isso é bom para mim.

A partir do Jornal I. Leia no original

UMA COMÉDIA QUE NÃO FAZ RIR

3/29/2015
Treze anos depois de escrever Febre no Estádio (1992), o britânico Nick Hornby assinou Um Grande Salto (2005), obra cuja estranha premissa acompanha uma passagem do ano e quatro estranhos que se dirigem ao Topper's House, o local mais popular para a prática do suicídio do Norte de Londres, para colocarem um fim nas suas vidas.
Depois de Alta Fidelidade (2000) e Era uma vez um Rapaz (2002), este Um Grande Salto chega aos cinemas sob a liderança de Pascal Chaumeil, cineasta francês que não tinha deixando grandes recordações após duas comédias românticas subaproveitadas: O Quebra Corações (2010) e Um Plano Perfeito (2012). Ainda não é com este filme que o realizador se redime nem larga a sua visão de cinema mais próxima do mundo da publicidade, mesmo havendo aqui um apelo tão universal e emocional que certamente atrairá o público habituado a cinema ligeiro e de consumo fácil, os curiosamente apelidados de "filmes de domingo à tarde".
Martin (Pierce Brosnan), Maureen (Toni Collette), Jess (Imogen Poots) e JJ (Aaron Paul) são quatro pessoas insatisfeitas com o rumo das suas vidas. Se uns querem regressar à ribalta, outros querem apenas ser notados. Também há quem queira apenas um pouco da paz. É no topo desse edifício que todos se vão confrontar e encontrar um novo rumo para as suas vidas, nem que seja darem uma nova oportunidade a si mesmos, pelo menos até ao dia dos namorados (14 de fevereiro).
Com um elenco recheado de nomes conhecidos,  Um Grande Salto perde logo alguns pontos em relação à obra literária em que se baseia, em particular no tom negro do humor, caindo paralelamente e por diversas vezes em arranjos demasiado simplistas e apressados, reviravoltas típicas de uma narrativa forçosamente leve, e um sentido de previsibilidade em doses extremas. Curiosamente, acaba por ser Brosnan e Collette que se destacam, ele como um apresentador famoso caído em desgraça e ela como uma mulher presa a uma vida onde pouco mais pode fazer que cuidar do filho.
Se procuram um filme ligeiro que entretenha e sirva como guião de auto-ajuda, então talvez esta seja uma boa opção, mas com um tema tão sério estranha-se que tantas neuroses sejam tratadas mais como caprichos do que assuntos verdadeiramente exasperantes capazes de levar alguém ao topo de um edifício. Chaumeil tinha aqui a hipótese de realmente dar um grande salto e estatelou-se no chão.
A partir de C7nema. Leia no original

SUICÍDIOS NO JAPÃO RECUAM, MAS ÍNDICE AINDA É UM DOS MAIS ALTOS NO MUNDO

3/13/2015

A Agência Nacional de Polícia (ANP) do Japão informou nesta quinta-feira (12) que o número de suicídios registrados no país em 2014 recuou 6,8% em relação ao ano anterior, para 25.427, marcando o quinto ano consecutivo de descenso. O nível, no entanto, ainda é um dos mais altos entre os países desenvolvidos se comparado com o volume total de sua população.

O dado coloca em relevo os esforços das autoridades japoneses para reduzir o número de suicídios que, além disso, se situou pelo terceiro ano consecutivo abaixo dos 30 mil. A metade dos casos registrados em 2014 foram atribuídos pela polícia a “problemas mentais ou doenças”.

O número de suicídios no Japão esteve abaixo dos 26 mil entre 1978 – quando as autoridades começaram a colher dados – e 1997, mas a partir daí ultrapassou os 30 mil durante 14 anos consecutivos.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Japão, um país com cerca de 126 milhões de habitantes, está entre os 10 com a taxa de suicídio mais elevadas, o que significa que há 20,7 suicídios ao ano por cada 100 mil japoneses. Além disso, a terceira economia do mundo é, depois da vizinha Coreia do Sul, o segundo membro com maior taxa dos membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Das 47 Prefeituras do Japão, Tóquio, a mais povoada do país, foi de novo a que teve o maior número de mortes deste tipo, registrando 2,636 suicídios. Enquanto a província de Fukushima, gravemente afetada pelo terremoto e tsunami de há quatro anos e a crise nuclear resultante, registrou 0,9% menos mortes provocadas que em 2013, embora voltou a superar os mil (teve 1.083) e foi a nona prefeitura por volume de suicídios.

A Agência Nacional de Polícia publicou também dados sobre suicídios cujas causas e motivos considera ligados ao “impacto direto” do tsunami e do acidente nuclear. Em 2014, a polícia japonesa teve registro de 22 falecimentos deste tipo, 42% a menos que no ano anterior e 60% a menos que no ano da catástrofe.

Segundo os últimos dados relacionados com o desastre nuclear, de cujo explosão completou quatro anos na quarta-feira, mais de 70 mil pessoas que viviam junto à usina de Fukushima seguem sem poder retornar a suas casas pelos altos índices de radiação.

A partir de Mundo Nipo. Leia no original

FACEBOOK : FERRAMENTA AJUDARÁ A PREVENIR SUICÍDIOS

3/03/2015

A novidade foi publicada na página "Facebook Safety". Esta nova função surgiu graças a união entre a rede social e organizações de saúde mental dos Estados Unidos.

Nova ferramenta do Facebook deve ajudar na prevenção de suicídios
Após lançar a função Herdeiro, o Facebook vai cria uma nova ferramenta para ajudar pessoas que passam por um momento difícil. O serviço permite que amigos identifiquem uma postagem suicída e "denunciem" o comportamento para a rede social. Se o caso for sério, o site entra em contato com o usuário deprimido e sugere para ele um tratamento com especialista.

A novidade vai surgir graças à união do Facebook com organizações de saúde mental norte americana, como Forefront, Now Matters Now, the National Suicide Prevention Lifeline, Save.org e outras. Estas companhias possuem experiência com pessoas deprimidas. O usuário que estiver abalado será encorajado a entrar em contato com uma dessas organizações ou com outras pessoas que já tentaram se matar.

O Facebook também quer dar assistência para o amigo da pessoa deprimida. Por isso, quando um usuário indicar ao site sobre o colega abalado, receberá a sugestão de contactá-lo, mostrando que se importa com ele.

O novo recurso deve chegar nos Estados Unidos primeiro. Porém o Facebook, que comprou o Whatsapp em 2014, afirmou que está trabalhando para ajudar aqueles que moram em outros países. Por isso a rede social quer ajudar pessoas que precisam de ajuda. Quem precisar de ajuda no Brasil pode ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV).

ROTEIRISTA CONFESSA TENTATIVA DE SUICÍDO

2/23/2015
Graham Moore
Vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado por "O Jogo da Imitação", o escritor Graham Moore fez, ao receber a estatueta, um dos discursos mais pessoais da história da premiação ao falar que tentou cometer suicídio quando era adolescente. O escritor transformou o livro Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges (ainda sem tradução no Brasil) no roteiro para o filme O Jogo da Imitação.

"Eu tentei cometer suicídio quando tinha 16 anos e agora estou aqui", ele revelou. "Eu gostaria de dedicar este momento para aquele garoto que sente como se não se encaixasse em lugar nenhum. Você se encaixa. Continue estranho. Continue diferente, e depois, quando chegar a sua hora de estar neste palco, por favor, passe a mesma mensagem adiante."

Depois da cerimônia, Moore falou com a imprensa nos bastidores da premiação sobre o seu discurso. "Foi realmente difícil", ele admitiu. "Eu não sei. Sou um escritor, quando eu estaria de novo na televisão? Eram os 45 segundos que eu tinha na minha vida para aparecer na televisão e dizer algo, então achei que deveria fazer um bom uso disso e dizer algo significante." Ele garantiu que a sua família lhe deu muito suporte enquanto ele enfrentava depressão. 

Alan Turing foi um matemático britânico, unanimemente considerado um dos gênios da era moderna. Seu trabalho estabeleceu a fundação para a criação dos computadores; durante a Segunda Guerra Mundial, ele conseguiu decifrar os códigos que os alemães usavam para criptografar suas mensagens, fato que se tornou um trunfo durante o conflito. Homossexual, em 1952 foi condenado a se submeter a um programa de castração química pelo governo britânico – a homossexualidade na época era crime. Turing suicidou-se em 1954, tomando cianeto. Em 2013 o cientista recebeu perdão póstumo da rainha Elizabeth II.

Ao receber o prêmio da Academia, Moore aproveitou a história de Turing para contar fatos pessoais e enviar uma mensagem de esperança:

Então, é o seguinte. Alan Turing nunca pôde subir num palco como esse e olhar para todos esses rostos desconcertantemente lindos, e eu posso. E essa é a coisa mais injusta que eu já ouvi. Quando eu tinha 16 anos, eu tentei me matar porque eu me sentia esquisito e me sentia diferente e sentia que não pertencia a lugar nenhum. E agora que eu estou aqui eu gostaria de dedicar esse momento aos jovens por aí que sentem que são estranhos ou diferentes ou que não se encaixam – sim, vocês se encaixam. Eu prometo. Permaneçam estranhos, permaneçam diferentes, e quando chegar a sua vez, e vocês estiverem sobre esse palco, transmitam essa mensagem para as pessoas que virão depois de vocês.

Depois de vencer o prêmio, Moore falou com a revista Advocate sobre a responsabilidade que sentia ao escrever o roteiro sobre a história de Alan Turing: “Alan foi alguém que foi tão maltratado pela história. Ele foi alguém que, por ser gay, foi perseguido pelo governo cuja existência manteve. Então eu sempre senti que nós precisávamos de um filme que ajudasse a espalhar seu legado, e o celebrasse, e o levasse um novo público que de outra maneira não seria exposto a este homem porque a história o tratou tão miseravelmente.”

Graham Moore se declara heterossexual, mas isso não o impediu de usar seu momento perante as câmeras do mundo todo para enviar uma mensagem de apoio a todos que se sentem deslocados e desesperançados, seja qual for o motivo. A empatia não precisa ser limitada pela orientação sexual.

'VIVER É A MELHOR OPÇÃO', NOVO LIVRO DE ANDRÉ TRIGUEIRO

1/01/2015
O jornalista André Trigueiro é conhecido da maioria pela sua atuação no jornalismo ambiental, que já lhe rendeu 26 prêmios e comendas, desde que passou a atuar à frente do Jornal das Dez da Globo News, em 1996. Permaneceu como âncora e repórter do telejornal por 16 anos. Desde abril de 2012, é repórter da TV Globo e colunista do Jornal da Globo, onde apresenta o quadro Sustentável. É editor-chefe do programa Cidades e Soluções, exibido pela Globo News desde 2006, comentarista da Rádio CBN desde 2003 e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro. Ele ainda mantém o blog Mundo Sustentável, no G1, e o site mundosustentavel.com.br.

Além da luta pelo meio ambiente, Trigueiro está à frente de mais uma urgente batalha pela vida: a prevenção ao suicídio. Esse é o principal motivo da viagem dele a vários estados, para o lançamento de sua nova obra : Viver É a Melhor Opção — A Prevenção do Suicídio no Brasil e no Mundo, pela editora Correio Fraterno. O livro apresenta alternativas para combate dos 800 mil casos de suicídio registrados anualmente em todo o mundo.

— A descoberta de que o suicídio é prevenível em 90% dos casos, e a necessidade de se retirar o véu que há séculos encobre esse tema me motivaram a escrever — explica.

Divulgador da doutrina de Allan Kardec, Trigueiro também leva para o livro a visão espírita sobre o problema. Em entrevista ao jornal Zero Hora, o  jornalista falou sobre jornalismo, sustentabilidade, espiritismo, suicídio, educação e, claro, as mortes em  Santa Maria (RS).

Jornalismo, sustentabilidade, espiritismo, suicídio e educação. Com mais de 20 anos de trabalho, o senhor se tornou uma referência. Mas também é mais do que um seguidor da doutrina espírita, é um divulgador; e, mais recentemente, mergulhou num estudo sobre o suicídio. E ainda se dedica a docência. Como esses assuntos estão relacionados e o que o senhor aprende com cada um deles?

André Trigueiro — Talvez o elo comum a todas essas frentes de trabalho seja o apreço pela vida. Quero ser útil, empregar meu tempo e energia em atividades que de alguma maneira façam a diferença em favor de um mundo melhor e mais justo. Como escreveu certa vez o escritor potiguar Câmara Cascudo: "Eu sou apenas uma célula, uma pequenina célula que procura ser útil na fidelidade da função". Acho essa frase linda.

Vamos começar pelo Jornalismo. Em 2004, o senhor criou o curso de Jornalismo Ambiental da PUC-Rio, que é oferecido como disciplina optativa a todos os cursos. De lá para cá, a mídia traz reflexos importantes do desejo de mudança em direção a uma vida mais sustentável. O senhor enxergou transformações na cobertura ambiental brasileira e nos espaços que os veículos de comunicação do país dedicam à área?

A situação é hoje melhor do que já foi. Há uma progressão do prestígio e do espaço ocupado pelos assuntos da sustentabilidade nas mídias. Mas, na minha opinião, ainda estamos aquém do necessário. A crise é bem maior do que é possível perceber através do noticiário.

Como jornalista, alguma vez o senhor já se sentiu uma andorinha só? Ou, ao contrário, acredita que a sustentabilidade esteja ganhando cada vez mais atenção no Brasil?

Aprendi há muitos anos a não me incomodar se a linha de cobertura jornalística com a qual mais me identifico não for a mais prestigiada na redação. O que, para mim, seria razão de um profundo desconforto é o risco de não seguir o meu coração e a minha consciência. Faço o que acho certo. Essa é a minha bússola.

Em janeiro de 2013, Santa Maria viveu uma devastadora tragédia, o incêndio na boate Kiss. Onde a cobertura jornalística pode ter falhado antes, durante e depois daquelas centenas de mortes?

Não me considero a pessoa mais indicada para fazer uma análise pormenorizada dessa cobertura. Isso demandaria tempo para recuperar a memória do que diferentes veículos de comunicação reportaram à época. Tragédias sempre expõem os jornalistas ao risco do sensacionalismo ou do uso desmedido de imagens apelativas. Mas o que houve na boate Kiss foi em si tão chocante, que, assim me parece, os próprios jornalistas — pelo menos dos veículos mais importantes — foram preventivamente cautelosos na abordagem do assunto. Difícil cobrir ocorrências dolorosas como essa e não se envolver com a história. É como se todos os brasileiros, e não apenas os jornalistas envolvidos diretamente com a cobertura, também tivessem perdido alguém querido na tragédia. 

Como cada cidadão pode agir no gerenciamento de riscos, de modo a evitar esse tipo de tragédia?

Em havendo a menor suspeita de algo errado, cobrar do gerente da casa noturna ou de espetáculos a apresentação de alvarás e licenças. Reparar se há extintores e portas anti-pânico. Ninguém precisa ser especialista no assunto para perceber o risco de haver problemas caso todos tenham que sair do lugar ao mesmo tempo. As autoridades, por sua vez, permanecem em dívida com a sociedade. Não é difícil encontrar por aí lugares onde a segurança é mínima. A cultura do gerenciamento de risco ainda requer esforços permanentes na educação, fiscalização e punição.

Agora, falando de sustentabilidade: o cenário apocalíptico descrito por cientistas agiganta tanto a questão que a distancia do indivíduo. O cidadão não reflete nem age por considerar seu papel muito pequeno. E, sem consciência, também deixa de cobrar políticas públicas que garantam desenvolvimento econômico baseado na premissa da sustentabilidade. Como acelerar a mudança?

A mudança é para ontem. Os indicadores são assustadores, mas a maioria das pessoas só aprende, quando aprende, pela dor. A crise ambiental sem precedentes na história da humanidade é didática, pedagógica. Depende de nós aprender a lição. Ainda há tempo. Mas não muito.

A crise hídrica do Sudeste mostrou que a finitude dos recursos naturais pode estar mais perto da gente do que se imaginava. A água é um dos principais problemas ambientais do mundo. É do Brasil também?

Há muito tempo. Só se surpreendeu com o colapso hídrico quem não vinha acompanhando a evolução do descaso com a mais importante bacia hidrográfica do país, economicamente falando. Falta de saneamento, assoreamento dos rios, desmatamento e outros impactos determinaram a exaustão da bacia. Bastou chover bem menos do que o esperado dois anos seguidos para esses problemas virem à tona. Como disse, a crise é pedagógica. A questão é saber se estamos dispostos a aprender a lição.

O espiritismo é uma válvula de escape?

Muita gente no Brasil ainda fala de espiritismo sem saber exatamente o que seja. Há uma enorme confusão semântica em torno do termo, usualmente associado a qualquer tradição que aceite a prática da mediunidade. "Espiritismo" é um neologismo criado no século XIX por um discípulo do grande educador Pestalozzi, o pedagogo Hippolyte Leon Denizard Rivail — que, mais tarde, adotou o pseudônimo de Allan Kardec — para codificar uma doutrina que procura explicar as leis que regem a vida e o universo. É uma filosofia espiritualista baseada na lógica e no bom senso. Não é proselitista nem se considera o único caminho que leva a Deus. Sou espírita há 30 anos e me sinto bem assim.

Como o senhor leva os ensinamentos dos aprendizados de todos esses trabalhos para dentro de casa? Em uma entrevista ao jornal O Globo, o senhor contou que os móveis de casa são de madeira de demolição, que seu carro não é lavado para não gastar água. O que mais?

Quem se interessa pelos assuntos da sustentabilidade conhece os meios de alcançar um estilo de vida menos impactante. Menos lixo, mais reciclagem ou compostagem. Equipamentos eletroeletrônicos com etiquetas do Inmetro letra "A" de baixíssimo consumo de energia. Baixo consumo de água, nenhuma ostentação, consumo consciente. E por aí vai...

Santa Maria vai ser a primeira cidade onde será lançado o livro Viver É a Melhor Opção. Aqui, o senhor pretende tratar do tema de modo especial?

Veremos como será. Não quero me antecipar. Sou muito espontâneo e intuitivo. A pior tragédia com vítimas da história do Brasil — envolvendo alguma atividade de entretenimento ou lazer — foi o incêndio do Gran Circus Norte Americano, em Niterói, na década de 1960. Trezentas e setenta e duas pessoas morreram na hora e algumas estimativas dão conta de que o número total chegou depois a 500. Niterói hoje é mais lembrada por ser uma cidade com IDH elevado do que pela tragédia (IDH é o Índice de Desenvolvimento Humano, uma medida resumida do progresso a longo prazo da renda, da educação e da saúde. Niterói, é a sétima cidade melhor colocada no índice no país e a número 1 do estado fluminense). Acho que se dará o mesmo com Santa Maria, que é uma cidade repleta de jovens cheios de esperança, vitalidade e desejo de transformar o mundo. A vida segue, como deve ser. A dor da perda de um ente querido — especialmente filhos — nunca deixa de existir, mas pode se transformar em outra coisa. É como diz o autor do best-seller Fernão Capelo Gaivota, Richard Bach: "Eis um teste para saber se você terminou sua missão na Terra: se você está vivo, não terminou".

O senhor vem para falar sobre o papel de cada um na sustentabilidade. E qual o papel de cada um na prevenção ao suicídio, um assunto que esta, como o senhor refere, no esconderijo, é um tema quase proibido na imprensa brasileira?

Ser voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida) é uma forma objetiva, direta, de ajudar na prevenção do suicídio. Basta ter mais de 18 anos, boa vontade e passar no curso de formação dado pela instituição. Desde 1962, esta organização vem oferecendo um serviço gratuito, 24 horas por dia, de apoio emocional e prevenção do suicídio que é reconhecida pelo Ministério da Saúde como de utilidade pública. Pode-se também ajudar na divulgação dos serviços do CVV. No dia a dia, podemos estimular o debate em torno da prevenção do suicídio onde e quando isso se fizer necessário. Em casa, trabalho, escola, universidade, sindicato etc. Por último, mas não menos importante, estarmos prontos para agir quando a Providência Divina solicitar a nossa intervenção, estancando ou aliviando processos dolorosos, consolando corações aflitos, ouvindo desabafos angustiados... Há sempre como interferir positivamente em algum elo da cadeia beneficiando todo o sistema.


Viver É a Melhor Opção _ A Prevenção do 
Suicídio no Brasil e no Mundo

O suicídio é um tema invisível, velado, ausente da mídia e das conversas na sociedade em geral, apesar dos mais de 800 mil casos registrados no mundo a cada ano. No livro, o escritor revela esses e outros números que dão a dimensão do problema e analisa as várias causas que levam as pessoas a ceifar suas vidas. André Trigueiro acredita que com informação, planejamento e, acima de tudo, com a coragem de quebrar o tabu que envolve o assunto, será possível reduzir as estatísticas de auto-extermínio. E cita exemplos bem-sucedidos nesse sentido no Brasil e no mundo.

A partir do ClicRBS. Leia no original

PESQUISA TRAÇA MAPA DA SAÚDE MENTAL E SUICÍDO

7/19/2013
Imagem : sxc.hu
Os pesquisadores Adeir Archanjo da Mota, doutorado em Geografia, e Raul Borges Guimarães, do Laboratório de Biogeografia e Geografia da Saúde da Unesp de Presidente Prudente, iniciaram o estudo “Geografia da Saúde Mental e o Suicídio no Brasil: Construção de Geoindicadores e Índice para Política Pública”. Segundo o primeiro levantamento, no Brasil, de 1996 a 2010, quase 120 mil pessoas se suicidaram. Em torno de 22 pessoas tiraram a própria vida por dia, sendo que as taxas mais elevadas prevalecem nas regiões Sul e Sudeste.

Conforme a 10ª Classificação Internacional das Doenças, caracterizam-se como tentativas de suicídio as internações e como suicídios os óbitos provocados por lesões autoprovocadas voluntariamente. O objetivo do estudo é analisar a distribuição espacial do suicídio e sua correlação com a existência de serviços de saúde mental, como também o acesso da população a eles.

Apesar de prevenível, o suicídio está entre as três principais causas de morte entre pessoas com idade entre 15 e 44 anos, sendo a segunda maior causa de óbito dos 15 aos 19 anos. A coordenadora da comissão de divulgação do Centro de Valorização da Vida (CVV) em Uberaba, Valderli Menezes, ressalta que ninguém procura realmente a extinção da própria vida. Na realidade, esta atitude deve ser considerada um ato extremo de comunicação, a última forma que uma pessoa encontra para fazer com que os outros saibam de seu sofrimento. “Hoje, nosso enfoque é na valorização da vida. Previne-se o suicídio quando se dá importância à pessoa que está passando por um sentimento de perda ou de qualquer outra ordem. O ponto central do suicídio é um gesto de comunicação. Pode ser extremo, mas é um pedido de socorro da pessoa que está no limite”, afirma.

Para a coordenadora, o ser humano se equilibra em uma balança e quando ele passa a viver situações de forte dor e sofrimento, o instinto de sobrevivência vai sendo sobrepujado pelo desejo de não sofrer mais. Mais de 80% das pessoas que tentaram tirar a própria vida uma vez voltaram a cometer o ato, quando a verdadeira causa do sofrimento não foi trabalhada.

O Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição filantrópica em Uberaba, tem sede à rua Fausto Salomão Trezzi, nº 40, atendendo por meio dos telefones 141 e (34) 3317-4111, das 15h às 23 horas. O CVV atende ainda através da internet, pelo endereço www.cvv.org.br.

ENSAIO COM SIMULAÇÕES DE SUICÍDIO É CRITICADO

7/18/2013

As revistas de moda frequentemente abusam de temas polêmicos par ilustrarem seus ensaios fotográficos. Por mais que algumas fotos chamem a atenção para causas sociais importantes – como a marca italiana Benneton, que já foi alvo de críticas e elogios por com temas como desigualdade social, racismo e AIDS em seus ensaios – não se deve esquecer que o objetivo original de uma campanha publicitária de moda é vender roupas. Além disso, as marcas acabam vendendo também uma imagem a ser seguida, um padrão social e um estilo de vida, e a maioria dos consumidores acabam seguindo esses padrões inconscientemente. Seguem a “filosofia” da marca; e compram não só uma roupa, mas o que ela representa, achando que assim passará também a representar tal coisa.

Isso pode ser extremamente perigoso, pois os consumidores são muitas vezes influenciados a ter certos tipos de comportamento seguindo o que a marca propõe, sem realmente perceber se concordam ou não com isso. Um exemplo claro disso é a quantidade de meninas – e meninos também, em menor proporção – com distúrbios alimentares como anorexia e bulimia ter aumentado depois do padrão de beleza das modelos e atrizes ter passado a ser a magreza extrema. Muitas das modelos são bastante magras por um fator genético, mas, querendo copiar sua natureza, a maioria passou a apresentar obsessão por perder quilos – e isso foi passado para os jovens por ser considerado o certo dentro e o dentro do padrão.

E é por causa dessa grande influência que a mídia possui na formação de opinião, principalmente de jovens, que a edição americana da revista Vice foi tão criticada ao lançar o ensaio “Last Words”. A publicação simulava o momento de morte de importantes escritoras com algo em comum: todas tinham se suicidado. Amplamente criticado por blogs, leitores, organizações anti-suicidas e grupos em prol da saúde mental, as críticas acerca da publicação talvez tivessem sido menores se, junto com as fotos, fosse inserida ao menos uma nota sobre a autora, uma análise sobre sua obra ou qualquer outra coisa que no mínimo mostrasse um mínimo de consideração com sua contribuição literária. Ao contrário disso, o foco da legenda foi o inventário de roupas e a marca/estilista de cada, fazendo com que as fotos perdessem todo o seu teor poético e senso de homenagem que poderiam ter.

Cada foto possuía uma nota com o nome da escritora em referência, suas datas de nascimento e morte e o método suicida utilizado, além, é claro, dos créditos de moda pelo que cada modelo estava vestindo (“vestido Issa, óculos Morgenthal Frederics, sapatos Jenni Kayne”).

O real problema não é o conteúdo das fotos, e sim como ele foi abordado. Não se deve crucificar a revista Vice, apenas alertar que pequenos erros como esse cometidos pelos meios midiáticos podem acarretar em consequências trágicas. Se essas fotografias tivessem sido exibidas em exposições de arte, o impacto no público seria outro. Seriam apreciadas como imagens e avaliadas por sua composição e cor, além da poética. Inseridas em outro contexto, o das revistas de moda, a mensagem muda e acontece uma glamourização do suicídio, como sendo uma atitude que, sendo seguida, te faz estar “dentro dos padrões”, de comportamento e de beleza.

Após ter sido tão criticada pelos meios midiáticos, a Vice tirou o ensaio do ar com um pedido de desculpas a todos que se sentiram ofendidos. Foi publicado no site da Jezebel (leia a entrevista completa em inglês aqui http://jezebel.com/model-from-vice-suicide-shoot-speaks-i-was-uncomforta-514323121) uma entrevista com uma das modelos que participou das fotos acerca da opinião dela sobre o impacto causado pelo ensaio. Paige Morgan, 26, retratou a poeta Elise Cowen no momento de sua morte: caída no chão depois de pular de sete andares de altura. Morgan disse que não teve conhecimento da natureza do ensaio até chegar ao local, e que não sabia que as fotos apareceriam na revista sem nenhum tipo de referência ao trabalho das escritoras. Recebeu o convite com a descrição que o tema seria “escritoras que cometeram suicídio”, mas pensando que as fotos ilustrariam matérias sobre a vida delas, e não com foco na morte.

Questionada na entrevista sobre o porquê dela não ter desistido após saber qual seria a real intenção do projeto, Morgan disse que se sentiu desconfortável, mas que, como modelo, não tinha exatamente o direito de questionar nada. “A modelo é a pessoa com o menor poder nessas questões”, ela esclarece. “Infelizmente, eu sabia muito bem que não era meu trabalho perguntar ‘Bom, o que vocês vão fazer com isso?’ ou ‘Vocês vão colocar catalogar roupas nisso? Qual o nome do editorial?’. Se eles fossem me dar uma resposta, certamente seria: caia fora daqui. E a comunidade fashion, mesmo em Nova York, é muito pequena.  E daí eu seria tipo aquela menina ‘Ela é difícil, apareceu um dia e saiu sem completar o trabalho’”. Morgan ainda disse que se sentiu instigada com o fato de ter a vida toda lutado contra depressão, assim como a poeta Elise Cowen, que além disso viveu na mesma vizinhança que ela.  “E acho que pensei, bom, pelo menos eu sou alguém que sabia quem ela era, que entende onde ela estava. E como todos que também já passaram pela depressão sabem, não é algo que se cura verdadeiramente, você tenta controlar o melhor que conseguir mas isso nunca vai embora de verdade. E talvez no futuro, eu ainda possa ter paz com isso. Porque eu e ela provavelmente olhamos para exatamente a mesma vista fora de nossas janelas.”

Ela ainda completa dizendo que se soubesse do foco apenas nas roupas teria recusado o trabalho e que entende o porquê das pessoas terem ficado tão chateadas com o resultado:

O depoimento de Morgan foi algo que comprova: a revista Vice quase acertou em fazer um ensaio interessante tendo a chance de homenagear importantes escritoras e fazer conhecimento delas e de suas obras para seu público-alvo. Mas o foco no consumismo transformou tudo num erro feio. Suicídio e depressão não são glamourosos e devem ser tratados e considerados com a seriedade devastadora que possuem na vida de alguém, e não como uma atitude fashion.

Julia Tetzlaff Rosas
A partir do site LiteraTortura. Leia no original

Abaixo, as fotos publicadas no ensaio. Particularmente acho que elas possuem um potencial artístico enorme, infelizmente não aproveitado:








MEMÓRIAS DE UM SUICIDA VIRA RADIONOVELA

7/16/2013
Imagem : divulgação
A radionovela Memórias de um Suicida, lançada neste mês de junho, no formato MP3, traz o relato de Camilo Cândido Botelho (pseudônimo) que cometeu suicídio no fim do século 19, para fugir do sofrimento pessoal, mas se viu do outro lado da vida e tendo de enfrentar seu drama. A história foi psicografada pela médium brasileira Yvonne A. Pereira, que na radionovela é interpretada pela atriz, dubladora e diretora Arlete Montenegro.

Com carreira iniciada no rádio, Arlete tornou-se uma das atrizes mais versáteis de sua geração. No trabalho de dublagem, é a voz de Miranda Priestly, personagem de Meryl Streep no filme O Diabo Veste Prada. Ela também dublou a personagem principal de Helen Mirren em A Rainha e Winifred Sanderson, interpretada por Bette Midler em Abracadabra.

“É um privilégio voltar a fazer novelas, pois faço novela desde que ela existe em rádio. (...) Além de tudo, são de um conteúdo absolutamente fantástico. É o que o povo precisa... são condutas e comportamentos que a maioria das pessoas desconhecia. Sinto-me muito honrada de fazer parte dessa história desde o início”, afirmou.

A atriz exalta a iniciativa do radialista Paiva Netto de tratar de um tema tão polêmico nessa radionovela. Para ela, Memórias de um Suicida conduz o ouvinte a compreender melhor a vida. “Tem uma lição muito forte. O suicídio é assunto atual, que vive nas páginas dos jornais, nas estatísticas. O mundo inteiro tem problema grave com suicidas, que não sabem que a morte não existe. E essa radionovela abrirá os olhos de muita gente, que evitará assim esse ato tão desastroso”, destacou.

Satisfeita com o trabalho, a atriz ressaltou a qualidade da produção (trilha sonora e efeitos especiais) e o talento dos colegas de dublagem, elementos que a fizeram rememorar a época de ouro do rádio nacional. “Tenho certeza de que os ouvintes ficarão encantados! Vocês ficarão maravilhados com o resultado!”.

A radionovela Memórias de um Suicida é uma iniciativa do radialista Paiva Netto. Os direitos autorais da obra literária pertencem à Federação Espírita Brasileira (FEB), que gentilmente autorizou sua radiofonização. Para adquirir esta e outras radionovelas, no formato MP3, acesse o site www.estacaopaz.com.br, ligue para (11) 3225-4732 ou envie um e-mail para sac@estacaopaz.com.br .

QUANDO ME DISSERAM QUE ELE DESISTIU

7/14/2013
Imagem : sxc.hu
Quando me disseram que ele desistiu, eu pensei, "que seja". Não se pode fazer muita coisa senão dar de ombros numa situação como essa. Apesar do que dizem, a derrota, assim como a vitória, só podem encontrar sua verdadeira dimensão dentro do derrotado ou do vitorioso, e nós de fora somos pálidos espectadores, por mais que nos solidarizemos. Dor e alegria são muito pessoais; por mais que tentemos sinceramente, só conseguimos arranhar a superfície. E ele desistiu, me falaram, e muito pouco podia ser feito disso.

Naturalmente, eu precisava refletir a respeito. Até mesmo desci e fui pra rua e, como fazia sol, perambulei pelo calçadão à beira-mar. E me coloquei a pensar sobre o que significa, precisamente, desistir nesse contexto. Faria sentido dizer que o detento que foge da penitenciária "desistiu" da cadeia? Que o faminto, ao comer, "desistiu" da fome, ou que o doente, ao se medicar, "desistiu" da doença? Porque a questão é simplesmente esta: o que nos obriga a algo se, decididamente, não há motivo plausível para tal? Desistir me parece uma palavra muito equivocada. O errado, ao contrário, está em insistir, na cadeia, na fome, na doença.

Há que deixar a natureza fazer seu trabalho, a natureza, que engloba esse mar e esse sol. Mas a natureza nos deu livre-arbítrio, que é conspurcado pela culpa e toda castração que a religião nos deixou. Uma vez saciados, pedimos a conta: é de uma simplicidade tal que talvez choque. Mas por que continuar no jogo, se já não há prazer no jogar? Se as fichas já acabaram e a banca levou tudo? Talvez o segredo esteja em ter esperança de que a maré se reverterá na próxima rodada. Mas a vida escoa enquanto aguardamos o golpe de sorte que não vem.

Dito isso, de olhar o mar e o sol, me dei por satisfeito. Voltei ao cotidiano, mas não gostaria, jamais, que dissessem de meu amigo que se tratava de um covarde, por ter desistido. Não direi que, ao contrário, covarde seja quem insiste. Não chego a tanto. Mas me parece óbvio que encostar o aço frio na própria têmpora não é, decididamente, coisa para fracos.

A partir do Blog Escrita Vulgar. Leia no original

SUICÍDO, MODO DE EVITAR

7/09/2013
Imagem : http://www.sxc.hu/photo/558236
Prevista para este ano, a inclusão de uma categoria de comportamentos suicidas no novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 5, referência na área de saúde mental em todo o mundo, pode ajudar os médicos a quantificar melhor esse fenômeno, em especial as tentativas, cujas taxas podem ser 40 vezes mais altas do que as dos suicídios consumados.

Essa é a opinião do psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar "O Suicídio e sua Prevenção" [Unesp, 142 págs., R$ 18]. Ele afirma, em entrevista, que a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia são as três principais causas por trás das mortes autoinflingidas.

Estima-se hoje em 1 milhão o número anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Isso o coloca como uma das "três principais causa de óbitos em determinadas faixas etárias de vários países e em várias regiões do globo", escreve Bertolote. No livro, o psiquiatra traça um histórico sobre o tema a respeito do qual já se debruçaram teólogos, juristas, filósofos, sociólogos entre outros, e analisa, sob o prisma da saúde pública, suas causas no Brasil e no mundo.

Bertolote, 65, trabalhou por quase 20 anos na OMS (Organização Mundial da Saúde), onde chefiou a equipe de transtornos mentais e neurológicos. Uma de suas atribuições nesse período era auxiliar países a elaborar políticas de prevenção de suicídio. Hoje, ele é professor voluntário na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, na qual se formou em 1971.

Durante a entrevista, Bertolote fez um pedido: gostaria que fosse incluído neste texto o número do telefone do Centro de Valorização da Vida, o CVV: 141.

*  *  *

Como o sr. vê a inclusão da categoria de comportamentos suicidas no novo manual de psiquiatria?
José Manoel Bertolote - Vejo com bons olhos. Hoje há boas estatísticas de mortes por suicídio para cerca de dois terços do mundo, mas não há um registro centralizado de tentativas de suicídio. Se uma pessoa ingere um veneno e vai parar no pronto-socorro, o caso é registrado como intoxicação; se ela corta os pulsos, lesão cortante. A intencionalidade acaba nunca sendo registrada.

A inclusão de uma categoria de comportamento suicida é bem-vinda, pois vai permitir dar uma visão melhor desse quadro. Estudos mostram que a taxa de tentativa de suicídios chega a ser 40 vezes mais alta que a taxa de suicídios consumados.

Como o suicídio se tornou um assunto da medicina?

Até cerca de três séculos atrás, o suicídio era basicamente um problema teológico. O catolicismo considerava o suicídio um pecado grave, o islamismo considera até hoje o pior pecado, pois é a destruição da obra divina. Havia também o interesse de filósofos e, na Inglaterra e em vários outros países, o suicídio era considerado uma morte indigna. O direito o tratava como um crime contra o Estado.

Foi a partir dos séculos 17 e 18 que médicos passaram a se interessar pela questão do suicídio e a considerar que o suicídio tinha uma relação estreita com a saúde, porque eles julgavam que todo suicídio era um ato de loucura. E isso foi ganhando adesão com o tempo. No século 20, consolidou-se a ideia de que o suicídio é um problema de saúde e, sobretudo, de saúde pública.

Há relação entre suicídio e doença?

O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. Na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social de distribuição irregular na sociedade. Mas há estudos em todo o mundo que mostram que, por trás de grande parte das mortes por suicídio, existem doenças.

A maioria dessas doenças são mentais, mas há também uma grande associação entre suicídio e doenças incuráveis e dolorosas. A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal. As doenças mais associadas ao suicídio são a depressão, o alcoolismo e, um pouco atrás, a esquizofrenia.

Quais são os limites da prevenção do suicídio?

Não acredito que o suicídio possa ser erradicado, pois é um fenômeno humano que existe desde sempre. Há, por exemplo, uma porcentagem de suicídios por trás da qual, por mais se investigue, não se encontra uma doença ou causa clara.

Durkheim, em sua tipologia de suicídios, fala do suicídio altruísta [situação em que um indivíduo está tão conectado a sua comunidade, que abdica de sua individualidade, acreditando que sua morte pode trazer benefícios para a sociedade]. Como é que se vai prevenir isso? Não há o menor sentido. Não é disso que a prevenção do suicídio se ocupa. A prevenção se ocupa dos casos considerados evitáveis, porque decorrentes de um fator que poderia ser removido [como o alcoolismo].

Um dado importante e comprovado é que a maioria das pessoas que tentam o suicídio não quer morrer. São pessoas que querem mudar uma situação, escapar de um problema e, às vezes, a situação é tão tantalizante que a pessoa não enxerga outra saída. Há estudos com pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio por um método muito letal e estão próximas de morrer. Elas são entrevistadas nesse momento. A imensa maioria fica desesperada quando percebe que vai morrer e que é irreversível.

A mídia deveria ter um papel nessa prevenção?

A mídia tem um grande papel na prevenção do suicídio. Há um mito de que não se pode tocar no assunto nos jornais. A imprensa pode ajudar ou atrapalhar de acordo com a forma que trata o assunto. Abordar o tema com sensacionalismo, promovendo o ato, explicando métodos etc. só atrapalha, já que sempre existe, em toda população, um certo número de indivíduos suscetíveis. Agora, abordar de uma maneira potencialmente educativa ajuda, sem dúvida.

O que o sr. acha de grupos como CVV e Samaritans [fundação inglesa aberta em 1953 dedicada à prevenção do suicídio]?

Eu já trabalhei com CVVs e Samaritans de vários países do mundo e tenho muita admiração pelo trabalho deles. Um ponto importante a ressaltar é que eles não fazem só a prevenção do suicídio; seu grande mérito é auxiliar uma pessoa em crise. Eles conseguem solucionar uma crise que talvez hoje não fosse suicida, mas que, pela falta de perspectiva, poderia evoluir para uma crise suicida. Penso que eles deveriam ser estimulados pelas autoridades sanitárias.

Como é o suicídio entre as populações indígenas?

As taxas de suicídios em populações indígenas são as mais altas em qualquer país do mundo, segundo estudos. Isso se explica com fatores sociológicos. Em geral populações indígenas são marginalizadas, pobres. Além disso, cada vez mais se identifica nessas populações indígenas o álcool como um fator desagregador, desestabilizador, causando conflitos e levando ao suicídio.

O álcool que havia em populações tradicionais indígenas brasileiras era o cauim, uma bebida de rituais, com baixo teor alcoólico; aí, de repente, eles pegam a cachaça, que tem um teor alcoólico altíssimo. E isso se agrava, pois as populações indígenas da América são de origem asiática, e é muito comum entre os asiáticos uma alteração genética que dificulta o metabolismo do álcool. Juntando todos os fatores, temos uma situação muito trágica numa população pequena de índios.

Pode-se falar de um luto diferente para os parentes de um suicida?

O luto de uma perda inesperada, sobretudo por uma forma inaceitável, é um luto mais complicado que o luto "normal". O suicídio sempre desperta nos que ficam no mínimo dois sentimentos: culpa e raiva. Isso causa um mal-estar tão grande que chega a ser um fator de risco de suicídio. São relativamente comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar.

Há um importante movimento internacional de sobreviventes, chamado Survivors, fundado por um casal americano que perdeu sua única filha pelo suicídio. Eles se aproximam de famílias em luto para conversar, compartilhar experiências. O resultado é o desenvolvimento de uma solidariedade intragrupal e o sentimento de solidariedade e responsabilidade pelos outros.

Entre 1980 e 2008 a taxa de suicídios de homens brasileiros quase dobrou. Quais são as possíveis explicações para isso?

Foi um aumento muito localizado, em jovens de 16 a 25 anos. O que vou dizer agora é mais uma impressão do que uma afirmação científica. Duas coisas que afetam particularmente esse grupo aconteceram nesse período: por um lado, houve uma explosão do número de usuários de drogas; por outro, houve a reforma psiquiátrica que fechou radicalmente o número de leitos psiquiátricos. Esses leitos foram fechados no momento em que o aumento dos usuários de drogas pedia um número maior. A sociedade nesse período também se tornou mais violenta. Na mesma época, houve aumento do número de homicídios, especialmente entre os jovens.

O que se sabe sobre as bases genéticas do suicídio?

Essa é uma área pobre de resultados. Eu, particularmente, acho muito improvável que alguém encontre o gene do suicídio. O que se sabe é que existem genes da violência. Nos indivíduos com alto risco de violência, isso pode se expressar como um suicídio dramático ou como um homicídio. Casos de pessoas que pegam uma arma, matam vários e depois se matam certamente envolvem pessoas extremamente violentas.

Uma grande dificuldade é que grande parte dos estudos genéticos é feito com gêmeos. Suicídio é um evento relativamente raro; encontrar gêmeos não é tão comum; e encontrar gêmeos nos quais um se matou e outro não é mais difícil ainda, o que torna as análises estatísticas muito pobres. O suicídio é uma coisa muito mais complexa do que pode ser expressada por um gene.

Como o sr. vê o direito ao suicídio?

Eu sou um pouco antiquado, acredito no juramento de Hipócrates, que diz que a tarefa principal do médico é preservar a vida. Claro que existem limites nos quais a preservação da vida não tem mais sentido. Filosoficamente, eu consigo entender alguém que, em plena posse de suas faculdades mentais, queira se matar; medicamente eu não tenho meios de justificar isso.

Vejo o direito ao suicídio com ressalvas, mas sempre fica a pergunta incômoda: quem sou eu para dizer a alguém aparentemente consciente dos seus atos e que quer se matar que ele não deveria fazer isso?
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no Original

CVV : CURSO PARA SELEÇÃO DE VOLUNTÁRIOS

4/20/2013
Clique na imagem para ampliar
O Posto CVV Abolição realizará, nos dia 18 e 19 de maio de 2013, um novo curso para capacitação de voluntários da entidade. No dia do evento o horário será das 13:30hs às 18:30hs, quando será apresentada a filosofia da entidade e a forma de conduta a ser seguida pelo voluntário.

LOCAL
Rua Abolição, 411 - Bela Vista - São Paulo
Link do local no Google Mapas:  http://g.co/maps/a96tm

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES:
As inscrições podem ser feitas no próprio local, 10 minutos antes do curso, ou pelo e-mail abolicao@cvv.org.br . Para mais informações por favor, entre em contato pelos telefones (11) 98143-3611 / 3242-4111.

DURANTE A ATIVIDADE:
Durante a atividade - que é gratuita - haverá seleção dos interessados em colaborar com a entidade. Para ser voluntário vinculado ao Programa CVV de prevenção ao suicídio, apoio emocional e valorização da vida, basta ter mais de 18 anos, ter disponibilidade de tempo (média de 4 horas e meia, uma vez por semana), disposição para ajudar o próximo e abertura para o autoconhecimento e aprendizado.

INSTITUIÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS:
Instituição sem fins lucrativos e mantida pelos próprios voluntários, os postos CVV desenvolvem trabalhos de apoio emocional por meio de contatos telefônicos, atendimento pessoal, via correio, e-mail e via chat no próprio site da entidade www.cvv.org.br

Se você conhece alguém que possa se interessar por essa mensagem, ajude a divulgar compartilhando por e-mail, Facebook ou outras redes sociais.

O SUICÍDIO: UMA DISCUSSÃO FILOSÓFICA

4/18/2013
Imagem por Mikamatto
A "Ilustríssima" (suplemento da 'Folha de S.Paulo') desta semana trouxe uma interessante entrevista com o psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar um livro sobre a prevenção do suicídio (veja aqui). Não há dúvida de que é preciso tomar medidas para reduzir as mortes autoinfligidas, que, na maioria dos casos, estão associadas a doenças mentais e são uma causa de óbito evitável. Como diz o ditado, "o suicídio é uma solução permanente para um problema temporário".

A crescente medicalização do fenômeno, entretanto, acabou tirando de foco o rico debate filosófico em torno da matéria, que, se não tem lá muita relevância prática, ainda é valioso para a história das ideias.

Na Antiguidade, temos Platão como um ferrenho opositor do suicídio e os estoicos no polo oposto, afirmando que ele sempre é uma opção quando nos vemos impedidos de gozar uma vida pujante.

O cristianismo, mais especificamente santo Agostinho e santo Tomás, porém, faz uma condenação radical da autoquíria, decretando que praticá-la constitui uma ofensa a Deus. Tal posição é majoritária, embora não unânime entre os filósofos mais ou menos até o século 18, quando passa a ser contestada por autores como David Hume e, em seguida, pelos românticos, pelos libertários e por alguns existencialistas.

Mesmo que não se comprem os argumentos pró-suicídio, eles contribuíram para secularizar a questão, diminuindo a carga que pesa contra os que tentam tirar a própria vida, e serviram para revogar medidas legais absurdas que existiam contra eles, como a possibilidade de ser preso e ter os bens confiscados.

É importante seguir com a discussão filosófica, abordando pontos que ainda causam controvérsia, como o direito ao suicídio assistido em caso de doenças incuráveis e até que ponto é legítimo tomar medidas coercitivas para evitar que alguém se mate, mesmo em situações que pareçam menos racionais que a anterior.
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

VIAGEM SEM VOLTA - O SUICÍDIO E SUA PREVENÇÃO

4/17/2013
Médico psiquiatra lança manual de prevenção ao suicídio e ao comportamento suicida, que passa a figurar em compêndio de transtornos mentais. Ele comenta alguns dos muitos tabus que cercam o assunto, como a divulgação na imprensa, o luto duplicado, as frágeis estatísticas e a relação com doenças.

Imagem por Mikamatto
Prevista para este ano, a inclusão de uma categoria de comportamentos suicidas no novo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o chamado DSM 5, referência na área de saúde mental em todo o mundo, pode ajudar os médicos a quantificar melhor esse fenômeno, em especial as tentativas, cujas taxas podem ser 40 vezes mais altas do que as dos suicídios consumados.

Essa é a opinião do psiquiatra José Manoel Bertolote, que acaba de lançar "O Suicídio e sua Prevenção" [Unesp, 142 págs., R$ 18]. Ele afirma, em entrevista à Folha, que a depressão, o alcoolismo e a esquizofrenia são as três principais causas por trás das mortes autoinflingidas.

Estima-se hoje em 1 milhão o número anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Isso o coloca como uma das "três principais causa de óbitos em determinadas faixas etárias de vários países e em várias regiões do globo", escreve Bertolote. No livro, o psiquiatra traça um histórico sobre o tema a respeito do qual já se debruçaram teólogos, juristas, filósofos, sociólogos entre outros, e analisa, sob o prisma da saúde pública, suas causas no Brasil e no mundo.

Bertolote, 65, trabalhou por quase 20 anos na OMS (Organização Mundial da Saúde), onde chefiou a equipe de transtornos mentais e neurológicos. Uma de suas atribuições nesse período era auxiliar países a elaborar políticas de prevenção de suicídio. Hoje, ele é professor voluntário na Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, na qual se formou em 1971.

Durante a entrevista, Bertolote fez um pedido: gostaria que fosse incluído neste texto o número do telefone do Centro de Valorização da Vida, o CVV: 141.


Como o sr. vê a inclusão da categoria de comportamentos suicidas no novo manual de psiquiatria?

José Manoel Bertolote - Vejo com bons olhos. Hoje há boas estatísticas de mortes por suicídio para cerca de dois terços do mundo, mas não há um registro centralizado de tentativas de suicídio. Se uma pessoa ingere um veneno e vai parar no pronto-socorro, o caso é registrado como intoxicação; se ela corta os pulsos, lesão cortante. A intencionalidade acaba nunca sendo registrada.

A inclusão de uma categoria de comportamento suicida é bem-vinda, pois vai permitir dar uma visão melhor desse quadro. Estudos mostram que a taxa de tentativa de suicídios chega a ser 40 vezes mais alta que a taxa de suicídios consumados.

Como o suicídio se tornou um assunto da medicina?

Até cerca de três séculos atrás, o suicídio era basicamente um problema teológico. O catolicismo considerava o suicídio um pecado grave, o islamismo considera até hoje o pior pecado, pois é a destruição da obra divina. Havia também o interesse de filósofos e, na Inglaterra e em vários outros países, o suicídio era considerado uma morte indigna. O direito o tratava como um crime contra o Estado.

Foi a partir dos séculos 17 e 18 que médicos passaram a se interessar pela questão do suicídio e a considerar que o suicídio tinha uma relação estreita com a saúde, porque eles julgavam que todo suicídio era um ato de loucura. E isso foi ganhando adesão com o tempo. No século 20, consolidou-se a ideia de que o suicídio é um problema de saúde e, sobretudo, de saúde pública.

Há relação entre suicídio e doença?

O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. Na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social de distribuição irregular na sociedade. Mas há estudos em todo o mundo que mostram que, por trás de grande parte das mortes por suicídio, existem doenças.

A maioria dessas doenças são mentais, mas há também uma grande associação entre suicídio e doenças incuráveis e dolorosas. A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal. As doenças mais associadas ao suicídio são a depressão, o alcoolismo e, um pouco atrás, a esquizofrenia.

Quais são os limites da prevenção do suicídio?

Não acredito que o suicídio possa ser erradicado, pois é um fenômeno humano que existe desde sempre. Há, por exemplo, uma porcentagem de suicídios por trás da qual, por mais se investigue, não se encontra uma doença ou causa clara.

Durkheim, em sua tipologia de suicídios, fala do suicídio altruísta [situação em que um indivíduo está tão conectado a sua comunidade, que abdica de sua individualidade, acreditando que sua morte pode trazer benefícios para a sociedade]. Como é que se vai prevenir isso? Não há o menor sentido. Não é disso que a prevenção do suicídio se ocupa. A prevenção se ocupa dos casos considerados evitáveis, porque decorrentes de um fator que poderia ser removido [como o alcoolismo].

Um dado importante e comprovado é que a maioria das pessoas que tentam o suicídio não quer morrer. São pessoas que querem mudar uma situação, escapar de um problema e, às vezes, a situação é tão tantalizante que a pessoa não enxerga outra saída. Há estudos com pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio por um método muito letal e estão próximas de morrer. Elas são entrevistadas nesse momento. A imensa maioria fica desesperada quando percebe que vai morrer e que é irreversível.

A mídia deveria ter um papel nessa prevenção?

A mídia tem um grande papel na prevenção do suicídio. Há um mito de que não se pode tocar no assunto nos jornais. A imprensa pode ajudar ou atrapalhar de acordo com a forma que trata o assunto. Abordar o tema com sensacionalismo, promovendo o ato, explicando métodos etc. só atrapalha, já que sempre existe, em toda população, um certo número de indivíduos suscetíveis. Agora, abordar de uma maneira potencialmente educativa ajuda, sem dúvida.

O que o sr. acha de grupos como CVV e Samaritans [fundação inglesa aberta em 1953 dedicada à prevenção do suicídio]?

Eu já trabalhei com CVVs e Samaritans de vários países do mundo e tenho muita admiração pelo trabalho deles. Um ponto importante a ressaltar é que eles não fazem só a prevenção do suicídio; seu grande mérito é auxiliar uma pessoa em crise. Eles conseguem solucionar uma crise que talvez hoje não fosse suicida, mas que, pela falta de perspectiva, poderia evoluir para uma crise suicida. Penso que eles deveriam ser estimulados pelas autoridades sanitárias.

Como é o suicídio entre as populações indígenas?

As taxas de suicídios em populações indígenas são as mais altas em qualquer país do mundo, segundo estudos. Isso se explica com fatores sociológicos. Em geral populações indígenas são marginalizadas, pobres. Além disso, cada vez mais se identifica nessas populações indígenas o álcool como um fator desagregador, desestabilizador, causando conflitos e levando ao suicídio.

O álcool que havia em populações tradicionais indígenas brasileiras era o cauim, uma bebida de rituais, com baixo teor alcoólico; aí, de repente, eles pegam a cachaça, que tem um teor alcoólico altíssimo. E isso se agrava, pois as populações indígenas da América são de origem asiática, e é muito comum entre os asiáticos uma alteração genética que dificulta o metabolismo do álcool. Juntando todos os fatores, temos uma situação muito trágica numa população pequena de índios.

Pode-se falar de um luto diferente para os parentes de um suicida?

O luto de uma perda inesperada, sobretudo por uma forma inaceitável, é um luto mais complicado que o luto "normal". O suicídio sempre desperta nos que ficam no mínimo dois sentimentos: culpa e raiva. Isso causa um mal-estar tão grande que chega a ser um fator de risco de suicídio. São relativamente comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar.

Há um importante movimento internacional de sobreviventes, chamado Survivors, fundado por um casal americano que perdeu sua única filha pelo suicídio. Eles se aproximam de famílias em luto para conversar, compartilhar experiências. O resultado é o desenvolvimento de uma solidariedade intragrupal e o sentimento de solidariedade e responsabilidade pelos outros.

Entre 1980 e 2008 a taxa de suicídios de homens brasileiros quase dobrou. Quais são as possíveis explicações para isso?

Foi um aumento muito localizado, em jovens de 16 a 25 anos. O que vou dizer agora é mais uma impressão do que uma afirmação científica. Duas coisas que afetam particularmente esse grupo aconteceram nesse período: por um lado, houve uma explosão do número de usuários de drogas; por outro, houve a reforma psiquiátrica que fechou radicalmente o número de leitos psiquiátricos. Esses leitos foram fechados no momento em que o aumento dos usuários de drogas pedia um número maior. A sociedade nesse período também se tornou mais violenta. Na mesma época, houve aumento do número de homicídios, especialmente entre os jovens.

O que se sabe sobre as bases genéticas do suicídio?

Essa é uma área pobre de resultados. Eu, particularmente, acho muito improvável que alguém encontre o gene do suicídio. O que se sabe é que existem genes da violência. Nos indivíduos com alto risco de violência, isso pode se expressar como um suicídio dramático ou como um homicídio. Casos de pessoas que pegam uma arma, matam vários e depois se matam certamente envolvem pessoas extremamente violentas.

Uma grande dificuldade é que grande parte dos estudos genéticos é feito com gêmeos. Suicídio é um evento relativamente raro; encontrar gêmeos não é tão comum; e encontrar gêmeos nos quais um se matou e outro não é mais difícil ainda, o que torna as análises estatísticas muito pobres. O suicídio é uma coisa muito mais complexa do que pode ser expressada por um gene.

Como o sr. vê o direito ao suicídio?

Eu sou um pouco antiquado, acredito no juramento de Hipócrates, que diz que a tarefa principal do médico é preservar a vida. Claro que existem limites nos quais a preservação da vida não tem mais sentido. Filosoficamente, eu consigo entender alguém que, em plena posse de suas faculdades mentais, queira se matar; medicamente eu não tenho meios de justificar isso.

Vejo o direito ao suicídio com ressalvas, mas sempre fica a pergunta incômoda: quem sou eu para dizer a alguém aparentemente consciente dos seus atos e que quer se matar que ele não deveria fazer isso?
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

FRASES :
"O suicídio, em primeiro lugar, não é uma doença. O suicídio, na perspectiva da saúde pública, é um fenômeno social que possui uma distribuição irregular na sociedade"

"A mortalidade de portadores de HIV por suicídio, por exemplo, caiu muito depois do advento do coquetel de drogas, quando ela deixou de ser essa doença mortal" 

"O suicídio desperta nos que ficam dois sentimentos: culpa e raiva. Chega a ser um risco. São comuns suicídios em famílias em que um membro acaba de se suicidar"
 
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