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MÉDICOS ESPÍRITAS ABORDAM DEPRESSÃO EM LIVRO

3/24/2013

Três médicos da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais,  publicaram pela AME-BRASIL o livro “Depressão: abordagem médico-espírita” (São Paulo: Associação Médico-Espírita do Brasil, 2ª. edição, 2006. 192 p.). Trata-se de uma coletânea de textos sobre o assunto. Sua abordagem baseia-se em revisões de literatura e publicações sobre o tema de duas fontes distintas: médica e espírita. O livro emprega uma linguagem direta e clara, porque é voltado ao grande público, apesar de tratar de alguns temas técnicos.

Roberto Lúcio (psiquiatra) apresenta o diagnóstico, uma diferenciação conceitual entre depressão, tristeza e melancolia, as alterações orgânicas e neurofisiológicas, a abordagem cognitiva e as diferentes abordagens terapêuticas, incluindo a espírita, que considera a obsessão, os passes, o auto conhecimento e as atividades sociais.

Jáider (psiquiatra) trata da depressão e da ética. Oswaldo Heli (cardiologista) faz uma dissertação breve sobre a associação entre depressão e doença cardíaca, e comenta muitos casos descritos pelo espírito André Luiz.

Há a intenção de se discutir alguns mitos correntes no movimento espírita, oriundos do senso comum. Eles envolvem um desconhecimento sobre a visão psiquiátrica da depressão, que vai do seu conceito às fantasias sobre o tratamento com medicamentos “tarja preta”. Eles defendem a articulação entre o tratamento médico e as propostas do movimento espírita, sem fazer apologia destas.

A experiência dos autores e seu domínio técnico fazem do livro uma referência importante ao movimento espírita, especialmente às atividades de orientação do público que procura os centros espíritas para encontrar alternativas para seus problemas pessoais.
A partir de Espiritismo Comentado. Leia no original

JORNALISTA SE AUTO-MUTILAVA E TENTOU SUICÍDIO

3/22/2013
A vida pode se tornar muito cruel ao ponto de acharmos ser insuportável continuar. A jornalista Emma Forrest passou por isso. No desespero, feria a si própria com gilete e tentou se matar. Mas seu destino era outro. Aos 22 anos, a jornalista, escritora e roteirista Emma parecia levar uma vida maravilhosa: havia deixado a casa dos pais em Londres, cidade onde foi criada, para morar em Nova York, tinha um contrato com o jornal britânico The Guardian e estava prestes a publicar seu primeiro livro.

Mas, por trás da aparência bem-sucedida, havia uma jovem com sérios problemas psiquiátricos, que se cortava com gilete, sofria de bulimia e era extremamente autodestrutiva. Em Sua voz dentro de mim, Emma apresenta suas memórias, sem medo de expor o lado mais escuro que guarda dentro de si.

O livro começa com a autora descrevendo sua obsessão pelo quadro Ofélia, de Millais, em exposição na Galeria Tate, em Londres. Aos 13 anos, Emma passava as tardes observando a pintura, que retrata a namorada suicida de Hamlet, personagem da obra de Shakespeare.

Conforme lista outras de suas peculiaridades, bem como alguns aspectos curiosos de sua família, Emma direciona os leitores para a conclusão a que ela mesma chegou quando morava em Nova York: havia cruzado a fronteira que separa os excêntricos dos maníaco-depressivos.

Ao chegar ao ponto em que não sentia quase nada, somente dor e tristeza, Emma começa a frequentar o consultório do psiquiatra a quem se refere como Dr. R. Ainda assim, após algumas sessões, ela tenta o suicídio e vai parar na emergência de um hospital.

Levada pela mãe para terminar de se tratar na Inglaterra, a autora continua a ver o Dr. R quando volta aos Estados Unidos. Durante oito anos, ela é paciente dele, que tem papel fundamental em sua recuperação.

Quando tudo parecia bem – as visitas ao Dr. R tinham se tornado esporádicas e ela achava que havia encontrado o amor de sua vida –, a notícia da morte do médico cai como uma bomba e pode ameaçar seu progresso.

Sua Voz Dentro de Mim também fala dos relacionamentos amorosos de Emma. Um deles, em especial, chama a atenção: o namoro com o ator Colin Farrell, cujo nome não é citado no livro. Ela se refere a ele como seu “Marido Cigano”, ou simplesmente MC, e revela que se trata de uma estrela do cinema. Os dois ficaram juntos durante cerca de um ano, viveram uma história intensa e chegaram a fazer planos de ter um filho, mas Farrell decidiu botar um ponto final no caso, tempos depois da morte do Dr. R.

Sem o psiquiatra para apoiá-la, Emma terá que reunir forças para superar sozinha mais essa perda.
Apesar de toda a dor e do mergulho profundo na depressão e na autodestruição que permeiam o livro, Emma Forrest consegue explorar a beleza do amor e falar de superação ao longo das páginas. De quebra, ela ainda faz refletir sobre a relação que temos com nós mesmos. Ainda neste ano, Sua Voz Dentro de Mim deve chegar às telas do cinema, com a atriz Emma Watson no papel de Emma e o ator Stanley Tucci como o Dr. R.
A partir do R7. Leia no original

NO FUNDO DO POÇO NÃO TEM MOLA

3/20/2013
Divulgação
“No Fundo do poço não tem mola” (Editora Letra Livre) é o quarto livro da carreira da autora sul-mato-grossense Theresa Hilcar. Nesta obra a autora trata da depressão como patologia e seus aspectos filosóficos e sociais. O livro teve investimento do FIC (Fundo de Investimentos Culturais). O lançamento será hoje,19 de março, na livraria Leparole, às 18h30.

O livro retrata um pouco do universo da autora, um conjunto de crônicas de uma mulher que assume sem pudores fazer parte das estatísticas cujos números apontam a existência de milhares de mulheres com a mesma patologia. A depressão, segundo a autora, é tratada sempre com reservas e no mais absoluto silêncio pela maioria das pessoas É quase um despir-se existencial, um diário que se torna público.

As crônicas de Theresa Hilcar escritas como exercício de exorcizar a dor, tem o mérito de quebrar este silêncio e trazer à superfície questões como preconceito e os estigmas impostos pela sociedade que obriga as pessoas a serem felizes o tempo todo. A tristeza, segundo a autora, é algo incômodo para quem não a compreende. Questionamentos mais profundos a respeito da vida e das suas vicissitudes são explorados na obra. Apesar de tratar da tristeza, o livro não é enfadonho, mas leva o leitor a se deliciar com um texto preciso e ao mesmo tempo reflexivo.

Theresa Hilcar
Os leitores serão quase cúmplices de Theresa Hilcar, conhecendo segredos quase inconfessáveis da jornalista. No prefácio escrito pela professora Maria Adélia Menegazzo ela escreve:”... Há, no entanto, um aspecto nestas crônicas que as torna memoráveis. Theresa Hilcar toca a poesia na medida em que impõe cadência às palavras e que, numa certa medida, obriga-se ao uso de frases curtas, sem excessos, com pouca adjetivação. Desta forma, provoca uma leitura quase que vertical de suas frases, como se fossem versos. Filtra, assim, pela razão, a emoção, o sentimento lírico. A crônica é tanto melhor, quanto mais explore este aspecto, quanto mais revista o cotidiano e suas circunstâncias deste repensar subjetivo e raro” tipifica Menegazzo.

A autora já publicou três livros “O outro lado do peito”, “Tereza toda terça” e “No trem da Vida”. A jornalista é cronista no Jornal Correio do Estado. Thereza Hilcar é membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.
A partir de Midiamax. Leia no original

LIVRO FALA DO SUICÍDIO E SUA PREVENÇÃO

2/05/2013
A Editora Unesp acaba de lançar o livro "O Suicídio e sua Prevenção", de José Manoel Bortolote ( 142 págs., R$18,00), obra na qual o autor trata de algumas perguntas que ainda não tiveram resposta ao tratar sobre o tema. Afinal, o suicídio sempre existiu, mas continuará fazendo parte da experiência humana para sempre? O “direito” ao suicídio deveria ser assegurado? Ou, ao contrário, a sociedade deve se mobilizar cada vez mais para tentar evitar os comportamentos suicidas? Por trás de questões como estas existem dados alarmantes, que explicam porque o suicídio se tornou um problema de saúde pública: a taxa de ocorrências está em crescimento no mundo, que já contabiliza cerca de um milhão de suicídios por ano. Essas mortes trazem consequências sérias para cinco a dez milhões de “sobreviventes”, entre familiares e amigos, além de perdas econômicas expressivas.


Nesta obra, o médico José Manoel Bertolote, que recebeu o prêmio Ringel Service Award, da International Association for Suicide Prevention, órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS), aborda o assunto de forma analítica e do ponto de vista da prevenção, a partir de uma perspectiva holística acerca das causas dos comportamentos suicidas. Ele resgata as formas como a humanidade interpretou o suicídio ao longo da história e integra essas visões, criando um paradigma biopsicossocial que agrega aspectos culturais e sua influência sobre os comportamentos suicidas em diferentes países.

Bertolote constata que as taxas de suicídio variam de país para país e são maiores ou menores conforme vários fatores, como a religião dominante e a disponibilidade de meios para que o suicida concretize seu objetivo – armas de fogo e pesticidas, por exemplo. Já a predisposição se relaciona a gênero (em geral há três a quatro suicidas homens para cada mulher), idade (o suicídio predomina entre os idosos, mas agora cresce entre os jovens), depressão, uso indevido de álcool, esquizofrenia.

O autor defende, assim, que é possível mapear as pessoas que estão passando por comportamentos suicidas, identificá-las e ajudá-las a superar a situação que poderia levá-las a dar fim às próprias vidas. Ele reproduz em parte e comenta os programas de prevenção ao suicídio criados recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e OMS, onde ele foi coordenadorda equipe de transtornos mentais e neurológicos. Adotados por vários países, inclusive o Brasil, mas ainda pouco assimilados, esses programas dirigem-se principalmente a profissionais da saúde, da educação e da mídia.
José Manoel Bertolote
Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (Unesp), onde leciona, no Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria. Tem mestrado em Psiquiatra Social e Transcultural pela McGill University de Montreal, no Canadá, e foicoordenador da equipe de transtornos mentais e neurológicos na sede da Organização Mundial da Saúde, em Genebra. Recebeuo prêmio Ringel Service Award, International Association for Suicide Prevention, da OMS.

'FERIDAS DA ALMA' TRATA DAS ANGÚSTIAS HUMANAS

9/29/2012
A sociedade está em alerta. A cada ano aumenta o número de pessoas com alguma doença do grupo dos Transtornos do Humor. A depressão, por exemplo, é uma das doenças que mais incapacita pessoas no mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência da doença no último ano, com 10,8% da população apresentando o distúrbio mental.  Já o transtorno Bipolar atinge cerca de seis milhões de pessoas no planeta.  

Diante dessas enfermidades que afetam drasticamente a sociedade, o Padre Reginaldo Manzotti, após ouvir relatos das angustias de milhares de pessoas, pesquisou muito sobre o tema. Apesar do aumento de casos no século XXI, ele descobriu que essas doenças não são males da modernidade. Elas vêm desde muito antes de Jesus Cristo, apenas não eram conhecidas com os nomes atuais.

Para alentar aqueles que sofrem desse mal, o padre, que reúne multidões, decidiu escrever o livro “Feridas da Alma”. A obra, que propõe uma reflexão sobre nossas angústias e afirma que para todos esses problemas há uma solução, foi lançado neste mês, em Curitiba (PR). No mais recente livro, Padre Reginaldo procura responder aos diversos questionamentos sempre com uma linguagem simples e otimista. “Quem já não sentiu os medos e dores da angustia, depressão e muitos males que afligem a nossa alma? O que nos mantém encurvados? O que tem sido um peso em nossos ombros e nos impede de termos uma posição de esperança e confiança? Qual é o impedimento para vivermos melhor? Essas são algumas das perguntas que tento desvendar”, explica. 

Ele acredita que não há inimigos para a fé. “A Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo é atual e serve para todos nós. Ele nos diz: ‘mulher, homem, estás livre da tua doença. Eu te liberto da depressão. Eu te liberto da angustia. Eu te liberto desse jugo’”, completa o padre. 

Sobre Padre Reginaldo Manzotti

Uma figura religiosa de destaque no Brasil atualmente, o Padre Reginaldo Manzotti é natural de Paraíso do Norte, no interior paranaense. Nascido em 1969, foi ordenado sacerdote aos 25 anos. Atualmente, é pároco da Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba, e coordena a Associação Evangelizar é Preciso, que possui milhares de membros em todo o país. Já são 15 anos de sacerdócio em que, colocando-se como instrumento de Deus, o padre por suas palavras inspiradoras e seu carisma, atrai muitas pessoas . 

LIVRO TRAZ RELATO SOBRE SUICÍDIO DE SWEIG

7/27/2012
Foi lançado no Brasil o livro "Stefan e Lotte Zweig - Cartas da América", obra, organizada pelos historiadores Darién J.Davis e Oliver Marshall, e que reúne cartas que estavam sob a guarda de Eva Alberman, filha de Hannah e Manfred Altmann, irmão de Lotte. A correspondência, em boa parte direcionada aos pais de Eva, apresenta aspectos do cotidiano e da intimidade do casal e serve como crônica da decadência física e mental que os levaria à morte. O livro também traz, como pós-escrito, uma carta da poeta e diplomata chilena Gabriela Mistral sobre o suicídio do casal publicada em março de 1942 no jornal argentino "La Nación" e resgatada após décadas no esquecimento.

Outra obra lançada na onda das efemérides ligadas a Zweig é a história em quadrinhos "Les Derniers Jours de Stefan Zweig" (os últimos dias de Stefan Zweig), publicada na França em fevereiro e atualmente sendo analisada por editoras do Brasil. A HQ é uma adaptação do livro homônimo (e semificcional) escrito pelo francês Laurent Seksik.

* * * 
Veja abaixo a carta da poeta e diplomata chilena Gabriela Mistral sobre o suicídio do casal, publicada em março de 1942 no jornal argentino "La Nación" sobre o suicídio de Stefan Zweig.

Leia a íntegra da carta abaixo:


Eduardo Mallea:
Capa do livro "Les Derniers Jours de Stefan Zweig"

Seguem anexos comentários de alguns dias atrás, onde você encontrará um recado do nosso Stefan Zweig. Não podia enviá-los hoje, 24 de fevereiro, sem acrescentar algumas palavras sobre o terrível dia 23. Fui ao centro de Petrópolis às 11h30; meu ônibus deve ter passado pela casa de nosso amigo ao meio-dia: a essa hora ele e sua mulher agonizavam ali, sozinhos, sem que ninguém soubesse dessa agonia.

A empregada estava acostumada a que seus patrões dormissem até as 10; ela não estranhou, ao se aproximar da porta ao meio-dia, o fato de não ouvir "a respiração do senhor Zweig".

Somente às quatro horas a pobre mulher se atreveu a abrir a porta. Avisou à polícia; estava tão transtornada que, ao atender um arquiteto francês que foi visitar o casal, respondeu assim: "Sim, eles estão em casa, mas estão mortos."

A polícia chamou o presidente do PEN Clube, Dr. De Souza, a quem estava endereçada a carta do mestre para seus amigos e que talvez você já tenha lido.

O doutor foi comunicar pessoalmente a tragédia ao presidente --que ordenou que se fizessem as exéquias por conta do Estado-- e informou à imprensa do Rio. Nós soubemos da tragédia por um telefonema de M. Dominique Braga, às 21h. Eu já havia me recolhido para dormir e ouvi, sem entender, o seguinte diálogo: "Não consigo ouvi-lo, senhor Braga; fale mais alto. O telefone está muito ruim. Continuo sem ouvir nada. Não consigo lhe ouvir."

E depois: "Que coisa horrível!" E o choro não deixava Connie falar, e o mesmo acontecia com M. Braga. Achei que se tratava de um acidente de automóvel e pensei nos meus amigos de Petrópolis. Pensei em todos, menos neles. Porque eles levavam a vida mais calma do mundo, e a mais doce na aparência, e a mais linda de se ver.

Eu tinha tanto medo de saber, meu amigo, tinha tanto temor, que não queria perguntar. Connie subiu chorando como uma criança. Nós três aqui sentíamos mais do que simplesmente carinho, sentíamos ternura por esse homem simples como uma criança, tão terno na amizade que não sei como descrevê-lo, e era realmente adorável. Você sabe que nós nos víamos com muita frequência. Ai!

Só agora percebo que muito menos do que seria necessário para conhecer-lhes o segredo e poder ajudá-los, se fosse possível ajudá-los, meu Deus!

Viajamos para Petrópolis com uma sensação de sonâmbulos que fazem coisas absurdas: não podíamos aceitar que estavam mortos, e menos ainda que tivessem cometido suicídio. A pequena casa de colunas, no meio da colina, cuja porta sempre nos esperava subir lentamente as escadas, estava guardada pela polícia. Lá em cima encontramos o doutor De Souza e sua boa mulher, o presidente da Academia de Petrópolis, um grupo de judeus, o editor brasileiro de Zweig e os mais conhecidos representantes da imprensa nacional e estrangeira.

Nós continuávamos falando e ouvindo tudo isso como se fôssemos sonâmbulos. Finalmente entrei no quarto e lá fiquei não sei quanto tempo sem levantar a cabeça. Eu não podia nem queria ver. Em duas camas de solteiro juntas estavam o mestre, com sua bela cabeça alterada apenas pela palidez. A morte violenta não lhe deixou nenhum sinal de violência.

Dormia sem o seu eterno sorriso, mas com uma grande doçura e uma serenidade maior ainda. Parece que ele morreu antes dela. Sua mulher, que deve ter visto sua morte, protegia a cabeça dele com seu braço direito e seu rosto estava exatamente em cima do rosto dele. Ao ser separada do corpo do mestre, ela ficou com o braço e a mão retorcidos e rígidos, que terão de ser recolocados no lugar quando seu corpo for depositado no ataúde. O rosto dela estava muito parecido com o rosto dele. Não tem nada que apague de minha mente essa imagem.

Ele tinha 61; ela, 33. Ele sempre dizia: "Em anos, sou mais velho que seu pai." Ela soube acompanhá-lo, deixando para trás uma vida inteira.

Pensei durante muito tempo no seu gesto e no prodigioso enfraquecimento do veneno ou da angústia da última hora: quando o viu morto ao seu lado.

Mantenho toda a minha concepção cristã sobre o suicídio, meu amigo, mas acredito que essa crença não me proíbe de sentir a dor profunda do amor dessa mulher por um homem velho que amou com paixão e amizade.

Ela cuidava dele com tal zelo, que não o abandonava nem por dez minutos: do ar frio, do muito escrever, do muito andar --que era seu único vício-- do desalento: de tudo ela o protegia. Em meu país eu teria rogado para que fossem sepultados juntos, como os Berthelot. Zweig dormia já sem sonhos, aliviado para sempre do tempo e do mundo vergonhoso que lhe coube viver na velhice.

Minha surpresa e a de todos que compartilhávamos de sua amizade é imensa. Hoje posso apenas lhe contar sobre o nosso penúltimo encontro. Ele nos convidou para almoçar, junto com Hortensia Rio Branco, que estava em sua casa. Achei que estava um pouco abatido, mas de ânimo mais alegre que de costume. Informei-lhe sobre a vinda de Waldo Frank, anunciada em sua carta, e comentei sobre a minha proposta para que ele viesse para uma casa em Petrópolis, para fugir do calor. Então ambos [Stefan e Lotte] me responderam que compartilharíamos a visita de Frank, que poderia passar uns dias com eles e outros comigo. E assim ficamos combinados.

Contou sorridente que havia preparado um almoço austríaco completo, desde a sopa até a sobremesa. E ele o serviu com seu jeito lindo de ser, que nunca se sabia se era de uma pessoa muito velha ou de uma criança. Falou um pouco da Bélgica com doña Hortensia, que há muito residia naquele país. Depois do almoço fomos para a varanda, onde ele gostava de trabalhar, mas Stefan me deteve ao passar por sua mesa de trabalho, para ler uma linda carta de Martin du Gard, o novelista.

Lia e repetia frases e mais frases, fazendo-me sentir o perfeito, o belo estado de espírito dessa outra alma que sofria. Saímos para a varanda falando das pessoas que estavam vivendo sua tragédia particular sem perder um pingo de decoro e de elegância em sua conduta.

Então, ele me disse, olhando-me de uma forma especial e destacando bem as palavras: "É preciso que se faça um alerta sobre o perigo de se começar na América uma perseguição aos alemães; sei que há alguns sinais disso, o que me deixa muito alarmado." E eu o tranquilizei assegurando que não haveria, por parte dos nossos povos, inquisição, nem coisa parecida às orgias sangrentas da Europa.

E começamos uma longa conversa sobre o índio, o negro e o povo mestiço. Ouvi dele um elogio comovido reconhecendo os méritos dos missionários portugueses. Eu já havia tentado, antes dessa conversa, aguçar seu interesse pelos missionários do continente sul-americano como tema para um livro dele, e que isso poderia ajudar muito os nossos índios. Ele exaltou a bondade do negro, "que se identifica perfeitamente", disse ele, "com sua alegria".

Acrescentou belíssimas observações sobre o temperamento brasileiro, na piedade e no equilíbrio emocional. Depois de elogiar o povo, passou a elogiar a terra, e insistiu para caminharmos juntos pelos arredores de nossa cidade, e eu prometi fazê-lo. Ele achava que eu entendia muito de plantas, só porque me viu cultivar uma parte do jardim de minha casa. "Gabriela Mistral", me disse ele, "eu tenho um pedido que você precisa me conceder. Conversaremos melhor sobre isso caminhando pelo campo."

Faz uns dez dias que tudo isso aconteceu: tento recordar com mais detalhe a parte referente a Frank e a última parte, porque são dois compromissos assumidos por ele de livre e espontânea vontade. Tenho certeza que ele não estava me enganando --por que o faria?-- e de que não tinha ainda a intenção de se suicidar.

Pouco depois me telefonou para perguntar se eu iria a uma recepção oficial da Prefeitura (ou Gobernacíon) de Petrópolis, porque ele recebeu um convite, mas não tinha com quem ir. E lá fomos, e ele ficou à vontade, apesar de não apreciar muito a vida mundana.

Não acredito nessas conjeturas que alguns fazem sobre a situação econômica do mestre Zweig. Seu editor as desmentiu categoricamente ontem à noite, a dois passos do falecido. As grandes edições de suas obras lançadas pela maior editora ianque, mais alguns artigos solicitados por publicações norte-americanas, podiam garantir-lhe pelo menos alguns anos de um bem-estar modesto, mas suficiente.

Por outro lado, não se pode nem imaginar que tenha passado por um momento de desvario ou loucura: escritor mais sensato, mais senhor de sua alma, menos delirante (apesar de ter descrito o delírio como ninguém), talvez não se possa encontrar em nossa geração.

Eu penso, sem pretensão de adivinhar tudo, que as últimas notícias da guerra o deprimiram terrivelmente e, em especial, o começo da guerra no Caribe, o afundamento de navios sul-americanos. Ah! Ele já havia visto acontecer coisas demais com a guerra! Podemos acrescentar a última informação que recebeu: a dos acontecimentos no Uruguai.

Também isso se parecia muito com o que ele já havia visto acontecer na Europa, embora admiti-lo possa doer. Estava farto do horror, já não podia aguentar mais.

Meu amigo: sei o que as pessoas superficiais dirão para condená-lo --e até alguns estoicos--, que Zweig tinha uma dívida conosco, e que sua fuga da tragédia a que estamos submetidos foi uma grande fraqueza. E dirão muito mais. Lembrarão que ele não acreditava no sobrenatural e lembrarão talvez da famosa covardia israelita.

Eu prefiro aguardar sua autobiografia, escrita aqui mesmo na nossa Petrópolis, que ele amava tanto quanto eu. Porque não podemos nem imaginar o que esse homem vinha padecendo há uns sete anos, desde que o escritor alemão fiel à liberdade passou a ser um animal de caça. Sua sensibilidade superava a que ele mostrava em seus livros: era uma sensibilidade feminina no melhor sentido da palavra; poderíamos dizer "inefável".

Quando falávamos da guerra, eu observava em seu rosto, com todos os detalhes, seu coração em carne viva e ia medindo o que eu podia dizer, coisa que nunca me aconteceu antes com nenhum homem de letras.

E o problema não era que ele pudesse perder em algum momento seu rigoroso controle; era que os acontecimentos brutais, ou simplesmente penosos, não pareciam ser ouvidos, mas sentidos por ele no mesmo instante em que os escutava, se estampando em seu rosto uma tristeza sem limites que o envelhecia de imediato. (Você se lembra de seu aspecto juvenil; tudo isso desaparecia quando o assunto guerra entrava na conversação.)

Sua repugnância pela violência não era apenas verdadeira; era absoluta.

Ele se interessava por todos os povos e se havia apegado muitíssimo aos nossos. Esteve a ponto de mudar-se para o Chile, respondendo a um convite de Agustín Edwards; mas permaneceu no Brasil, país que homenageou com um livro exemplar sobre seu território, história e povo. Achou os Estados Unidos muito ásperos ou duros, não sei. Preferia o sul porque, afinal de contas, um homem de 60 anos precisa de um clima de muita doçura.

Sua melancolia mais visível era a perda da língua materna. Em sua primeira visita a esta casa ele me disse que nada no mundo poderia consolá-lo de não voltar a ouvir ao seu redor a língua de sua infância. "Esta", disse ele, "é a única perda irremediável."

Ele, naquele momento, esperava, com absoluta certeza, a derrota do hitlerismo; mas havia comprado uma casa na Inglaterra e, possivelmente, como muitos desterrados, acreditava que ao regressar carregaria com ele as feridas provocadas pelo ditador, além das feridas provocadas pelos pseudoamigos que traem ou consentem.

Seu equilíbrio para julgar a própria pátria pareceu-me completo; jamais proferiu uma injúria, nem mesmo uma palavra mais dura, sua contenção verbal fazia parte de sua fidalguia. (O seu tipo de nariz não era judeu; lembrava mais o do espanhol, inglês ou francês.)

Não conseguimos fazer nada por ele, além do fato de que nós três, nesta casa, o amávamos, porque era a coisa mais natural do mundo ter por ele não só admiração, mas também uma ternura profunda.

Ah! Que os religiosos não removam esses ossos de quem já fugiu duas vezes e que renunciem à tentação do julgamento superficial de um morto que deixa empobrecida toda a humanidade, e certamente os melhores. Nele havia o mel de Isaías, também a chama de São Paulo, e a ambrosia de Ruth.

Adeus. G. M.

QUEM FOI STEFAN ZWEIG

7/27/2012
"Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação se me impõe: agradecer do mais íntimo a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida."
Retrato do escritor e poeta austríaco Stefan Zweig 
Foram precisos 70 anos para que o país voltasse a fazer jus aos agradecimentos que Stefan Zweig (1881-1942) deixou em sua carta de despedida: no domingo, dia 29, a casa em que o escritor austríaco passou seus últimos meses, em Petrópolis (RJ), será aberta ao público como museu.

A inauguração da Casa Stefan Zweig é o principal evento comemorativo de uma série de efemérides que se sucedem desde o ano passado: os 70 anos do clássico ufanista "Brasil, País do Futuro", os 130 anos do nascimento de Zweig e os 70 de seu suicídio ao lado da mulher, Lotte.

O projeto, orçado em R$ 1,2 milhão, foi bancado por amigos e admiradores do austríaco, um "bando de loucos", como define o jornalista Alberto Dines, biógrafo do escritor e presidente da casa. Ele diz ter recebido "suporte simbólico" dos governos austríaco e alemão e da Prefeitura de Petrópolis, mas nada do governo brasileiro. O único órgão que fez algo, segundo Dines, foi a TV Brasil (na qual ele apresenta o "Observatório da Imprensa"): um documentário sobre Zweig, que vai ao ar em setembro.

"A gente quer recuperar a memória dele, fazer com que a importância que ele tinha nos anos 1930 e 1940 seja reavaliada e mantida", diz. Dines lembra que o descaso oficial com a memória do escritor vem de longe: logo após sua morte, o cunhado de Zweig ofereceu ao Brasil "acervo de valor inestimável""Eram 560 volumes, todas as obras no original, além de manuscritos, anotações para futuros trabalhos, alguns móveis e objetos pessoais, fotos autografadas de seus amigos íntimos, como Freud, Toscanini, Strauss", afirma Dines. A oferta foi encaminhada ao Ministério da Justiça em 1943, "que não se mexeu, porque estava infestado de integralistas e não achou importante", diz o jornalista.

BANGALÔ COM VARANDA

Zweig, um dos escritores mais respeitados do período entreguerras, com uma produção que inclui ficção, biografias, ensaios e poemas, chegou ao Brasil em 1941, fugindo da ascensão nazista. Mudou-se com a mulher, Lotte, para uma casa apertada, que descreveu em carta como "pequeno bangalô com sua grande varanda coberta, que é nossa sala de estar"É esta casa, situada numa encosta íngreme, que o público vai poder conhecer. "Será um centro de memória baseado nesses princípios modernos de usar interatividade, materiais audiovisuais. Nós não temos grandes documentos, mas queremos trazer o clima, para as pessoas sentirem isso", diz Dines.

Como parte do "clima" a que se refere o jornalista, foi mantido o quarto em que o escritor se envenenou, ao lado da mulher. Nele, haverá apenas uma reprodução do texto de despedida, escrito em alemão, com título em português ("Declaração"). O presidente da casa destaca como peça mais importante a máscara mortuária de Zweig, feita por um escultor amador de Petrópolis. "Os herdeiros dele a doaram."
 
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