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CARTA DE DESPEDIDA

10/24/2017
Reprodução
Esse texto do vídeo (reproduzido abaixo) é a história verídica de Thalia Mendes Meireles, de 16 anos, que sofreu abuso sexual durante dois anos. A jovem recorreu ao suicídio no início da noite do dia 14/04/2017, na cidade de Monção (MA). Na carta de despedida, ela relata o suposto abuso sexual e afirma que a mãe a tratava de forma fria. Thalia informa ainda que já havia tentado suicídio em outras ocasiões. Em depressão, a adolescente se isolou do mundo recorrendo às drogas, automutilação, sem que os familiares percebessem.
* * *



"Eu sei que a decisão que eu tomei foi totalmente desqualificada e imoral. Quem diabos é para tirar a própria vida?
Mas eu posso dizer uma coisa:Pra que serve o livre arbítrio? A vida é minha, a essência é minha. Respeitem.
As pessoas passam a vida inteira julgando tudo que vêem. Jogam palavras que não voltam, olhares que machucam, rejeitam, maltratam, usam. Isso dói, tá legal? O ser humano vai guardando isso dentro de si até formar uma grande bola prestes a explodir. Você pode ver uma pessoa sorrindo, parecendo feliz, mas não se engane, sempre há coisas além.
Por isso somos cegos. Nunca vemos além.
Aquela menina sentada de cabeça baixa tá precisando de ajuda. Mas o que as pessoas fazem? “Fulana está na bad”. Que sociedade maldita. Como se tristeza fosse algo irrelevante, que nao precisa de atenção. Idiotas. Quando é tarde eles se perguntam o que tinha de errado. Pais que não vêem seus filhos se cortando, se drogando, se destruindo. Escolas que não vêem o bulling debaixo do seu nariz. Pais que estrupam os filhos, mães que humilham, irmãos que rejeitam. Malditos. Malditos.

Eu não queria morrer. Eu penso que tenho um futuro pela frente. Eu sei que tenho.
Tudo isso acima faz a mente humana enlouquecer, sabia? Ela definha, fica angustiada e cheia de coisas inexplicáveis, pensamentos perigosos. Você vê no jornal aquele jovem que matou inúmeros estudantes e julga. Já parou pra pensar o que levou ele fazer aquilo? Será que não foi a hipocrisia e idiotice da sociedade? Essa sociedade que nos coloca em um lugar durante anos, em total humilhação e depois quer escolher um futuro pra nós. Ninguém nunca vê. Até que é tarde. Tnho mais amigos para fazer, mais músicas para escutar, mais pessoas para namorar, mais shows para ir. Tanta coisa. Mas sabe o que eu e outras milhões de pessoas pensam sobre isso? “Eu não tenho força de vontade para continuar. Eu não sou forte, eu não consigo seguir em frente sem derrubar mais uma lagrima”.

Ela era uma mãe tão atenciosa, o que aconteceu? Porque ela ficou tão alheia? Porque ela demonstra amar mais a meu irmão? Porque ela não me ama? Porque ela não me abraca e me beija assim como ela faz com meu irmão?
Sejam mais gentis, por favor. Amem mais, ajudem mais, vêem mais, peguem na mão de pessoas que estão se afogando. Dê sua mão. Dê um sorriso. Eu tenho inúmeros motivos para ter feito o que fiz. Meu próprio pai me abusou e foi por isso que eu morri por dentro. Eu fui morrendo durante dois anos. Fui vendo minha morte sem poder fazer nada a respeito. Quantos cortes eu não fiz? Eu até apelei a drogas, o que não resultou em nada. Meu pai iniciou a destruição. Minha mãe me tirou minha rotina e passou a assistir tudo em total inconsciência. Eu sei que ela via, mas quem disse que ela percebia? Porque ela me humilha por causa de um erro tão pequeno? Porque ela não pergunta como foi meu dia na escola? Porque ela não quer saber o motivo de eu estar tanto tempo trancada no quarto? Porque ela não pergunta o motivo de eu usar tanta blusa de manga comprida?

Eu irei deixar muita coisa no mundo e o mundo ira perder muita coisa. Eu sou diferente. Eu sou uma daquelas pessoas que os outros precisam .
Ela ta deixando eu morrer sem fazer nada. E eu não quero as lágrimas de meus pais. Eu sentiria nojo delas. Eu sentiria nojo porque eu passei a odiar meu pai e odiar minha nova mãe. Porque eu ainda amo aquela mãe que me abraçava e me beijava. É como se ela não me amasse mais porque fui usada pelo meu pai, como se ela sentisse nojo de mim. Sim, ela sabe do abuso, mas jogou pra debaixo do tapete. Assim como aquela maldita escola em que eu passei os piores momentos da minha vida. Eu ja tentei suicídio outras vezes. E isso e é horrível, porque eu já sei a sensação. Pensar em suicídio é uma coisa, mas planejar e ir no ponto é outra. Dá aquele aperto no peito, aquela sensação de frio na barriga. “O que acontecerá depois disso?” Eu não acredito em deus, eu creio que depois disso não há nada. Mas enfim, fazer isso é difícil. Eu sou muito covarde. As vezes acho que sou hipócrita porque eu vejo pessoas depressivas e vou ajudar, dar conselhos, tirar a pessoa daquela situação. Mas eu não faço isso comigo. Porque não dá mais. Droga, eu queria tanto ficar aqui. Porque ninguém me ajudou antes?

E quando forem se lembrar de mim, pensem em uma Thalia verdadeira. Aquela feliz que vocês viam era total mentira.
Ontem vi pessoas dizendo que a série 13 Reasons Why influência jovens a se suicidarem. Mas eu não acho isso. Eu Estava planejando tirar minha vida a meses e essa serie só fez eu parar e pensar: Estou prestes a fazer algo muito idiota”. Sim, eu tinha desistido de tirsr minha vida por causa de uma série, mas depois algo mudou. Eu voltei com a decisão . Então eu digo: Eu não me matei porque uma serie me influenciou, não pensem isso . Eu me matei porque eu não aguentava mais existir assim. Eu ja estava morta, o que mais eu serviria nesse mundo? Uma garota totalmente sem essência, sem nada por dentro. Já imaginou um oceano no meio da tempestade? O céu escuro? É assim dentro de mim. Mas tudo silencioso. Tudo muito destruído e silencioso. Tudo muito angustiante e doloroso. É dificil acordar de manhã e pensar: “Mais um dia em que irei ter lembranças más” “Mais um dia ao lado de pessoas que não me amam, que me odeiam””Mais um dia sentindo uma imensa vontade de chorar em todos os momentos” “Mais um dia desejando morrer” Então eu quero pedir que sejam mais tolerantes. Depressão não e é frescura. Não neguem ajuda a aqueles que estão angustiados, no fundo do poço. Adeus"

Thalia Mendes Meireles

YOUTUBER DIZ QUE CONVIVE BEM COM A DEPRESSÃO

10/24/2017
Ele é o terceiro youtuber brasileiro que mais tem inscritos em seu canal (cerca de 13 milhões), mas odeia preparar o ambiente para gravar seus vídeos. Tem 1,80m, mas muita gente pensa que ele é baixinho. É super parceiro do irmão, mas já ficou quatro meses sem falar com ele por causa de uma briga. Faz caras e bocas em seus vídeos, mas se recusa a falar com voz de neném com a namorada. Tem depressão. Faliu quatro negócios antes de fazer sucesso. 

Essas e outras curiosidades sobre Felipe Neto, 29, estão reunidas no livro "Felipe Neto - A trajetória de um dos maiores youtubers do Brasil", que foi lançado na Bienal do Livro do Rio de 2017.

"Decidimos chamar de livrão porque é mais  que uma revista e menos  que um livro. É uma espécie de almanaque, atrativo para todas as faixas etárias. Tenho atualmente um público muito abrangente, que inclui crianças, adolescentes e adultos", diz.

Origem humilde

Antes de estourar como youtuber, Neto morou com a mãe, com a avó e com o irmão numa casa no Engenho de Dentro. No livro, ele compartilha memórias da época em que vivia na zona norte da capital fluminense. 

"Cresci vendo a minha mãe administrando dívida atrás de dívida e, mesmo assim, nos deu uma educação exemplar., sempre reforçando a importância dos bons valores. Falávamos muito que não tem problema ser pobre, o problema é ser mau-caráter. Ela nunca nos deu a visão de que o dinheiro é a coisa mais importante da vida”, relata, em uma passagem da obra.

Depois, o youtuber morou por cinco anos em um apartamento no Flamengo, zona sul do Rio. Há um mês, mudou-se para a atual casa, localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. 

Da revolta aos cabelos coloridos

O sucesso repentino de Felipe Neto veio quando ele tinha 22 anos e criou o canal "Não Faz Sentido", em 2010. Com óculos escuros, ele fazia críticas agressivas sobre diversos assuntos em seus vídeos.

Depois, fundou a produtora de vídeos on-line "Parafernalha", que acabou lhe afastando da produção de conteúdo do canal por três anos. Em 2015, vendeu a produtora e quis voltar com o canal, mas ele já não fazia mais sucesso como antes. Era hora de mudar.

Em 2017, resolveu fazer um reposicionamento de imagem e se despedir de vez do personagem revoltado que encarnava em seu antigo canal. “[...] Bethany Mota foi a maior influenciadora do YouTube durante muito tempo, até que decidiu sumir um pouco e, ao retornar, nunca mais conseguiu se reestabelecer. Como ela, todos os outros youtubers no mundo  que tentaram voltar depois do sucesso, falharam", diz Neto.

Ele  conta que não havia mais espaço em sua vida para um conteúdo de crítica e revolta. A nova fase do youtuber girava em torno de paz, amor e tranquilidade. "Queria mostrar isso para as pessoas."

Atualmente, o canal de Neto é o sétimo mais assistido no mundo e o primeiro no Brasil --ambos na categoria humor--, com 160 milhões de visualizações por mês. A cada um milhão de inscritos, ele muda a cor do cabelo, que já foi platinado, azul, rosa, multicolorido, verde e vermelho.

Depressão

O sucesso repentino do youtuber fez com que ele desenvolvesse depressão em 2010. "Não tive um sucesso gradativo. Fiquei com medo de perder aquilo que conquistei, de fazer vídeo ruim, de não ser bom o suficiente. Imagina: um dia você está 'de boa' na casa da sua mãe, sendo designer gráfico, e dois meses depois você é expulso de um shopping pelos seguranças, por causa da muvuca que causou."

Neto contou com a ajuda do pai, que é psicólogo, para lhe ajudar. Atualmente, convive bem com a depressão, mas ressalta a importância de colocar o assunto em discussão, para desestigmatizá-lo.

Leitor compulsivo

Felipe Neto é apaixonado por livros. Não cursou faculdade, mas é autodidata. Ele conta que, atualmente, está apaixonado por literatura do século 19, mas lê sobre diversos assuntos, como marketing, negócios e games.

"Eu sou um péssimo aluno. Sempre funcionei muito mal tendo que aprender com alguém me ensinando, e isso me fez buscar alternativas para aprender sozinho. Sou autodidata, mas não no sentido 'gênio' da palavra. Eu aprendo com literatura. Não tenho faculdade mas leio compulsivamente."

Seu horário preferido para ler é durante a madrugada. Este é o horário em que ele está mais "ligado". Não é à toa que acorda ao meio-dia e dorme por volta das 4h30. 

A partir do F5. Leia no original
Imagem : Wikipédia

APÓS 3 CIRURGIAS NO CÉREBRO, GAROTA LANÇA LIVRO E PLANEJA FESTA

10/09/2017

Heloíza Maria Carmona Santos, 14, nasceu com hidrocefalia grave, e o diagnóstico era de que, se vivesse, poderia ser em estado vegetativo. Já fez três cirurgias para implantar válvulas no cérebro e hoje vive sem sequelas. Sem condições financeiras, organizou vaquinha on-line para colocar no mercado um livro, cuja renda ajudaria em sua festa de 15 anos. A arrecadação superou a meta e ela ganhou quase tudo para a festa.


*     *     *

Minha luta pela vida começou quando eu era bem pequenininha, logo que nasci. Com 12 horas de vida passei por uma cirurgia delicada para implantar uma válvula no cérebro. Ela drena a água que se acumula na minha cabeça, devido à hidrocefalia, e ajuda a me manter viva. A cirurgia era de risco, eu poderia ficar com sequelas graves ou em estado vegetativo.

Nada disso aconteceu. mas, em 15 dias, o aparelhinho deu problema e novamente fui parar no centro cirúrgico. Uma nova válvula teve que ser implantada. Não lembro como foi, mas sei que minha mãe sofreu muito e fez de tudo por mim.
De lá para cá eu levo uma vida normal, os meus "defeitinhos" não me impedem de fazer nada. Vou para a escola, brinco com meus amigos e meu irmão. Em casa tenho minhas responsabilidades. Sou eu quem cuido do Max, o cachorro, e também tenho que lavar a louça todos os dias, apesar de não gostar.

Sou apaixonada por ler e escrever. Amo os gibis da Turma da Mônica! E foi a partir daí que surgiu meu gosto pela escrita.
Quando eu tinha nove anos, um jornalista amigo da minha mãe me viu escrevendo e quis ler a minha crônica. Ele gostou tanto que me convidou para escrever para o jornal dele e uma vez por mês um texto meu é publicado.

Estava indo tudo muito bem, eu tinha uma vida como qualquer outra criança da minha idade, quando mais uma vez fiquei entre a vida e a morte.

No início do ano passado comecei a passar mal, desmaiava na rua e sentia dores muito fortes num dos braços. Não queria acreditar, mas minha válvula estava dando problema de novo e eu teria que trocá-la. Mais uma vez eles iam "abrir" a minha cabeça. E lá fui eu para o hospital.

Me internei e em poucos dias já passei pelo procedimento. Não é nada legal ficar no hospital, era tanta medicação que eu ficava enjoada e não conseguia comer. Era só biscoito de polvilho e iogurte. Vendo a situação, um médico bonzinho me deixou comer um lanche. Foi uma alegria só.

Sabia que a cirurgia era complicada e que eu tinha 50% de chance de vida. Poderia voltar sem falar, andar, em estado vegetativo ou até mesmo não voltar.

Na madrugada que antecedeu o procedimento, acordei às 3h com a enfermeira me dando medicação. Pedi para falar com minha mãe, ela não queria me ouvir, mas insisti.

Falei em seu ouvido, bem baixinho: "mãe, se eu voltar da cirurgia sem conseguir falar quero que você saiba que eu amo muito vocês e nunca vou esquecer tudo o que vocês fazem por mim. E, se eu não voltar, vou pedir muito para Deus me enviar de novo nessa família, porque eu sei o quanto sou amada. Minha mãe chorou".

Fiquei três dias sem sentir as pernas, pensei que iria usar uma cadeira de rodas, mas, mais uma vez, contrariei as expectativas e me recuperei bem. Saí de mais essa sem sequela, estou mais forte do que nunca.

Deus tem o controle de tudo e acredito muito nele. Ele é muito bom e se eu estou aqui até hoje é porque ele ainda não quis desligar o botãozinho que me mantém viva. Só tenho que aproveitar e agradecer. A gente não pode ficar reclamando de um negocinho pequenininho que não está dando certo. Tem gente que tem problemas muito maiores. A gente tem que ser feliz.

15 ANOS

Sempre sonhei com uma festa de 15 anos. Não precisava ser algo grande, só queria dançar a valsa. Mas, como não temos condições financeiras, iria comemorar apenas com um bolo. Eu estava feliz, mas ainda queria dançar a minha valsa. Foi aí que tive a ideia de juntar os textos que escrevia para o jornal e lançar o livro "O Sol que Brilha em Torno de Mim", com 40 crônicas sobre assuntos como política, cultura e coisas do dia a dia.

Contei a ideia para minha mãe, que aceitou o desafio e, com a ajuda de uma amiga, lançamos uma vaquinha on-line. Queríamos arrecadar R$ 5.000 para fazer e lançar o livro e, com a venda dele, eu poderia então pagar a minha própria festa de 15 anos, que vai ser no dia 20 de outubro.

O resultado nem eu esperava, mesmo. O assunto foi ganhando força e já arrecadamos mais do que pretendíamos. E ganhamos quase tudo para a minha festa. Nem nos meus sonhos mais fofinhos eu imaginaria que tudo seria assim.

A VALSA

Eu vou poder dançar valsa, e o príncipe que vai me acompanhar nesse momento já está escolhido, é o Álvaro, um menino da minha escola. Ele tem Síndrome de Down, começou a estudar comigo no começo deste ano e nos tornamos muito amigos.

Eu até poderia escolher um amigo de infância, alguém que eu conheço há mais tempo, mas o Álvaro me cativou. Ele é muito especial, ele preza pelo respeito ao próximo, trata todos muito bem, é um verdadeiro príncipe. Não tinha como não ser ele.

O LIVRO

O dinheiro da vaquinha vai ajudar no lançamento do meu livro, que deve acontecer em outubro. Ele já está pronto e foi levado para a gráfica. A procura já está grande, tem muita gente ligando pedindo para encomendar. Serão feitos 1.000 exemplares e torço para que todos gostem.

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
Imagem : Reprodução

SUICÍDIOS AUMENTAM COM CRISE ECONÔMICA E PRECONCEITO

10/08/2017

A cada 40 segundos, um suicídio ocorre no mundo. Ao todo, são 800 mil registros anuais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Embora tenha forte componente individual, determinantes sociais - como questões econômicas - também têm influência em diversos casos investigados. Episódios de suicídio são registrados em todos os países, mas segundo dados da OMS, 75% dos episódios ocorreram em nações de baixa e média renda em 2012.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) sobre austeridade e saúde diagnosticou, a partir da análise de diferentes estudos, que as crises econômicas e o consequente aumento do desemprego aumentam o risco de suicídio e de mortes decorrentes do abuso de álcool. O debate sobre o delicado tema é estimulado este mês, no âmbito do Setembro Amarelo, para sensibilizar a sociedade para a prevenção ao suicídio.

Falta de esperança, dificuldades de se enquadrar no ambiente social e econômico são problemas apontados pela autora da análise e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, Fabiola Sulpino Vieira.

Crise e austeridade

Em momentos de crise, a demanda por atendimento de saúde cresce, tanto pela degradação das condições de saúde quanto pela dificuldade de ter acesso a um serviço privado. Por isso, a possibilidade de ocorrência de suicídios pode aumentar com a adoção de políticas de austeridade.

“A crise gera uma série de problemas, à medida que você provoca uma situação de instabilidade muito forte. Quando vem a austeridade, que geralmente vem por meio do corte de despesas da área social, você acaba tirando possibilidades de mitigação dos efeitos da crise na vida das pessoas”, explica Fabiola.

Após analisar vários países que enfrentaram crises ao longo da história, a pesquisadora concluiu que aqueles que mantiveram políticas de reinserção das pessoas no mercado de trabalho e renda mínima, além de serviços públicos de saúde e educação, “não só mitigaram os efeitos da crise sobre a situação de saúde das pessoas, como também tiveram resultado em conseguir retomar o crescimento econômico em um prazo mais curto do que os que adotaram a austeridade”.

Enfatizando a necessidade de prevenção, o estudo alerta que “programas de proteção social e voltados para o mercado de trabalho podem reduzir o risco de desfechos negativos sobre a saúde mental e problemas relacionados ao abuso de álcool, além disso, podem promover a saúde e o bem-estar”.

A situação do Brasil

O Brasil não está fora desse quadro. O país tem taxa proporcional de suicídio baixa. Segundo o Ministério da Saúde, em 2014, foram registrados 10.653 óbitos por suicídio no Sistema de Informação de Mortalidade, taxa média de 5,2 por 100 mil habitantes, praticamente metade da média mundial, que é de 11,4 casos para o mesmo grupo. No entanto, tem sido diagnosticado um crescimento constante do número de ocorrências, especialmente, em relação a determinados grupos sociais.

Jovens

“Fatores puramente econômicos como o desemprego e a renda causam maior impacto sobre a taxa de suicídio ao grupo de pessoas mais jovens”, destacou o Ipea, em pesquisa sobre determinantes sociais do suicídio, publicada em 2010. Pressão social por sucesso e desemprego estrutural entre os jovens são alguns dos fatores que explicam essa situação, segundo o Ipea. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos no mundo, segundo a OMS.

Crescimento de ataques virtuais acende alerta sobre suicídio
A questão de gênero é outra questão destacada na análise. Verificando microdados do Ministério da Saúde relativos ao intervalo entre 2000 e 2010, o Ipea constatou que 79% das vítimas são do sexo masculino. Já estudo que trata da relação entre acesso às armas de fogo e suicídio destacou que, quando consideradas apenas as mortes cometidas com armas de fogo, esse percentual chega a 88%.

Brancos

A diferença racial não aparenta ser tão determinante na análise das ocorrências gerais. Há 5% a mais de vítimas brancas. Quando destacado o uso da arma de fogo, esse percentual aumenta em quase dois terços.

“Isto pro­vavelmente reflete que os indivíduos de cor branca são em média mais ricos que os não brancos e, portanto, possuem mais facilidade de adquirir armas de fogo”, avalia o Ipea. 

O estudo aponta ainda que a disponibilidade de armas desse tipo pode favorecer a ocorrência de suicídios, de forma geral.

Indígenas

O acesso às armas de fogo em regiões de fronteira ou nas regiões agrícolas, onde muitos conflitos são registrados, ajuda a compreender a distribuição geográfica das ocorrências. Exemplo disso é o número bastante elevado de suicídios em Mato Grosso e no Amazonas. Enquanto a média nacional é de 5,2 casos por grupo de 100 mil habitantes, nesses locais a taxa é de 13,6 e 11,9, segundo dados do Mapa da Violência 2017.

LGBTs

Em 2016, a ocorrência de casos desse tipo no âmbito da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) chamou a atenção do Grupo Gay da Bahia (GGB) que, todos os anos, produz relatório sobre violência homofóbica. O grupo registrou 26 suicídios, sendo 21 gays, três lésbicas e duas pessoas transexuais. O número deve ser maior, já que a pesquisa contabiliza apenas casos noticiados por jornais e pela internet.

Políticas públicas

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza acompanhamento psicológico e psicoterápico, incluindo terapia ocupacional, bem como assistência hospitalar a todas as pessoas com transtornos mentais ou problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas. 

Preocupado com o crescimento do número de suicídios, em 2006, o Ministério da Saúde publicou as Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio (Portaria 1.876/2006) e o manual dirigido aos profissionais das equipes de saúde mental dos serviços de saúde.

A iniciativa integra a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, que tem como objetivo reduzir as taxas de óbitos por esta causa, bem como as tentativas e os danos associados aos sujeitos envolvidos, além de estruturar a rede de suporte social e comunitária.

Em nota enviada à Agência Brasil, o ministério destacou que o Brasil está entre os 28 países, de um universo de mais de 160 analisados pela OMS, que tem uma estratégia de prevenção desse tipo. A portaria que estabelece a política está sendo avaliada pelo Comitê de Enfrentamento do Suicídio, criado recentemente pelo órgão, que deverá atualizar as diretrizes da estratégia.

O ministério também tem trabalhado em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV) – serviço que oferece apoio emocional por meio de ligação telefônica, a fim de evitar o suicídio – para ampliar o alcance do serviço de apoio gratuito por telefone para todo o país até 2020.

A partir da Agência Brasil. Leia no original
Imagem: Pexels 

A FACE FELIZ DE QUEM SOFRE DE DEPRESSÃO

10/05/2017
O vocalista do Linkin Park, Chester Bennington, com a mulher Talinda, em 2012; ele se matou neste ano

Trinta e seis horas antes de cometer suicídio, Chester Bennington, do Linkin Park, se divertia com a família num vídeo divulgado por sua mulher. "A depressão não tem rosto ou mau humor", escreveu Talinda, no Twitter.

Não sei como é para outras pessoas que sofrem com a doença, mas ouvi muitas vezes que eu parecia ótima. Eu queria estar bem, me divertir, voltar a experimentar aquilo que chamamos de felicidade. Desejava reencontrar a pessoa que sempre fui até sofrer uma crise de pânico e mergulhar numa tristeza profunda. Era a vontade de superar o problema que fazia com que, na maioria das vezes, eu não parecesse triste. Mas eu sabia que estava.

Durante mais ou menos um ano a hora mais feliz do meu dia era quando eu deitava na cama e fechava os olhos, com a esperança de que aquela noite de sono não terminasse nunca. Não era vontade de morrer, mas eu imaginava que se dormisse muito talvez acordasse mais disposta a ser feliz de novo.

Nunca era o suficiente. Nem o sono, nem os remédios, nem a paciência do meu psicanalista ou o infinito amor que recebi do meu marido e dos meus pais naquele período.

Eu queria estar bem. Me esforçava a reagir e parecer recuperada. Não podia decepcionar quem estava em minha volta. Então, eu tentava alcançar dentro de mim a pessoa que havia se perdido, mas durante a maior parte do tempo não tive forças para mergulhar tão fundo para resgatar aquela parte que havia naufragado.

Lembro que alternava entusiasmo exagerado em qualquer coisa que fizesse com dias e dias em que não queria sair de casa para nada. E era durante os episódios em que bancava a esfuziante que eu mais me enganava. E os outros acreditavam. E eu confiava no que eles viam.

Gostava de ouvir que estava bem, talvez eles conseguissem ver nitidamente o que eu não conseguia sentir. Em alguns momentos pensei que pudesse estar fingindo. Não estava. Estava tentando me arrancar daquele buraco. Mas entendi que a felicidade que eu transmitia era só a tarja preta que anestesiava a tristeza.

Funcionava. Cheguei a interromper a medicação, tudo com acompanhamento médico, porque me sentia melhor. Achava que tinha uma parte naquele processo que dependia apenas de vontade. Não adianta só querer. Levei um tombo. Mas foi dessa vez que entendi que dá para conviver pacificamente com a doença, embora os sintomas estejam apenas adormecidos.

Quase tudo que vivi naquele período parece meio nublado agora. Mesmo as lembranças dos bons momentos nem sempre têm a nitidez que a felicidade carimba em nossa memória. O cérebro não conseguia assimilar.

Não sei o que a depressão causa nos outros. Em mim, era como se a doença sufocasse no peito a pessoa alegre, divertida e bem-humorada que sempre fui. Era como se, por mais que eu tentasse, não conseguisse sentir prazer em pequenas coisas ou euforia nos grandes acontecimentos. Me olhava no espelho e não me enxergava. Passei um ano e meio da vida chapada de tristeza.

Deixei de fazer muitas coisas que gostava. O único prazer que eu tinha era afundar no sofá e beber. Beber até anestesiar os sentimentos e dormir noites intermináveis de sono. Tenho sorte. Muita gente não tem. Tornam-se alcoólatras, viciados em drogas, tiram a própria vida, tudo para fugir da dor de sentir-se triste.

Pessoas passam a vida lutando diariamente contra a depressão, algumas conseguem colocar a cabeça para fora da lama e respirar. Não sei o que funcionou no meu caso. Mas quando isso aconteceu, percebi que a doença tinha causado transformações em mim, inclusive fisicamente. Foi como se eu estivesse ficando sóbria aos poucos e me dando conta do estrago que ela tinha feito. E a ressaca é grande. Mas ela passa.

Imagine que você consegue recuperar o seu HD inteiro e ele te ajuda a lembrar quem você é, te mostra os caminhos que costumava fazer para sentir-se feliz. Dançar, correr, comer ovos mexidos no café da manhã, fazer piadas bobas, soltar o verbo. Você consegue se lembrar de como era antes da doença, que nem sempre teve que lidar com o desequilíbrio causado por suas emoções. Foi o que aconteceu comigo. E eu me agarrei a isso. E todos os dias faço um baita esforço para não soltar essa corda.

Hoje, sinto-me sóbria, e não porque não tomo mais remédios, mas porque voltei a experimentar sentimentos na intensidade que eles têm de fato. Fico feliz, alegre, decepcionada, animada e triste também. Faz parte da vida experimentar disso tudo no dia a dia. Já a depressão é um mergulho profundo na tristeza, mas nem sempre ela parece, aos olhos de quem está de fora, tão triste e devastadora quanto pode ser.

A partir do UOL. Leia no original

SETE MITOS SOBRE A FELICIDADE

9/28/2017

Não existe um manual para ser feliz. Muitas vezes ficamos à mercê de certos pensamentos e crenças que acabam nos sabotando, sabia? Há mitos sobre a felicidade que, além de nada realistas, fazem com que a gente deixe de viver plenamente. Esperar que grandes mudanças encham nosso coração de uma satisfação plena e imutável é apenas uma entre várias ideias equivocadas que cercam o tema.

1. Se eu emagrecer, fizer uma cirurgia plástica, viajar para o exterior, comprar um carro e/ou mudar de casa, serei mais feliz

É uma ilusão atribuir a felicidade à conquista de algo, mesmo de uma transformação na aparência. Todas essas coisas nos deixam alegres e até proporcionam entusiasmo por algum tempo, mas, efetivamente, não têm o poder de fazer ninguém feliz. Segundo o psicólogo norte-americano Shawn Achor, autor de "O jeito Harvard de ser feliz" (Ed. Saraiva), primeiro precisamos ter uma atitude mental positiva para depois atingirmos as conquistas materiais e vibrarmos com elas. A felicidade não é algo externo a nós, como temos tendência a idealizar, e sim interna. É o que o senso comum chama de “estado de espírito”. Senti-la é uma escolha de nossa responsabilidade, o que acaba assustando - por isso tendemos a idealizá-la como algo externo. Depois que a boa sensação vivenciada com uma viagem ou com a compra de um carro se esvai, se a pessoa tem um vazio interior a tendência é criar novas crenças e expectativas para preenchê-lo. E mais: há quem perca anos da vida reformando uma casa ou economizando para viajar e acaba deixando de lado várias circunstâncias felizes ao longo do caminho. É preciso ter objetivos, sim, mas sem virar escravo deles.

2. Quando eu ganhar mais dinheiro, encontrarei a felicidade

Não há dúvida nenhuma que o dinheiro proporciona acesso a certas coisas. Pesquisas mostram que até mesmo um simples aumento no salário pode deixar a pessoa mais feliz. Porém, depois essa felicidade se estabiliza e, muitas vezes, até cai. Mais do que ter um saldo bancário recheado, é fundamental aprender a viver com o que se ganha e a manter os boletos pagos em dia. Dívidas, contas atrasadas, cartão de crédito estourado e extrato no vermelho afetam o bem-estar físico e emocional.

3. A maternidade realiza a mulher

Para uma parcela das mulheres, sim. A maternidade promove mudanças emocionais profundas que transformam a vida significativamente. Porém, não deve ser encarada como a única ou maior realização feminina. Para qualquer mulher se sentir feliz de verdade, é preciso haver um equilíbrio entre os diversos papéis desempenhados em sociedade: mãe, esposa, amiga, amante, profissional, filha, etc. Vale lembrar que depositar toda a capacidade de encontrar satisfação nos ombros de uma criança é um peso muito grande para o filho.

4. Quando eu me apaixonar, serei feliz

Não necessariamente, viu? A paixão proporciona alegria e entusiasmo, mas não traz felicidade. Na verdade, durante o ápice ela atrapalha a razão e leva as pessoas a fazerem coisas sem sentido e, dependendo da habilidade e estrutura emocional, a chegarem a limites extremos. Entretanto, quando a paixão entra na maturidade, aí, sim, vira amor e faz a pessoa feliz. Mesmo assim, é importante aprender a gostar de si primeiro antes de amar alguém. Nós é que devemos ser responsáveis por nossa própria felicidade, em vez de atribuí-la aos outros.

5. Não se deve ostentar a felicidade, pois isso atrai inveja e olho gordo

Reflita: ao evitar demonstrar sua felicidade, você consegue usufruir 100% dela? Qual a serventia de disfarçar algo que se manifesta em seu olhar, no sorriso, em seus gestos, na expressão facial? Será que esse tipo de crença toma conta de seus pensamentos porque, na verdade, é você quem se incomoda com o sucesso e o bem-estar alheio? E, portanto, projeta nos outros algo que pertence a você? Enfim, quem quer ser feliz precisa se libertar da preocupação limitadora com a opinião alheia.

6. Meu tempo feliz já passou

Você é da turma que acredita que não dá pra ser feliz depois de uma certa idade? Acha que o auge da sua existência foi a adolescência ou relembra com saudosismo e pesar os dias gloriosos da sua infância? Continuar a viver assim só vai limitar a sua rotina. Ser feliz é uma questão de escolha, portanto é possível criar um cotidiano produtivo e interessante em qualquer momento da vida. Se você está respirando,  o aqui e o agora é o momento certo.

7. Felicidade é encontrar o trabalho perfeito

Todo trabalho é perfeito até que o tempo prove o contrário. Quando vislumbramos a possibilidade de trocar de emprego, o próximo sempre parece muito melhor do que o anterior. O ambiente diferente, os colegas novos, os desafios e os benefícios extras formam um cenário atraente e promovem uma sensação de realização plena. No entanto, à medida que o tempo passa, o doce sabor da novidade se esvai e o peso da rotina se impõe, trazendo de volta a insatisfação e demais sentimentos negativos anteriores. Não é o trabalho que deve te fazer feliz, e sim você precisa se sentir o mais feliz que pode com o trabalho que tem. E mais: um emprego sozinho não torna ninguém feliz. É preciso se sentir bem em família, com os amigos, na própria pele etc., ou seja, buscar contentamento contínuo e em todas as esferas.

Fontes: Hebe de Camargo, psicóloga especialista em depressão e em psicologia com ênfase em comunicação, arte e educação, de São Paulo (SP); Heloísa Capelas, especialista em inteligência comportamental, consteladora familiar, autora dos livros "O mapa da felicidade" e "Perdão – A revolução que falta" (Ed. Gente) e diretora do Centro Hoffman no Brasil, em São Paulo (SP); master coach Paulo Vieira, pós-graduado em gestão de pessoas, master coach e autor dos livros "O poder da ação" e Fator de enriquecimento" (Ed. Gente), e Sabrina Gonzalez, psicóloga e psicoterapeuta, de São Paulo (SP)

A partir do UOL. Leia no original
Imagem : Pexels

ATAQUES VIRTUAIS SERVEM DE ALERTA SOBRE SUICÍDIOS

9/27/2017

Apesar de ser um grave problema de saúde pública, com tendência de crescimento nos próximos anos, pois acompanha a expansão de doenças como a depressão, o suicídio ainda é um tabu no Brasil. Dificuldade de obter dados, preconceito e medo de estimular a prática ao falar sobre ela são fatores que dificultam a discussão e o desenvolvimento de políticas públicas, segundo estudos e especialistas consultados.

Neste ano, o silêncio que ronda o tema foi quebrado com a divulgação do Baleia Azul, o jogo virtual que envolveria o estímulo às mutilações corporais de jovens e até ao suicídio. O game virou tema de novela e mesmo de operação da Polícia Federal, que prendeu acusados de aliciar crianças e adolescentes por meio do Baleia Azul.

O fato trouxe à tona uma realidade comum: a ocorrência do assédio virtual, também chamado de cyberbullying. O debate sobre o delicado tema é estimulado este mês, no âmbito do Setembro Amarelo, para sensibilizar a sociedade para a prevenção ao suicídio.

Além do jogo, casos como o do jovem americano Tyler Clementi, de 18 anos, que se suicidou após ter fotos íntimas divulgadas pelo colega de dormitório, e da britânica Hannah Smith, de 14 anos, que se matou após receber ofensas na rede, têm chamado a atenção de pesquisadores e instituições públicas.

Segundo o integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP), Pablo Nunes, não há estudos confiáveis que comprovem a ligação direta entre crescimento do número de suicídios e ataques nas redes sociais. No entanto, indícios dessa relação pedem atenção ao ambiente online.

“O fato é que a popularização da internet tem propiciado a circulação de informações sobre métodos de se suicidar e a proliferação de grupos de pessoas em sofrimento. Nesses grupos, os participantes discutem meios, lugares e 'encorajam' uns aos outros. No caso da automutilação, são centenas as páginas e grupos dedicados. Em muitas escolas o fenômeno já virou problema sério”, explica Pablo Nunes.

Além disso, o pesquisador destaca que o anonimato  faz das mídias sociais um ambiente favorável para ataques.

Segundo o Safernet, organização não governamental (ONG) que recebe denúncias sobre crimes que ocorrem na internet, em 2016, 39,4 mil páginas da internet foram denunciadas por violações de direitos humanos, que incluem conteúdos racistas, de incitação à violência, que contém pornografia infantil, etc.

A ONG, que também oferece apoio às vítimas de crimes que ocorrem na internet, registrou no ano passado 312 pedidos de orientação e auxílio relacionados à intimidação ou discriminação na rede. A mesma quantidade de solicitações de apoio às vítimas do vazamento de fotos e vídeos íntimos, prática conhecida como sexting, foi registrada. Foi a primeira vez que o cyberbullying ocupou o primeiro lugar no ranking dos motivos que levaram a pedidos de ajuda. Já 128 casos relataram sofrimento devido a conteúdos de ódio e violência.

Ataques virtuais

A consultora em políticas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) e Direitos Humanos Evelyn Silva, de 43 anos, foi diagnosticada com depressão severa há mais de dez anos. Desde julho, a situação piorou depois que sofreu uma série de ataques na rede. Colunista de um site feminista, ela escreveu um texto sobre problemas recorrentes em relações entre lésbicas e bissexuais. A repercussão do texto veio junto a diversas mensagens violentas.

“O tema é polêmico, mas foi muito mais do que isso. Eu recebi mensagens de violência muito complicadas, de pessoas que eu não conheço, a maior parte da mensagem tinha cunho lesbofóbico. Chegaram a ameaçar a revista porque ela estaria dando guarida para uma 'bifóbica'”, relata a militante de direitos LGBT, que já havia sofrido ameaças de morte e “estupro corretivo” nas redes vindas dos chamados haters, pessoas que postam comentários de ódio na internet.

É ódio puro. As pessoas não têm a menor ideia de quem você é, mas elas estão ali colocando para fora uma opinião que elas nunca expressariam pessoalmente”.

Muitas mensagens evidenciavam que as pessoas não haviam lido o texto, pois faziam referência a temas não abordados nele. Evelyn também foi alvo de uma série de pedidos de bloqueio no Facebook, que acabou suspendendo sua conta por 24 horas e, depois, por 72 horas. Apesar de ter buscado explicar a situação à empresa, não obteve nenhuma resposta.

Depois dos ataques, Evelyn decidiu se afastar das redes sociais, o que não impediu, entretanto, que ela enfrentasse crises de transtorno de ansiedade e pânico, o que dificultaram atividades básicas como trabalhar e sair de casa. “Bati no fundo do poço”, afirma.

Monitoramento dos parentes

Evelyn revela que outros problemas ajudaram a reforçar o quadro de doenças e que ela chegou a pensar em cometer suicídio. Para evitá-lo, ela passa por um tratamento com monitoramento, uma técnica que envolve a presença constante e acolhedora de uma rede de amigos e parentes.

A consultora acredita que falar e expor a situação é importante para quebrar o tabu sobre o tema. A opinião é compartilhada por Pablo Nunes. “Preferir manter o suicídio no desconhecimento auxilia na manutenção do tabu, sendo mais difícil traçar ações de prevenção e sensibilização”.

O pesquisador explica que uma cobertura responsável da mídia, em vez de produzir o temido efeito de contágio, é considerada importante pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que oferece manuais e treinamento para jornalistas sobre como reportar casos.

Ao falar sobre suicídio, é preciso que também sejam apontados mecanismos de prevenção.

No ambiente da rede, isso começa com a adoção de mecanismos de proteção, como uso de aplicativos seguros para compartilhamento de fotos íntimas para pessoas conhecidas; cuidados com senhas; denúncias de agressores; busca de delegacias especializadas, quando necessário, e, principalmente, informação.

“Um adolescente que sabe como funciona determinado aplicativo, que entende as questões relacionadas ao anonimato e enxergue os potenciais prejuízos de um vazamento de informações pessoais possa ter, será um indivíduo que certamente prevenirá que situações como essas aconteçam”, defende o pesquisador.

A partir da Agência Brasil. Leia no original

SUICÍDIOS NO BRASIL : 11 MIL TIRAM A PRÓPRIA VIDA POR ANO

9/24/2017

Cerca de 11 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no Brasil. De acordo com o primeiro boletim epidemiológico sobre suicídio, divulgado hoje (21) pelo Ministério da Saúde, entre 2011 e 2016, 62.804 pessoas tiraram suas próprias vidas no país, 79% delas são homens e 21% são mulheres. A divulgação faz parte das ações do Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção ao suicídio. 

A taxa de mortalidade por suicídio entre os homens foi quatro vezes maior que a das mulheres, entre 2011 e 2015. São 8,7 suicídios de homens e 2,4 de mulheres por 100 mil habitantes.

Para a diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não-Transmissíveis e Promoção da Saúde, Fátima Marinho, esse número é maior pois há uma perda de diagnóstico dos casos de suicídio. Segundo ela, nas classes sociais mais altas há um tabu sobre o tema, questões relacionadas a seguros de vida e diagnósticos feitos por médicos da família. “As pessoas mais pobres, em geral, captamos a morte porque ele vai pro IML [Instituto Médico Legal]”, explicou.

Das 1,2 milhão de mortes, em 2015, 17% tiveram causa externa. Dessas 40% são registradas por causas não determinadas, segundo Fátima. “Ainda tem 6% de mortes que ainda não conseguimos chegar na causa. São cerca de 10 mil mortes que foram por causa externa, violenta, mas não sabe porquê. Por isso temos esse subdiagnostico do suicídio”, disse.

No Brasil, os idosos, de 70 anos ou mais, apresentaram as maiores taxas, com 8,9 suicídios para cada 100 mil habitantes, mas, segundo Fátima, em números absolutos, a população idosa vem aumentando. Além disso, eles sofrem mais com doenças crônicas, depressão e abandono familiar. Ela explica que esse índice alto de suicídio entre idosos é observado no mundo todo.

Os dados apontam que 62% dos suicídios foram causados por enforcamento. Entre os outros meios utilizados estão intoxicação e arma de fogo. Fátima conta que nos Estados Unidos são registrados mais suicídios por armas de fogo porque o acesso é mais facilitado.

A proporção de óbitos por suicídio também foi maior entre as pessoas que não têm um relacionamento conjugal, 60,4% são solteiras, viúvas ou divorciadas e 31,5% estão casadas ou em união estável. “E os homens casados se suicidam menos. O casamento é um fator de proteção para os homens e de risco para as mulheres”, disse Fátima, explicando que existe uma associação das tentativas de suicídio das mulheres com a violência intradomiciliar. Ela compara que as mulheres tentam mais e, por outro lado, os homens anunciam menos, mas são os que mais morrem por suicídio.

Entre 2011 e 2015, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil foi maior entre a população indígena, sendo que 44,8% dos suicídios indígenas ocorreram na faixa etária de 10 a 19 anos. A cada 100 mil habitantes são registrados 15,2 mortes entre indígenas; 5,9 entre brancos; 4,7 entre negros; e 2,4 morte entre os amarelos.

Para Fátima, o alto risco de suicídio entre jovens indígenas compromete o futuro dessas populações, já que elas também há um alto risco de mortalidade infantil.

Segundo a secretaria especial de Saúde Indígena, Lívia Vitenti, existe um número alto de indígenas em sofrimento por uso álcool, disputas territoriais e conflitos com a família e com a população não indígena. Entre os jovenes, então, há falta de perspectivas de vida. Entretanto, o problema do suicídio indígenas não está distribuído por todo o território, sendo mais frequente entre os Guarani Kaiowá, Carajás e Ticunas.

Tentativas de suicídio

As notificações de lesões autoprovocadas tornaram-se obrigatórias a partir de 2011 e elas seguem aumentando. Entre 2011 e 2016, foram notificadas 176.226 lesões autoprovocadas; 27,4% delas, ou seja, 48.204, foram tentativas de suicídio.

As tentativas de suicídios são mais frequentes em mulheres. Das 48.204 pessoas que tentaram tirar a própria vida entre 2011 e 2016, 69% era mulheres e 31% homens. A proporção de tentativas de suicídio, de caráter repetitivo também é maior entre as mulheres. Entre 2011 e 2016, daqueles que tentaram suicídio mais de uma vez, 31,3% são mulheres e 26,4 são homens.

O meio mais utilizado nas tentativas de suicídio foi por envenenamento, 58%. Seguido de objeto pérfuro-cortante, 6,5%; enforcamento, 5,8%.

Fatores de risco e proteção

Entre os fatores de risco para o suicídio estão transtornos mentais, como depressão, alcoolismo, esquizofrenia; questões sociodemográficas, como isolamento social; psicológicas, como perdas recentes; e condições incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e neoplasias malignas. No entanto, o Ministério da Saúde ressalta que tais aspectos não podem ser considerados de forma isolada e cada caso deve ser tratado de forma individual.

Segundo o Ministério da Saúde, a existência de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) no município reduz em 14% o risco de suicídio. Na análise feita, é o único fator de proteção ao suicídio. Fátima ressalta, entretanto, que é preciso uma melhor distribuição desses centros, principalmente nas áreas com mais concentração de suicídios. Existem hoje no Brasil 2.463 Caps em funcionamento.

Como a ocorrência de suicídio é grande entre os indígenas, ser indígena por si só já é um fator de risco, explicou Fátima. Pessoas que trabalham na agropecuária, que tem acesso a pesticidas, também são vulneráveis a cometerem suicídio por intoxicação.

Os casos acontecem em quase todo país, mas Região Sul concentrou 23% dos suicídios, entre 2010 e 2015. Segundo Fátima, alto nível de renda, pouca desigualdade social e baixo índices de pobreza são características de municípios que concentram mais suicídios.

Ela explica, entretanto que, no caso da Região Sul, existe a associação dos casos de suicídio com a agricultura, especificamente a cultura da folha do tabaco. Segundo Fátima, a folha verde do fumo pode causar uma intoxicação neurológica em quem mantém um contato muito próximo, “o efeito dessa intoxicação é chamada bebedeira da folha verde do fumo”.

Além disso, o pesticida usado nessa cultura contém manganês, que é absorvido e depositado no sistema nervoso central. Fátima ressalta, entretanto, que esta é uma associação e que ainda não existe o nexo causal entre esse tipo de pesticida e os casos de suicídio.

“Então temos o risco ocupacional e a pressão social e econômica em cima de agricultores familiares. É uma exposição conjunta”, disse a diretora. Ela explicou que as políticas de incentivo para a diversificação das culturas no sul do país não tiveram um impacto importante pois o tabaco ainda é muito lucrativo.

Além da Região Sul e de áreas indígenas, esse levantamento trouxe novas áreas com altas taxas de suicídio, que são a região da divisa de São Paulo e Minas Gerais e o estado do Piauí. Segundo Fátima, esses locais ainda precisam ser mais estudos, mas também há uma associação ao uso de pesticidas e a agricultura.

Agenda global

Mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida por ano no mundo. Por isso, em 2013, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um plano de ações em saúde mental que pretende reduzir em 10% da taxa de suicídio até 2020.

O coordenador de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Quirino Cordeiro, disse que o governo promovia ações na área de prevenção ao suicídio, mas agora que está começando a fazer uma política focada no tema. Uma das ações estratégicas é a construção do Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio, para ampliar as ações para as populações vulneráveis.

Segundo ele, o Ministério da Saúde quer expandir a rede de CAPS, inclusive entre a população indígena, além de outras estratégias de cuidados na saúde mental. É importante ainda cruzar os mapas para identificar possíveis associações de causas de suicídios, como a associação com pesticidas. Outros órgãos e ministérios serão convidados para apoiar futuras ações.

Quirino explica que as políticas de prevenção ao suicídio devem focar em dois fatores, nos transtornos metais e nos meios de suicídio. “Sabemos que entre os vários fatores para o suicídio existe a presença do transtorno mental não tratado de maneira apropriado, então ter políticas públicas focadas nesses transtornos é importante”, disse.

Outra frente de ações é o controle de meios para o suicídio, segundo Quirino, que tem um impacto importante na redução dessas mortes. “Muitas vezes quem comete suicídio está passando por problemas graves e acaba fazendo uma tentativa por desespero. Mas se não tem à mão um método, muitas vezes aquele momento passa e a pessoa não efetiva”, disse, explicando que o controle de armas é importante no Brasil, por exemplo, pois onde se restringe o acesso a armas, se reduz os casos de suicídio.

Acordo com o CVV

O Ministério da Saúde, desde 2015, tem uma parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que começou com um projeto-piloto no Rio Grande do Sul. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

O objetivo da parceria é ampliar gradualmente a gratuidade de ligações para o CVV, mesmo que por celular, por meio do número 188. Além do Rio Grande do Sul, a partir de 1º de outubro, pessoas de mais oito estados poderão ligar gratuitamente para o serviço: Acre, Amapá, Mato Grosso do Sul, Piauí, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima.

De acordo com o Ministério da Saúde, 21% da população brasileira reside nos nove estados a serem atendidos gratuitamente pelo CVV, o que garante uma ampla cobertura. O acordo já ampliou o número de atendimentos, de 4,5 mil em setembro de 2015, para 58,8 mil em agosto de 2017. Até 2020 todo o território nacional poderá contar com o atendimento pelo 188.

No restante dos estados, o CVV ainda atende pelo número 141 ou diretamente no posto regional. Em cidades sem posto de atendimento do CVV, as pessoas podem utilizar o atendimento por chat, skype e e-mail disponíveis na página do CVV.

O boletim epidemiológico sobre suicídio está disponível na página do Ministério da Saúde. A pasta também disponibiliza materiais de orientação para jornalistas, profissionais de saúde e população geral.

Por 
Andreia Verdélio

A partir da Agência Brasil. Leia no original


 
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