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CURTA-METRAGEM FALA SOBRE DORES DA DEPRESSÃO E SUICÍDIO

5/18/2015
O tema delicado (depressão e suicídio) marcou a cidade de Campo Grande (MS) este ano, mas desde 2014 o diretor Roberto Leite trabalha no filme “Cortes”, um curta-metragem que trata de uma questão tabu, o suicídio.

Produzido pela Zion Filmes, de forma independente, o curta conta em 27 minutos a história de Jade, interpretada pela atriz Camila Schneider. Depois de perder o marido, ela redescobre a força da depressão que a acompanha desde criança.

A dor exagerada faz com que a jovem inicie um processo de despedida, gravando vídeo onde tenta explicar a decisão de se suicidar. O ator Filipi Silveira é Leo, amigo de infância que, percebendo a gravidade da situação, tenta fazer Jade mudar de ideia.

A proposta é mostrar que a vida é feita de cortes e cicatrizes. "Depressão não é frescura, é doença. E é essa a reflexão que queremos deixar ao público. Basta que procuremos o contato, a conversa e, dessa forma, esta situação poderá deixar de ser comum. Queremos reforçar também o alerta para a necessidade imediata de políticas públicas mais efetivas no sentido de identificar e tratar as vítimas da depressão", argumenta o diretor.

O diretor Roberto Leite ficou conhecido ao participar do Festival de Cannes, com o curta-metragem "O Florista".

"Cortes" também já fez sua estreia internacional em maio, no Festival de Miami, nos EUA, e está inscrito em outros 15 festivais. Veja o trailer a seguir.


DIZER ADEUS À VIDA

5/05/2015
Florbela Espanca, por Botelho

"É uma resposta aos que chamam ao suicídio um fim de cobardes e de fracos, quando são unicamente os fortes que se matam! Sabem lá esses pseudo-fortes o que é preciso de coragem para friamente, simplesmente, dizer um adeus à vida, à vida que é um instinto de todos nós, à vida tão amada e desejada a despeito de tudo, embora esta vida seja apenas um pântano infecto e imundo!"
Florbela Espanca - Correspondência (1916)
*   *   *
Para mim sem dúvida, Florbela foi e continua sendo uma das maiores poetisas da língua portuguesa, principalmente pela coragem de expor todos os sentimentos em suas poesias. Viveu em permanente estado de depressão, fumando em demasia, perdendo o brilho e a saúde. Cada vez mais abalada psicologicamente, mergulhou num estado de solidão que a fez distanciar-se cada vez mais da paixão pela vida. Em 1930, no dia do seu aniversário, Florbela Espanca colocou fim à sua agonia, suicidando-se. Aos trinta e seis anos calou-se a poetisa. Sua obra continua a ser alvo de estudos e interpretações de amantes literários e da comunidade científica ligada aos desígnios e mistérios da mente, como psicólogos e psiquiatras.

“Por mais que a ciência evolua e que a tecnologia avance jamais ela vai decifrar a mente humana, pois cada cabeça é um mundo e cada ser humano uma história, jamais caberá numa tese ou num fundamento.” (Afonso Allan).
M.K.
A partir da Comunidade QM

FILHO DE SUICIDA INVESTIGA O DESEJO DE MORRER

4/25/2015
O suicídio leva um número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio, tentou investigar as razões.


Os 44 anos de idade, uma idade não muito memorável para a maioria das pessoas mas, no meu caso, foi um aniversário que sempre terá uma importância especial. Foi a idade em que meu pai cometeu suicídio, há 25 anos, por razões que ainda não consegui esclarecer totalmente.

Como resultado, sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre suicídio no noticiário e notei também a frequência com que estas histórias envolviam homens.

O que não percebi até recentemente é que o suicídio é a mais frequente causa de morte de homens abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales. Cem homens morrem por semana. É a causa de morte mais prevalente atualmente, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 14 anos e homens têm quatro vezes mais chances de acabar com a própria vida do que as mulheres.

Queria descobrir o porquê. Qual a razão de homens serem mais suscetíveis e o que pode ser feito a respeito, se é que algo pode ser feito?

Meu próprio pai, na faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.

A incidência de suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É possível adivinhar as razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o homem perde o emprego em uma idade em que é difícil conseguir outro. Tudo isso pode gerar estresse em homens que se sentem pressionados a sustentar a família.

No caso do meu pai, nenhuma destas razões poderia explicar seu suicídio. Ele era um homem popular, gregário e talentoso, com uma mulher amorosa e quatro filhos, dos quais eu era o mais velho.

Pesquisa

Para tentar descobrir as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja pesquisa é baseada em 60 anos de experiência. O trabalho deles destaca uma série complexa de fatores - incluindo problemas financeiros e emocionais, traços de personalidade, desafios da idade e questões de saúde mental.

Todos estes problemas afetam mulheres também. Então, qual a razão de que, apesar de metade dos telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de mulheres, quatro vezes mais homens acabam mortos?

Existe uma opinião muito comum de que suicídio é prova de doença mental. O argumento é que, se você comete suicídio, você precisa estar sofrendo de uma doença mental diagnosticável como depressão.

Rory O'Connor é responsável por um dos mais importantes centros de pesquisa sobre suicídio no mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia. Faz experiências em psicologia e comportamento suicida. Frequentemente, a doença mental é parte do problema, mas não é uma explicação suficientemente completa para isto.

"Acreditamos que a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma doença mental, mas menos de 5% das pessoas com uma doença mental acabam com a própria vida", diz O'Connor.

Eu precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de meu pai quando ele cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar com minha mãe, algo que estava pendente há muito tempo. Quase nunca tocamos neste assunto na família.

E isto é uma parte importante do problema para muitas famílias. Meus irmãos e eu não conseguíamos conversar, provavelmente temendo choro ou discussões familiares durante a conversa.

Apesar das ressalvas e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe, com muita coragem, permitiu que a conversa fosse filmada. Naquela conversa, descobri que, assim os casos extraconjugais que meu pai teve, os problemas financeiros que enfrentava só foram descobertos depois da morte. E nunca discutidos antes.

Estes tipos de problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de suicídio entre homens da faixa dos 40 anos, mas o suicídio também é a maior causa de morte entre os homens 20 e 34 anos, quase um quarto de todos os óbitos.

Experiência

Conversei com Stephen Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e, novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um grande choque para a família.

"Ele era tão atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz Habgood.

Mas, por mais eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre seu estado com sua família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou relutância dos homens de todas as idades para falar sobre o que sentem é a chave para explicar o número maior de suicídios masculinos.

Há uma experiência mental muito útil para ilustrar estes casos, segundo Joe Ferns, diretor-executivo de políticas dos Samaritanos.

"Imagine chegar no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar alguém triste no escritório, chorando por algo que acontece no fim de semana. Se fosse uma mulher, alguém a levaria ao banheiro, teria uma conversa com ela e ninguém pensaria nada muito sobre isto."

"Se o mesmo acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a reação das pessoas seria muito mais dramática. As pessoas presumem que algo muito ruim deve ter acontecido", acrescentou.

Há uma diferença na forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.

Conversas que salvam?

Então, simplesmente conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em suicídio, mas não o fez.

Ele estava desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em sua comunidade.

"Sempre fui uma pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e acredito que era muito afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito bem com meu grupo de amigos, sempre me senti como um estranho. Era difícil, pois quando você está crescendo, ninguém quer se sentir excluído", disse.

Depois de decidir pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos Samaritanos em Manchester e, como pensava que não tinha nada a perder, entrou.

Agora ele percebe que esta decisão salvou sua vida.

"A razão principal que me levava a não conversar com ninguém era esta ideia de fraqueza. Se você não pode resolver os problemas sozinho, então é uma pessoa fraca."

E esta percepção é a chave para entender a razão de os homens tirarem a própria vida em números tão altos, segundo Jane Powell, diretora da Campanha contra uma Vida Triste (CALM, na sigla em inglês).

Rugby

Se alguém procura estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.

Ian Knott era um jogador profissional bem-sucedido do time Warrington Wolves quando sofreu uma lesão que acabou com sua carreira e o deixou sentindo dores constantes. Knott sentia que não conseguia mais cumprir seu papel como jogador, marido e pai. Isto o levou a tentar o suicídio.

"A dor chegou a tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e meus filhos continuavam ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte (da família)."

Knott agora dá palestras em reuniões de uma instituição chamada State of Mind, que exibe vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para falar sobre suas carreiras e funciona como um fórum para discussões a respeito de problemas emocionais.

"Estou orgulhoso pois agora posso falar de minhas experiências e talvez ajudar outras pessoas, principalmente outros homens", afirmou Knott.

"Este é o principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam absolutamente ter nada do que se envergonhar."
A partir do Terra. Leia no original
Imagem: Pexels

QUANDO AS MÃES JOGAVAM OS FILHOS NO RIO

4/23/2015
Alemanha relembra onda de suicídios nos últimos meses da 2a. Guerra Mundial
Bärbel Schreiner, com sua mãe e seu irmão em Demmin em 1944.
O documento é estremecedor. Vinte e oito páginas repletas de nomes acompanhados da data e do motivo da morte. Escolhida um aleatoriamente, aparecem várias famílias —os Gaut, os Schubert (mãe e filha), os Rienaz (também mãe e e filha)…—. Todos morreram em 8 de maio de 1945. E todos por uma mesma causa: suicídio. Estamos no Museu Regional de Demmin, uma pequena cidade no noroeste da Alemanha, que nesses dias revive seus dias mais dramáticos. Nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial, quando a vitória final tantas vezes anunciada por Adolf Hitler parecia cada vez mais irreal e o Exército Vermelho se aproximava, entre 700 e 1.000 cidadãos de Demmin –que à época tinha 15.000 habitantes— preferiram morrer a ter que viver em um mundo que não fosse governado pelos nazistas. Foi o maior suicídio em massa na história da Alemanha.

Bärbel Schreiner, então uma menina de 6 anos, esteve a ponto de ser vítima dessa loucura coletiva. Mas seu irmão conseguiu convencer sua mãe a não fazer com os dois filhos o que tantos pais faziam naqueles dias. “Mamãe, nós não, né?”, recorda Schreiner da fala de seu irmão disse, enquanto observava o rio Peene, cheio de cadáveres. “Ainda me lembro da água avermelhada pelo sangue. Sem essas palavras, tenho certeza que minha mãe teria afogado nós dois”, afirma, com a voz embargada, essa mulher de 76 anos.


Registro de mortos em Demmin, no Museu Regional. / LUIS DONCEL
O caso de Schreiner não foi uma exceção. Uma onda de suicídios atingiu a Alemanha entre janeiro e maio de 1945. Não existem números exatos, mas os historiadores calculam que entre 10.000 e 100.000 pessoas tenham tomado essa decisão. Ao tirar a própria vida, era normal que os adultos levassem também seus filhos. Foi o que fez Joseph Goebbels, ministro da Propaganda e chanceler nos últimos dias do III Reich, quando ele e sua mulher, Magda, envenenaram os seis filhos.

Escreveu-se muito sobre o suicídio dos líderes nazistas. Além de Hitler, cuja morte completará 70 anos em 30 de abril, e Goebbels, também tirou a própria vida o chefe das temidas SS, Heinrich Himmler. Mas, até agora, não se havia prestado muita atenção aos cidadãos comuns que seguiram o destino de seus líderes fanáticos. Justamente essa falta de conhecimento sobre a tragédia que milhares de pessoas anônimas viveram levou o historiador Florian Huber a escrever Filho, Me Promete que Vai Atirar. O sucesso do livro, que em dois meses já vendeu mais de 20.000 exemplares, surpreendeu inclusive o autor.

“Estudei história e nunca tinha ouvido falar desse episódio trágico. Um dia, vi em um livro um pé de página que mencionava a onda de suicídios nos últimos meses da guerra e decidi investigar”, conta em um café de Berlim. Mas, o que levou esses homens e mulheres comuns a dar um tiro em si mesmos, se enforcar numa árvore ou se jogar no rio mais próximo? Medo das represálias dos vencedores? Fanatismo nazista? Ou sentimento de culpa pelos abusos de 12 anos de nacionalismo e seis de guerra? “Uma mescla de todos esses fatores. Também teve influência um efeito psicológico que transforma o suicídio em algo contagioso, quase como uma infecção. Se você visse nesse café todo mundo começando a se matar, talvez você cogitasse também”, responde.
"Mamãe, nós não", disse o irmão de Schreiner ao ver os mortos no rio
A epidemia suicida se estendeu por muitos rincões da Alemanha, mas por que afetou principalmente alguma áreas, como o leste do país, e muito especialmente lugares como Demmin? Huber explica a mescla de circunstâncias históricas e geográficas que tornaram essa localidade uma ratoeira da qual era impossível escapar. “Rodeada por três rios, forma uma espécie de península. Em sua fuga, os líderes nazistas dinamitaram as três pontes existentes. De forma que, quando os soviéticos chegaram, não podiam continuar avançando. Os soldados do Exército Vermelho chegaram em 30 de abril, com vontade de abandonar logo Demmin para comemorar a festa de 1º de maio”, afirma.

Justamente no mesmo dia em que Hitler se matou com um tiro dentro de seu bunker em Berlim, os soldados vermelhos queimavam Demmin e difundiam o pânico. Os anos de guerra, a sede de revanche e a bebida que correu pela noite fomentavam a violência dos soviéticos. O resultado desse coquetel foi assombroso. Huber afirma que os rios se tornaram cemitérios durante semanas; e que os trabalhos para retirar os corpos da água se estenderem entre maio e julho daquele ano. “As testemunhas se lembram de pessoas penduradas em árvores por toda parte”, acrescenta.

Uma mistura de fanatismo nazista, medo e contágio explica a loucura coletiva
O sofrimento dos civis alemães durante a guerra –sejam os abusos de mulheres ou os bombardeios de cidades como Potsdam, que nesta semana completou 70 anos— é um tema complexo. Não há dúvidas de que muitos inocentes sofreram as consequências, mas esse sofrimento também serve de desculpa para os neonazistas, que continuam confundindo e igualando a dor do povo agressor com a dos agredidos.

O mesmo ocorre ainda hoje em Demmin. Há uma década, em todo 8 de maio, dia da rendição, um pequeno grupo de manifestantes ligados ao partido de extrema direita NPD relembram as vítimas alemães. “Durante os anos do comunismo, esse tema era um tabu. Ninguém quer lembrar as violações ou crimes cometidos pelos soldados que nos libertaram do fascismo. E agora os neonazistas também utilizam a dor do passado para os seus fins”, afirma Petra Clemens, a diretora do museu, rodeada por vestígios da história da região. Nessa castigada cidade do leste alemão, o desemprego atinge 17% da população (um percentual altíssimo para um país no qual a média está em 6,9%) e o alcoolismo tem seu preço.

Demmin foi talvez o caso mais extremo da loucura coletiva que invadiu o país nos primeiros meses de 1945, mas não o único. Em Berlim foram registrados naquele ano 7.000 suicídios, dos quais quase 4.000 aconteceram no mês de abril. Em seu livro, Huber reúne depoimentos de pessoas que associaram o fim de suas próprias vidas ao fim do nacional-socialismo. Como o professor Johannes Theinert e sua mulher, Hildegard, que começaram a escrever um diário em 1937, um ano após se casarem. O último registro foi datado em 9 de maio de 1945. “Acaba a crise. As armas calam”, anota Hildegard. Naquele mesmo dia, Johannes atirou na mulher e depois em si mesmo. A última entrada do diário encontrado por alguém após sua morte dizia: “Quem se lembrará de nós, quem saberá como acabamos? Essas linhas têm algum sentido?”.

A partir do El País. Leia no original

SUICÍDIO ENTRE ADOLESCENTES

4/22/2015

Causa da morte de mais de 2 mil jovens brasileiros todos os anos. Considerado um fenômeno social entre alguns especialistas. Prática incentivada na internet. Ainda assim, o assunto – velado e cercado por tabus – é evitado pela sociedade. A temática suicídio entre adolescentes vem à tona após duas recentes mortes de garotas em idade escolar, em Belo Horizonte. Infelizmente, não se trata de casos isolados, muito menos raros.

Na última década, os índices de autoextermínio dobraram entre pessoas de 12 a 21 anos, segundo Fábio Gomes, vice-coordenador da Comissão de Prevenção ao Suicídio, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Das mil ocorrências registradas todos os meses no país, cerca de 170 são cometidas por adolescentes.

O número pode ser ainda mais preocupante. “Estão subnotificados. Se uma pessoa morre ao se envolver, por querer, em um acidente de carro, o fato é tratado como acidente de trânsito”, destaca.

Características

Embora alguns casos sejam atribuídos a distúrbios psiquiátricos, outros fatores estão por trás desse crescimento. “Há uma falsa ideia de que o suicídio está sempre associado à depressão. Isso não é verdade. Vivemos em uma sociedade altamente consumista, onde tudo ficou banalizado. Até a própria existência”, observa Maurício Leão de Rezende, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria.

Solidão, estresse e a pressão da competitividade também podem explicar o aumento das ocorrências. Sem maturidade suficiente para lidar com esses sentimentos, muitos escolhem o caminho mais radical. “Alguns não conseguem enxergar uma saída ‘meio-termo’. Eles têm percepções extremadas sobre a vida e são mais impulsivos”, afirma a psicóloga Sylvia Flores.

Apesar dessas características serem comuns à idade, Marcelo Tavares, professor do programa de pós-graduação em psicologia clínica e cultura da Universidade de Brasília (UNB) e coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção de Suicídio, adverte sobre o perigo de jogar a culpa apenas à fase da vida.

“Nem todos os pais querem compreender os sentimentos do adolescente. Preferem procurar um atalho, uma pílula que esconda o real problema. É mais fácil do que investir no relacionamento e no vínculo com o filho”. Outros setores da sociedade – até mesmo a escola – agem de modo semelhante. “Todo mundo quer passar a batata-quente”.

Internet

Não bastassem esses fatores, a internet também tem aberto o caminho para novas ocorrências. Segundo Fábio Gomes, diversos sites e páginas nas redes sociais incentivam a prática.

“Há grupos no Facebook que glamourizaram o suicídio. As pessoas deixam seus nomes e entram em uma espécie de lista, até que chegue o dia de se matarem”, conta. Recentemente, oito casos do tipo foram registrados apenas na cidade de Fortaleza. Dentre eles, uma família descobriu que um grupo saiu do enterro da menina para uma comemoração, como se aquele tivesse sido um grande dia.

“E que controle temos sobre isso? Nenhum. É muito importante resgatar a convivência familiar. Os adolescentes estão sozinhos e acabam se cercando por tecnologia. E na internet têm acesso indiscriminado a qualquer tipo de informação”, alerta.

Grupos compartilham informações sobre autoextermínio

Em uma página do Facebook com 15 mil curtidas, frases como “Meus cortes têm motivos, alguns até nome” e “Já me cortei sem derramar nenhuma lágrima, mas também já chorei tanto ao ponto de não conseguir segurar a lâmina” são divulgadas e compartilhadas. Quem faz as postagens é um adolescente de 19 anos que, desde a infância, tem pensamentos sobre a morte.

Ele não sabe atribuir de onde vieram essas ideias, mas ressalta que teve uma triste trajetória de vida, que inclui maus tratos dos pais. Hoje, afirma que encontra apoio na namorada e outros três amigos, além de alguns colegas que fez por meio da rede. “Não queremos incentivar o suicídio. Essa é uma forma de nos ajudarmos”, justifica o garoto, que já tentou se matar e também já cortou ou pulsos, sem intenção de morrer.

Grupos para compartilhar a automutilação também são comuns na rede. Além de compartilhar fotos dos braços machucados, os participantes – a maior parte deles, adolescentes – desabafam sobre os motivos que o levaram ao ato. Pela rede, divulgam os números de celulares para criarem grupos no WhatsApp.

A partir do R7. Leia no original
Imagem: Pexels

FILHA DE KURT COBAIN DIZ QUE PAI A ABANDONOU

4/16/2015

Tudo aconteceu no dia 5 de Abril de 1994, quando o mundo acordou com a notícia da morte de Kurt Cobain. O vocalista da banda Nirvana suicidou-se aos 27 anos com uma espingarda, deixando a mulher e uma filha pequena que hoje fala do assunto com frieza.

Frances Bean Cobain (foto) tem atualmente 22 anos e não se lembra do pai. Tinha pouco mais de um ano quando o corpo de Kurt Cobain foi encontrado, três dias depois do suicídio e com uma nota de despedida. A mulher, Courtney Love, revelou anos mais tarde que esta não teria sido a primeira tentativa de suicídio do cantor. A filha viveu sempre com o estigma da morte do pai e, pela primeira vez, confessou à revista Rolling Stone o que sente em relação a tudo isto.

"Se ele fosse vivo, eu teria tido um pai. E isso teria sido uma experiência incrível. Ele abandonou a família da forma mais horrível possível", revelou Frances Cobain. Por mais que a mãe tenha tentado suprir a ausência paternal, a verdade é que o suicídio do pai nunca foi bem encarado pela filha. Aliás, ela vai mais longe e até faz uma revelação surpreendente.

"Não gosto muito de Nirvana"

O legado musical deixado pelo pai, que liderava a banda Nirvana e que fez sucesso mundial, seria talvez das poucas recordações que aproximava Frances e Cobain mas, na realidade, a filha não gosta das canções do pai. "Eu não gosto muito de Nirvana. Que me desculpem as pessoas da editora. Gosto mais de Mercury Rev, Oasis, Brian Jonestown Massacre. O estilo de música não me interessa muito", disse Frances à referida revista.

Apesar disso, terá sido o documentário sobre a vida de Kurt Cobain, produzido por Frances, que voltou a unir mãe e filha. Em 2009 as duas terão tido uma discussão e cortaram relações. Anos mais tarde, na apresentação do documentário, apareceram juntas e felizes, mostrando que superaram as diferenças. Frances quis mostrar ao mundo como era o pai na intimidade e produziu o documentário "Montage of Heck", em colaboração com uma produtora, já que sempre fez questão de estar longe das luzes da fama.
A partir de BlastingNews. Leia no original

PRECISAMOS FALAR SOBRE O SUICÍDIO

4/08/2015
Embora o suicídio seja hoje, no Brasil e no mundo, um problema concreto de saúde pública, pouco ou quase nada é publicado na imprensa sobre o assunto no dia a dia. Como uma das máximas da era da informação é a tese de que, se algum fato ocorreu mas não se tornou notícia, então não aconteceu, exageros à parte é mais ou menos assim o que acontece com as dezenas de casos de suicídio que ocorrem no Brasil diariamente. Coisa rara na imprensa é notícia sobre suicídio e suicidas. A não ser quando se trata de alguém famoso ou quando o suicídio vai além da morte de quem o cometeu, como é o caso da tragédia com o Airbus 320 da Germanwings, cujo copiloto, Andreas Lubitz, suicidou-se usando o avião que pilotava e levou à morte mais 149 pessoas. O fato obrigou a imprensa a fazer o que ela não quer, não pode e não deixam: falar sobre suicídio. 

A primeira recomendação ética para que os casos de suicídios sejam evitados pelos jornalistas é de natureza médica. Há uma orientação internacional da Organização Mundial de saúde recomendando à imprensa todo o cuidado do mundo ao abordar suicídio, sob o seguinte argumento: diante de uma notícia sobre uma morte dessa natureza, as pessoas com ideações suicidas sentem-se encorajadas a repetir o gesto.

Uma segunda razão forte para a imprensa não noticiar mortes por suicídio é o critério de não interesse público na morte de uma pessoa que, tragicamente, decidiu interromper a própria vida. Ou seja, o interesse de um episódio dessa natureza diz respeito tão somente à própria família, cuja dor e luto em nada se relacionam com a opinião pública. Esse critério desaparece, por exemplo, quando se trata dos famosos ou quando o suicídio em si traz consequência para a vida de terceiros, como nos casos em que as pessoas atiram-se de prédios e viadutos e causam a morte ou ferimentos graves de/em quem passava pela via pública naquele instante. O pressuposto de que o suicídio é algo intrinsecamente da ordem da vida privada da vítima e da família faz com que não sejam raros os casos de processos judiciais movidos por familiares contra veículos de comunicação que desafiam essa norma implícita. 

FORA DA CURVA 

Quem tem amigos pouco sensíveis no whatsapp e não recebeu nos últimos meses vídeos de suicídios recentes em Salvador? Desses, raríssimos apareceram na imprensa e aqueles que fugiram à regra receberam tratamento eufemístico. No entanto, apesar dos raros casos noticiados e da forma eufemística como são narrados (“mulher morre ao cair do 20º andar”), fora do mundo das notícias os índices de suicídio no Brasil são assustadores. Hoje, no país, cerca de 30 pessoas suicidam-se por dia. E o contexto é ainda mais alarmante: para cada morte há entre 10 e 20 casos de tentativas mal sucedidas, além de a taxa de mortes por suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos ter crescido 40% nos últimos e 33% entre 15 e 19 anos.

Independentemente dos tabus que norteiam os limites do noticiamento do suicídio, é preciso encontrar um modo de reduzir o sofrimento de suicidas em potenciais que dão sinais às suas famílias de não estarem suportando o peso de suas próprias vidas, antes que seus planos sejam concretizados. O caso Andreas Lubitz é um ponto fora da curva, pois se há coisa rara, segundo os especialistas, é um suicida clássico levar em conta, na hora de tomar sua decisão, a morte concreta do outro. Mas não deixa de ser uma brecha e tanto para enfrentar um problema de saúde e um tabu que pode, nesse instante, estar pairando silenciosamente sobre milhões de famílias, algumas delas bem mais perto do que se imagina.
Jornalista e professora da Ufba
 
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