Estudos & Pesquisas

Últimas Postagens

Mostrando postagens com marcador reportagens. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador reportagens. Mostrar todas as postagens

FALANDO FRANCAMENTE SOBRE O SUICÍDIO

5/20/2015

As razões podem ser bem diferentes, porém muito mais gente do que se imagina já teve uma intenção em comum. Segundo estudo realizado pela Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e desses, 4,8 chegaram a elaborar um plano para isso. Na maioria das vezes, no entanto, é possível evitar que esses pensamentos suicidas virem realidade.
A cada 45 minutos, um brasileiro morre vítima de suicídio. E, em uma sala com trinta pessoas, cinco delas já pensaram em tirar a própria vida.
A primeira medida preventiva é a educação: é preciso deixar de ter medo de falar sobre o assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema. Como já aconteceu no passado, por exemplo, com doenças sexualmente transmissíveis ou câncer, a prevenção tornou-se realmente
bem-sucedida quando as pessoas passaram a conhecer melhor esses problemas. Saber quais as principais causas e as formas de ajudar pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio no Brasil, onde hoje 32 pessoas por dia tiram a própria vida. Por isso, é essencial deixar os preconceitos de lado e conferir alguns dados básicos sobre o assunto. 


PENSAR EM SUICÍDIO FAZ PARTE DA NATUREZA HUMANA

1. COMO PODEMOS DEFINIR O SUICÍDIO?

Suicídio é um gesto de autodestruição, realização do desejo de morrer ou de dar fim à própria vida. É uma escolha ou ação que tem graves implicações sociais. Pessoas de todas as idades e classes sociais cometem suicídio. A cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão de pessoas todos os anos. Estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio a cada ano. De cada suicídio, de seis a dez outras pessoas são diretamente impactadas, sofrendo sérias consequências difíceis de serem reparadas.

2. O QUE LEVA UMA PESSOA A SE MATAR?

Vários motivos podem levar alguém ao suicídio. Normalmente, a pessoa tem necessidade de
aliviar pressões externas como cobranças sociais, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo, fracasso, humilhação etc.

3. COMO SE SENTE QUEM QUER SE MATAR?

No momento em que tem ideias suicidas, a pessoa combina dois ou mais sentimentos ou ideias conflituosos. É um estado interior chamado de ambivalência. Ela busca atenção por se sentir esquecida ou ignorada e tem a sensação de estar só – uma solidão sentida como um isolamento insuportável. Muita gente tem um desejo de revide ou imposição do mesmo sentimento negativo aos outros, querendo que sintam o mesmo que ela. Outras pessoas sentem vontade de desaparecer, fugir
ou de ir para um lugar ou situação melhor.

Quase sempre, sentem uma necessidade de alcançar paz, descanso ou um final imediato aos tormentos que não terminam. 

4. O SENTIMENTO E O IMPULSO SUICIDAS SÃO NORMAIS?

Pensar em suicídio é uma coisa que faz parte da natureza humana, e é estimulada pela possibilidade de escolha. O impulso também é uma reação natural, porém é mais comum nas pessoas que estão exaustas por dentro e emocionalmente fragilizadas diante de situações que despertam possibilidade de suicídio.

5. QUEM SE MATA MAIS: MENINOS OU MENINAS?

Os meninos normalmente se matam mais, embora elas tentem mais vezes do que os meninos. Essa tendência também acompanha os adultos, por causas culturais relacionadas a costumes e preconceitos sociais.  

6. O SUICÍDIO ESTÁ VINCULADO A ALGUMA DOENÇA MENTAL?

O suicídio resulta de uma crise de duração maior ou menor, que varia de pessoa para pessoa. Não está necessariamente ligado a uma doença mental, mas sim a um momento crítico que pode ser superado. As pessoas correm menos risco de se matar quando aceitam ajuda.

7. PESSOAS QUE AMEAÇAM SE MATAR PODEM DESISTIR DA IDEIA?

Sim, podem. Ao receber ajuda preventiva ou oferta de socorro diante de uma crise, elas podem reverter a situação ao colocar para fora seus sentimentos, ideias e valores, alterando, assim, seu estado interior. Essa ajuda pode vir de pessoas comuns, ligadas a organizações voluntárias como o CVV, que se dedicam à prevenção do suicídio – são voluntários que têm um papel importante ao ouvir quem estiver passando por um momento de desespero.

O apoio pode vir também de profissionais, contribuição muitas vezes indispensável, especialmente nos casos de descontrole. Essas duas possibilidades de ajuda são reconhecidas no mundo inteiro, pois apresentam bons resultados.

8. AS PESSOAS QUE TENTAM SUICÍDIO PEDEM SOCORRO?

Sim, é frequente pedir ajuda em momentos críticos, quando o suicídio parece uma saída. A vontade de viver aparece sempre, resistindo ao desejo de se autodestruir. De forma inesperada, as pessoas se veem diante de sentimentos opostos, o que faz com que considerem a possibilidade de lutar para continuar vivendo. Encontrar alguém que tenha disponibilidade para ouvir e compreender os sentimentos suicidas fortalece as intenções de viver.

9. QUEM ESTÁ POR PERTO PODE AJUDAR? COMO?

É preciso perder o medo de se aproximar das pessoas e oferecer ajuda. A pessoa que está numa crise suicida se percebe sozinha e isolada. Se um amigo se aproximar e perguntar “tem algo que eu possa fazer para te ajudar?”, a pessoa pode sentir abertura para desabafar. Nessa hora, ter alguém para ouvi-la pode fazer toda a diferença. E qualquer um pode ser esse “ombro amigo”, que ouve sem fazer críticas ou dar conselhos. Quem decide ajudar não deve se preocupar com o que vai falar. O importante é estar preparado para ouvir.

10. COMO O SUICÍDIO É VISTO PELA SOCIEDADE?

O suicídio foi e continua sendo um tabu entre a maioria das pessoas. É um assunto proibido e que agride várias crenças religiosas. O tabu também se sustenta porque muitos veem o suicida como um fracassado. Por outro lado, os homens, por natureza, não se sentem confortáveis para falar da morte, pois isso expõe seus limites e suas fraquezas. Esse tabu piora a situação de muitos. Muitas vezes, mesmo aqueles que seguem religiões que condenam o suicídio não conseguem respeitar suas crenças
e acabam dando fim à própria vida. 

11. O MUNDO ATUAL TEM INFLUÊNCIA NO NÚMERO DE SUICÍDIOS?

As estatísticas mostram que o suicídio cresce não somente por questões demográficas e populacionais, mas também por problemas sociais que prejudicam o bem-estar de cada um e que estimulam a autodestruição. Nossa sociedade vive com diversas situações de agressão, competição e insensibilidade. Campo fértil para que transtornos emocionais se desenvolvam. O antídoto para combater essa situação limita-se, no momento, ao sentimento humanitário que algumas pessoas têm.

12. QUAIS AS ESTATÍSTICAS SOBRE SUICÍDIO NO BRASIL?

A média brasileira é de 6 a 7 mortes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média mundial – entre 13 e 14 mortes por 100 mil pessoas. Mas o que preocupa é que, enquanto a média mundial permanece estável, esse número tem crescido no Brasil. E a maior porcentagem de suicídios é registrada entre jovens.

13. O SUICÍDIO PODE SER PREVENIDO?

Sim. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições mínimas para oferta de ajuda voluntária ou profissional. No Brasil, o CVV – rede voluntária de prevenção – atua nesse sentido há mais de 50 anos. Recentemente, foi iniciado um movimento de políticas públicas para traçar planos integrados de prevenção.

14. QUEM OFERECE AJUDA PARA PESSOAS COM INTENÇÃO DE SE MATAR?

As pessoas que precisam de ajuda podem recorrer ao CVV, grupo de voluntários que oferecem apoio emocional gratuito. E já existem programas de saúde pública que oferecem esse serviço em algumas regiões do país. Há, portanto, uma ampla rede de apoio voluntário por meio de telefonia, internet e atendimento presencial. O CVV atende por telefone, chat, Skype, e-mail e pessoalmente, além de
realizar atendimentos especiais em casos de eventos e catástrofes. Somos um grupo de 2.200 voluntários treinados para ouvir e compreender pessoas que estão abaladas emocionalmente e que correm sério risco de vida.

DOENÇA QUE MAIS AFETA A VIDA DO BRASILEIRO

4/27/2015
Doença prejudica o cotidiano, o trabalho, os relacionamentos. Entenda a diferença de depressão e tristeza.

Você sabia que a depressão é a doença que mais afeta a qualidade de vida do brasileiro? Ela atrapalha o trabalho, os relacionamentos pessoais e até os cuidados com a saúde. Algumas doenças podem provocar e agravar a depressão. Mas a boa notícia é que 70% dos casos têm cura e os remédios estão cada vez mais avançados. Como diferenciar a depressão de tristeza e desânimo? O Bem Estar desta sexta-feira (27) falou sobre isso. Participaram do programa o consultor e psiquiatra Daniel Barros e a psicóloga Ana Merzel.

Enquanto na tristeza há relação do estado mental com algo que aconteceu, na depressão a tristeza é difusa, não tem causa específica e está presente em diferentes situações e momentos da vida do doente. Mas a doença tem cura. Medicamentos, psicoterapia e atividade física fazem parte do tratamento.

Os antidepressivos, como todos os remédios, têm um lado ruim. Em algumas pessoas podem reduzir a libido. Em casos graves de depressão, podem inicialmente aumentar o risco de suicídio. Nesses casos, é necessária a supervisão cuidadosa. Os remédios são uma boia para ajudar a pessoa a não afundar, mas também é preciso acompanhamento médico e muito exercício.  A escolha do psicólogo é muito importante. O paciente precisa se sentir confortável com o profissional.

Quem cuida do depressivo precisa ser compreensivo. A doença não depende só da força de vontade para ser combatida, mas do tratamento de alterações no funcionamento do cérebro.

Doenças interligadas

As doenças do coração podem provocar e até agravar a depressão. A depressão também pode agravar uma cardiopatia. Cerca de 30% dos pacientes operados do coração ficam deprimidos. De acordo com a médica Bellkiss Romano, do Incor, a depressão acontece porque as pessoas veem o coração como a máquina da vida.

Pensar que o coração está doente é imaginar que a vida está em risco. “O paciente entra num círculo vicioso. A depressão que agrava a patologia, a patologia vai fazer com que você se sinta menos potente, vai agravar a depressão. E você não quebra o ciclo.”

Veja os vídeos da reportagem clicando aqui.
A partir do G1. Leia no original
Imagem: Pexels

DEPRESSÃO É UM CONJUNTO DE SINTOMAS

4/26/2015
Medicamento, psicoterapia e exercício ajudam no tratamento.
Entenda melhor a depressão pós-parto

O programa "Bem Estar", da Rede Globo, exibido dia 17/04/2015, falou sobre a depressão e os remédios que existem para trata-la. A doença é a que mais retira anos saudáveis de vida dos brasileiros. A depressão esconde a gente da vida, prejudica o trabalho, o relacionamento com a família e com pessoas que amamos. Participaram do programa o nosso consultor e psiquiatra Daniel Barros e a psicóloga Ana Merzel.

E como diferenciar depressão de tristeza e desânimo? Enquanto na tristeza há relação do estado mental com algo que aconteceu, na depressão a tristeza é difusa, não tem causa específica e está presente em diferentes situações e momentos da vida do doente. Mas a doença tem cura em 70% dos casos. Medicamentos, psicoterapia e atividade física fazem parte do tratamento.
A depressão é um conjunto de sintomas, explica Daniel Barros. A tristeza é só um deles. "Por isso, a depressão é uma síndrome". Ele também lembra que o estresse crônico pode levar a depressão.

Depressão pós-parto

Apesar do desejo de ser mãe, muitas mulheres não conseguem curtir esse período como gostariam por causa da depressão pós-parto. A doença atinge cerca de 10% das mulheres, tanto as que já têm a depressão quanto as que nunca tiveram. Em metade delas, os sintomas como tristeza, desânimo, pessimismo, falta de energia e choro fácil começam durante a gravidez, mas também podem acontecer até meses depois do parto.

Depois do nascimento, a depressão pós-parto dificulta os cuidados com o filho e prejudica até o aleitamento. É muito importante para a saúde da mãe do bebê reconhecer e tratar a doença.
Veja algumas dicas do doutor Daniel que podem ajudar: planeje a gravidez; faça um pré-natal com acompanhamento; pratique atividades físicas; tome cuidado com a alimentação e evite o aumento de peso; conte com o suporte familiar; e planeje o pós-parto durante a gestação.

Veja os vídeos do programa clicando aqui
A partir do G1. Leia no original
Imagem : Pexels

FILHO DE SUICIDA INVESTIGA O DESEJO DE MORRER

4/25/2015
O suicídio leva um número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio, tentou investigar as razões.


Os 44 anos de idade, uma idade não muito memorável para a maioria das pessoas mas, no meu caso, foi um aniversário que sempre terá uma importância especial. Foi a idade em que meu pai cometeu suicídio, há 25 anos, por razões que ainda não consegui esclarecer totalmente.

Como resultado, sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre suicídio no noticiário e notei também a frequência com que estas histórias envolviam homens.

O que não percebi até recentemente é que o suicídio é a mais frequente causa de morte de homens abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales. Cem homens morrem por semana. É a causa de morte mais prevalente atualmente, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 14 anos e homens têm quatro vezes mais chances de acabar com a própria vida do que as mulheres.

Queria descobrir o porquê. Qual a razão de homens serem mais suscetíveis e o que pode ser feito a respeito, se é que algo pode ser feito?

Meu próprio pai, na faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.

A incidência de suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É possível adivinhar as razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o homem perde o emprego em uma idade em que é difícil conseguir outro. Tudo isso pode gerar estresse em homens que se sentem pressionados a sustentar a família.

No caso do meu pai, nenhuma destas razões poderia explicar seu suicídio. Ele era um homem popular, gregário e talentoso, com uma mulher amorosa e quatro filhos, dos quais eu era o mais velho.

Pesquisa

Para tentar descobrir as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja pesquisa é baseada em 60 anos de experiência. O trabalho deles destaca uma série complexa de fatores - incluindo problemas financeiros e emocionais, traços de personalidade, desafios da idade e questões de saúde mental.

Todos estes problemas afetam mulheres também. Então, qual a razão de que, apesar de metade dos telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de mulheres, quatro vezes mais homens acabam mortos?

Existe uma opinião muito comum de que suicídio é prova de doença mental. O argumento é que, se você comete suicídio, você precisa estar sofrendo de uma doença mental diagnosticável como depressão.

Rory O'Connor é responsável por um dos mais importantes centros de pesquisa sobre suicídio no mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia. Faz experiências em psicologia e comportamento suicida. Frequentemente, a doença mental é parte do problema, mas não é uma explicação suficientemente completa para isto.

"Acreditamos que a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma doença mental, mas menos de 5% das pessoas com uma doença mental acabam com a própria vida", diz O'Connor.

Eu precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de meu pai quando ele cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar com minha mãe, algo que estava pendente há muito tempo. Quase nunca tocamos neste assunto na família.

E isto é uma parte importante do problema para muitas famílias. Meus irmãos e eu não conseguíamos conversar, provavelmente temendo choro ou discussões familiares durante a conversa.

Apesar das ressalvas e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe, com muita coragem, permitiu que a conversa fosse filmada. Naquela conversa, descobri que, assim os casos extraconjugais que meu pai teve, os problemas financeiros que enfrentava só foram descobertos depois da morte. E nunca discutidos antes.

Estes tipos de problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de suicídio entre homens da faixa dos 40 anos, mas o suicídio também é a maior causa de morte entre os homens 20 e 34 anos, quase um quarto de todos os óbitos.

Experiência

Conversei com Stephen Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e, novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um grande choque para a família.

"Ele era tão atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz Habgood.

Mas, por mais eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre seu estado com sua família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou relutância dos homens de todas as idades para falar sobre o que sentem é a chave para explicar o número maior de suicídios masculinos.

Há uma experiência mental muito útil para ilustrar estes casos, segundo Joe Ferns, diretor-executivo de políticas dos Samaritanos.

"Imagine chegar no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar alguém triste no escritório, chorando por algo que acontece no fim de semana. Se fosse uma mulher, alguém a levaria ao banheiro, teria uma conversa com ela e ninguém pensaria nada muito sobre isto."

"Se o mesmo acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a reação das pessoas seria muito mais dramática. As pessoas presumem que algo muito ruim deve ter acontecido", acrescentou.

Há uma diferença na forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.

Conversas que salvam?

Então, simplesmente conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em suicídio, mas não o fez.

Ele estava desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em sua comunidade.

"Sempre fui uma pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e acredito que era muito afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito bem com meu grupo de amigos, sempre me senti como um estranho. Era difícil, pois quando você está crescendo, ninguém quer se sentir excluído", disse.

Depois de decidir pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos Samaritanos em Manchester e, como pensava que não tinha nada a perder, entrou.

Agora ele percebe que esta decisão salvou sua vida.

"A razão principal que me levava a não conversar com ninguém era esta ideia de fraqueza. Se você não pode resolver os problemas sozinho, então é uma pessoa fraca."

E esta percepção é a chave para entender a razão de os homens tirarem a própria vida em números tão altos, segundo Jane Powell, diretora da Campanha contra uma Vida Triste (CALM, na sigla em inglês).

Rugby

Se alguém procura estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.

Ian Knott era um jogador profissional bem-sucedido do time Warrington Wolves quando sofreu uma lesão que acabou com sua carreira e o deixou sentindo dores constantes. Knott sentia que não conseguia mais cumprir seu papel como jogador, marido e pai. Isto o levou a tentar o suicídio.

"A dor chegou a tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e meus filhos continuavam ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte (da família)."

Knott agora dá palestras em reuniões de uma instituição chamada State of Mind, que exibe vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para falar sobre suas carreiras e funciona como um fórum para discussões a respeito de problemas emocionais.

"Estou orgulhoso pois agora posso falar de minhas experiências e talvez ajudar outras pessoas, principalmente outros homens", afirmou Knott.

"Este é o principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam absolutamente ter nada do que se envergonhar."
A partir do Terra. Leia no original
Imagem: Pexels

DEPRESSÃO INFANTIL: PAIS DEVEM COBRAR MENOS

4/24/2015
Diretamente associados à relação familiar, depressão e distúrbios de ansiedade são cada vez mais comuns entre crianças em fase escolar. De acordo com a neuropediatra Mirella Fernandes Senise, a depressão costuma estar atrelada a dificuldades de aprendizagem e a ansiedade a dificuldades de separação dos pais. “Em todos os casos, é importante que os pais compreendam que cada criança tem seu tempo, suas limitações. Não podem cobrar demais, precisam estar presentes e evitar envolvê-los nos problemas cotidianos”, alerta.

Nos últimos quatro anos, a médica destaca aumento na procura por tratamento de crianças depressivas com dificuldade de aprendizagem. “É uma via de mão dupla. A depressão pode causar essa dificuldade. E o contrário também. A dificuldade de aprendizagem pode causar baixa estima e levar ao quadro depressivo”, explica.

Déficit de atenção associado a depressão, por exemplo, é muito comum. “Vale ressaltar que as vezes a criança é cobrada demais. Ela até vai bem na escola, tira notas boas, mas não é o suficiente para esses pais.”

Mirella destaca outros fatores que podem levar a depressão: a separação dos pais; a chegada de irmãos mais novos; abandono. “Crianças que ficam tempo demais sozinhas podem ter mais tendência. E não basta o pai só estar presente. Precisa dar atenção, incentivo.” Ansiedade - Segundo a psicóloga Patrícia Blanco Silva, a ansiedade é a reação normal a situações que podem causar medo, expectativa ou dúvida. “Ela pode ser causada por muitos fatores. E um pouco de ansiedade até pode ser saudável. Mas para que não seja excessivo, no ambiente familiar os pais precisam lidar com os problemas de forma natural e acolhedora. Diagnóstico - As duas profissionais alertam para a importância do diagnóstico precoce. “A hora certa para procurar ajuda é quando percebem os primeiros sintomas de alteração de humor”, orienta a neuropediatra Mirella. “Crianças tendem a ficar muito irritadas ou agressivas. Os pais também percebem alterações de apetite, que pode ser para mais ou menos, e alterações no sono, como dificuldade de dormir, insônia ou até procurar a cama deles para conseguir descansar.”

Patrícia, no entanto, avisa que nem sempre os sintomas são constantes. “O diagnóstico leva em conta a história de vida do paciente e uma análise clínica criteriosa. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas interferem diretamente na qualidade de vida.” Quando não tratadas adequadamente, tanto a depressão quanto a ansiedade podem acarretar problemas mais sérios no futuro. “Mudança de personalidade. Propensão a depressões mais graves no futuro. Prejuízo social, porque se afastam de todas as pessoas. Desestruturação familiar”, elenca a médica. “Em casos muito graves, levam a distúrbios alimentares, como a anorexia. E até ao suicídio na adolescência, que seria mais raro.”
Imagem: Pexels

QUANDO AS MÃES JOGAVAM OS FILHOS NO RIO

4/23/2015
Alemanha relembra onda de suicídios nos últimos meses da 2a. Guerra Mundial
Bärbel Schreiner, com sua mãe e seu irmão em Demmin em 1944.
O documento é estremecedor. Vinte e oito páginas repletas de nomes acompanhados da data e do motivo da morte. Escolhida um aleatoriamente, aparecem várias famílias —os Gaut, os Schubert (mãe e filha), os Rienaz (também mãe e e filha)…—. Todos morreram em 8 de maio de 1945. E todos por uma mesma causa: suicídio. Estamos no Museu Regional de Demmin, uma pequena cidade no noroeste da Alemanha, que nesses dias revive seus dias mais dramáticos. Nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial, quando a vitória final tantas vezes anunciada por Adolf Hitler parecia cada vez mais irreal e o Exército Vermelho se aproximava, entre 700 e 1.000 cidadãos de Demmin –que à época tinha 15.000 habitantes— preferiram morrer a ter que viver em um mundo que não fosse governado pelos nazistas. Foi o maior suicídio em massa na história da Alemanha.

Bärbel Schreiner, então uma menina de 6 anos, esteve a ponto de ser vítima dessa loucura coletiva. Mas seu irmão conseguiu convencer sua mãe a não fazer com os dois filhos o que tantos pais faziam naqueles dias. “Mamãe, nós não, né?”, recorda Schreiner da fala de seu irmão disse, enquanto observava o rio Peene, cheio de cadáveres. “Ainda me lembro da água avermelhada pelo sangue. Sem essas palavras, tenho certeza que minha mãe teria afogado nós dois”, afirma, com a voz embargada, essa mulher de 76 anos.


Registro de mortos em Demmin, no Museu Regional. / LUIS DONCEL
O caso de Schreiner não foi uma exceção. Uma onda de suicídios atingiu a Alemanha entre janeiro e maio de 1945. Não existem números exatos, mas os historiadores calculam que entre 10.000 e 100.000 pessoas tenham tomado essa decisão. Ao tirar a própria vida, era normal que os adultos levassem também seus filhos. Foi o que fez Joseph Goebbels, ministro da Propaganda e chanceler nos últimos dias do III Reich, quando ele e sua mulher, Magda, envenenaram os seis filhos.

Escreveu-se muito sobre o suicídio dos líderes nazistas. Além de Hitler, cuja morte completará 70 anos em 30 de abril, e Goebbels, também tirou a própria vida o chefe das temidas SS, Heinrich Himmler. Mas, até agora, não se havia prestado muita atenção aos cidadãos comuns que seguiram o destino de seus líderes fanáticos. Justamente essa falta de conhecimento sobre a tragédia que milhares de pessoas anônimas viveram levou o historiador Florian Huber a escrever Filho, Me Promete que Vai Atirar. O sucesso do livro, que em dois meses já vendeu mais de 20.000 exemplares, surpreendeu inclusive o autor.

“Estudei história e nunca tinha ouvido falar desse episódio trágico. Um dia, vi em um livro um pé de página que mencionava a onda de suicídios nos últimos meses da guerra e decidi investigar”, conta em um café de Berlim. Mas, o que levou esses homens e mulheres comuns a dar um tiro em si mesmos, se enforcar numa árvore ou se jogar no rio mais próximo? Medo das represálias dos vencedores? Fanatismo nazista? Ou sentimento de culpa pelos abusos de 12 anos de nacionalismo e seis de guerra? “Uma mescla de todos esses fatores. Também teve influência um efeito psicológico que transforma o suicídio em algo contagioso, quase como uma infecção. Se você visse nesse café todo mundo começando a se matar, talvez você cogitasse também”, responde.
"Mamãe, nós não", disse o irmão de Schreiner ao ver os mortos no rio
A epidemia suicida se estendeu por muitos rincões da Alemanha, mas por que afetou principalmente alguma áreas, como o leste do país, e muito especialmente lugares como Demmin? Huber explica a mescla de circunstâncias históricas e geográficas que tornaram essa localidade uma ratoeira da qual era impossível escapar. “Rodeada por três rios, forma uma espécie de península. Em sua fuga, os líderes nazistas dinamitaram as três pontes existentes. De forma que, quando os soviéticos chegaram, não podiam continuar avançando. Os soldados do Exército Vermelho chegaram em 30 de abril, com vontade de abandonar logo Demmin para comemorar a festa de 1º de maio”, afirma.

Justamente no mesmo dia em que Hitler se matou com um tiro dentro de seu bunker em Berlim, os soldados vermelhos queimavam Demmin e difundiam o pânico. Os anos de guerra, a sede de revanche e a bebida que correu pela noite fomentavam a violência dos soviéticos. O resultado desse coquetel foi assombroso. Huber afirma que os rios se tornaram cemitérios durante semanas; e que os trabalhos para retirar os corpos da água se estenderem entre maio e julho daquele ano. “As testemunhas se lembram de pessoas penduradas em árvores por toda parte”, acrescenta.

Uma mistura de fanatismo nazista, medo e contágio explica a loucura coletiva
O sofrimento dos civis alemães durante a guerra –sejam os abusos de mulheres ou os bombardeios de cidades como Potsdam, que nesta semana completou 70 anos— é um tema complexo. Não há dúvidas de que muitos inocentes sofreram as consequências, mas esse sofrimento também serve de desculpa para os neonazistas, que continuam confundindo e igualando a dor do povo agressor com a dos agredidos.

O mesmo ocorre ainda hoje em Demmin. Há uma década, em todo 8 de maio, dia da rendição, um pequeno grupo de manifestantes ligados ao partido de extrema direita NPD relembram as vítimas alemães. “Durante os anos do comunismo, esse tema era um tabu. Ninguém quer lembrar as violações ou crimes cometidos pelos soldados que nos libertaram do fascismo. E agora os neonazistas também utilizam a dor do passado para os seus fins”, afirma Petra Clemens, a diretora do museu, rodeada por vestígios da história da região. Nessa castigada cidade do leste alemão, o desemprego atinge 17% da população (um percentual altíssimo para um país no qual a média está em 6,9%) e o alcoolismo tem seu preço.

Demmin foi talvez o caso mais extremo da loucura coletiva que invadiu o país nos primeiros meses de 1945, mas não o único. Em Berlim foram registrados naquele ano 7.000 suicídios, dos quais quase 4.000 aconteceram no mês de abril. Em seu livro, Huber reúne depoimentos de pessoas que associaram o fim de suas próprias vidas ao fim do nacional-socialismo. Como o professor Johannes Theinert e sua mulher, Hildegard, que começaram a escrever um diário em 1937, um ano após se casarem. O último registro foi datado em 9 de maio de 1945. “Acaba a crise. As armas calam”, anota Hildegard. Naquele mesmo dia, Johannes atirou na mulher e depois em si mesmo. A última entrada do diário encontrado por alguém após sua morte dizia: “Quem se lembrará de nós, quem saberá como acabamos? Essas linhas têm algum sentido?”.

A partir do El País. Leia no original

SUICÍDIO ENTRE ADOLESCENTES

4/22/2015

Causa da morte de mais de 2 mil jovens brasileiros todos os anos. Considerado um fenômeno social entre alguns especialistas. Prática incentivada na internet. Ainda assim, o assunto – velado e cercado por tabus – é evitado pela sociedade. A temática suicídio entre adolescentes vem à tona após duas recentes mortes de garotas em idade escolar, em Belo Horizonte. Infelizmente, não se trata de casos isolados, muito menos raros.

Na última década, os índices de autoextermínio dobraram entre pessoas de 12 a 21 anos, segundo Fábio Gomes, vice-coordenador da Comissão de Prevenção ao Suicídio, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Das mil ocorrências registradas todos os meses no país, cerca de 170 são cometidas por adolescentes.

O número pode ser ainda mais preocupante. “Estão subnotificados. Se uma pessoa morre ao se envolver, por querer, em um acidente de carro, o fato é tratado como acidente de trânsito”, destaca.

Características

Embora alguns casos sejam atribuídos a distúrbios psiquiátricos, outros fatores estão por trás desse crescimento. “Há uma falsa ideia de que o suicídio está sempre associado à depressão. Isso não é verdade. Vivemos em uma sociedade altamente consumista, onde tudo ficou banalizado. Até a própria existência”, observa Maurício Leão de Rezende, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria.

Solidão, estresse e a pressão da competitividade também podem explicar o aumento das ocorrências. Sem maturidade suficiente para lidar com esses sentimentos, muitos escolhem o caminho mais radical. “Alguns não conseguem enxergar uma saída ‘meio-termo’. Eles têm percepções extremadas sobre a vida e são mais impulsivos”, afirma a psicóloga Sylvia Flores.

Apesar dessas características serem comuns à idade, Marcelo Tavares, professor do programa de pós-graduação em psicologia clínica e cultura da Universidade de Brasília (UNB) e coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção de Suicídio, adverte sobre o perigo de jogar a culpa apenas à fase da vida.

“Nem todos os pais querem compreender os sentimentos do adolescente. Preferem procurar um atalho, uma pílula que esconda o real problema. É mais fácil do que investir no relacionamento e no vínculo com o filho”. Outros setores da sociedade – até mesmo a escola – agem de modo semelhante. “Todo mundo quer passar a batata-quente”.

Internet

Não bastassem esses fatores, a internet também tem aberto o caminho para novas ocorrências. Segundo Fábio Gomes, diversos sites e páginas nas redes sociais incentivam a prática.

“Há grupos no Facebook que glamourizaram o suicídio. As pessoas deixam seus nomes e entram em uma espécie de lista, até que chegue o dia de se matarem”, conta. Recentemente, oito casos do tipo foram registrados apenas na cidade de Fortaleza. Dentre eles, uma família descobriu que um grupo saiu do enterro da menina para uma comemoração, como se aquele tivesse sido um grande dia.

“E que controle temos sobre isso? Nenhum. É muito importante resgatar a convivência familiar. Os adolescentes estão sozinhos e acabam se cercando por tecnologia. E na internet têm acesso indiscriminado a qualquer tipo de informação”, alerta.

Grupos compartilham informações sobre autoextermínio

Em uma página do Facebook com 15 mil curtidas, frases como “Meus cortes têm motivos, alguns até nome” e “Já me cortei sem derramar nenhuma lágrima, mas também já chorei tanto ao ponto de não conseguir segurar a lâmina” são divulgadas e compartilhadas. Quem faz as postagens é um adolescente de 19 anos que, desde a infância, tem pensamentos sobre a morte.

Ele não sabe atribuir de onde vieram essas ideias, mas ressalta que teve uma triste trajetória de vida, que inclui maus tratos dos pais. Hoje, afirma que encontra apoio na namorada e outros três amigos, além de alguns colegas que fez por meio da rede. “Não queremos incentivar o suicídio. Essa é uma forma de nos ajudarmos”, justifica o garoto, que já tentou se matar e também já cortou ou pulsos, sem intenção de morrer.

Grupos para compartilhar a automutilação também são comuns na rede. Além de compartilhar fotos dos braços machucados, os participantes – a maior parte deles, adolescentes – desabafam sobre os motivos que o levaram ao ato. Pela rede, divulgam os números de celulares para criarem grupos no WhatsApp.

A partir do R7. Leia no original
Imagem: Pexels
 
Copyright © QUERO MORRER. . OddThemes