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DRAUZIO VARELLA E OS SINTOMAS DA DEPRESSÃO

4/10/2013


Depressão é uma doença psiquiátrica, crônica e recorrente, que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

É importante distinguir a tristeza patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas, como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades econômicas, etc. Diante das adversidades, as pessoas sem a doença sofrem, ficam tristes, mas encontram uma forma de superá-las. Nos quadros de depressão, a tristeza não dá tréguas, mesmo que não haja uma causa aparente. O humor permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias e dias seguidos, e desaparece o interesse pelas atividades, que antes davam satisfação e prazer.

A depressão é uma doença incapacitante que atinge por volta de 350 milhões de pessoas no mundo. Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves.

Existem fatores genéticos envolvidos nos casos de depressão, doença que pode ser provocada por uma disfunção bioquímica do cérebro. Entretanto, nem todas as pessoas com predisposição genética reagem do mesmo modo diante de fatores que funcionam como gatilho para as crises: acontecimentos traumáticos na infância, estresse físico e psicológico, algumas doenças sistêmicas (ex: hipotireoidismo), consumo de drogas lícitas (ex: álcool) e ilícitas (ex: cocaína), certos tipos de medicamentos (ex: as anfetaminas).

Mulheres parecem ser mais vulneráveis aos estados depressivos em virtude da oscilação hormonal a que estão expostas principalmente no período fértil.

Sintomas

Além do estado deprimido (sentir-se deprimido a maior parte do tempo, quase todos os dias) e da anedonia (interesse e prazer diminuídos para realizar a maioria das atividades) são sintomas da depressão:

1) alteração de peso (perda ou ganho de peso não intencional); 2) distúrbio de sono (insônia ou sonolência excessiva  praticamente diárias); 3) problemas psicomotores (agitação ou apatia psicomotora, quase todos os dias); 4) fadiga ou perda de energia constante; 5) culpa excessiva (sentimento permanente de culpa e inutilidade); 6) dificuldade de concentração (habilidade diminuída para pensar ou concentrar-se); 7) ideias suicidas (pensamentos recorrentes de suicídio ou morte); 8) baixa autoestima, 9) alteração da libido.

Muitas vezes, no início, os sinais da enfermidade podem não ser reconhecidos. No entanto, nunca devem ser desconsideradas possíveis referências a ideias suicidas ou de autodestruição.

Diagnóstico

O diagnóstico da depressão é clínico e toma como base os sintomas descritos e a história de vida do paciente. Além de espírito deprimido e da perda de interesse e prazer para realizar a maioria das atividades durante pelo menos duas semanas, a pessoa deve apresentar também de quatro a cinco dos sintomas supracitados.

Como o estado depressivo pode ser um sintoma secundário a várias doenças, sempre é importante estabelecer o diagnóstico diferencial.

Tratamento

Depressão é uma doença que exige acompanhamento médico sistemático. Quadros leves costumam responder bem ao tratamento psicoterápico. Nos outros mais graves e com reflexo negativo sobre a vida afetiva, familiar e profissional e em sociedade, a indicação é o uso de antidepressivos com o objetivo de tirar a pessoa da crise.

Existem vários grupos desses medicamentos que não causam dependência. Apesar do tempo que levam para produzir efeito (por volta de duas a quatro semanas) e das desvantagens de alguns efeitos colaterais que podem ocorrer, a prescrição deve ser mantida, às vezes, por toda a vida, para evitar recaídas. Há casos de depressão que exigem a associação de outras classes de medicamentos – os ansiolíticos e os antipsicóticos, por exemplo – para obter o efeito necessãrio.

Há evidências de que a atividade física associada aos tratamentos farmacológicos e psicoterápicos representa um recurso importante para reverter o quadro de depressão.

 Recomendações

* Depressão é uma doença como qualquer outra. Não é sinal de loucura, nem de preguiça nem de irresponsabilidade. Se você anda desanimado, tristonho, e acha que a vida perdeu a graça, procure assistência médica. O diagnóstico precoce é o melhor caminho para colocar a vida nos eixos outra vez;

* Depressão pode ocorrer em qualquer fase da vida: na infância, adolescência, maturidade e velhice. Os sintomas podem variar conforme o caso. Nas crianças, muitas vezes são erroneamente atribuídos a características da personalidade e nos idosos, ao desgaste próprio dos anos vividos;

* A família dos portadores de depressão precisa manter-se informada sobre a doença, suas características, sintomas e riscos.  É importante que ela ofereça um ponto de referência para certos padrões, como a importância da alimentação equilibrada, da higiene pessoal e da necessidade e importância de interagir com outras pessoas. Afinal, trancafiar-se num quarto às escuras, sem fazer nada nem falar com ninguém,está longe de ser um bom caminho para superar a crise depressiva.
Drauzio Varella
A partir da Estação Saúde. Leia no original

SUICÍDIO : SEM JUSTIFICATIVA

4/09/2013
A literatura sobre o suicídio é ampla e segue vários enfoques, do apoio ao doente mental até o apoio ao trauma familiar – por vezes passando por algumas considerações de cunho ético, filosófico e cultural.

Em nossa cultura cada vez mais secular, o suicídio é progressivamente menos julgado como uma questão moral, de ação e deliberação: torna-se o mero produto de uma doença. Isso com certeza tem o lado positivo de poder ajudar a família a encontrar algum tipo de consolo, já que, ao menos em grande parte, as questões de saúde estão fora de seu controle. Mas, por outro lado, não lida com os fortes impactos culturais desta ação.

Sem querer entrar muito a fundo em filosofia da mente e nas bases falhas do funcionalismo que permeia toda a ciência cognitiva e de saúde mental, é preciso deixar claro que a crença numa causalidade unidirecional (da fisiologia pro comportamento) não tem justificação ou evidência – se não em certos âmbitos muito restritos de estudo e com metodologias estabelecidas já com ela em mente.

Isto é, embora a causalidade que vai da fisiologia para nossa consciência seja o principal enfoque hoje, há evidências fortes de uma causalidade noutro sentido, por exemplo, neuroplasticidade. Uma visão em que a fisiologia determina quase totalmente nossas tendências habituais, chegando ao ponto de determinar nossas ideações, e, através desta, nossos comportamentos e ações particulares, não se sustenta.

Ainda assim, é a perspectiva usual da experiência científica que alcança grande penetração na visão usual das pessoas comuns.

Essa perspectiva se espelha na forma com que encaramos o suicídio. Ao nos depararmos com o suicídio de alguém, podemos até passar por alguns momentos de raiva, mas todos nós tendemos, e algumas vezes somos encorajados, a retirar totalmente a responsabilidade moral do suicida sobre seu ato – algumas pessoas chegam a achar a ação corajosa, ou tentam mesurar o grande sofrimento pelo qual passou antes de tomar tal ação extrema. Porém, parece existir uma grande incongruência ao não encararmos, por exemplo, um pedófilo com a mesma benevolência.

O exato mesmo tipo de justificativa fisiológica e psiquiátrica que temos para a depressão e para alguns suicídios temos hoje para o pedófilo perpetrador de certos abusos. Aqui temos uma escolha bem simples: ou exercemos a condenação moral para ambos, ou os consideramos igualmente como doentes que fizeram coisas desagradáveis, que, enfim, compreendemos, porque estavam além de suas forças.

Difícil, não é?

Creio que precisamos, necessariamente, escolher a opção da condenação moral. Isso não quer dizer que faltamos com respeito ao doente, ou deixamos de amá-lo. Isso apenas quer dizer que, socialmente, deixamos claro que ninguém é totalmente determinado a agir desta ou daquela forma, e que há ações que devem ser universalmente condenadas.

O suicídio depende de ideação, isto é, da pessoa considerar, vez após vez, sua própria morte como uma saída lícita para os problemas reais que a assolam. Um suicida constrói, por dizer assim, seu suicídio em conjunto com os outros hábitos mentais de sua doença, por exemplo, a depressão. Aqui é preciso reconhecer como razoavelmente óbvio que essa fisiologia é construída por essa habituação na mesma medida em que essa habituação é construída por fisiologia.

Escolher uma das duas coisas como determinante é fazer uma aposta metafísica – passar a agir por crença, e não por evidência.

Daí também que o suicídio possua um elemento cultural e ideológico. Sociedades onde o suicídio é visto como uma saída honrosa possuem níveis mais elevados de suicídio. É simplesmente mais fácil, num contexto desse tipo, idear, ao longo de toda doença, o ato derradeiro a ser tomado.

E não caiamos em relativismo moral: a ação dos samurais não precisa ser respeitada como ethos japonês na mesma medida em que os sacrifícios humanos dos maias ou as infibulações/circuncisões de algumas culturas africanas merecem nossa total e justificada reprovação. Não caiamos na falácia antropológica de que, porque é aceito em uma cultura naturalmente, não será imoral.

Ademais, há elementos filosóficos que podem ajudar nas ideações nefastas. O argumento libertário para o suicídio diz, por exemplo, que teríamos o direito e a liberdade de tirar a própria vida. No entanto, se a nossa vida é nossa no sentido de que podemos fazer o que quisermos com ela, exceto no que isso limite ou prejudique a liberdade de outro, precisamos certamente considerar que um futuro eu, e em certo sentido “um outro”, estará sendo privado de liberdades.

A pessoa pulou e, enquanto cai do décimo andar, mudou de ideia. Ela traiu a si mesma no futuro: quando ela queria deliberar o oposto, era tarde demais – imagine então depois de morta (mesmo num cenário de vida após a morte, todos parecem concordar que a deliberação não será muito ampla – num cenário sem vida após a morte, a deliberação é nenhuma).

Nesse sentido, se consideramos que nossa individualidade é mutável (com amplas evidências em primeira pessoa de que é), não temos direito de privar nenhum futuro eu possível do exato mesmo direito de escolha que temos hoje.

Seppuku, ou harakiri: o tal ritual de
 suicídio dos guerreiros japoneses
Matar a si próprio é, antes de mero assassinato, frustrar a liberdade de um alguém futuro que poderia vir a ser substancialmente diferente. É, portanto, um crime ainda maior do que simplesmente tirar a vida de outra pessoa: além de tirar uma vida é uma deliberação contra a própria capacidade de deliberação.

Por outro lado, a própria ideia de que somos donos de nós mesmos ao ponto de podermos tomar essa decisão é enganosa. Muitas pessoas investiram tempo e atenção para que hoje estejamos vivos e sejamos capazes de ler um texto como esse. Sem falar nos insetos que morrem na produção de nosso arroz, e os trabalhadores explorados que fazem nossas roupas.

Os sofrimentos, as intenções e boas motivações de todas essas pessoas estão por trás de/e sustentam tudo que somos hoje. Essa superestrutura toda então resolve se voltar contra si mesma, após um hábito embasado em algumas ideações totalitárias e arbitrárias sobre autodeterminação? Isso é exatamente como se a crista de uma onda tivesse direito sobre toda a massa de água que a leva no oceano.

É de uma frivolidade sem dúvida trágica: um indivíduo que trai seu futuro e tudo que o constitui em troca de uma crença numa possibilidade de alívio. É muita fé no lugar errado.

Porém, toda essa ingratidão e filosofia de botequim com certeza não são a causa do suicídio. São apenas fatores contribuintes, na raiz da ideação ou como uma das tantas justificativas desta.

Como disse antes, quando uma pessoa chega a tentar o suicídio, essas ideologias já não são o ponto central da ideação. Elas podem ter sido importantes quando a ideação se formou, mas no fim, a pessoa é levada pela energia de hábito e, como todos concordamos, até mesmo pela fisiologia. Nesse momento, argumentos não são mais úteis: os argumentos são úteis bem antes, em diálogo com a cultura e com as posições gerais das pessoas.

Quando as energias de hábito já se cristalizaram, algumas vezes já é tarde demais, ou ao menos a intervenção precisa ser sistêmica, mas bem antes talvez seja possível colocar algumas dúvidas em pessoas que futuramente podem passar por esses questionamentos.

Essa parte filosófica pode funcionar como uma vacina.
A partir do Blog Papo de Homem. Leia no original

SUICÍDIO COSTUMA SER COMETIDO POR JOVENS E IDOSOS

4/08/2013
A OMS estima que 1 milhão de pessoas tirem a própria vida por ano em todo o mundo. Especialistas acreditam que esse número seja pelo menos 20% maior

Dez mil pessoas tiram a própria vida no Brasil anualmente, segundo dados do Ministério da Saúde. No mundo, o total chega a 1 milhão, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse número, de acordo com a Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP), é subestimado e pode ser de 20% a 30% maior por várias razões, inclusive devido a subnotificações em órgãos de saúde e segurança pública dos municípios. Os coeficientes de mortalidade são três a quatro vezes maiores entre pessoas do sexo masculino. Muito associado a idosos, nos últimos 30 anos, o ato de atentar contra si ronda também pessoas mais jovens. Dados da SBP indicam que há dois grupos de risco: pessoas com idade entre 15 e 30 anos e os idosos, acima de 65.

“Os médicos fora da psiquiatria (e mesmo algumas equipes da área) não estão preparados para lidar porque existe um tabu, não falam, não comentam e não estudam o fenômeno do suicídio. Fingem que o problema não existe e essa atitude gera reflexo na formação acadêmica dos profissionais, pois o assunto fica relegado a um segundo plano”, aponta o presidente da Comissão de Prevenção ao Suicídio da SBP, Humberto Correa, também professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

PORTUGAL : CRESCE O NÚMERO DE SUICÍDIOS

4/07/2013
Há mais casos de suicídios em Portugal, segundo um relatório que analisa a realidade europeia. Portugal, com cinco atos suicidas por dia, está no topo da lista de países onde se assinala um maior aumento da taxa de suicídios, nos últimos 15 anos.

O número de suicídios aumentou em Portugal, de acordo com um relatório europeu, que coloca o país no terceiro posto da lista onde se verificou maior aumento, nos últimos anos.

Numa análise à realidade europeia, contaram-se cerca de 20 milhões de casos de depressão, com 60 mil mortes por suicídio por ano. O agravamento da situação social, a asfixia financeira de muitas famílias em risco e a pioria do acesso à saúde estão a originar um aumento dos suicídios.

Os especialistas previram, recentemente, um ‘boom’ de depressões, que em muitos casos podem conduzir ao suicídio. Essas perspetivas confirmaram-se.

Para evitar males maiores, uma comissão de psiquiatras, enfermeiros e académicos portugueses e estrangeiros está a executar um plano de prevenção. O objetivo faz parte do Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, mas a concretização foi acelerada devido ao aumento esperado de depressões causadas pela crise.

Portugal registara, em 2010, um consumo médio de antidepressivos cinco vezes superior à média europeia.
A partir do PTJornal. Leia no original

USP BUSCA VOLUNTÁRIOS COM DEPRESSÃO

3/21/2013
O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) procura homens e mulheres, de 18 a 55 anos, com diagnóstico de depressão para participação de um estudo. Alguns sintomas são tristeza, falta de energia, apatia, perda de interesse e prazer nas atividades do dia a dia, alterações de sono e apetite, irritabilidade e baixa autoestima.

Conforme a Agência USP Notícias divulga nesta quarta-feira, os voluntários devem ter disponibilidade para comparecer ao hospital quatro vezes por semana durante um mês. Para o estudo será oferecido, gratuitamente, tratamento médico e um programa de exercícios físicos controlados.

Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 98266-9227 ou no site www.progruda.com.

PSIQUIATRA DIFERENCIA TRISTEZA DA DEPRESSÃO

3/13/2013
Imagem  por Fernanda Alyssa
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em 2020, a depressão será a segunda no ranking de doenças dispendiosas e fatais, perdendo apenas para as doenças cardíacas.

O médico é autor, em parceria com Isabel Vasconcelos, do livro "Mergulho na Sombra - a Depressão Nas Fases da Vida da Mulher" (Editora Cultrix, ano 2011), que tenta  decifrar a salada de mistérios que torna as mulheres vulneráveis a este mergulho na sombra, à doença chamada depressão. Confira no áudio abaixo, entrevista com o  psiquiatra Kalil Duailibi.

DEPRESSÃO: USP TESTA TRATAMENTO COM CHOQUE

3/06/2013
Pesquisadores da USP testam uma alternativa indolor, de baixo custo e com poucos efeitos colaterais para o tratamento da depressão. Trata-se da estimulação com corrente elétrica contínua. E, ao que indica um estudo publicado pelo grupo no "Jama Psychiatry", revista da Associação Médica Americana, a técnica é eficaz.

Na pesquisa, 120 pessoas com depressão foram divididas em grupos para avaliar a eficácia da técnica, do antidepressivo sertralina (um inibidor da recaptação da serotonina) e da combinação dos dois tratamentos. Drogas e estimulação tiveram resultados similares e, juntas, um resultado ainda melhor. Entre os que usaram as terapias combinadas, 63% tiveram alguma melhora. Desses, 46% tiveram remissão, ou seja, a ausência completa de sintomas.

Segundo André Brunoni, psiquiatra do Hospital Universitário da USP e principal autor da pesquisa, esse é o primeiro estudo a comparar o tratamento com antidepressivos e a combiná-los. A explicação para o sucesso dessa soma ainda precisa ser confirmada por exames de imagem, mas os pesquisadores imaginam que a estimulação e o remédio atuem em diferentes regiões do cérebro ligadas à depressão. A técnica, ainda experimental, tem poucos efeitos colaterais (no estudo, foram observados vermelhidão na área da cabeça onde os eletrodos foram posicionados e sete episódios de mania) e custo relativamente baixo.

O aparelho é simples de ser fabricado, pode ser portátil e custa de R$ 500 a R$ 1.000, segundo Brunoni. Um aparelho de estimulação magnética transcraniana (técnica de neuromodulação não invasiva mais estudada e que recebeu o aval para depressão no Brasil em 2012) chega a custar de US$ 30 mil a US$ 50 mil (R$ 59 mil a R$ 119 mil).

Convincente

A estimulação por corrente contínua não é novidade --pesquisas em humanos para depressão e esquizofrenia são feitas desde a década de 1960. Os estudos foram retomados a partir de 1990, mas a quantidade é pequena. "Até esse estudo da USP, os resultados desse tipo de estimulação não eram muito convincentes. Talvez isso se modifique agora", afirma Marcelo Berlim, professor assistente do departamento de psiquiatria da Universidade McGill, em Montréal, Canadá, e diretor da clínica de neuromodulação da instituição.

"É um avanço importante, mas não significa que vamos usar amanhã na prática clínica. Precisamos de mais estudos", diz Brunoni. Berlim afirma que um dos entraves para que sejam feitas pesquisas maiores para a aprovação da técnica é a falta de investimento de grandes fabricantes do aparelho. "Como ele é simples e barato, não há interesse por parte da indústria em desenvolver pesquisas de milhões de dólares", afirma o psiquiatra.

Eletrochoque

Bobinas e eletrodos na cabeça não são exclusividade da estimulação elétrica por corrente contínua. Duas técnicas similares, que têm em comum a ausência de medicação, são usadas e aprovadas para depressão no país. A eletroconvulsoterapia, conhecida como eletrochoque, é a mais invasiva. O paciente recebe anestesia geral, e os eletrodos induzem uma corrente elétrica no cérebro que provoca a convulsão, alterando os níveis de neurotransmissores e neuromoduladores, como a serotonina.

Ela é indicada para depressão profunda e em situações em que o paciente não responde aos medicamentos. Seus efeitos cognitivos, porém, são indesejáveis e incluem perda de memória. Os defensores da técnica dizem que o problema é temporário.

Já a estimulação magnética é indolor e não requer anestesia, assim como a que usa corrente contínua. Uma bobina, que é apoiada na cabeça do paciente, gera um campo magnético que afeta os neurônios, ativando-os ou inibindo-os. As ondas penetram cerca de 2 cm.

Em maio de 2012, o CFM (Conselho Federal de Medicina) aprovou a técnica para tratamento de depressões uni e bipolar (que pode causar oscilações de humor) e de alucinações auditivas em esquizofrenia e para planejamento de neurocirurgia. O IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP), centro pioneiro em pesquisas com estimulação magnética no país, estuda a aplicação para depressão desde 1999. "A estimulação por corrente contínua está hoje onde a estimulação magnética estava há 15 anos", afirma o psiquiatra André Brunoni.
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

ESTUDO DIZ QUE INSÔNIA PODE LEVAR AO SUICÍDIO

2/22/2013
Imagem por It's Fucktastic
Estudo da Universidade de Geórgia Regents, nos Estados Unidos, e publicado pela revista Journal of Clinical Sleep Medicine confirma a relação entre a insônia e pensamentos suicidas. A constatação sugere que avaliação específica e o tratamento de problemas de sono concretos podem reduzir o risco de que pessoas com sintomas depressivos decidam tirar a própria vida.

Segundo o autor principal do estudo, W. Vaugh McCall, a insônia e os pesadelos, que são comumente confundidos entre si e andam lado a lado, são fatores de risco para o suicídio. Contudo, até agora era desconhecida a maneira como eles contribuíam para o comportamento.

O estudo empregou provas psicométricas para avaliar objetivamente o estado mental de 50 pacientes com depressão que recebiam tratamento hospitalizado, ambulatorial ou em serviços e urgência. Os participantes tinham entre 20 e 84 anos de idade. 72% deles eram mulheres e 56% haviam tentado se suicidar ao menos uma vez antes.

Os resultados apontaram que os participantes tinham um grau moderado dos sintomas da insônia, medido com base no Índice de Severidade de Insônia. E embora a desesperança se relacione com as ideias suicidas, não apareceu significativamente ligada à insônia, às crenças disfuncionais ou aos pesadelos. Porém, as três variáveis do sono se correlacionaram com pensamentos suicidas.

O que os pesquisadores detectaram foi que quando a insônia e os pensamentos suicidas eram considerados isoladamente, a insônia foi, como era esperado, um preditor do pensamento suicida. “O resultado é que a insônia pode conduzir a um tipo muito específico de desespero e desesperança por si mesmo, o que é um poderoso preditor do suicídio”, conclui McCall.

De acordo com os autores, o estudo sugere que os pesadelos e as crenças e atitudes disfuncionais sobre o sono podem representar novas metas para a prevenção do suicídio.
A partir do site Universia Brasil. Leia no original

MORTE DE ATOR ALERTA PARA DEPRESSÃO NA VELHICE

2/08/2013
  • Fernando Donasci/Folha Imagem 27.março.2006
    Walmor Chagas estrelou estrelou novelas como "Os Mutantes", "Selva de Pedra" e "Salsa e Merengue"
    Walmor Chagas estrelou estrelou novelas como "Os Mutantes", "Selva de Pedra" e "Salsa e Merengue"
suicídio do ator, diretor e produtor Walmor Chagas, no dia 18 de janeiro, trouxe à tona um assunto espinhoso, mas de suma importância: a depressão na terceira idade. Aos 82 anos, Walmor vivia praticamente isolado em um sítio no interior de São Paulo. Enxergava mal, tinha dificuldades para andar, se alimentava pouco e contava frequentemente com a ajuda de empregados para executar tarefas cotidianas. Um de seus amigos disse à imprensa que o artista teria comentado que desejaria partir, caso se tornasse uma pessoa dependente.

As limitações típicas da velhice são o principal detonador dos casos de depressão entre idosos, conforme pesquisas da psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "O sistema imunológico, a visão e a capacidade motora e de locomoção ficam comprometidos. Em alguns casos, a pessoa requer auxílio até para fazer a própria higiene. É uma fase de difícil aceitação, e há quem jamais a aceite", afirma a especialista.

Outros fatores que devem ser levados em consideração são o isolamento social e o sentimento de inutilidade, em geral decorrentes da ausência do mercado de trabalho.

"Hoje em dia, a maioria das famílias não tem tempo ou estrutura para cuidar dos idosos. Todos têm de trabalhar e os deixam sós. A solidão, a falta de dinheiro e a dependência entristecem", explica Sônia Fuentes, psicóloga com especialização em geriatria e mestre em Gerontologia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). "E mesmo em circunstâncias em que as condições monetárias são boas, há casos em que a depressão e as limitações os atrapalham, impedindo-os de fazer suas escolhas e tornando-os apáticos demais".

Relembre personagens e imagens da carreira de Walmor Chagas




Foto 7 de 48 - 1965 - Walmor Chagas faz sua estreia no cinema no filme "São Paulo S.A.". No filme, o ator foi dirigido por Luís Sérgio Person e teve seu primeiro encontro com a atriz Eva Wilma, de quem se tornou amigo próximo. A atuação de Walmor no longa lhe rendeu elogios do cineasta espanhol Luis Buñuel Mais Divulgação/Folhapress
A perda de parceiros e amigos de toda uma vida pode contribuir para o surgimento da depressão. "Quando morre alguém querido, morre também uma parte sua. Para um idoso isso é ainda mais grave, porque ele sabe que foi embora um pedaço de sua vida que nunca mais vai poder viver de novo", declara Denise Diniz.

De acordo com o cardiologista Thiago Marchini Naves, diretor-administrativo da Casa Vita – Moradia Assistida para Idosos, em São Paulo, a depressão ainda costuma surgir associada a doenças de grande incidência na terceira idade, como pressão alta, diabetes, infarto, artrose, derrame e câncer. Certos remédios também podem provocar quadros depressivos.


Sinais de alerta

Boa parte dos sintomas é a mesma dos casos de depressão em qualquer faixa etária: distúrbios do sono e do apetite, fadiga, tristeza, choro, dificuldade de concentração e memória falha. O que define a doença é a intensidade e a frequência desses sinais. Mas os idosos, de acordo com a psicóloga Denise Diniz, costumam se entregar com mais facilidade.

"Os idosos têm sentimentos de culpa e inutilidade. Dificilmente vão falar abertamente que querem morrer, porém começam a usar frases como ‘Seria melhor seu eu desaparecesse’, ‘Não queria dar tanto trabalho’, ‘Velho não serve para nada’ etc. A desesperança revelada por essas palavras é um caminho perigoso rumo ao suicídio", diz a médica.

Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que as taxas de suicídio é maior entre os homens. "As mulheres também sofrem com os problemas típicos da velhice, claro, mas costumam encarar a vida com mais realismo e menos passividade, talvez porque tenham uma noção mais nítida da mortalidade e se cuidem mais, sob os pontos de vista estético e da saúde", afirma Thiago Naves.
 


Velhice feliz

A maneira com que cada pessoa investe na qualidade de vida ao longo dos anos tem tudo a ver com o que vai colher na terceira idade, obviamente. Racionalmente, o que você faz hoje repercutirá no futuro, mas nem sempre as coisas saem conforme o planejado. E apesar do aumento da longevidade e dos avanços tecnológicos ninguém pode nem deve contar com a garantia de que chegará aos 90, 100 anos, com saúde e vigor.

Além dos medicamentos específicos e das sessões de psicoterapia, para enfrentar a depressão é preciso coragem, motivação e vontade de se adaptar às necessidades de mais uma fase do desenvolvimento humano. A família e os amigos têm papel fundamental para ajudar o idoso a atravessar a doença, mas ele também tem de encontrar os próprios mecanismos de defesa e procurar se manter ativo.

Seja na companhia de parentes, amigos ou em centros de convivência, é fundamental não descuidar da socialização e cultivar algum hobby. Se existe algum tipo de limitação, vale procurar outras formas de atividade. Quem sempre adorou ler ou escrever, por exemplo, mas agora tem a visão debilitada, pode gravar suas memórias ou narrá-las para alguém.

Lembrar acontecimentos antigos e contar histórias para a nova geração são atitudes importantes, porém, o idoso não deve ficar preso somente ao passado. "Ter objetivos é fundamental para ter disposição e mandar bem longe a impressão de que o tempo está acabando", diz a psicóloga Denise Diniz. 
A partir do UOL. Leia no original

SUICÍDIO NO BRASIL AFETA MAIS HOMENS E IDOSOS

2/06/2013
Imagem por hummyhummy
No Brasil, cerca de 9.000 pessoas se suicidam por ano – o que dá uma média de 24 casos por dia. Essas mortes trazem ainda outras vítimas e estatísticas: cada uma delas causa transtornos e consequências emocionais em pelo menos cinco pessoas. De acordo com especialistas consultados pelo R7, discutir o assunto e conhecer os fatores de risco são essenciais para prevenir novos casos.

Esses dados, que são considerados subestimados pelo Ministério da Saúde e pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), colocam o país entre os dez primeiros do mundo em números absolutos. Apesar disso, a taxa brasileira de suicídios, que mede o número de mortes a cada 100 mil habitantes, é considerada baixa se comparada a outros países. Se aqui esse índice é de 4,5, em países como Ucrânia e Rússia chega a passar de 30.

A taxa brasileira, no entanto, esconde variações significativas. Entre as mulheres, a taxa oficial é de 1,9. Já entre os homens é de 7,1. Com relação à faixa etária, o grupo que apresenta as taxas mais altas são os idosos. Para os que têm 75 anos ou mais, o índice passa dos 15.

Segundo a pesquisadora Cecília Minayo, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), as taxas elevadas entre os mais velhos ocorrem no mundo todo.

- Há vários fatores associados dos quais destaco: perda de parentes referenciais, sobretudo do cônjuge, solidão, existência de enfermidades degenerativas e dolorosas, sensação de estar dando muito trabalho à família e ser um peso morto, abandono e outros.

O suicídio não se limita a uma só razão - ele envolve várias questões. Para ambos os sexos, os principais fatores de risco são a depressão e transtornos mentais. De acordo com Cecília, algumas razões sociais também são apontadas, como morte de pessoa querida, isolamento, situações de dependência física ou mental, dentre outras.

Ela afirma que, no caso dos homens, a solidão e o isolamento social são os principais fatores associados.

- Muitos estudiosos consideram que as mulheres se suicidam menos porque têm redes sociais de proteção mais forte e se engajam mais facilmente que os homens em atividades domésticas e comunitárias, o que lhes confere um sentido de participação até o final da vida.

Transtornos mentais

Cecília afirma que, mesmo entre os idosos, tais fatores quase sempre estão interligados à depressão como causa ou como efeito. 
A existência de transtornos mentais, de fato, é o principal fator de risco para o suicídio. Segundo estudo divulgado pela ABP, mais de 90% das pessoas que se suicidam apresentam também pelo menos um diagnóstico de doença mental.

Os transtornos mentais mais comumente associados ao suicídio são: depressão, transtorno do humor bipolar, dependência de álcool e de outras drogas psicoativas. Esquizofrenia e certas características de personalidade também são importantes fatores de risco. A situação de risco é agravada quando a pessoa apresenta mais de uma dessas condições.

Segundo Cecília, a participação dos familiares e amigos na prevenção da violência é fundamental. Eles podem colaborar na busca de tratamento para depressão e na identificação dos sinais e fatores risco das doenças mentais. 

Veja os fatores de risco para o suicídio

Transtornos mentais        

 • Transtornos do humor, como depressão
• Transtornos mentais e de comportamento do uso de substâncias, como o álcool
• Transtornos de personalidade
• Esquizofrenia
•Transtornos de ansiedade
•Comorbidade aumenta os riscos (ou seja, sofrer de alcoolismo e de depressão)

Aspectos sociais

• Sexo masculino
• Idade entre 15 e 35 anos e acima de 75 anos
• Muito pobres ou muito ricos
• Moradores de áreas urbanas
• Desempregados (principalmente perda recente 
do emprego)
• Aposentados
• Isolamento social
• Solteiros ou separados
• Migrantes

Aspectos psicológicos           

• Perdas recentes
• Perdas de parentes na infância
• Famílias conturbadas
• Datas importantes
• Reações de aniversário
• Personalidade impulsiva, agressiva ou de humor instável

Condição de saúde limitante

• Doenças orgânicas incapacitantes
• Dor crônica
• Lesões desfigurantes
• Epilepsia
• Trauma medular
• Tumores malignos
• Aids

Taxas crescem mais entre homens jovens

De acordo com Neury José Botega, psiquiatra da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenador da Comissão de Prevenção de Suicídio da ABP, as taxas de suicídio aumentaram 30% nos últimos 20 anos. Ele afirma que o problema cresce notadamente entre jovens e adultos jovens do sexo masculino. Nesse grupo (entre 15 e 29 anos de idade), o suicídio responde por 3% do total de mortes e se encontra entre as três principais causas de morte.

- Isso está aumentando porque os índices de depressão são cada vez maiores. Além disso, vivemos numa sociedade menos solidária, mais individualista e com mais competição.

O médico alerta ainda que o enfraquecimento do papel da família na sociedade, que representa proteção e segurança afetiva, além do aumento da dependência de drogas e álcool, também se reflete no agravamento do suicídio no Brasil.
Diego Junqueira
A partir do R7. Leia no original

LIVRO FALA DO SUICÍDIO E SUA PREVENÇÃO

2/05/2013
A Editora Unesp acaba de lançar o livro "O Suicídio e sua Prevenção", de José Manoel Bortolote ( 142 págs., R$18,00), obra na qual o autor trata de algumas perguntas que ainda não tiveram resposta ao tratar sobre o tema. Afinal, o suicídio sempre existiu, mas continuará fazendo parte da experiência humana para sempre? O “direito” ao suicídio deveria ser assegurado? Ou, ao contrário, a sociedade deve se mobilizar cada vez mais para tentar evitar os comportamentos suicidas? Por trás de questões como estas existem dados alarmantes, que explicam porque o suicídio se tornou um problema de saúde pública: a taxa de ocorrências está em crescimento no mundo, que já contabiliza cerca de um milhão de suicídios por ano. Essas mortes trazem consequências sérias para cinco a dez milhões de “sobreviventes”, entre familiares e amigos, além de perdas econômicas expressivas.


Nesta obra, o médico José Manoel Bertolote, que recebeu o prêmio Ringel Service Award, da International Association for Suicide Prevention, órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS), aborda o assunto de forma analítica e do ponto de vista da prevenção, a partir de uma perspectiva holística acerca das causas dos comportamentos suicidas. Ele resgata as formas como a humanidade interpretou o suicídio ao longo da história e integra essas visões, criando um paradigma biopsicossocial que agrega aspectos culturais e sua influência sobre os comportamentos suicidas em diferentes países.

Bertolote constata que as taxas de suicídio variam de país para país e são maiores ou menores conforme vários fatores, como a religião dominante e a disponibilidade de meios para que o suicida concretize seu objetivo – armas de fogo e pesticidas, por exemplo. Já a predisposição se relaciona a gênero (em geral há três a quatro suicidas homens para cada mulher), idade (o suicídio predomina entre os idosos, mas agora cresce entre os jovens), depressão, uso indevido de álcool, esquizofrenia.

O autor defende, assim, que é possível mapear as pessoas que estão passando por comportamentos suicidas, identificá-las e ajudá-las a superar a situação que poderia levá-las a dar fim às próprias vidas. Ele reproduz em parte e comenta os programas de prevenção ao suicídio criados recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e OMS, onde ele foi coordenadorda equipe de transtornos mentais e neurológicos. Adotados por vários países, inclusive o Brasil, mas ainda pouco assimilados, esses programas dirigem-se principalmente a profissionais da saúde, da educação e da mídia.
José Manoel Bertolote
Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (Unesp), onde leciona, no Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria. Tem mestrado em Psiquiatra Social e Transcultural pela McGill University de Montreal, no Canadá, e foicoordenador da equipe de transtornos mentais e neurológicos na sede da Organização Mundial da Saúde, em Genebra. Recebeuo prêmio Ringel Service Award, International Association for Suicide Prevention, da OMS.

DEPRESSÃO PODE DESTRUIR SUA VIDA PROFISSIONAL

2/04/2013
Perda de interesse pelo trabalho, falta de concentração, dificuldade em cumprir prazos e demandas, insônia, alteração de peso: esses podem ser os sintomas de uma doença séria: a depressão. Em alguns casos, a produtividade dos profissionais que sofrem com a doença pode ser seriamente prejudicada, culminando com a demissão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 340 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo mundo. No Brasil, cerca de 13 milhões de pessoas são atingidas pela doença (OMS).

“As doenças neuropsiquiátricas são hoje a primeira causa de incapacidade no mundo ao longo da vida e a depressão representa quase 50% dessas enfermidades”, explica Kalil Duailibi, professor do departamento de Psiquiatria da Universidade de Santo Amaro (Unisa) e ex-coordenador de saúde mental da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo (SP).

Produtividade

Enquanto um paciente com diabetes falta 6 dias ao ano no trabalho devido à doença, uma pessoa com problemas cardiovasculares se ausenta 8 dias e quem sofre com asma falta 10 dias, quem sofre de depressão apresenta um prejuízo muito maior, perdendo cerca de 35 dias de trabalho por ano. 

Segundo Duailibi, o paciente que apresenta um quadro depressivo considerado grave tem sua capacidade social e produtiva comprometida em 90%; em casos moderados, 40%, já em casos da doença em que há apenas sintomas leves, 20% de sua capacidade está afetada.

“O profissional com depressão poderá ter atrasos recorrentes, dificuldades em reter informações e de memória, dificuldade na execução de tarefas simples e, até mesmo, sentir-se incapacitado para executar sua função. Isso o tornará ainda mais deprimido e dará início a um círculo vicioso, que pode levar à demissão”, explica.

Com a queda no rendimento, a exigência dos chefes e superiores em relação a esse profissional pode aumentar, uma vez que a capacidade do indivíduo em desenvolver sua função é comprometida. “Cerca de 44% da capacidade produtiva do indivíduo fica comprometida quando ele apresenta um quadro depressivo”, ressalta Duailibi.

Outro estudo, estima que a depressão acarrete um custo anual de cerca de US$ 83 bilhões para a economia do país, incluindo perda de produtividade e uso da seguridade social (62%), custos diretos, como atendimento hospitalar, ambulatorial e dos medicamentos (31%), e custos relacionados ao suicídio (7%).

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico precoce da doença é fundamental, pois muitos indivíduos só se dão conta que perderam seus empregos em decorrência da depressão durante o tratamento terapêutico – 11% dos pacientes atribuem o desemprego à depressão. 

Há um termo, ainda pouco usado no País, que designa profissionais que mesmo doentes permanecem desenvolvendo suas funções corporativas, o presenteísmo. O distúrbio, agravado pela depressão, caracteriza-se quando o indivíduo não desempenha suas funções nas condições de saúde ideais e tem a produtividade diretamente afetada.

“Atualmente, o diagnóstico é mais efetivo e sabe-se que a enfermidade está associada a inúmeros fatores, incluindo os genéticos”, afirma Duailibi. Para que esse quadro seja revertido, é preciso que o paciente seja diagnosticado corretamente e associe a psicoterapia de qualidade ao antidepressivo adequado, além de mudanças do hábito de vida. “Essa fórmula costuma apresentar um saldo positivo, evitando as recaídas do paciente”, reforça Duailibi.

Entretanto apenas dois terços dos pacientes com depressão procuram tratamento e, destes, somente 10% recebem doses adequadas de medicamentos, segundo dados do National Institute of Mental Health (NIMH) dos Estados Unidos. O médico ressalta ainda que, mesmo com sinais de melhora, é preciso manter o tratamento e, se necessário, o acompanhamento terapêutico. “O acompanhamento médico é fundamental, para evitar que a depressão torne-se um quadro crônico”, orienta o especialista.

Para combater a doença, além de ser essencial seguir corretamente o tratamento, a prática de atividades físicas também é importante. Esportes liberam endorfina, substância que causa sensações de alegria, bem-estar e melhoram a qualidade de vida do paciente.

Preconceito

O paciente com depressão precisa estar preparado, inclusive, para lidar com o preconceito das pessoas que desconhecem a doença. Por muitas vezes, será tratado com uma pessoa fraca e incapaz de encarar os desafios cotidianos como os demais profissionais. 

Dualibi orienta que se busque apoio na empresa de um profissional especializado, como um médico ou funcionário do departamento de Recursos Humanos. “Durante o tratamento, é importante que o profissional se resguarde de comentários que o afetem emocionalmente ou mesmo julgamento de colegas. É o momento de se fortalecer, recuperar a autoestima e recarregar as energias para se restabelecer profissionalmente”, afirma Duailibi. 

Em alguns casos, a licença médica indicada pelo profissional que acompanha o paciente pode ser uma alternativa para que o tratamento seja efetivo e o retorno ao trabalho satisfatório.
A partir do site Administradores. Leia no original

MEDRADO FALA SOBRE A ENERGIA DA DEPRESSÃO

2/01/2013

Íntegra da palestra de José Medrado em doutrinária da Cidade da Luz, em agosto de 2005, falando sobre a depressão. Ele defende que devemos buscar "quebrar a cadeia de sentimentos" que nos conduzem ao fundo do poço emocional. "As coisas estão aí para serem enfrentadas, ninguém tem um fardo que não consegue carregar", ensina. "Mesmo diante desses processos é importante lembrar que 'tudo é energia'. Não tente encontrar culpa ou culpados. Se você quer modificar o problema, saia da energia desse problema", conclui. 

O médium baiano José Medrado é fundador da "Cidade da Luz", um grande complexo espiritual e de solidariedade, localizado em Salvador (BA). Acompanhe semanalmente no Blog Partida e Chegada (todas as quartas) suas palestras. 

USP SELECIONA PARA PESQUISA SOBRE DEPRESSÃO

1/24/2013
O Instituto de Psiaquiatria (IPq), ligado ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) seleciona pessoas de ambos os sexos, de 18 a 55 anos, com diagnóstico e sintomas de depressão, para ingresso em projeto de pesquisa.
Além de tratamento médico e farmacológico, o paciente participará de programa de exercícios físicos controlados, especialmente desenvolvido para atuar como adjuvante no tratamento, influenciando na redução e controle da doença.
O cadastro para triagem pode ser feito pelo site ou pelo telefone (11) 98266-9227, com Geórgia. O IPq fica na R. Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, Cerqueira César, São Paulo.
Mais informações: (11) 2661-7801; e-mail   -   imprensa.ipq@hc.fm.usp.br

DEPRESSÃO: DOENÇA QUE PRECISA DE TRATAMENTO

1/15/2013

Depressão não é tristeza. É uma doença que precisa de tratamento. Cerca de 18% das pessoas vão apresentar depressão em algum período da vida. Quando o quadro se instala, se não for tratado convenientemente, costuma levar vários meses para desaparecer. Depressão é também uma doença recorrente. Quem já teve um episódio na vida, apresenta cerca de 50% de possibilidades de manifestar outro; quem teve dois, 70% e, no caso de três quadros bem caracterizados, esse número pode chegar a 90%.

A depressão é uma patologia que atinge os mediadores bioquímicos envolvidos na condução dos estímulos através dos neurônios, que possuem prolongamentos que não se tocam. Entre um e outro, há um espaço livre chamado sinapse, absolutamente fundamental para a troca de substâncias químicas, íons e correntes elétricas. Essas substâncias trocadas na transmissão do impulso entre os neurônios, os neurotransmissores, vão modular a passagem do estímulo representado por sinais elétricos.

Na depressão, há um comprometimento dos neurotransmissores responsáveis pelo funcionamento normal do cérebro. Acompanhe a seguir a entrevista realizada por Drauzio Varela com o médico Ricardo Moreno, psiquiatra e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.

DIFERENÇA ENTRE TRISTEZA E DEPRESSÃO

Drauzio – Vamos começar pela pergunta clássica: qual a diferença entre tristeza e depressão?

Ricardo Moreno – Tristeza é um fenômeno normal que faz parte da vida psicológica de todos nós. Depressão é um estado patológico. Existem diferenças bem demarcadas entre uma e outra. A tristeza tem duração limitada, enquanto a depressão costuma afetar a pessoa por mais de 15 dias. Podemos estar tristes porque alguma coisa negativa aconteceu em nossas vidas, mas isso não nos impede de reagir com alegria se algum estímulo agradável surgir. Além disso, a depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer atividade. É um transtorno que pode vir acompanhado ou não do sentimento de tristeza e prejudica o funcionamento psicológico, social e de trabalho.

SINTOMATOLOGIA DA DEPRESSÃO

Muitas pessoas portadoras de depressão não reconhecem os sintomas da doença. Que dicas dar aos familiares para ajudá-los a identificar o comportamento de um deprimido?

Em geral, o indivíduo com depressão reconhece que está sendo afetado por algo novo, diferente das outras experiências de tristeza que teve na vida. A família pode identificar o comportamento do deprimido pela mudança de atitudes, porque ele deixa de ser o que era, deixa de sentir alegria, apresenta queda de desempenho e passa a agir de forma diferente da habitual.

Exatamente por estarem deprimidos, a maioria leva bastante tempo para procurar ajuda, não é?

Infelizmente, isso acontece. Muitas vezes, os indivíduos custam a identificar como anormal o que estão sentindo. É comum atribuírem a depressão a um mau momento da vida ou a relacionam com um obstáculo que poderá ser transposto sem dar-se conta de que foram acometidos por uma doença que tem tratamento capaz de melhorar sua qualidade de vida.

Quais são os sintomas mais característicos de um quadro depressivo?

São muitos os sintomas da depressão. Talvez o mais evidente seja o humor depressivo, que se caracteriza por tristeza e melancolia, acompanhado por falta de ânimo e de disposição, incapacidade de sentir prazer em atividades habitualmente agradáveis, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança, desamparo.

Um de meus pacientes dizia que apesar de estar tudo bem na vida, não conseguia olhar para nenhum lado sem ver os aspectos negativos e que esses assumiam importância muito maior do que os positivos.

De fato, essa doença provoca uma distorção na visão de mundo e de si mesmo. Lembro-me bem de um paciente que dizia existir uma nuvem cinzenta a seu redor que o impedia de olhar o espectro das cores. Achei uma definição interessante que bem traduz o sentimento depressivo.


COMPORTAMENTO FAMILIAR PARADOXAL

Existe uma contradição que se estabelece nesses quadros. A família vê a pessoa nesse estado e quer que reaja, mas ela não consegue e os familiares se voltam contra o deprimido. Isso é regra?

Essa é uma armadilha em que caem as famílias e o deprimido porque, esgotadas todas as tentativas para estimulá-lo, surge a raiva: “Ele não reage; eu tento, mas ele não quer melhorar”. Tal comportamento reforça a desesperança e a baixa autoestima próprias do indivíduo com depressão. Por isso, é importante esclarecer familiares e paciente que essa incapacidade de reação é uma das características da doença e ajuda a diferenciar o estado patológico do normal. Quando estamos tristes, somos capazes de reagir aos estímulos de prazer. O deprimido dificilmente o consegue. A depressão tira-lhe as forças. Ele não tem como lutar contra ela.

DOENÇA PREVALENTE NAS MULHERES

Por que as mulheres têm mais depressão do que os homens?

O sexo feminino passa por vários processos hormonais durante a vida: o início dos ciclos menstruais, a gravidez, o parto e, por último, a menopausa. Tudo isso implica alterações na produção dos hormônios sexuais femininos e torna a mulher mais vulnerável. Tanto é assim que no período da gravidez, do parto e da perimenopausa, a depressão ocorre com maior frequência. Após a menopausa, a relação da incidência entre homem e mulher tende a igualar-se, pois nessa fase cessam essas flutuações hormonais femininas.

DEPRESSÃO PÓS-PARTO

Fale um pouco da depressão ligada ao parto, especialmente desses quadros graves que se estabelecem no pós-parto quando mulheres chegam a matar seus próprios filhos?

Existem duas posições no pós-parto. A primeira é um estado leve de melancolia que dura de cinco a sete dias e não traz grandes consequências nem para as mães nem para as crianças. A outra é a depressão pós-parto propriamente dita, um manifestação mais grave, porque compromete a mulher e sua visão de mundo e favorece o risco de um infanticídio.

É um caso tão sério que o código penal não o reconhece como crime, pois considera que a mulher perdeu a crítica e o ajuizamento da realidade.


DEPRESSÃO NA MENOPAUSA

Na passagem da menopausa, muitas mulheres se queixam de que de repente caem numa tristeza incontrolável e apresentam forte labilidade emocional. Por que isso acontece?

A menopausa também é um período de risco de depressão para as mulheres. É um fenômeno relacionado com a perda da capacidade reprodutiva e com as mudanças hormonais do sexo feminino.

DEPRESSÃO NOS HOMENS

Em que faixa etária os homens estão mais predispostos a sentir depressão?

Nos homens, a depressão é mais frequente nos adultos jovens, isto é, no final da adolescência e início da vida adulta. Pode-se dizer que o pico da incidência da doença ocorre dos 18 aos 30, 40 anos,  justamente na fase mais produtiva do indivíduo.

DEPRESSÃO NA VELHICE

E na velhice, também ocorrem casos de depressão?

A depressão pode ocorrer em qualquer ciclo da vida: na infância, adolescência, na vida adulta e na velhice. A infância é a fase de diagnóstico mais difícil. Muitos casos passam despercebidos, pois os sintomas são atribuídos a características de personalidade da criança. Na velhice, acontece algo semelhante. Muitas vezes, atribui-se a queda de energia e disposição ao peso da idade. “Ele está velho, já fez o que tinha de fazer” é a explicação que se dá, ignorando os sintomas da depressão e a possibilidade de mudar sensivelmente a condição de vida do velho porque existe tratamento para essa doença.

MUDANÇAS NO PARADIGMA DO TRATAMENTO

No passado, depressão era tratada com aconselhamento e psicoterapia. Hoje, depressão é tratada mais agressivamente. O que mudou no conhecimento da fisiologia da depressão que permitiu essa transformação no tratamento?

No cérebro existem células nervosas, os neurônios, e substâncias químicas que estabelecem a comunicação entre elas, os neurotransmissores. Em condições normais, a quantidade dessas substâncias é suficiente, mas ela cai consideravelmente durante a crise de depressão. Os medicamentos antidepressivos aumentam a oferta de neurotransmissores e promovem a volta ao estado normal do paciente.

O tratamento da depressão mudou muito com a descoberta desses medicamentos que provocam algumas modificações químicas no cérebro pela oferta de substâncias mediadoras que estabelecem a comunicação entre uma célula nervosa e outra durante o processo de transmissão dos sinais. No deprimido, os níveis dos neurotransmissores são baixos. Os antidepressivos bloqueiam o mecanismo de recaptura (impedem que os neurotransmissores retornem à célula de origem) o que aumenta a quantidade dessas substâncias nesse espaço virtual entre os neurônios.

Na verdade, a depressão reflete uma alteração bioquímica do cérebro.
Os estados depressivos são provocados por uma disfunção na bioquímica do cérebro o que acarreta manifestações psicológicas e comportamentais.

O tratamento visa à modulação mais harmônica dessa bioquímica cerebral?

O tratamento visa a regular essa disfunção e existem medicamentos bastante eficazes nesse aspecto. Costumo dizer que, nos últimos 40 anos, eles apresentaram uma evolução importante porque, apesar das desvantagens dos efeitos colaterais, promovem uma melhora significativa nos pacientes. Na relação custo-benefício, a decisão tende sempre para o tratamento uma vez que restabelece a qualidade de vida e diminui o risco de morte por suicídio ou outras doenças.

EFEITOS COLATERAIS

Quais os  principais efeitos colaterais desses medicamento?

Existem vários grupos de antidepressivos. Alguns provocam boca seca, intestino preso; outros, tremor. Os mais recentes, os chamados antidepressivos de nova geração, podem ocasionar ansiedade, tremores, inquietação, náuseas e, às vezes, vômitos. No entanto, isso acontece com pequena parcela das pessoas que tomam essa medicação, talvez 20% ou 30% delas.

No tratamento da depressão existe um complicador importante. Em geral, leva algum tempo para que o doente sinta os benefícios da medicação, mas os efeitos colaterais desagradáveis são piores no começo.

De fato, o medicamento leva de 10 a 15 dias para começar a ter boa ação antidepressiva. Em compensação, os efeitos colaterais são imediatos. Isso dificulta bastante a adesão ao tratamento e faz com que o paciente tenda a abandoná-lo precocemente.

ESTRATÉGIAS DE CONVENCIMENTO

Que estratégia você usa para explicar isso aos pacientes?

Tento ser o mais claro possível para convencê-los de que vale a pena suportar o desconforto inicial se considerados os riscos e o sofrimento que a depressão traz. Mostro-lhes que a primeira escolha de antidepressivos funciona bem em aproximadamente 70% dos casos. Nos outros, será necessário trocar de medicamento ou combinar formas diferentes de tratamento.

DURAÇÃO DO TRATAMENTO

Depressão é uma doença crônica. Em muitos casos há períodos em que a pessoa passa bem e depois volta a ficar deprimida. Isso implica tratamentos muito longos?

Sabemos que a doença tende a ser recorrente em mais ou menos metade dos pacientes. Quem já teve um quadro de depressão tem 50% de possibilidade de ter outro. Para quem já teve dois episódios, o risco aumenta para 70% e, para quem teve três, sobe para mais de 90%. Portanto, alguns pacientes precisarão tomar medicamentos durante anos e outros, pela vida toda com o intuito de prevenir a recorrência. Para esses pacientes, o acompanhamento psicológico e uma boa relação médico-paciente são fundamentais para a adesão e sucesso do tratamento.

Como convencer os pacientes de que precisam tomar os remédios a vida inteira?

É preciso explicar que a retirada do medicamento nunca deve ser feita de forma abrupta, porque no processo de diminuição gradativa da dose os sintomas podem voltar. Isso convence o paciente da necessidade de manter o tratamento por um período mais longo ou até pela vida toda.

GATILHOS DESENCADEANTES DA DEPRESSÃO

Existem fatores que disparam o processo depressivo?

Sabemos hoje que existe predisposição genética para a depressão. Os indivíduos nascem com vulnerabilidade para a doença, mas ela não se manifesta em todas as pessoas predispostas. Isso vai depender de vários fatores, chamados estressores, que funcionam como gatilho. Por exemplo, o estresse psicológico provocado por qualquer adversidade da vida, o estresse físico, certas doenças, o consumo de drogas lícitas ou ilícitas e alguns medicamentos de uso contínuo podem precipitar os quadros. Entre as drogas lícitas destaca-se o álcool e entre as ilícitas, as estimulantes como a cocaína e a as anfetaminas.

Isso me faz lembrar de que, no passado, havia medicamentos associados, com certa frequência, à ocorrência de suicídios. Em alguns casos, por não receberem esclarecimentos sobre a ação das drogas, os médicos prescreviam um remédio para controlar a pressão arterial e desencadeavam um episódio depressivo.


DEPRESSÃO SAZONAL

O que se sabe sobre a influência do clima, especialmente nos países frios, sobre a depressão?

Há um quadro de surtos depressivos, chamado depressão sazonal, que está relacionado diretamente com os fotoperíodos, isto é, com a luminosidade. No outono e no inverno, especialmente nos países frios, a luz diminui muito e algumas pessoas se tornam mais vulneráveis às flutuações normais do humor e desenvolvem quadros depressivos.

FORÇA DA HEREDITARIEDADE

Você falou que uma pessoa pode nascer com predisposição para desenvolver depressão. Existe uma relação direta entre pais depressivos e seus filhos?

Existe. A ocorrência de depressão num membro da família aumenta muito a possibilidade de um parente próximo ou de primeiro grau ser afetado pela doença. Filhos de deprimidos, em geral, manifestam maior predisposição do que filhos de pais não deprimidos. No entanto, devem sempre ser considerados, nesses casos, não só os fatores genéticos, mas também o peso dos fatores ambientais.

REFLEXO NAS RELAÇÕES AFETIVAS

Quando aparece um quadro depressivo na família, como ficam as relações afetivas?

Geralmente a família se desestrutura bastante. A tendência inicial é querer ajudar o indivíduo a reagir. Como ninguém consegue, aflora um sentimento de frustração difícil de contornar. Por outro lado, uma série de crenças populares, que rotulam a depressão como falta de vontade, defeito de caráter e doença de rico, interferem negativamente. A mistura dessas crenças com as tentativas infrutíferas de auxílio distorcem as relações familiares. Além disso, deve-se considerar o impacto social e econômico que a doença pode representar para toda a família.

ORIENTAÇÃO AOS FAMILIARES

Como você orienta os familiares nesses casos?

O primeiro passo é a informação. Todos, inclusive os pacientes, precisam saber o que está sendo feito, que riscos correm os doentes, os benefícios do tratamento e o prognóstico a longo prazo. Acima de tudo, é preciso vencer o medo. De modo geral, os doentes e suas famílias têm medo da doença mental, da loucura. Abordados esses temas, consegue-se melhorar o resultado do tratamento e as relações interpessoais.

O que a família pode fazer para ajudar a pessoa deprimida a sair da crise mais depressa?

Ricardo Moreno – A família pode fornecer parâmetros da realidade. Não deve deixar a pessoa trancada no quarto o dia todo com as cortinas fechadas, nem deixá-la desrespeitar a necessidade de alimentação e higiene.

Esse paciente precisa ser estimulado o que não significa levá-lo ao shopping ou pô-lo para correr. Significa estimulá-lo de acordo com suas possibilidades de desempenho. Ninguém incentiva um paciente de UTI a andar pelos corredores do hospital. É importante respeitar as limitações que a doença impõe naquele momento.

A atividade física ajuda?

A atividade física ajuda bastante. Há evidências de que associada a tratamentos medicamentosos e psicológicos pode ser um componente importante para alcançar resultados satisfatórios no tratamento.

DEPRESSÃO: DOENÇA IMPACTANTE?

Dê um exemplo prático de quão incapacitante pode ser um quadro depressivo?

A depressão se divide em leve, moderada e grave. É um engano imaginar que a depressão leve seja menos incapacitante se considerarmos a duração dos sintomas. No entanto, os quadros moderados e graves comprometem mais o indivíduo que fica com baixa produtividade, autoestima diminuída e uma visão distorcida do mundo. Já tive pacientes que ocupavam cargos importantes, recebiam salários razoáveis, desfrutavam uma condição de vida relativamente boa e pediram demissão, porque não se julgavam merecedores daquele emprego. Isso a curto e a longo prazo provoca desdobramentos complicados e desgastantes para a família e para o indivíduo.

Tive também pacientes que tentaram o suicídio. Apesar de todos, felizmente, terem continuado vivos, alguns ficaram com sequelas importantes e sua atitude pôs em xeque valores éticos, morais e religiosos e criou um conflito traumático na família. Sob o ponto de vista econômico, o indivíduo deprimido representa, ainda, um ônus para si, para a família e para a sociedade.

Você considera uma boa orientação aconselhar as pessoas a não tomarem decisões radicais durante as crises?

Geralmente aconselhamos o paciente e sua família a não tomarem nenhuma decisão importante ou definitiva enquanto perdurar a crise.

Num relacionamento sentimental a depressão é devastadora e frequentemente destrói casamentos, não é mesmo?

Destrói casamentos e sempre interfere negativamente na relação.

POSSIBILIDADES DE PREVENÇÃO

O que se pode fazer neste mundo moderno para não cair em depressão?

A primeira coisa é apelar para o bom-senso. Não há uma receita básica, mas todos podemos contar com o bom-senso para conseguir uma qualidade de vida satisfatória. Depois, é preciso desenvolver a capacidade de enfrentar e resolver problemas, dificuldades e conflitos. Tanto isso é possível que apenas 18% da população apresenta quadros depressivos ao longo da vida. Problemas todos temos. É necessário, dentro das possibilidades, aprender a lidar com eles e a não deixar que nos abalem demais.
A partir do site Estação Saúde. Leia no original

 
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