Chove e chove e chove, sem parar...
O dia fica mais escuro e nos remete, sem querer, ao passado. Em uma viagem onde tudo era simples e brincar na chuva, nada mais era do que uma maneira de se divertir e ser feliz.
Me lembro que quando ameaçava chuva, esperava ansiosa para poder correr pra ela e me molhar e andar debaixo do beiral da casa, onde formava uma cortina de água. Depois corria pra rua e quando a chuva já estava mais forte a ponto de formar uma enxurrada na beira do meio fio, eu me sentava para bloquear o caminho da água e fazer com que passasse por cima das minhas pernas. Ou, ainda, quando não me atrevia a tanto, colocava meus pés, um na frente do outro pra fazer a mesma barragem. E ficava ali, olhando, como se fosse a coisa mais legal do mundo. Sem falar no barquinho improvisado que fazia, de papel, e deixava correr como se tivesse rumo certo e pressa em chegar ao destino: “bueiro”.
Não me lembro de ter ficado doente ou pego alguma bactéria por ter cometido tamanho desatino...rs
Me lembro também, das vezes em que passava férias na casa da minha avó, no sítio, e lá me deparava com uma outra espécie de chuva. Uma que chegava apavorando, gritando e esparramando tudo o que via pela frente. Com direito a pedras e tudo mais. E quando a coisa ficava mais séria, minha avó mandava a gente se esconder debaixo da mesa, pois havia o risco do granizo quebrar as telhas e elas caírem sobre a gente. É, porque não tinha forro, nem laje como é tão normal nos dias de hoje. Na hora era um pavor só, mas ao mesmo tempo, uma aventura que, duvido muito, que alguma criança tenha nestes tempo.
Antigamente as casas eram pequenas, as pessoas ficavam mais unidas, tanto no carinho quanto nas horas de medo. Não tinha muito pra onde correr, era só rezar pra que a chuva fosse embora sem fazer muitos estragos.
Hoje temos construído casas gigantes, com muitos cômodos, muitas salas e muitos banheiros, sendo que, na verdade pouco usufruímos de tudo isto. Já não nos satisfazemos com uma casa térrea, precisamos ter um andar, dois... e nem sempre sente-se o calor e a sensação de um lar, de que ali abriga uma família. Parece mais uma caixa grande, dividida em várias caixinhas, com pessoas espalhadas por ali.
Temos salas, que em metros quadrados, tem o mesmo tamanho de pequenas residências. O mesmo tamanho das nossas casas na infância, onde éramos felizes e o pouco espaço não diminuía em nada esta felicidade.
Li uma frase estes dias no Facebook, onde dizia “sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos”. É a mais pura verdade. Somos exigentes demais e quando pensamos em uma fase em que a vida tenha sido maravilhosa, vamos direto para a infância, onde tínhamos muito menos, mas éramos muito mais.
A chuva ainda continua, o domingo vai se acabando devagar e amanhã talvez venha o sol ou mais chuva (quem sabe?!), mas com certeza uma nova oportunidade de diminuir os erros e sermos melhores que hoje.