Eu não tenho uma história propriamente dita, afinal, só tenho 17 anos. Pensar que com essa idade já penso em dar um fim a minha vida, estranho não é? Perspectivas e sonhos ainda podem ser concretizadas porém, eu não tenho mais vontade de saber o que vai acontecer amanhã. Gosto de permanecer na minha zona de conforto, todos os dias eu levanto, vou para escola e lá eu sorrio, finjo estar completamente bem mas, choro todos os dias por razões não muito importantes mas, choro por mim, choro por ter me perdido e por perceber a cada dia que passa que o mundo em que vivemos é mais frustrante do que eu acreditava que fosse.
Não sou protagonista da minha história para me utilizar como personagem principal, mas acredito que tenha que expor minha história, então, vamos lá. Nasci doente, não uma doença pesada que gerasse coisas muito ruins mas, tudo começa ali, um erro, um fardo e uma irmã perfeita - perfeita mesmo, uma irmã sensacional - pais queridos e amorosos porém, briguentos e com algumas palavras rudes as quais ninguém é capaz de esquecer.
A vida escolar anteriormente era promissora, agora, infelizmente, estou fadada ao extremo fracasso e os professores costumam dizer que “quem for mal nisso nunca vai passar no vestibular” o que me deixa ainda mais desacreditada: para que lutar se já sou dada como derrotada? Isso é o que me pergunto todos os dias quando me levanto, quando me deito e até quando vou assistir televisão. Eu não consigo ter vontade de ler, não consigo ter vontade de sair porque me sinto extremamente cansada, com a mente pesada.
Nada de grave aconteceu comigo e você até pode pensar que sou uma ridícula por cogitar suicídio mas, tudo isso tem um sentido: o mundo, sim, ele mesmo, ele é uma grande mentira, ele é cheio de maldade e pouco importa se tens o coração bom ou mau: isso não consta no currículo muito menos lhe dá capacidade de fazer algo e, no fim, poucos valorizam aquilo que para mim é de verdade.
O mundo parece muito errado e costumam dizer “então o mude”, olhe em torno as bases arcaicas as quais utilizamos como suporte. Todas elas intransponíveis, todas elas maciças e, infelizmente, tristes. Quando eu era menor eu olhava para o céu e conseguia ver muita coisa, conseguia fitar a imensidão azul e senti-la dentro de mim mas, hoje, me sinto oca, acabada, saturada e sem nenhuma razão ou objetivo de vida. Eu sei que aparentemente tenho muita vida pela frente mas, em vez de isso me dar esperanças, me assusta.
Às vezes eu quero gritar e dizer o quanto isso está errado porém eu sou como todos os outros: eu sou má e tento fingir que não porque lidar com isso é horrível. Eu costumo riscar a parede de casa, surtar com músicas, arrancar meus próprios cabelos enquanto choro, ingerir remédios para dormir, ingerir remédios com bebidas porque me canso. Antes eu odiava bebidas, repugnava toda e qualquer droga, porém hoje, mesmo que não use frequentemente, eu entendo quem as usam, afinal, para mim faz todo o sentido querer fugir de tudo isso. Eu queria ser forte, eu queria acreditar, e eu acredito em Deus, acredito que ele cuide de todos nós porém, estragamos tudo, colocamos maldade em tudo aquilo considerado bonito.
Às vezes prefiro pensar que Deus esqueceu de mim porque está cuidando de pessoas que precisam muito mais que eu. E eu entendo, eu entendo que eu só estou dramatizando minha situação, mas, a cada dia que passa eu menos sei porque vive e mesmo vendo nos olhos das pessoas que amo meu reflexo, não consigo me enxergar ali. Não gosto de falar disso, não quero falar disso, eu não quero ser a egoísta que pensa em suicídio sem nunca ter passado por algo horrível mas, a pior merda é se sentir mal sem ter razões para isso, saber que está sendo fútil e ridícula mas, me perdoe, eu me sinto assim. Eu tinha sonhos, muitos, e eu costumava me visualizar em histórias, porém, meus sonhos foram esmagados com o tempo e não consigo mais ter predições para o futuro: só decepções.
Eu queria ser escritora, eu quero ser, eu quero que algum dia pessoas leiam minhas palavras mas isso nunca vai acontecer, primeiro porque pelo que vê meu texto é horrível e segundo porque eu não sei se vou viver muito ou pouco. Eu tenho medo de lâminas, de remédios, de sequelas e de me atirar da ponto, na verdade eu tenho medo da dor mesmo que esteja sangrando internamente. Eu só queria conseguir dize um adeus descente e, também, queria ter coragem de acabar com isso, com tudo, eu sei que isso é covarde, afinal, só corajosos vivem, mas eu cansei de fingir ser uma super-heroína, sou mais frágil do que muitos imaginam e mesmo que eu soe extremamente engraçada e feliz isso é só para que você possa sorrir, pelo menos, possa sorrir mais que eu.
Sinto muito se isso não contribuiu com sua vida, com seus sonhos, mas eu quero que lute por nós e por mim, eu ainda me importo, eu ainda quero ajudar aquela velhinha a atravessa a rua e tentar conscientizar o mundo que jogar lixo no chão é errado e, por fim, mostrar que não é preciso um diploma para isso… eu ainda quero isso mais que tudo, mesmo que pareça utópico, eu prefiro pensar assim, faz com que eu continue, mesmo que infeliz me faz ter um fio de esperança, um fio que me segura apesar de estar prestes a cair.
Depoimento de F.
Imagem : Pexels
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