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SETE MITOS SOBRE A FELICIDADE

9/28/2017

Não existe um manual para ser feliz. Muitas vezes ficamos à mercê de certos pensamentos e crenças que acabam nos sabotando, sabia? Há mitos sobre a felicidade que, além de nada realistas, fazem com que a gente deixe de viver plenamente. Esperar que grandes mudanças encham nosso coração de uma satisfação plena e imutável é apenas uma entre várias ideias equivocadas que cercam o tema.

1. Se eu emagrecer, fizer uma cirurgia plástica, viajar para o exterior, comprar um carro e/ou mudar de casa, serei mais feliz

É uma ilusão atribuir a felicidade à conquista de algo, mesmo de uma transformação na aparência. Todas essas coisas nos deixam alegres e até proporcionam entusiasmo por algum tempo, mas, efetivamente, não têm o poder de fazer ninguém feliz. Segundo o psicólogo norte-americano Shawn Achor, autor de "O jeito Harvard de ser feliz" (Ed. Saraiva), primeiro precisamos ter uma atitude mental positiva para depois atingirmos as conquistas materiais e vibrarmos com elas. A felicidade não é algo externo a nós, como temos tendência a idealizar, e sim interna. É o que o senso comum chama de “estado de espírito”. Senti-la é uma escolha de nossa responsabilidade, o que acaba assustando - por isso tendemos a idealizá-la como algo externo. Depois que a boa sensação vivenciada com uma viagem ou com a compra de um carro se esvai, se a pessoa tem um vazio interior a tendência é criar novas crenças e expectativas para preenchê-lo. E mais: há quem perca anos da vida reformando uma casa ou economizando para viajar e acaba deixando de lado várias circunstâncias felizes ao longo do caminho. É preciso ter objetivos, sim, mas sem virar escravo deles.

2. Quando eu ganhar mais dinheiro, encontrarei a felicidade

Não há dúvida nenhuma que o dinheiro proporciona acesso a certas coisas. Pesquisas mostram que até mesmo um simples aumento no salário pode deixar a pessoa mais feliz. Porém, depois essa felicidade se estabiliza e, muitas vezes, até cai. Mais do que ter um saldo bancário recheado, é fundamental aprender a viver com o que se ganha e a manter os boletos pagos em dia. Dívidas, contas atrasadas, cartão de crédito estourado e extrato no vermelho afetam o bem-estar físico e emocional.

3. A maternidade realiza a mulher

Para uma parcela das mulheres, sim. A maternidade promove mudanças emocionais profundas que transformam a vida significativamente. Porém, não deve ser encarada como a única ou maior realização feminina. Para qualquer mulher se sentir feliz de verdade, é preciso haver um equilíbrio entre os diversos papéis desempenhados em sociedade: mãe, esposa, amiga, amante, profissional, filha, etc. Vale lembrar que depositar toda a capacidade de encontrar satisfação nos ombros de uma criança é um peso muito grande para o filho.

4. Quando eu me apaixonar, serei feliz

Não necessariamente, viu? A paixão proporciona alegria e entusiasmo, mas não traz felicidade. Na verdade, durante o ápice ela atrapalha a razão e leva as pessoas a fazerem coisas sem sentido e, dependendo da habilidade e estrutura emocional, a chegarem a limites extremos. Entretanto, quando a paixão entra na maturidade, aí, sim, vira amor e faz a pessoa feliz. Mesmo assim, é importante aprender a gostar de si primeiro antes de amar alguém. Nós é que devemos ser responsáveis por nossa própria felicidade, em vez de atribuí-la aos outros.

5. Não se deve ostentar a felicidade, pois isso atrai inveja e olho gordo

Reflita: ao evitar demonstrar sua felicidade, você consegue usufruir 100% dela? Qual a serventia de disfarçar algo que se manifesta em seu olhar, no sorriso, em seus gestos, na expressão facial? Será que esse tipo de crença toma conta de seus pensamentos porque, na verdade, é você quem se incomoda com o sucesso e o bem-estar alheio? E, portanto, projeta nos outros algo que pertence a você? Enfim, quem quer ser feliz precisa se libertar da preocupação limitadora com a opinião alheia.

6. Meu tempo feliz já passou

Você é da turma que acredita que não dá pra ser feliz depois de uma certa idade? Acha que o auge da sua existência foi a adolescência ou relembra com saudosismo e pesar os dias gloriosos da sua infância? Continuar a viver assim só vai limitar a sua rotina. Ser feliz é uma questão de escolha, portanto é possível criar um cotidiano produtivo e interessante em qualquer momento da vida. Se você está respirando,  o aqui e o agora é o momento certo.

7. Felicidade é encontrar o trabalho perfeito

Todo trabalho é perfeito até que o tempo prove o contrário. Quando vislumbramos a possibilidade de trocar de emprego, o próximo sempre parece muito melhor do que o anterior. O ambiente diferente, os colegas novos, os desafios e os benefícios extras formam um cenário atraente e promovem uma sensação de realização plena. No entanto, à medida que o tempo passa, o doce sabor da novidade se esvai e o peso da rotina se impõe, trazendo de volta a insatisfação e demais sentimentos negativos anteriores. Não é o trabalho que deve te fazer feliz, e sim você precisa se sentir o mais feliz que pode com o trabalho que tem. E mais: um emprego sozinho não torna ninguém feliz. É preciso se sentir bem em família, com os amigos, na própria pele etc., ou seja, buscar contentamento contínuo e em todas as esferas.

Fontes: Hebe de Camargo, psicóloga especialista em depressão e em psicologia com ênfase em comunicação, arte e educação, de São Paulo (SP); Heloísa Capelas, especialista em inteligência comportamental, consteladora familiar, autora dos livros "O mapa da felicidade" e "Perdão – A revolução que falta" (Ed. Gente) e diretora do Centro Hoffman no Brasil, em São Paulo (SP); master coach Paulo Vieira, pós-graduado em gestão de pessoas, master coach e autor dos livros "O poder da ação" e Fator de enriquecimento" (Ed. Gente), e Sabrina Gonzalez, psicóloga e psicoterapeuta, de São Paulo (SP)

A partir do UOL. Leia no original
Imagem : Pexels

ATAQUES VIRTUAIS SERVEM DE ALERTA SOBRE SUICÍDIOS

9/27/2017

Apesar de ser um grave problema de saúde pública, com tendência de crescimento nos próximos anos, pois acompanha a expansão de doenças como a depressão, o suicídio ainda é um tabu no Brasil. Dificuldade de obter dados, preconceito e medo de estimular a prática ao falar sobre ela são fatores que dificultam a discussão e o desenvolvimento de políticas públicas, segundo estudos e especialistas consultados.

Neste ano, o silêncio que ronda o tema foi quebrado com a divulgação do Baleia Azul, o jogo virtual que envolveria o estímulo às mutilações corporais de jovens e até ao suicídio. O game virou tema de novela e mesmo de operação da Polícia Federal, que prendeu acusados de aliciar crianças e adolescentes por meio do Baleia Azul.

O fato trouxe à tona uma realidade comum: a ocorrência do assédio virtual, também chamado de cyberbullying. O debate sobre o delicado tema é estimulado este mês, no âmbito do Setembro Amarelo, para sensibilizar a sociedade para a prevenção ao suicídio.

Além do jogo, casos como o do jovem americano Tyler Clementi, de 18 anos, que se suicidou após ter fotos íntimas divulgadas pelo colega de dormitório, e da britânica Hannah Smith, de 14 anos, que se matou após receber ofensas na rede, têm chamado a atenção de pesquisadores e instituições públicas.

Segundo o integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP), Pablo Nunes, não há estudos confiáveis que comprovem a ligação direta entre crescimento do número de suicídios e ataques nas redes sociais. No entanto, indícios dessa relação pedem atenção ao ambiente online.

“O fato é que a popularização da internet tem propiciado a circulação de informações sobre métodos de se suicidar e a proliferação de grupos de pessoas em sofrimento. Nesses grupos, os participantes discutem meios, lugares e 'encorajam' uns aos outros. No caso da automutilação, são centenas as páginas e grupos dedicados. Em muitas escolas o fenômeno já virou problema sério”, explica Pablo Nunes.

Além disso, o pesquisador destaca que o anonimato  faz das mídias sociais um ambiente favorável para ataques.

Segundo o Safernet, organização não governamental (ONG) que recebe denúncias sobre crimes que ocorrem na internet, em 2016, 39,4 mil páginas da internet foram denunciadas por violações de direitos humanos, que incluem conteúdos racistas, de incitação à violência, que contém pornografia infantil, etc.

A ONG, que também oferece apoio às vítimas de crimes que ocorrem na internet, registrou no ano passado 312 pedidos de orientação e auxílio relacionados à intimidação ou discriminação na rede. A mesma quantidade de solicitações de apoio às vítimas do vazamento de fotos e vídeos íntimos, prática conhecida como sexting, foi registrada. Foi a primeira vez que o cyberbullying ocupou o primeiro lugar no ranking dos motivos que levaram a pedidos de ajuda. Já 128 casos relataram sofrimento devido a conteúdos de ódio e violência.

Ataques virtuais

A consultora em políticas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) e Direitos Humanos Evelyn Silva, de 43 anos, foi diagnosticada com depressão severa há mais de dez anos. Desde julho, a situação piorou depois que sofreu uma série de ataques na rede. Colunista de um site feminista, ela escreveu um texto sobre problemas recorrentes em relações entre lésbicas e bissexuais. A repercussão do texto veio junto a diversas mensagens violentas.

“O tema é polêmico, mas foi muito mais do que isso. Eu recebi mensagens de violência muito complicadas, de pessoas que eu não conheço, a maior parte da mensagem tinha cunho lesbofóbico. Chegaram a ameaçar a revista porque ela estaria dando guarida para uma 'bifóbica'”, relata a militante de direitos LGBT, que já havia sofrido ameaças de morte e “estupro corretivo” nas redes vindas dos chamados haters, pessoas que postam comentários de ódio na internet.

É ódio puro. As pessoas não têm a menor ideia de quem você é, mas elas estão ali colocando para fora uma opinião que elas nunca expressariam pessoalmente”.

Muitas mensagens evidenciavam que as pessoas não haviam lido o texto, pois faziam referência a temas não abordados nele. Evelyn também foi alvo de uma série de pedidos de bloqueio no Facebook, que acabou suspendendo sua conta por 24 horas e, depois, por 72 horas. Apesar de ter buscado explicar a situação à empresa, não obteve nenhuma resposta.

Depois dos ataques, Evelyn decidiu se afastar das redes sociais, o que não impediu, entretanto, que ela enfrentasse crises de transtorno de ansiedade e pânico, o que dificultaram atividades básicas como trabalhar e sair de casa. “Bati no fundo do poço”, afirma.

Monitoramento dos parentes

Evelyn revela que outros problemas ajudaram a reforçar o quadro de doenças e que ela chegou a pensar em cometer suicídio. Para evitá-lo, ela passa por um tratamento com monitoramento, uma técnica que envolve a presença constante e acolhedora de uma rede de amigos e parentes.

A consultora acredita que falar e expor a situação é importante para quebrar o tabu sobre o tema. A opinião é compartilhada por Pablo Nunes. “Preferir manter o suicídio no desconhecimento auxilia na manutenção do tabu, sendo mais difícil traçar ações de prevenção e sensibilização”.

O pesquisador explica que uma cobertura responsável da mídia, em vez de produzir o temido efeito de contágio, é considerada importante pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que oferece manuais e treinamento para jornalistas sobre como reportar casos.

Ao falar sobre suicídio, é preciso que também sejam apontados mecanismos de prevenção.

No ambiente da rede, isso começa com a adoção de mecanismos de proteção, como uso de aplicativos seguros para compartilhamento de fotos íntimas para pessoas conhecidas; cuidados com senhas; denúncias de agressores; busca de delegacias especializadas, quando necessário, e, principalmente, informação.

“Um adolescente que sabe como funciona determinado aplicativo, que entende as questões relacionadas ao anonimato e enxergue os potenciais prejuízos de um vazamento de informações pessoais possa ter, será um indivíduo que certamente prevenirá que situações como essas aconteçam”, defende o pesquisador.

A partir da Agência Brasil. Leia no original

SUICÍDIOS NO BRASIL : 11 MIL TIRAM A PRÓPRIA VIDA POR ANO

9/24/2017

Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado hoje (21) pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, 79% delas são homens e 21% são mulheres. A divulgação faz parte das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio. 

A taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres, entre 2011 e 2015. São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes.

Para a diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde, Fátima Marinho, esse número é maior pois há uma perda de diagnóstico dos casos de suicídio. Segundo ela, nas classes sociais mais altas há um tabu sobre o tema, questões relacionadas a seguros de vida e diagnósticos feitos por médicos da família. “As pessoas mais pobres, em geral, captamos a morte porque ele vai pro IML [Instituto Médico Legal]”, explicou.

Das 1,2 milhão de mortes, em 2015, 17% tiveram causa externa. Dessas 40% são registradas por causas não determinadas, segundo Fátima. “Ainda tem 6% de mortes que ainda não conseguimos chegar na causa. São cerca de 10 mil mortes que foram por causa externa, violenta, mas não sabe porquê. Por isso temos esse subdiagnostico do suicídio”, disse.

No Brasil, os idosos, de 70 anos ou mais, apresentaram as maiores taxas, com 8,9 suicídios para cada 100 mil habitantes, mas, segundo Fátima, em números absolutos, a população idosa vem aumentando. Além disso, eles sofrem mais com doenças crônicas, depressão e abandono familiar. Ela explica que esse índice alto de suicídio entre idosos é observado no mundo todo.

Os dados apontam que 62% dos suicídios foram causados por enforcamento. Entre os outros meios utilizados estão intoxicação e arma de fogo. Fátima conta que nos Estados Unidos são registrados mais suicídios por armas de fogo porque o acesso é mais facilitado.

A proporção de óbitos por suicídio também foi maior entre as pessoas que não têm um relacionamento conjugal, 60,4% são solteiras, viúvas ou divorciadas e 31,5% estão casadas ou em união estável. “E os homens casados se suicidam menos. O casamento é um fator de proteção para os homens e de risco para as mulheres”, disse Fátima, explicando que existe uma associação das tentativas de suicídio das mulheres com a violência intradomiciliar. Ela compara que as mulheres tentam mais e, por outro lado, os homens anunciam menos, mas são os que mais morrem por suicídio.

Entre 2011 e 2015, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil foi maior entre a população indígena, sendo que 44,8% dos suicídios indígenas ocorreram na faixa etária de 10 a 19 anos. A cada 100 mil habitantes são registrados 15,2 mortes entre indígenas; 5,9 entre brancos; 4,7 entre negros; e 2,4 morte entre os amarelos.

Para Fátima, o alto risco de suicídio entre jovens indígenas compromete o futuro dessas populações, já que elas também há um alto risco de mortalidade infantil.

Segundo a secretaria especial de Saúde Indígena, Lívia Vitenti, existe um número alto de indígenas em sofrimento por uso álcool, disputas territoriais e conflitos com a família e com a população não indígena. Entre os jovenes, então, há falta de perspectivas de vida. Entretanto, o problema do suicídio indígenas não está distribuído por todo o território, sendo mais frequente entre os Guarani Kaiowá, Carajás e Ticunas.

Tentativas de suicídio

As notificações de lesões autoprovocadas tornaram-se obrigatórias a partir de 2011 e elas seguem aumentando. Entre 2011 e 2016, foram notificadas 176.226 lesões autoprovocadas; 27,4% delas, ou seja, 48.204, foram tentativas de suicídio.

As tentativas de suicídios são mais frequentes em mulheres. Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida entre 2011 e 2016, 69% era mulheres e 31% homens. A proporção de tentativas de suicídio, de caráter repetitivo também é maior entre as mulheres. Entre 2011 e 2016, daqueles que tentaram suicídio mais de uma vez, 31,3% são mulheres e 26,4 são homens.

O meio mais utilizado nas tentativas de suicídio foi por envenenamento, 58%. Seguido de objeto pérfuro-cortante, 6,5%; enforcamento, 5,8%.

Fatores de risco e proteção

Entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. No entanto, o Ministério da Saúde ressalta que tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado de forma individual.

Segundo o Ministério da Saúde, a existência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município reduz em 14% o risco de suicídio. Na análise feita, é o único fator de proteção ao suicídio. Fátima ressalta, entretanto, que é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com mais concentração de suicídios. Existem hoje no Brasil 2.463 Caps em funcionamento.

Como a ocorrência de suicídio é grande entre os indígenas, ser indígena por si só já é um fator de risco, explicou Fátima. Pessoas que trabalham na agropecuária, que tem acesso a pesticidas, também são vulneráveis a cometerem suicídio por intoxicação.

Os casos acontecem em quase todo país, mas Região Sul concentrou 23% dos suicídios, entre 2010 e 2015. Segundo Fátima, alto nível de renda, pouca desigualdade social e baixo índices de pobreza são características de municípios que concentram mais suicídios.

Ela explica, entretanto que, no caso da Região Sul, existe a associação dos casos de suicídio com a agricultura, especificamente a cultura da folha do tabaco. Segundo Fátima, a folha verde do fumo pode causar uma intoxicação neurológica em quem mantém um contato muito próximo, “o efeito dessa intoxicação é chamada bebedeira da folha verde do fumo”.

Além disso, o pesticida usado nessa cultura contém manganês, que é absorvido e depositado no sistema nervoso central. Fátima ressalta, entretanto, que esta é uma associação e que ainda não existe o nexo causal entre esse tipo de pesticida e os casos de suicídio.

“Então temos o risco ocupacional e a pressão social e econômica em cima de agricultores familiares. É uma exposição conjunta”, disse a diretora. Ela explicou que as políticas de incentivo para a diversificação das culturas no sul do país não tiveram um impacto importante pois o tabaco ainda é muito lucrativo.

Além da Região Sul e de áreas indígenas, esse levantamento trouxe novas áreas com altas taxas de suicídio, que são a região da divisa de São Paulo e Minas Gerais e o estado do Piauí. Segundo Fátima, esses locais ainda precisam ser mais estudos, mas também há uma associação ao uso de pesticidas e a agricultura.

Agenda global

Mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo. Por isso, em 2013, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um plano de ações em saúde mental que pretende reduzir em 10% da taxa de suicídio até 2020.

O coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Quirino Cordeiro, disse que o governo promovia ações na área de prevenção ao suicídio, mas agora que está começando a fazer uma política focada no tema. Uma das ações estratégicas é a construção do Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio, para ampliar as ações para as populações vulneráveis.

Segundo ele, o Ministério da Saúde quer expandir a rede de CAPS, inclusive entre a população indígena, além de outras estratégias de cuidados na saúde mental. É importante ainda cruzar os mapas para identificar possíveis associações de causas de suicídios, como a associação com pesticidas. Outros órgãos e ministérios serão convidados para apoiar futuras ações.

Quirino explica que as políticas de prevenção ao suicídio devem focar em dois fatores, nos transtornos metais e nos meios de suicídio. “Sabemos que entre os vários fatores para o suicídio existe a presença do transtorno mental não tratado de maneira apropriado, então ter políticas públicas focadas nesses transtornos é importante”, disse.

Outra frente de ações é o controle de meios para o suicídio, segundo Quirino, que tem um impacto importante na redução dessas mortes. “Muitas vezes quem comete suicídio está passando por problemas graves e acaba fazendo uma tentativa por desespero. Mas se não tem à mão um método, muitas vezes aquele momento passa e a pessoa não efetiva”, disse, explicando que o controle de armas é importante no Brasil, por exemplo, pois onde se restringe o acesso a armas, se reduz os casos de suicídio.

Acordo com o CVV

O Ministério da Saúde, desde 2015, tem uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que começou com um projeto-piloto no Rio Grande do Sul. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

O objetivo da parceria é ampliar gradualmente a gratuidade de ligações para o CVV, mesmo que por celular, por meio do número 188. Além do Rio Grande do Sul, a partir de 1º de outubro, pessoas de mais oito estados poderão ligar gratuitamente para o serviço: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima.

De acordo com o Ministério da Saúde, 21% da população brasileira reside nos nove estados a serem atendidos gratuitamente pelo CVV, o que garante uma ampla cobertura. O acordo já ampliou o número de atendimentos, de 4,5 mil em setembro de 2015, para 58,8 mil em agosto de 2017. Até 2020 todo o território nacional poderá contar com o atendimento pelo 188.

No restante dos estados, o CVV ainda atende pelo número 141 ou diretamente no posto regional. Em cidades sem posto de atendimento do CVV, as pessoas podem utilizar o atendimento por chat, skype e e-mail disponíveis na página do CVV.

O boletim epidemiológico sobre suicídio está disponível na página do Ministério da Saúde. A pasta também disponibiliza materiais de orientação para jornalistas, profissionais de saúde e população geral.

Por 
Andreia Verdélio

A partir da Agência Brasil. Leia no original


7 COISAS QUE VOCÊ NÃO DEVE DIZER PARA ALGUÉM COM DEPRESSÃO

9/15/2017

A depressão é um transtorno grave. Muitas vezes, ter boa vontade não é suficiente para conseguir ajudar quem tem a doença. Saber o que dizer (e o que não dizer) ajuda a mitigar o sofrimento.


A depressão é o problema psicológico mais recorrente em todo o mundo, vitimando adolescentes, jovens e adultos, sem distinção de sexo ou condição social. Se lidar com o transtorno é um grande desafio, demandando psicoterapia e, na maioria dos casos, o uso de antidepressivos, conviver com um quadro assim de forma menos direta, por acometer um familiar ou amigo, tampouco é fácil. Por uma parte, há uma imensa vontade de ajudar, de transmitir a energia necessária para que a pessoa consiga reagir e dar os primeiros passos rumo ao equilíbrio emocional e à cura; isso nem sempre é recebido como o esperado. Em outros casos, é possível que impere a dificuldade para entender os pormenores da situação, os sintomas e como o transtorno altera o curso da vida da pessoa; isso dificulta a comunicação e o relacionamento. Dizer a uma pessoa com depressão que há algo de exagero naquilo que sente fará com que se sinta ainda pior. É preciso entender que a depressão faz com que o mundo passe por um prisma de pessimismo e desalento. A verdade é que é difícil não haver frustração, já que a pessoa com depressão costuma fechar-se em si mesma, o que gera impotência em quem quer ajudar e não consegue. O apoio psicológico é o que pode ajudar a encontrar mecanismos eficientes para apoiar essas pessoas queridas. Entretanto, deixamos aqui algumas dicas para facilitar a comunicação e evitar que você provoque efeito contrário na pessoa que você deseja ajudar. Por isso, atento ao que nunca dizer: 1) Você está exagerando, não é tão mal assim Não se trata de minimizar o problema, dizendo que muitos passam por situações similares. O que será capaz de romper a barreira negativa que a rodeia é o fato de você se colocar à disposição para ser um aliado nessa busca por uma vida melhor, não julgando e fortalecendo a esperança na cura. A pessoa não escolhe interpretar a vida assim, por isso use empatia e ofereça acolhimento. Não tente forçar uma mudança de perspectiva; melhor tratar de transmitir a ideia de que o momento é duro, sim, mas que ela terá o apoio que necessita para encontrar uma via de escape. 2) Todos temos problemas, você precisa reagir Ninguém escolhe ter depressão. Cobrar uma reação que você considera "adequada" é colocar ainda mais pressão sobre a pessoa, que já se sente fragilizada e impotente. 3) Amanhã é outro dia e você se sentirá melhor Falar isso é fazer uma promessa, e você não tem os recursos necessários para cumpri-la. A pessoa com depressão sabe que o amanhã não será melhor, o que aumentará sua frustração. Prefira animá-la a fazer pequenas ações que podem trazer bem-estar imediato, como escutar uma música, comer algo que ela gosta, sair para caminhar… esses pequenos prazeres ajudam a desviar os pensamentos daquilo que mais angustia e provoca sofrimento. 4) Sei o que você está passando, porque já senti também Escutar que o outro também sofre não vai fazer qualquer diferença nesse processo. É preferível redobrar a dedicação à escuta e compreensão dos sintomas e do problema, para tirar conclusões que ajudem na hora de buscar soluções para a superação. Se há algo que ajuda a uma pessoa com depressão (ou outro transtorno) é ter uma via de diálogo aberta, que lhe permita falar do que sente, desabafar sobre sua dor, suas vontades não cumpridas e sua frustração. É normal que todas as atenções girem em torno da pessoa que tem depressão. O que muita gente não sabe é que, dificilmente, ela se sentirá cômoda ou confortável com isso. Falar de egoísmo é colocar a depressão como uma escolha, e não é. 5) Você precisa tomar o controle e melhorar de uma vez Não é questão de falta de vontade ou pouco esforço. Sair da depressão não é fácil, não é algo que se consiga sozinho, demanda tratamento com psicoterapia e medicamentos. A pessoa simplesmente está perdida e não vê o caminho para sair de todo esse sofrimento. Uma promessa de continuidade para uma pessoa com depressão significa uma promessa de mais sofrimento e mal-estar. Na maioria das vezes, a pessoa com depressão se sente presa e sem saída, tendo dificuldades para imaginar como terminará o dia, quanto mais para ir além no "aqui e agora". Não peça o impossível, pois estará colaborando para elevar a impotência a níveis máximos. Seja um ombro amigo e um apoio, independente de você entender ou não o caminho. 6) Vamos, a vida continua! Prefira dizer como sente falta de estar com ela e pergunte se há algo que possa fazer para ajudar. O melhor é tentar lembrar-lhe que há coisas pelas quais vale a pena seguir vivendo. Não cair na armadilha de criar uma lista, mas oferecer-se para ajudá-la a descobrir quais são. 7) Você está sendo egoísta É normal que todas as atenções girem em torno da pessoa que tem depressão. O que muita gente não sabe é que, dificilmente, ela se sentirá cômoda ou confortável com isso. Falar de egoísmo é colocar a depressão como uma escolha, e não é. Prefira dizer como sente falta de estar com ela e pergunte se há algo que possa fazer para ajudar.
 
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