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RESENHA : ENTENDIDOS, MAL ENTENDIDOS, DESENTENDIDOS E TOLOS

5/22/2015
“A única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior” (Laing)

Mês qualquer de 2007. A pilha de notícias recortadas amiúde, como diria o Zé Ramalho, me olhava naquele sábado. Vontade louca de ler. Daquelas que somente os fins de semana me permitem realizar em compulsão. Do jeito que eu gosto. Uma possível página amarelada de jornal, daquelas que a gente obsessivamente guarda para ler depois (provavelmente do caderno Dois ou da Ilustrada), me deu piniqueira. Uma comichão de desejo de ler. Titulo ponta de lança. Direto ao assunto. Lancei na lista.

No Brasil a partir de 2005, vagava pela Argentina desde 1967. Ano em que nasci. A fórceps. Na epígrafe a sentença de Albert Camus que eu viria a conhecer somente em 2010: “Todos os homens sãos pensaram em suicídio alguma vez”. Li 42 anos depois por terceiras mãos. “O meu pai pôs fim à sua vida numa tarde de sexta-feira. Tinha 33 anos. Na quarta sexta-feira do próximo mês eu terei a mesma idade”, ele me contou, o jornalista medíocre. Começava a sina. Dele. Minha. Nossa.

Por três anos. Em duas mudanças de apartamento ele não se perdeu. Mas precisou de uma preciosa visita jogar Antonio Di Benedetto novamente em meus braços. Ele, que sempre esteve ali, mirando na altura do meu queixo, diariamente, mais se fez notar esmagado entre a poeira dos tablóides do que em sua postura entrosadamente deitada. Tranqüilo. Alaranjado em meio a José Luis Peixoto e Luiz Antonio de Assis Brasil. “Ver claro é muito difícil”;

Sua conversa sem aspas, ou outros sinais, e direta me atraiu rapidamente. Como nos momentos fáticos dos pontos de ônibus ou elevadores nos quais nos vemos monossilábicos e atamancando as palavras. Entre um respiro e outro. “Tem razão. Trabalhe com Marcela. Por que a Marcela? Lembra, a reportagem do avião caído na cordilheira. Sabe se arriscar. Neste assunto não haverá riscos, vamos lidar com mortos. Não haverá? Assim espero. Quem sabe”. Sem travessões.

Fernanda queria um livro para passar o tempo enquanto eu trabalhava ou dormia. Rotina de visitante, de feriado. Uma semana entremeando 164 páginas. Por que Tiflis e Pizarro não suportaram viver? Qual é o mistério daqueles que se matam? Haveria sete dias para ela conhecer os rumos de Júlia, Mercedes, Bibi, Paolo, Maurício e outros. Tempos depois Fernanda me disse a literatura lhe ajudava a esperar meu alerta. As horas acabarem. Desentendi. “Justamente, ontem à noite sonhei de novo que estava andando nu”. Por muitas vezes isso se repetiria. Conosco.

O encontro do novo grupo de literatura viria acontecer somente quatro meses depois que a Fer tinha voltado para São Paulo. Eu e alguns amigos tínhamos inaugurado o bate-papo com “A Trégua”, do quase homônimo, o uruguaio, Benedetti. E, no mesmo dia, procurávamos por uma obra a ser debatida. Lembrei dos comentários da Fernanda dizendo o quanto a parte que ela lera de “Os suicidas” era divertida e engraçada. Leve. Sugeri. Tolas.

“Pergunto-lhe se seria capaz de fotografar um tremor. […] Insisto: ‘O tremor em si mesmo, não os efeitos e conseqüências: nem pessoas que correm nem uma parede rachada nem a torre caída de uma igreja’”. Era o argumento do personagem para se pensar o significado dos olhos estáticos e abertos de um morto naquele último instante; diante da morte sentiu algo. O que? É possível captar, interpretar? Do mesmo jeito Benedetto ia me guiando pelas impossibilidades de uma leitura só. Além dos entendimentos. Comuns.

Vieram os conceitos de morte. A pesquisa do autor na voz dos personagens. Os fragmentos de textos. Reportagens. Explicações filosóficas. Estatísticas e manipulações. Casadas ficção e realidade. Interpretação. A linguagem pós-moderna tomava as páginas daquele livro do século passado. “Viver é bom, às vezes. […] Ele ficou, no retrato, para sempre, jovem. Nunca será velho. Ninguém poderá humilhá-lo. Se não se vive, não é preciso agüentar que nos deixem viver. Os demais nos deixam viver, mas determinam como”.

Eu tinha apenas uma noite para decifrar a escrita entrecortada e fascinante; para mim – novidade. O grupo literário já revelava, virtualmente, o desapontamento e a nota desfavorável. A pontuação da turma beirava de zero a menos da metade. Muito longe da nove; eu lhe daria. “Prescindo do café-da-manhã, tomo um café preto, na cozinha, onde permanece com seu vinho tinto o copo que servi à Mae West”. Deliro – “Nascemos com morte dentro de nós […] Os corpos já se encontram nas padiolas, mas estas permanecem no chão. Panos ásperos os cobrem. Quero ver o rosto.” – sob edredons que vestem a noite gelada do cerrado. É julho em Brasília.

“Acho que é um pacto. É um pressentimento meu”. A trama vai envolvendo desentendimentos familiares. Traição. Ciúme. Competição. Melancolia. “O meu irmão se suicidou aos 60 anos. Eu nunca havia me preocupado seriamente com isso, mas, quando cheguei aos 50, a lembrança adquiriu vivacidade para o meu espírito, e agora eu a tenho presente”.

A narrativa é atraentemente descompassada, feito peito em arritmia frente ao medo ou à excitação. Ela coloca em plano secundário os nomes dos personagens e o fio da investigação sobre a motivação dos suicidas; apresentados como cadáveres nas primeiras páginas do enredo. Não importa. O mote é outro. O foco, o que se pretende instigar, está do outro lado do miolo impresso pela editora Globo. O livro é a arma que o leitor aponta para si. Para os próprios miolos.

Interessante, além da polêmica que o livro gerou no debate literário sobre a sua qualidade, é o preconceito que o título evidencia. “Os suicidas”. Colado ao lado do nome de seu autor. Logo abaixo da mancha alaranjada que escorre do topo para ilustrar sua capa. Aquarela? Sangue? Quem enxerga o que? A escolha em ler a obra, tardiamente traduzida no Brasil, gerou suspeitas. Um amigo disse: ela (eu) deve estar muito desiludida, deprimida e melancólica para sugerir essa leitura. “Doze, doze suicidas já houve entre os nossos. Eram fantasias de glória, revanches de quem vinha de uma existência de humilhada adversidade? Ele sonhava isso ou eu sonhei que ele sonhava?”. Mal entendidos. Desentendidos.

“Senti um tremor e indaguei na minha alma se era medo e eu não soube me responder, mas descobri que também podia ser a irrupção de um vivo gozo. Nesse momento, me acometeu algo inesperado, uma espécie de forte ataque de vaidade: enrolei o papel…”. Tive a chance de saber mais da morte por outras mentes e viventes. Durkheim. Cleópatra. Hamlet. Kierkegaard. Kant. Camus. Platão. Pitágoras. Camus. Balmes. Buda. Confúcio. Voltaire. Hegel. Nietzsche. Schopenhauer. Hume. Napoleão. Em complemento às religiões. “A tarde flui lentamente para o ocaso”.

“De fato, a questão não é por que eu me matarei, mas por que não me matar”. Às 17 horas, quatro antes do encontro, fechei a última capa entre: entendidos, mal entendidos, desentendidos e tolos. “São 11 horas. Terei de avisar, o que será embaraçoso. Devo me vestir porque estou nu. Completamente nu. Assim se nasce”. Vesti uma calça preta, uma blusa azul. Passei batom. Cheguei atrasada no Café com Letras. Pedi um chopp. Entre seis, o debate começou. “O vento continua, faz uuh, enfia-se por entre os edifícios”. Eu sonho também que vou descalça para o trabalho. “Sobra-me noite”. Ela chega.

Solange Pereira Pinto
A partir do Blog Mal de Montano. Leia no original

FALANDO FRANCAMENTE SOBRE O SUICÍDIO

5/20/2015

As razões podem ser bem diferentes, porém muito mais gente do que se imagina já teve uma intenção em comum. Segundo estudo realizado pela Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e desses, 4,8 chegaram a elaborar um plano para isso. Na maioria das vezes, no entanto, é possível evitar que esses pensamentos suicidas virem realidade.
A cada 45 minutos, um brasileiro morre vítima de suicídio. E, em uma sala com trinta pessoas, cinco delas já pensaram em tirar a própria vida.
A primeira medida preventiva é a educação: é preciso deixar de ter medo de falar sobre o assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema. Como já aconteceu no passado, por exemplo, com doenças sexualmente transmissíveis ou câncer, a prevenção tornou-se realmente
bem-sucedida quando as pessoas passaram a conhecer melhor esses problemas. Saber quais as principais causas e as formas de ajudar pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio no Brasil, onde hoje 32 pessoas por dia tiram a própria vida. Por isso, é essencial deixar os preconceitos de lado e conferir alguns dados básicos sobre o assunto. 


PENSAR EM SUICÍDIO FAZ PARTE DA NATUREZA HUMANA

1. COMO PODEMOS DEFINIR O SUICÍDIO?

Suicídio é um gesto de autodestruição, realização do desejo de morrer ou de dar fim à própria vida. É uma escolha ou ação que tem graves implicações sociais. Pessoas de todas as idades e classes sociais cometem suicídio. A cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão de pessoas todos os anos. Estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio a cada ano. De cada suicídio, de seis a dez outras pessoas são diretamente impactadas, sofrendo sérias consequências difíceis de serem reparadas.

2. O QUE LEVA UMA PESSOA A SE MATAR?

Vários motivos podem levar alguém ao suicídio. Normalmente, a pessoa tem necessidade de
aliviar pressões externas como cobranças sociais, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo, fracasso, humilhação etc.

3. COMO SE SENTE QUEM QUER SE MATAR?

No momento em que tem ideias suicidas, a pessoa combina dois ou mais sentimentos ou ideias conflituosos. É um estado interior chamado de ambivalência. Ela busca atenção por se sentir esquecida ou ignorada e tem a sensação de estar só – uma solidão sentida como um isolamento insuportável. Muita gente tem um desejo de revide ou imposição do mesmo sentimento negativo aos outros, querendo que sintam o mesmo que ela. Outras pessoas sentem vontade de desaparecer, fugir
ou de ir para um lugar ou situação melhor.

Quase sempre, sentem uma necessidade de alcançar paz, descanso ou um final imediato aos tormentos que não terminam. 

4. O SENTIMENTO E O IMPULSO SUICIDAS SÃO NORMAIS?

Pensar em suicídio é uma coisa que faz parte da natureza humana, e é estimulada pela possibilidade de escolha. O impulso também é uma reação natural, porém é mais comum nas pessoas que estão exaustas por dentro e emocionalmente fragilizadas diante de situações que despertam possibilidade de suicídio.

5. QUEM SE MATA MAIS: MENINOS OU MENINAS?

Os meninos normalmente se matam mais, embora elas tentem mais vezes do que os meninos. Essa tendência também acompanha os adultos, por causas culturais relacionadas a costumes e preconceitos sociais.  

6. O SUICÍDIO ESTÁ VINCULADO A ALGUMA DOENÇA MENTAL?

O suicídio resulta de uma crise de duração maior ou menor, que varia de pessoa para pessoa. Não está necessariamente ligado a uma doença mental, mas sim a um momento crítico que pode ser superado. As pessoas correm menos risco de se matar quando aceitam ajuda.

7. PESSOAS QUE AMEAÇAM SE MATAR PODEM DESISTIR DA IDEIA?

Sim, podem. Ao receber ajuda preventiva ou oferta de socorro diante de uma crise, elas podem reverter a situação ao colocar para fora seus sentimentos, ideias e valores, alterando, assim, seu estado interior. Essa ajuda pode vir de pessoas comuns, ligadas a organizações voluntárias como o CVV, que se dedicam à prevenção do suicídio – são voluntários que têm um papel importante ao ouvir quem estiver passando por um momento de desespero.

O apoio pode vir também de profissionais, contribuição muitas vezes indispensável, especialmente nos casos de descontrole. Essas duas possibilidades de ajuda são reconhecidas no mundo inteiro, pois apresentam bons resultados.

8. AS PESSOAS QUE TENTAM SUICÍDIO PEDEM SOCORRO?

Sim, é frequente pedir ajuda em momentos críticos, quando o suicídio parece uma saída. A vontade de viver aparece sempre, resistindo ao desejo de se autodestruir. De forma inesperada, as pessoas se veem diante de sentimentos opostos, o que faz com que considerem a possibilidade de lutar para continuar vivendo. Encontrar alguém que tenha disponibilidade para ouvir e compreender os sentimentos suicidas fortalece as intenções de viver.

9. QUEM ESTÁ POR PERTO PODE AJUDAR? COMO?

É preciso perder o medo de se aproximar das pessoas e oferecer ajuda. A pessoa que está numa crise suicida se percebe sozinha e isolada. Se um amigo se aproximar e perguntar “tem algo que eu possa fazer para te ajudar?”, a pessoa pode sentir abertura para desabafar. Nessa hora, ter alguém para ouvi-la pode fazer toda a diferença. E qualquer um pode ser esse “ombro amigo”, que ouve sem fazer críticas ou dar conselhos. Quem decide ajudar não deve se preocupar com o que vai falar. O importante é estar preparado para ouvir.

10. COMO O SUICÍDIO É VISTO PELA SOCIEDADE?

O suicídio foi e continua sendo um tabu entre a maioria das pessoas. É um assunto proibido e que agride várias crenças religiosas. O tabu também se sustenta porque muitos veem o suicida como um fracassado. Por outro lado, os homens, por natureza, não se sentem confortáveis para falar da morte, pois isso expõe seus limites e suas fraquezas. Esse tabu piora a situação de muitos. Muitas vezes, mesmo aqueles que seguem religiões que condenam o suicídio não conseguem respeitar suas crenças
e acabam dando fim à própria vida. 

11. O MUNDO ATUAL TEM INFLUÊNCIA NO NÚMERO DE SUICÍDIOS?

As estatísticas mostram que o suicídio cresce não somente por questões demográficas e populacionais, mas também por problemas sociais que prejudicam o bem-estar de cada um e que estimulam a autodestruição. Nossa sociedade vive com diversas situações de agressão, competição e insensibilidade. Campo fértil para que transtornos emocionais se desenvolvam. O antídoto para combater essa situação limita-se, no momento, ao sentimento humanitário que algumas pessoas têm.

12. QUAIS AS ESTATÍSTICAS SOBRE SUICÍDIO NO BRASIL?

A média brasileira é de 6 a 7 mortes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média mundial – entre 13 e 14 mortes por 100 mil pessoas. Mas o que preocupa é que, enquanto a média mundial permanece estável, esse número tem crescido no Brasil. E a maior porcentagem de suicídios é registrada entre jovens.

13. O SUICÍDIO PODE SER PREVENIDO?

Sim. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições mínimas para oferta de ajuda voluntária ou profissional. No Brasil, o CVV – rede voluntária de prevenção – atua nesse sentido há mais de 50 anos. Recentemente, foi iniciado um movimento de políticas públicas para traçar planos integrados de prevenção.

14. QUEM OFERECE AJUDA PARA PESSOAS COM INTENÇÃO DE SE MATAR?

As pessoas que precisam de ajuda podem recorrer ao CVV, grupo de voluntários que oferecem apoio emocional gratuito. E já existem programas de saúde pública que oferecem esse serviço em algumas regiões do país. Há, portanto, uma ampla rede de apoio voluntário por meio de telefonia, internet e atendimento presencial. O CVV atende por telefone, chat, Skype, e-mail e pessoalmente, além de
realizar atendimentos especiais em casos de eventos e catástrofes. Somos um grupo de 2.200 voluntários treinados para ouvir e compreender pessoas que estão abaladas emocionalmente e que correm sério risco de vida.

CURTA-METRAGEM FALA SOBRE DORES DA DEPRESSÃO E SUICÍDIO

5/18/2015
O tema delicado (depressão e suicídio) marcou a cidade de Campo Grande (MS) este ano, mas desde 2014 o diretor Roberto Leite trabalha no filme “Cortes”, um curta-metragem que trata de uma questão tabu, o suicídio.

Produzido pela Zion Filmes, de forma independente, o curta conta em 27 minutos a história de Jade, interpretada pela atriz Camila Schneider. Depois de perder o marido, ela redescobre a força da depressão que a acompanha desde criança.

A dor exagerada faz com que a jovem inicie um processo de despedida, gravando vídeo onde tenta explicar a decisão de se suicidar. O ator Filipi Silveira é Leo, amigo de infância que, percebendo a gravidade da situação, tenta fazer Jade mudar de ideia.

A proposta é mostrar que a vida é feita de cortes e cicatrizes. "Depressão não é frescura, é doença. E é essa a reflexão que queremos deixar ao público. Basta que procuremos o contato, a conversa e, dessa forma, esta situação poderá deixar de ser comum. Queremos reforçar também o alerta para a necessidade imediata de políticas públicas mais efetivas no sentido de identificar e tratar as vítimas da depressão", argumenta o diretor.

O diretor Roberto Leite ficou conhecido ao participar do Festival de Cannes, com o curta-metragem "O Florista".

"Cortes" também já fez sua estreia internacional em maio, no Festival de Miami, nos EUA, e está inscrito em outros 15 festivais. Veja o trailer a seguir.


DIZER ADEUS À VIDA

5/05/2015
Florbela Espanca, por Botelho

"É uma resposta aos que chamam ao suicídio um fim de cobardes e de fracos, quando são unicamente os fortes que se matam! Sabem lá esses pseudo-fortes o que é preciso de coragem para friamente, simplesmente, dizer um adeus à vida, à vida que é um instinto de todos nós, à vida tão amada e desejada a despeito de tudo, embora esta vida seja apenas um pântano infecto e imundo!"
Florbela Espanca - Correspondência (1916)
*   *   *
Para mim sem dúvida, Florbela foi e continua sendo uma das maiores poetisas da língua portuguesa, principalmente pela coragem de expor todos os sentimentos em suas poesias. Viveu em permanente estado de depressão, fumando em demasia, perdendo o brilho e a saúde. Cada vez mais abalada psicologicamente, mergulhou num estado de solidão que a fez distanciar-se cada vez mais da paixão pela vida. Em 1930, no dia do seu aniversário, Florbela Espanca colocou fim à sua agonia, suicidando-se. Aos trinta e seis anos calou-se a poetisa. Sua obra continua a ser alvo de estudos e interpretações de amantes literários e da comunidade científica ligada aos desígnios e mistérios da mente, como psicólogos e psiquiatras.

“Por mais que a ciência evolua e que a tecnologia avance jamais ela vai decifrar a mente humana, pois cada cabeça é um mundo e cada ser humano uma história, jamais caberá numa tese ou num fundamento.” (Afonso Allan).
M.K.
A partir da Comunidade QM

FILHO DE SUICIDA INVESTIGA O DESEJO DE MORRER

4/25/2015
O suicídio leva um número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio, tentou investigar as razões.


Os 44 anos de idade, uma idade não muito memorável para a maioria das pessoas mas, no meu caso, foi um aniversário que sempre terá uma importância especial. Foi a idade em que meu pai cometeu suicídio, há 25 anos, por razões que ainda não consegui esclarecer totalmente.

Como resultado, sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre suicídio no noticiário e notei também a frequência com que estas histórias envolviam homens.

O que não percebi até recentemente é que o suicídio é a mais frequente causa de morte de homens abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales. Cem homens morrem por semana. É a causa de morte mais prevalente atualmente, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 14 anos e homens têm quatro vezes mais chances de acabar com a própria vida do que as mulheres.

Queria descobrir o porquê. Qual a razão de homens serem mais suscetíveis e o que pode ser feito a respeito, se é que algo pode ser feito?

Meu próprio pai, na faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.

A incidência de suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É possível adivinhar as razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o homem perde o emprego em uma idade em que é difícil conseguir outro. Tudo isso pode gerar estresse em homens que se sentem pressionados a sustentar a família.

No caso do meu pai, nenhuma destas razões poderia explicar seu suicídio. Ele era um homem popular, gregário e talentoso, com uma mulher amorosa e quatro filhos, dos quais eu era o mais velho.

Pesquisa

Para tentar descobrir as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja pesquisa é baseada em 60 anos de experiência. O trabalho deles destaca uma série complexa de fatores - incluindo problemas financeiros e emocionais, traços de personalidade, desafios da idade e questões de saúde mental.

Todos estes problemas afetam mulheres também. Então, qual a razão de que, apesar de metade dos telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de mulheres, quatro vezes mais homens acabam mortos?

Existe uma opinião muito comum de que suicídio é prova de doença mental. O argumento é que, se você comete suicídio, você precisa estar sofrendo de uma doença mental diagnosticável como depressão.

Rory O'Connor é responsável por um dos mais importantes centros de pesquisa sobre suicídio no mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia. Faz experiências em psicologia e comportamento suicida. Frequentemente, a doença mental é parte do problema, mas não é uma explicação suficientemente completa para isto.

"Acreditamos que a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma doença mental, mas menos de 5% das pessoas com uma doença mental acabam com a própria vida", diz O'Connor.

Eu precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de meu pai quando ele cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar com minha mãe, algo que estava pendente há muito tempo. Quase nunca tocamos neste assunto na família.

E isto é uma parte importante do problema para muitas famílias. Meus irmãos e eu não conseguíamos conversar, provavelmente temendo choro ou discussões familiares durante a conversa.

Apesar das ressalvas e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe, com muita coragem, permitiu que a conversa fosse filmada. Naquela conversa, descobri que, assim os casos extraconjugais que meu pai teve, os problemas financeiros que enfrentava só foram descobertos depois da morte. E nunca discutidos antes.

Estes tipos de problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de suicídio entre homens da faixa dos 40 anos, mas o suicídio também é a maior causa de morte entre os homens 20 e 34 anos, quase um quarto de todos os óbitos.

Experiência

Conversei com Stephen Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e, novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um grande choque para a família.

"Ele era tão atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz Habgood.

Mas, por mais eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre seu estado com sua família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou relutância dos homens de todas as idades para falar sobre o que sentem é a chave para explicar o número maior de suicídios masculinos.

Há uma experiência mental muito útil para ilustrar estes casos, segundo Joe Ferns, diretor-executivo de políticas dos Samaritanos.

"Imagine chegar no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar alguém triste no escritório, chorando por algo que acontece no fim de semana. Se fosse uma mulher, alguém a levaria ao banheiro, teria uma conversa com ela e ninguém pensaria nada muito sobre isto."

"Se o mesmo acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a reação das pessoas seria muito mais dramática. As pessoas presumem que algo muito ruim deve ter acontecido", acrescentou.

Há uma diferença na forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.

Conversas que salvam?

Então, simplesmente conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em suicídio, mas não o fez.

Ele estava desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em sua comunidade.

"Sempre fui uma pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e acredito que era muito afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito bem com meu grupo de amigos, sempre me senti como um estranho. Era difícil, pois quando você está crescendo, ninguém quer se sentir excluído", disse.

Depois de decidir pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos Samaritanos em Manchester e, como pensava que não tinha nada a perder, entrou.

Agora ele percebe que esta decisão salvou sua vida.

"A razão principal que me levava a não conversar com ninguém era esta ideia de fraqueza. Se você não pode resolver os problemas sozinho, então é uma pessoa fraca."

E esta percepção é a chave para entender a razão de os homens tirarem a própria vida em números tão altos, segundo Jane Powell, diretora da Campanha contra uma Vida Triste (CALM, na sigla em inglês).

Rugby

Se alguém procura estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.

Ian Knott era um jogador profissional bem-sucedido do time Warrington Wolves quando sofreu uma lesão que acabou com sua carreira e o deixou sentindo dores constantes. Knott sentia que não conseguia mais cumprir seu papel como jogador, marido e pai. Isto o levou a tentar o suicídio.

"A dor chegou a tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e meus filhos continuavam ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte (da família)."

Knott agora dá palestras em reuniões de uma instituição chamada State of Mind, que exibe vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para falar sobre suas carreiras e funciona como um fórum para discussões a respeito de problemas emocionais.

"Estou orgulhoso pois agora posso falar de minhas experiências e talvez ajudar outras pessoas, principalmente outros homens", afirmou Knott.

"Este é o principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam absolutamente ter nada do que se envergonhar."
A partir do Terra. Leia no original
Imagem: Pexels

QUANDO AS MÃES JOGAVAM OS FILHOS NO RIO

4/23/2015
Alemanha relembra onda de suicídios nos últimos meses da 2a. Guerra Mundial
Bärbel Schreiner, com sua mãe e seu irmão em Demmin em 1944.
O documento é estremecedor. Vinte e oito páginas repletas de nomes acompanhados da data e do motivo da morte. Escolhida um aleatoriamente, aparecem várias famílias —os Gaut, os Schubert (mãe e filha), os Rienaz (também mãe e e filha)…—. Todos morreram em 8 de maio de 1945. E todos por uma mesma causa: suicídio. Estamos no Museu Regional de Demmin, uma pequena cidade no noroeste da Alemanha, que nesses dias revive seus dias mais dramáticos. Nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial, quando a vitória final tantas vezes anunciada por Adolf Hitler parecia cada vez mais irreal e o Exército Vermelho se aproximava, entre 700 e 1.000 cidadãos de Demmin –que à época tinha 15.000 habitantes— preferiram morrer a ter que viver em um mundo que não fosse governado pelos nazistas. Foi o maior suicídio em massa na história da Alemanha.

Bärbel Schreiner, então uma menina de 6 anos, esteve a ponto de ser vítima dessa loucura coletiva. Mas seu irmão conseguiu convencer sua mãe a não fazer com os dois filhos o que tantos pais faziam naqueles dias. “Mamãe, nós não, né?”, recorda Schreiner da fala de seu irmão disse, enquanto observava o rio Peene, cheio de cadáveres. “Ainda me lembro da água avermelhada pelo sangue. Sem essas palavras, tenho certeza que minha mãe teria afogado nós dois”, afirma, com a voz embargada, essa mulher de 76 anos.


Registro de mortos em Demmin, no Museu Regional. / LUIS DONCEL
O caso de Schreiner não foi uma exceção. Uma onda de suicídios atingiu a Alemanha entre janeiro e maio de 1945. Não existem números exatos, mas os historiadores calculam que entre 10.000 e 100.000 pessoas tenham tomado essa decisão. Ao tirar a própria vida, era normal que os adultos levassem também seus filhos. Foi o que fez Joseph Goebbels, ministro da Propaganda e chanceler nos últimos dias do III Reich, quando ele e sua mulher, Magda, envenenaram os seis filhos.

Escreveu-se muito sobre o suicídio dos líderes nazistas. Além de Hitler, cuja morte completará 70 anos em 30 de abril, e Goebbels, também tirou a própria vida o chefe das temidas SS, Heinrich Himmler. Mas, até agora, não se havia prestado muita atenção aos cidadãos comuns que seguiram o destino de seus líderes fanáticos. Justamente essa falta de conhecimento sobre a tragédia que milhares de pessoas anônimas viveram levou o historiador Florian Huber a escrever Filho, Me Promete que Vai Atirar. O sucesso do livro, que em dois meses já vendeu mais de 20.000 exemplares, surpreendeu inclusive o autor.

“Estudei história e nunca tinha ouvido falar desse episódio trágico. Um dia, vi em um livro um pé de página que mencionava a onda de suicídios nos últimos meses da guerra e decidi investigar”, conta em um café de Berlim. Mas, o que levou esses homens e mulheres comuns a dar um tiro em si mesmos, se enforcar numa árvore ou se jogar no rio mais próximo? Medo das represálias dos vencedores? Fanatismo nazista? Ou sentimento de culpa pelos abusos de 12 anos de nacionalismo e seis de guerra? “Uma mescla de todos esses fatores. Também teve influência um efeito psicológico que transforma o suicídio em algo contagioso, quase como uma infecção. Se você visse nesse café todo mundo começando a se matar, talvez você cogitasse também”, responde.
"Mamãe, nós não", disse o irmão de Schreiner ao ver os mortos no rio
A epidemia suicida se estendeu por muitos rincões da Alemanha, mas por que afetou principalmente alguma áreas, como o leste do país, e muito especialmente lugares como Demmin? Huber explica a mescla de circunstâncias históricas e geográficas que tornaram essa localidade uma ratoeira da qual era impossível escapar. “Rodeada por três rios, forma uma espécie de península. Em sua fuga, os líderes nazistas dinamitaram as três pontes existentes. De forma que, quando os soviéticos chegaram, não podiam continuar avançando. Os soldados do Exército Vermelho chegaram em 30 de abril, com vontade de abandonar logo Demmin para comemorar a festa de 1º de maio”, afirma.

Justamente no mesmo dia em que Hitler se matou com um tiro dentro de seu bunker em Berlim, os soldados vermelhos queimavam Demmin e difundiam o pânico. Os anos de guerra, a sede de revanche e a bebida que correu pela noite fomentavam a violência dos soviéticos. O resultado desse coquetel foi assombroso. Huber afirma que os rios se tornaram cemitérios durante semanas; e que os trabalhos para retirar os corpos da água se estenderem entre maio e julho daquele ano. “As testemunhas se lembram de pessoas penduradas em árvores por toda parte”, acrescenta.

Uma mistura de fanatismo nazista, medo e contágio explica a loucura coletiva
O sofrimento dos civis alemães durante a guerra –sejam os abusos de mulheres ou os bombardeios de cidades como Potsdam, que nesta semana completou 70 anos— é um tema complexo. Não há dúvidas de que muitos inocentes sofreram as consequências, mas esse sofrimento também serve de desculpa para os neonazistas, que continuam confundindo e igualando a dor do povo agressor com a dos agredidos.

O mesmo ocorre ainda hoje em Demmin. Há uma década, em todo 8 de maio, dia da rendição, um pequeno grupo de manifestantes ligados ao partido de extrema direita NPD relembram as vítimas alemães. “Durante os anos do comunismo, esse tema era um tabu. Ninguém quer lembrar as violações ou crimes cometidos pelos soldados que nos libertaram do fascismo. E agora os neonazistas também utilizam a dor do passado para os seus fins”, afirma Petra Clemens, a diretora do museu, rodeada por vestígios da história da região. Nessa castigada cidade do leste alemão, o desemprego atinge 17% da população (um percentual altíssimo para um país no qual a média está em 6,9%) e o alcoolismo tem seu preço.

Demmin foi talvez o caso mais extremo da loucura coletiva que invadiu o país nos primeiros meses de 1945, mas não o único. Em Berlim foram registrados naquele ano 7.000 suicídios, dos quais quase 4.000 aconteceram no mês de abril. Em seu livro, Huber reúne depoimentos de pessoas que associaram o fim de suas próprias vidas ao fim do nacional-socialismo. Como o professor Johannes Theinert e sua mulher, Hildegard, que começaram a escrever um diário em 1937, um ano após se casarem. O último registro foi datado em 9 de maio de 1945. “Acaba a crise. As armas calam”, anota Hildegard. Naquele mesmo dia, Johannes atirou na mulher e depois em si mesmo. A última entrada do diário encontrado por alguém após sua morte dizia: “Quem se lembrará de nós, quem saberá como acabamos? Essas linhas têm algum sentido?”.

A partir do El País. Leia no original

SUICÍDIO ENTRE ADOLESCENTES

4/22/2015

Causa da morte de mais de 2 mil jovens brasileiros todos os anos. Considerado um fenômeno social entre alguns especialistas. Prática incentivada na internet. Ainda assim, o assunto – velado e cercado por tabus – é evitado pela sociedade. A temática suicídio entre adolescentes vem à tona após duas recentes mortes de garotas em idade escolar, em Belo Horizonte. Infelizmente, não se trata de casos isolados, muito menos raros.

Na última década, os índices de autoextermínio dobraram entre pessoas de 12 a 21 anos, segundo Fábio Gomes, vice-coordenador da Comissão de Prevenção ao Suicídio, da Associação Brasileira de Psiquiatria. Das mil ocorrências registradas todos os meses no país, cerca de 170 são cometidas por adolescentes.

O número pode ser ainda mais preocupante. “Estão subnotificados. Se uma pessoa morre ao se envolver, por querer, em um acidente de carro, o fato é tratado como acidente de trânsito”, destaca.

Características

Embora alguns casos sejam atribuídos a distúrbios psiquiátricos, outros fatores estão por trás desse crescimento. “Há uma falsa ideia de que o suicídio está sempre associado à depressão. Isso não é verdade. Vivemos em uma sociedade altamente consumista, onde tudo ficou banalizado. Até a própria existência”, observa Maurício Leão de Rezende, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria.

Solidão, estresse e a pressão da competitividade também podem explicar o aumento das ocorrências. Sem maturidade suficiente para lidar com esses sentimentos, muitos escolhem o caminho mais radical. “Alguns não conseguem enxergar uma saída ‘meio-termo’. Eles têm percepções extremadas sobre a vida e são mais impulsivos”, afirma a psicóloga Sylvia Flores.

Apesar dessas características serem comuns à idade, Marcelo Tavares, professor do programa de pós-graduação em psicologia clínica e cultura da Universidade de Brasília (UNB) e coordenador do Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção de Suicídio, adverte sobre o perigo de jogar a culpa apenas à fase da vida.

“Nem todos os pais querem compreender os sentimentos do adolescente. Preferem procurar um atalho, uma pílula que esconda o real problema. É mais fácil do que investir no relacionamento e no vínculo com o filho”. Outros setores da sociedade – até mesmo a escola – agem de modo semelhante. “Todo mundo quer passar a batata-quente”.

Internet

Não bastassem esses fatores, a internet também tem aberto o caminho para novas ocorrências. Segundo Fábio Gomes, diversos sites e páginas nas redes sociais incentivam a prática.

“Há grupos no Facebook que glamourizaram o suicídio. As pessoas deixam seus nomes e entram em uma espécie de lista, até que chegue o dia de se matarem”, conta. Recentemente, oito casos do tipo foram registrados apenas na cidade de Fortaleza. Dentre eles, uma família descobriu que um grupo saiu do enterro da menina para uma comemoração, como se aquele tivesse sido um grande dia.

“E que controle temos sobre isso? Nenhum. É muito importante resgatar a convivência familiar. Os adolescentes estão sozinhos e acabam se cercando por tecnologia. E na internet têm acesso indiscriminado a qualquer tipo de informação”, alerta.

Grupos compartilham informações sobre autoextermínio

Em uma página do Facebook com 15 mil curtidas, frases como “Meus cortes têm motivos, alguns até nome” e “Já me cortei sem derramar nenhuma lágrima, mas também já chorei tanto ao ponto de não conseguir segurar a lâmina” são divulgadas e compartilhadas. Quem faz as postagens é um adolescente de 19 anos que, desde a infância, tem pensamentos sobre a morte.

Ele não sabe atribuir de onde vieram essas ideias, mas ressalta que teve uma triste trajetória de vida, que inclui maus tratos dos pais. Hoje, afirma que encontra apoio na namorada e outros três amigos, além de alguns colegas que fez por meio da rede. “Não queremos incentivar o suicídio. Essa é uma forma de nos ajudarmos”, justifica o garoto, que já tentou se matar e também já cortou ou pulsos, sem intenção de morrer.

Grupos para compartilhar a automutilação também são comuns na rede. Além de compartilhar fotos dos braços machucados, os participantes – a maior parte deles, adolescentes – desabafam sobre os motivos que o levaram ao ato. Pela rede, divulgam os números de celulares para criarem grupos no WhatsApp.

A partir do R7. Leia no original
Imagem: Pexels

FILHA DE KURT COBAIN DIZ QUE PAI A ABANDONOU

4/16/2015

Tudo aconteceu no dia 5 de Abril de 1994, quando o mundo acordou com a notícia da morte de Kurt Cobain. O vocalista da banda Nirvana suicidou-se aos 27 anos com uma espingarda, deixando a mulher e uma filha pequena que hoje fala do assunto com frieza.

Frances Bean Cobain (foto) tem atualmente 22 anos e não se lembra do pai. Tinha pouco mais de um ano quando o corpo de Kurt Cobain foi encontrado, três dias depois do suicídio e com uma nota de despedida. A mulher, Courtney Love, revelou anos mais tarde que esta não teria sido a primeira tentativa de suicídio do cantor. A filha viveu sempre com o estigma da morte do pai e, pela primeira vez, confessou à revista Rolling Stone o que sente em relação a tudo isto.

"Se ele fosse vivo, eu teria tido um pai. E isso teria sido uma experiência incrível. Ele abandonou a família da forma mais horrível possível", revelou Frances Cobain. Por mais que a mãe tenha tentado suprir a ausência paternal, a verdade é que o suicídio do pai nunca foi bem encarado pela filha. Aliás, ela vai mais longe e até faz uma revelação surpreendente.

"Não gosto muito de Nirvana"

O legado musical deixado pelo pai, que liderava a banda Nirvana e que fez sucesso mundial, seria talvez das poucas recordações que aproximava Frances e Cobain mas, na realidade, a filha não gosta das canções do pai. "Eu não gosto muito de Nirvana. Que me desculpem as pessoas da editora. Gosto mais de Mercury Rev, Oasis, Brian Jonestown Massacre. O estilo de música não me interessa muito", disse Frances à referida revista.

Apesar disso, terá sido o documentário sobre a vida de Kurt Cobain, produzido por Frances, que voltou a unir mãe e filha. Em 2009 as duas terão tido uma discussão e cortaram relações. Anos mais tarde, na apresentação do documentário, apareceram juntas e felizes, mostrando que superaram as diferenças. Frances quis mostrar ao mundo como era o pai na intimidade e produziu o documentário "Montage of Heck", em colaboração com uma produtora, já que sempre fez questão de estar longe das luzes da fama.
A partir de BlastingNews. Leia no original

PRECISAMOS FALAR SOBRE O SUICÍDIO

4/08/2015
Embora o suicídio seja hoje, no Brasil e no mundo, um problema concreto de saúde pública, pouco ou quase nada é publicado na imprensa sobre o assunto no dia a dia. Como uma das máximas da era da informação é a tese de que, se algum fato ocorreu mas não se tornou notícia, então não aconteceu, exageros à parte é mais ou menos assim o que acontece com as dezenas de casos de suicídio que ocorrem no Brasil diariamente. Coisa rara na imprensa é notícia sobre suicídio e suicidas. A não ser quando se trata de alguém famoso ou quando o suicídio vai além da morte de quem o cometeu, como é o caso da tragédia com o Airbus 320 da Germanwings, cujo copiloto, Andreas Lubitz, suicidou-se usando o avião que pilotava e levou à morte mais 149 pessoas. O fato obrigou a imprensa a fazer o que ela não quer, não pode e não deixam: falar sobre suicídio. 

A primeira recomendação ética para que os casos de suicídios sejam evitados pelos jornalistas é de natureza médica. Há uma orientação internacional da Organização Mundial de saúde recomendando à imprensa todo o cuidado do mundo ao abordar suicídio, sob o seguinte argumento: diante de uma notícia sobre uma morte dessa natureza, as pessoas com ideações suicidas sentem-se encorajadas a repetir o gesto.

Uma segunda razão forte para a imprensa não noticiar mortes por suicídio é o critério de não interesse público na morte de uma pessoa que, tragicamente, decidiu interromper a própria vida. Ou seja, o interesse de um episódio dessa natureza diz respeito tão somente à própria família, cuja dor e luto em nada se relacionam com a opinião pública. Esse critério desaparece, por exemplo, quando se trata dos famosos ou quando o suicídio em si traz consequência para a vida de terceiros, como nos casos em que as pessoas atiram-se de prédios e viadutos e causam a morte ou ferimentos graves de/em quem passava pela via pública naquele instante. O pressuposto de que o suicídio é algo intrinsecamente da ordem da vida privada da vítima e da família faz com que não sejam raros os casos de processos judiciais movidos por familiares contra veículos de comunicação que desafiam essa norma implícita. 

FORA DA CURVA 

Quem tem amigos pouco sensíveis no whatsapp e não recebeu nos últimos meses vídeos de suicídios recentes em Salvador? Desses, raríssimos apareceram na imprensa e aqueles que fugiram à regra receberam tratamento eufemístico. No entanto, apesar dos raros casos noticiados e da forma eufemística como são narrados (“mulher morre ao cair do 20º andar”), fora do mundo das notícias os índices de suicídio no Brasil são assustadores. Hoje, no país, cerca de 30 pessoas suicidam-se por dia. E o contexto é ainda mais alarmante: para cada morte há entre 10 e 20 casos de tentativas mal sucedidas, além de a taxa de mortes por suicídio de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos ter crescido 40% nos últimos e 33% entre 15 e 19 anos.

Independentemente dos tabus que norteiam os limites do noticiamento do suicídio, é preciso encontrar um modo de reduzir o sofrimento de suicidas em potenciais que dão sinais às suas famílias de não estarem suportando o peso de suas próprias vidas, antes que seus planos sejam concretizados. O caso Andreas Lubitz é um ponto fora da curva, pois se há coisa rara, segundo os especialistas, é um suicida clássico levar em conta, na hora de tomar sua decisão, a morte concreta do outro. Mas não deixa de ser uma brecha e tanto para enfrentar um problema de saúde e um tabu que pode, nesse instante, estar pairando silenciosamente sobre milhões de famílias, algumas delas bem mais perto do que se imagina.
Jornalista e professora da Ufba

VIVER É MELHOR

4/07/2015

De vez em quando, surge alguém a falar sobre o suicídio, como se ele fosse uma glória, a do desaparecimento das dores e das perturbações da vida.

No entanto, isso é um grande engano, no qual ninguém deve precipitar-se, porquanto todo aquele que procurar no fim da existência humana o esquecimento de tudo encontrará o supremo despertar da inteligência flagrada em delito, porque, buscando o fim, achará vida e suas cobranças acerca do que o suicida terá feito com ela.

A morte não é o término da existência humana. Como dizia o saudoso Proclamador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, Alziro Zarur (1914-1979), “ela não existe em nenhum ponto do Universo”.

Realmente, porque nem o cadáver está morto. Ao desfazer-se, libera bilhões de formas minúsculas que vão gerar outras maneiras de existir.

Você não acredita? Tem todo o direito. Mas se for verídico?! Premie-se, minha amiga, meu amigo, com o direito à dúvida, base do discurso científico, que, na perquirição incessante, continua rasgando estradas novas para a Humanidade.

Pense no fato de que, se o que afirmamos aqui for realidade, Você encontrar-se-á, após um pseudoato libertário (o suicídio), terrivelmente agrilhoado (ou agrilhoada). Achar-se-á em uma situação para a qual, de jeito algum, estava preparado (ou preparada). Para quem apelar se, de início, afastou de si todos os entes queridos e alegrias que teimava em não ver?! Naquele momento, tardiamente, gostaria de voltar a enxergá-los. E, somente à custa de muitas orações, que Você, talvez, jamais, ou raras vezes, tenha proferido na Terra, perceberá, num gesto de humildade, uma luz que se lhe acendam nas trevas. Apenas desse modo poderá reencetar, depois de muitas dores, cobradas por seu próprio Espírito, uma caminhada que se terá tornado mais áspera.

Como se diz, na Religião Divina, “o suicídio não resolve as angústias de ninguém”; portanto, nem as suas.

Meu Irmão, minha Irmã, a Vida continua sempre, e lutar por ela vale a pena. Por pior que seja a escuridão da noite, o Sol nascerá, trazendo claridade aos corações.

Ainda mais, se passarmos os olhos pelo redor do nosso dia a dia, veremos que existem aqueles, seres humanos e até mesmo animais, em situação mais dolorosa, precisando que lhes seja estendida mão amiga. Não devemos perder a oportunidade de ajudar. Àquele que auxilia não faltará nunca o amparo bendito que lhe possa curar as feridas.

Viver é melhor!

Por que uma pessoa se mata?

4/03/2015
Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?


A cada 40 segundos alguém se suicida em algum lugar do mundo. Uma das principais causas de morte entre os humanos, o suicídio estarrece, incomoda, silencia. Entenda o que gera o comportamento suicida e como esse gesto externo pode ser evitado.

O desespero beira o insuportável. A cada dia, o sofrimento – físico ou emocional – fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. Sua dor parece incomunicável; por mais que você tente expressar a tristeza que sente, ninguém parece escutá-lo ou compreendê-lo. A vida perde o sentido. O mundo ao seu redor fica insosso. Você sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar num mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e você se sinta outro. Será que a morte é o passaporte para essa nova vida?

Atire a primeira pedra quem nunca pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de impotência extremas. Parece comum ao ser humano experimentar, pelo menos uma vez na vida, um momento de profundo desespero e de grande falta de esperança. Os adjetivos são mesmo esses: extremo, insuportável, profundo. Mas, aos poucos, os seus sentimentos e idéias se reorganizam. Suas experiências cotidianas passam a fazer sentido novamente e você consegue restabelecer a confiança em si mesmo. Você descobre uma saída, procura apoio, encontra compreensão. Aquele desejo autodestrutivo, aquela vontade de resolver todos os problemas num golpe só, se dilui. E você segue adiante. Muitos, no entanto, não conseguem encontrar uma alternativa. O suicídio, para esses, parece ser a última cartada, o xeque-mate contra o sofrimento, um gran finale para uma vida aparentemente sem sentido, para um presente pesado demais ou para um futuro por demais amedrontador. E eles se matam.

Imperscrutável, no limite, o suicídio não tem explicações objetivas. Agride, estarrece, silencia. Continua sendo tabu, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com filhos, pais, amigos e até mesmo com o terapeuta. Mas as estatísticas mostram que o suicídio precisa, sim, ser discutido. Trata-se, além de uma expressão inequívoca de sofrimento individual, de um sério problema de saúde pública. Segundo o mais recente relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 815 mil pessoas se mataram no ano 2000 em todo o mundo – uma taxa de 14,5 para cada 100 mil habitantes. Isso significa um suicídio a cada 40 segundos. A “violência autodirigida”, como o suicídio é classificado pela OMS, é hoje a 14ª causa de morte no mundo inteiro. E a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos. Não pode mais ser ignorada.

Casos de suicídio muitas vezes são deliberadamente mascarados nas estatísticas oficiais. Suicídios de crianças tidos como morte acidental ou acidentes de automóvel, causados por jovens que dirigem alcoolizados e em alta velocidade: para os especialistas, esses são, sim, atos suicidas. “Se você investigar a vida dessas crianças e jovens semanas ou meses antes da morte, pode identificar sinais de que algo não ia bem”, diz a psicóloga Ingrid Esslinger, do Laboratório de Estudos sobre a Morte da Universidade de São Paulo (USP). A poeta americana Sylvia Plath (1932-1963) tentou se matar duas vezes antes de concretizar o suicídio (tais experiências levaram-na a escrever o romance A Redoma de Vidro). Uma das vezes foi um “acidente de carro”. Aparentemente, Sylvia perdera os sentidos no volante e deixara o carro sair da estrada e ir ao encontro de um aeródromo. Segundo o crítico literário Alfred Alvarez, amigo da poeta, a própria Sylvia admitiu que saíra intencionalmente da estrada, com o objetivo de morrer.

“Todos já pensamos em suicídio em algum momento na vida. É um pensamento humano. Se não desejamos nos matar, ao menos cogitamos morrer – morrer para escapar do sofrimento, para nos vingar, para chamar a atenção ou para ficar na história”, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, um dos maiores especialistas brasileiros em suicídio. “Mas resolvemos continuar vivos e melhorar as nossas condições de vida. O suicídio, então, soa como um desatino. A pergunta que fica é: por que algumas pessoas desistem e outras não?”

Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. Para decifrá-los, os estudiosos recorrem à “autópsia psicológica”, um procedimento que tem por finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida por meio de entrevistas e, assim, delinear as características psicossociais que a levaram à morte violenta.

“Existem causas imediatas predisponentes – como perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira – que agem como o último empurrão para o suicídio”, diz a psicóloga Blanca Guevara Werlang, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em autópsia psicológica. “A análise das características psicossociais do indivíduo, porém, revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade.”

Fenômeno complexo, o suicídio configura um assassinato, em que vítima e agressor são a mesma pessoa. “A definição de suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Caso contrário, é considerado morte por acidente ou negligência”, diz o psiquiatra José Manoel Bertolote, líder da Equipe de Controle de Transtornos Mentais e Cerebrais do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS.

O fato de estar consciente de que vai efetuar um ato suicida não elimina, no entanto, o estado de confusão mental que o indivíduo experimenta momentos antes da ação. “Ele não sabe se quer morrer ou viver, se quer dormir ou ficar acordado, fugir da dor, agredir outra pessoa ou, de fato, encontrar o mundo com o qual fantasia”, diz Roosevelt. Afinal, o suicida tem diante de si duas iniciativas complexas e contraditórias a conciliar naquele momento: tirar a vida e morrer. O suicídio ocorreria, então, num instante em que a pessoa se encontra quase fora de si, fragmentada, com os mecanismos de defesa do ego abalados e, por isso, “livre” para atacar a si mesma.

Há suicídios e suicídios. Por isso, os especialistas costumam avaliar a tentativa de se matar ou o ato propriamente dito a partir de duas variáveis: a intencionalidade e a letalidade. A primeira diz respeito à consciência e à voluntariedade no planejamento e na preparação do ato suicida. A segunda, ao grau de prejuízo físico que a pessoa se inflige. Existem casos em que o indivíduo demonstra evidente intenção de morrer e alto grau de letalidade, ao optar por um método eficiente. Em outras ocorrências, a vontade de morrer é fraca, apesar de voluntária, e o método escolhido é pouco prejudicial. Ou seja: há casos de suicidas propriamente ditos. E há casos em que a pessoa só está pedindo socorro, implorando para ser resgatada. Claro que há quem não queira enfaticamente a morte mas, por usar um meio perigoso, acabe sendo bem-sucedido.

E outros, cujo objetivo é mesmo acabar com a própria vida, por desconhecimento da maneira mais efetiva de causar danos graves a si mesmos, acabam sobrevivendo. (Aliás, esses, se não receberem tratamento adequado, são candidatos a uma nova tentativa.)

"Minha cabeça não recupera"

Dados da OMS indicam que o suicídio geralmente aparece associado a doenças mentais – sendo que a mais comum, atualmente, é a depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo. Estima-se que uma em cada quatro pessoas sofrerá de depressão ao longo da vida. Entre os subtipos, a depressão bipolar – em que fases de euforia e apatia profundas se alternam – parece ser a de maior risco. O alcoolismo responde por 18% dos casos de suicídio, a esquizofrenia por 14% e os transtornos de personalidade – como a personalidade limítrofe e a personalidade anti-social – por 13%. Os casos restantes são relacionados a outros diagnósticos psiquiátricos.

Estudos de autópsia psicológica (feitos com base em entrevistas com amigos, familiares e médicos do suicida) mostram que mais de 90% das pessoas que se mataram no mundo tinham alguma doença mental. Entretanto, doenças psiquiátricas não são condição suficiente para o comportamento suicida, já que outros fatores – emocionais, socioculturais e filosóficos – também entram em jogo. Na verdade, essas doenças provocam uma vulnerabilidade maior ao suicídio. “É comum que a pessoa, quando está com depressão, tenha pensamentos pessimistas, ache que a vida não vale a pena e que talvez fosse melhor morrer”, diz o psiquiatra Humberto Corrêa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Mas a maioria dos deprimidos não tentará se matar. Somente os mais impulsivos e agressivos procuram o suicídio.”

Hoje, sabe-se que indivíduos com alteração no metabolismo da serotonina – um dos mensageiros químicos mais importantes do nosso cérebro – apresentam maior risco de suicídio que os demais. Em sua pesquisa sobre a genética do comportamento suicida, Humberto analisou pacientes com depressão e esquizofrenia e constatou que todos aqueles que haviam tentado se matar tinham a chamada função serotoninérgica diminuída. (Ou seja, problemas no conjunto das etapas que envolvem a participação da serotonina: sua síntese, sua ligação com os receptores celulares e seu transporte. Se há falha em alguma etapa, a atuação desse neurotransmissor se reduz.)

“Quanto maior a intencionalidade suicida e mais letal o método usado, menor a função cerebral da serotonina”, diz Humberto. O próximo passo é pesquisar que genes ligados ao funcionamento da serotonina – são mais de 20 – poderiam estar mais associados ao comportamento suicida. Diversos grupos internacionais dedicam-se a estudos desse tipo. O psiquiatra Pavel Hrdina, diretor do Laboratório de Neurofarmacologia da Universidade de Ottawa, Canadá, descobriu que pacientes depressivos portadores de uma mutação no gene responsável por codificar um dos receptores da serotonina apresentavam duas vezes mais chances de cometer suicídio que aqueles sem a mutação. “A alteração nesse gene aumenta o risco de ideação suicida e de tentativas de autodestruição em casos de depressão grave”, diz Hrdina. Os cientistas tentam agora entender a relação direta entre a serotonina e o suicídio.

“Há uma forte evidência de que a serotonina inibe o comportamento violento, agressivo e impulsivo. Mas o que sabemos sobre a ligação entre esses comportamentos e o suicídio?”, escreve a psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, portadora de depressão bipolar, familiarizada com a ideação suicida (ela mesma já tentou se matar) e autora do livro Quando a Noite Cai. “Embora muitos pacientes tenham planos bem formulados para o suicídio, a cronometragem definitiva e a decisão final para a ação costumam ser determinadas por impulso.” Portanto, os fatores biológicos são particularmente importantes para a decisão sobre quando apertar o botão “morrer”.

A participação genética no suicídio vem sendo pesquisada desde a década de 1920. Um estudo feito na Dinamarca mostrou que os parentes biológicos de pessoas que foram adotadas quando recém-nascidas e que se suicidaram posteriormente tinham taxas de suicídio significativamente maiores que as observadas entre os parentes adotivos. Entre gêmeos idênticos, de acordo com uma pesquisa americana, a possibilidade de um irmão se matar caso o outro já tenha se suicidado gira em torno de 15%. Para os gêmeos não-idênticos, a taxa cai para 2% ou 3%.

Tal componente genético poderia explicar, em parte, os casos de suicídio numa mesma família. Filhos de pais depressivos teriam uma predisposição maior à doença. Por isso, muitos especialistas incluem os parentes de um suicida no grupo de risco. Mas, no caso de padrão familiar para o suicídio, não só a genética pode exercer influência sobre o comportamento, mas também o modelo presente naquele núcleo social. Filhos podem se inspirar na solução que pais suicidas encontraram, por exemplo, de usar a morte como saída para um conflito.

"Desculpa, não consegui"

O escritor italiano Cesare Pavese (1908-1950), 12 anos antes de se matar com barbitúricos, tinha escrito: “Ninguém nunca deixa de ter um bom motivo para o suicídio”. A angústia existencial do suicida sempre vai fornecer justificativas para a sua morte. Ele sempre poderá enxergar a vida sem sentido ou ver prevalecer em si um sentimento neurótico de desvalia, derrota e de baixa auto-estima. Daí a criação de fantasias em torno da morte. Como se trata de um fenômeno pouco entendido e também considerado tabu (leia a matéria “Morte”, na Super de fevereiro de 2002), o suicídio geralmente é recriado de acordo com as expectativas do indivíduo. O suicida não pensa, por exemplo, que vai se decompor e virar pó.

“O suicídio é um ato de linguagem, de comunicação. Como vivemos numa rede de relacionamentos, a nossa morte significa algo para as outras pessoas”, diz a psicóloga Maria Luiza Dias Garcia, coordenadora da Clínica de Psicoterapia Laços, em São Paulo, que analisou mensagens (bilhetes, cartas, gravações) deixadas por suicidas no livro Suicídio – Testemunhos do Adeus. “Constatei, pelos discursos, que o suicida está num quadro de embotamento, como se estivesse afogado nas próprias emoções. Ele não aproveita os vínculos sociais para partilhar seus sentimentos e vê o mundo de uma maneira muito própria.” O suicídio, então, torna-se um meio de expressão, uma fala que não pôde ser dita.

Os especialistas costumam diferenciar as tentativas de suicídio do ato em si, uma vez que, de acordo com a intencionalidade e a letalidade, o gesto pode assumir sentidos diferentes. As tentativas de se matar são vistas como um grito por ajuda, sintoma de uma falha tanto no sistema familiar quanto no grupo social. “O indivíduo não consegue pedir socorro de outro modo, então opta por um ato extremo”, diz a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da PUC de São Paulo. “Por que ele não foi ouvido? Todos dão conselhos, mas ninguém ouve o que ele tem a dizer. Esse indivíduo, portanto, fica com a impressão de que não existe para o mundo.”

Incapazes de comunicar a própria dor, os suicidas recorrem a algumas fantasias para justificar a si mesmos a autodestruição. A busca de uma outra vida é uma das mais comuns. O indivíduo enxerga no suicídio a oportunidade de interromper uma existência infeliz e recomeçar, com uma nova chance para acertar. Matar-se também pode ser um jeito de acelerar o reencontro com pessoas queridas já mortas – o pai, a avó, um amigo, o cônjuge. Outras fantasias comuns acerca do suicídio: gesto de vingança ou rebeldia, castigo e autopenitência. “A idéia da não-existência é tão insuportável que a mente humana inevitavelmente recorre às fantasias para levar adiante o projeto de auto-aniquilamento”, diz Roosevelt Cassorla. Mas o indivíduo nem sempre tem acesso consciente a essas fantasias.

O psicólogo Valdemar Angerami-Camon, do Centro de Psicoterapia Existencial, chefiou por quatro anos o Serviço de Atendimento aos Casos de Urgência e Suicídio da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e constatou como tais fantasias estão presentes na mente daqueles que querem se matar. “O que me impressionava eram as pessoas que tentavam suicídio dizerem que não queriam morrer”, diz Valdemar. “Como alguém tenta o suicídio e diz que não quer morrer? Na verdade, queriam acabar com uma situação de desespero. Como não conseguiam ver outra alternativa, recorriam ao suicídio. Mas, ao depararem com a possibilidade concreta da morte, percebiam que não queriam, de fato, morrer.”

O psiquiatra Claudemir Rapeli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de dois extensos trabalhos sobre suicídio, também constatou esse sentimento em boa parte dos suicidas que atendeu no Hospital das Clínicas de Campinas. “O arrependimento é imediato. Reconhecem que foi uma atitude impulsiva, desesperada, ansiosa.” Claudemir conta a história de um rapaz de 18 anos que tentou suicídio tomando um agrotóxico letal. (A substância provoca, em algumas semanas, uma espécie de fibrose pulmonar que impede a respiração normal e o indivíduo morre sufocado.) “Quando ele começou a sentir que não ia melhorar, que os médicos não podiam fazer mais nada, o pânico dele foi comovente”, afirma. “A motivação foi banal – uma briga com a namorada por achar que ela o estava traindo. Tomou o veneno para livrar-se da rejeição, mas não queria a morte. Ele pedia a todos os médicos que não o deixassem morrer.”

Você pode argumentar que muita gente se vê em situações de grande desespero ou solidão existencial e, mesmo assim, não busca o suicídio. O que faz a diferença? Na verdade, não existe uma personalidade suicida – existe, sim, uma vulnerabilidade emocional (que pode ser trabalhada com o apoio de um parente, um psicoterapeuta ou um amigo). “Quem tem uma estrutura de ego frágil pode não suportar uma grande perda ou um momento de crise e, num impulso, acaba cometendo o suicídio”, diz Ingrid Esslinger. O ego se constitui a partir dos primeiros vínculos afetivos, do modo com que o bebê foi cuidado pelas figuras de apego e da educação que a criança recebeu. Um ego fraco não tolera a frustração, não tem capacidade de espera, não suporta lidar com a impotência, com os limites e com os “nãos” que a vida impõe.

"O sistema mata!"

Mesmo sendo resultado de uma escolha individual, o suicídio também é visto como uma questão social. O pioneiro no estudo desse campo foi o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), com o clássico O Suicídio, de 1897. “Existem vários estudos comprovando a influência da cultura, do ambiente e da religião sobre as taxas de suicídio, seja como facilitadores, seja como limitantes”, afirma José Manoel Bertolote. Ele e a equipe do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS publicaram recentemente um estudo, numa revista científica norueguesa, mostrando que as taxas de suicídio mais baixas encontram-se em países islâmicos, seguidos de países hinduístas, cristãos (mais baixas em católicos que em protestantes) e budistas, nessa ordem.

As taxas mais altas vêm de países “ateus”, que compunham o antigo bloco comunista: Lituânia, Letônia, Estônia, Rússia, Cuba e China. A religião aparece, portanto, como um mecanismo de “proteção” contra o comportamento suicida (todas as crenças religiosas condenam, em maior ou menor grau, o suicídio).

Combinada a outras influências, a religião pode ser também fator de estímulo para os “suicídios altruístas ou heróicos”, na definição de Durkheim. Cada membro do grupo está disposto a sacrificar a sua vida em prol das crenças. “Os casos mais recentes são os dos homens-bomba entre os palestinos e dos suicidas de 11 de setembro, relacionados a situações políticas muito específicas e à crença religiosa islâmica”, afirma Maria Cecília de Souza Minayo, doutora em Saúde Pública e professora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Embora as mulheres sejam mais propícias a ter pensamentos suicidas que os homens, as taxas de suicídio masculino são mais elevadas. E os métodos que eles usam são mais definitivos e violentos, como uso de arma de fogo e enforcamento. Em média, ocorrem cerca de três suicídios masculinos para um feminino – com exceção de algumas regiões da Ásia, em especial na China, onde o número de mulheres que se matam supera o de homens e há mais casos no meio rural que nas cidades –, o que também contraria o padrão mundial.

Cada sociedade tem uma taxa mais ou menos constante de suicídios. No caso do Brasil, a média é de 4,5 suicídios por 100 mil habitantes nos últimos 20 anos. Número relativamente baixo, se comparado à taxa da Finlândia, por exemplo, que é de 23,4 casos em 100 mil pessoas. As taxas brasileiras de suicídio se elevam conforme a idade dos indivíduos, até atingir sua máxima expressão na faixa de 70 anos ou mais, quando chegam a 7,3 suicídios em 100 mil habitantes. Dentro de um país, o Brasil ou outro, as taxas mais altas vêm da comunidade indígena e dos imigrantes, principalmente dos núcleos que perderam muito da sua identidade cultural. Segundo a OMS, há fatores que claramente aumentam a probabilidade de suicídio no grupo social. Taxas de suicídio são altas durante épocas de recessão econômica e de forte desemprego. Também se elevam em períodos de desintegração social e instabilidade política.

“A adolescência e a velhice são os dois momentos mais propícios tanto para a ideação e as tentativas de suicídio quanto para concretização do ato, por razões diferentes”, diz Cecília. Na velhice, os motivos com freqüência se devem à depressão, a sentimentos de rejeição e abandono e à dificuldade de aceitar certas enfermidades dolorosas e incapacitantes, como o câncer. “Na adolescência, os problemas de conflito familiar, de dificuldades de identificação, os sentimentos de perda ou de inferioridade, a baixa auto-estima, em casos específicos de personalidades com tendências depressivas e de isolamento, podem se associar e resultar em tentativas ou em atos de suicídio”, afirma ela.

O cansaço existencial e as crises constantes também alimentam o desejo de morrer.

"Eu não deveria existir"

Para o filósofo e escritor argelino Albert Camus (1913-1960) só há um problema filosófico verdadeiramente sério sobre o qual o homem deve refletir: o suicídio. Segundo ele, a questão fundamental da filosofia é responder se vale a pena ou não viver. “O homem vive num clima de absurdo e pouco pode esperar da história. Esses obstáculos colocam a existência como um problema. Novamente, a pergunta se impõe: viver vale a pena?”, diz o filósofo Franklin Leopoldo e Silva, da USP. “Na perspectiva de Camus, o suicídio está sempre no horizonte do indivíduo porque a pergunta sobre a validade da vida é permanente. Isso não significa que a morte é a única solução. A saída pode ser o enfrentamento lúcido, ainda que um tanto solitário, desse clima de absurdo.”

Uma reflexão filosófica mais profunda da contemporaneidade revela que a vida não é mais considerada um valor – pois, diante da moderna sociedade de consumo, perdeu gravemente o caráter sagrado – e, por isso, o suicídio também foi banalizado. Tornou-se alternativa descartável. “Já não representa mais um ato de contestação ou um ato exemplar nem parece resultado de uma dor psíquica insuportável, como foi no passado. O significado do suicídio também se perde nessa tendência ao não-pensamento que assola o mundo contemporâneo”, diz a filósofa Olgária Mattos, também da USP. A sociedade de consumo é falsamente hedonista: promete gratificação imediata e, ao mesmo tempo, frustra as próprias perspectivas que oferece. O suicídio seria também uma conseqüência dessa impulsividade: uma reação às promessas não cumpridas de felicidade e satisfação instantâneas e à decepção que daí decorre. “O suicídio, hoje, vem da dificuldade de entrar em contato consigo mesmo.
O autoconhecimento dá trabalho, exige empenho e tolerância à frustração”, diz Olgária.

A pergunta fundamental de Camus continua a nos martelar. “O suicídio agride porque nos diz o tempo inteiro da nossa possibilidade de escolha. Porque, se o outro faz isso, eu também posso ter essa escolha. Porque eu terei de me haver com o meu próprio potencial suicida, ou com o meu próprio desejo de morte”, diz Ingrid Esslinger.

Levado às últimas conseqüências, o suicídio também pode parecer um ato de afronta a Deus. “Tirar a própria vida dá, ao indivíduo, a sensação de fazer algo que é divino e entrar em contato com o mistério”, afirma Denise Ramos. “O suicida passa da extrema impotência – não posso mudar nada – à extrema potência – acabo com a minha vida quando e como eu quero. Nesse momento, em sua fantasia, se iguala a Deus por provocar também um ato que vai além da natureza humana.”

Para o teólogo e filósofo Renold Blank, da Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo, tal atitude de achar-se o único responsável pela própria vida ultrapassa os limites éticos. “Do ponto de vista ético, a vida de cada ser humano tem sentido não só para si mesmo mas para os outros também”, diz ele. “Por meio da minha vida, dou sentido à vida dos outros e, assim, a minha existência ganha significado. Se acabo com a minha vida, acabo com todas as possibilidades de dar sentido à vida de outras pessoas. Falho em minha responsabilidade com os demais.” As ações de cada indivíduo repercutem no grande sistema de relações sociais e ganham uma dimensão histórica – o que é feito hoje, mesmo em âmbito pessoal, tem sempre uma conseqüência futura. O suicídio funciona, então, como uma brusca ruptura dessa rede.

“O suicídio é um ato privado que não representa somente uma violência contra si mesmo mas também contra mais, pelo menos, seis pessoas. Elas são forçadas a conviver com os sentimentos de vingança, vergonha, culpa, sofrimento psicológico, medo de enlouquecer e de também cometer o suicídio”, afirma o suicidologista australiano Diego De Leo, diretor da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês), organização não-governamental que reúne profissionais e entidades envolvidas no estudo do comportamento suicida.

"Sei que voceis me perdoarão"

Para enfrentar o problema, a OMS lançou, em 1999, o SUPRE, um programa mundial para a prevenção do suicídio. O objetivo é reduzir as taxas de mortalidade de “violência autodirigida”, acabar com o preconceito em relação ao tema e prestar assistência técnica aos países para a formulação de políticas públicas e programas de prevenção. As diretrizes se baseiam no tratamento adequado das doenças mentais, na criação de campanhas educativas e de estratégias, como reduzir o acesso a instrumentos de autodestruição – armas de fogo e venenos agrícolas, por exemplo. Na mesma época, a OMS criou o SUPRE-MISS, um projeto conduzido em oito países a fim de identificar fatores de risco para o suicídio e métodos eficazes para diminuir as tentativas de tirar a própria vida. A representante brasileira nesse estudo é a Unicamp.

No núcleo familiar e comunitário, a melhor prevenção é falar sem temores sobre suicídio e saber identificar os pedidos de socorro das pessoas próximas. “Ninguém precisa dar uma solução para os problemas do outro, deve apenas aprender a ouvir. As pessoas encontram as soluções dentro de si quando conversam e refletem sobre seus conflitos e emoções”, diz Denise.

Apostando nessa fórmula, existe o serviço de prevenção ao suicídio do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma entidade não-governamental de atendimento humanitário criada há 40 anos e presente em todo o Brasil. O CVV segue os moldes dos Samaritanos, de Londres, uma entidade fundada no início dos anos 1950 para atender pessoas angustiadas que precisavam de apoio psicológico. Todos os voluntários são treinados para ouvir seus interlocutores (por telefone, carta, e-mail ou pessoalmente) sem nenhum tipo de julgamento e respeitar sua decisão, mesmo que seja a de cometer o suicídio. “Respeitamos o sofrimento de quem nos telefona. Ele tem a liberdade de falar sobre o que quiser durante o tempo que for necessário”, conta Adriana, voluntária do Posto da Vila Carrão, em São Paulo, e assessora de comunicação do CVV. “Estamos disponíveis para ouvir o que cada um tem a dizer sobre seus medos, dificuldades e angústias e ajudar a revalorizar a própria vida.”
O serviço atende, em média, 1 milhão de ligações por ano. Isso revela a necessidade que as pessoas têm de falar sobre seus conflitos. Quando o assunto é suicídio, abrir-se pode ser terapêutico.

A experiência do CVV, dos Samaritanos e de outros programas semelhantes demonstra que o primeiro passo para evitar o suicídio está no resgate do sentido da existência. “O que motiva o suicida é a falsa idéia de que sua vida não tem mais valor nem para si mesmo nem para os outros”, diz Renold Blank. O verdadeiro desafio parece fazer com que as pessoas percebam que sempre existe saída, não importa a situação. Que há como se reinventar e trabalhar em si mesmo aspectos de que gosta menos. Que nossa vida é importante para os outros também. E que sempre há alternativa, mesmo que, a princípio, seja dolorida. Afinal, a única coisa para a qual não há remédio é a morte.
Os intertítulos e os bilhetes desta reportagem são de mensagens de pessoas que se suicidaram.

A partir da Superinteressante (jan/2003). Leia no original
 
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