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'A DEPRESSÃO ME DEU COISAS EM TROCA', DIZ FERNANDA YOUNG

8/16/2017

Fernanda e Alexandre estão juntos há 24 anos. A parceria rendeu 15 séries televisivas, incluindo "Os Normais", comédia que modernizou a linguagem dramatúrgica da Globo no início dos anos 2000, além de "Separação?!" (2010) e "Como Aproveitar o Fim do Mundo" (2012), indicadas ao prêmio Emmy Internacional. 

"Sou uma autora contratada da Globo e tenho obrigações. Uma delas é fazer sucesso", explica. "Há erro e acerto. Essa moeda do sucesso é volátil".

A escritora sempre foi mais midiática que o marido. É atriz, apresentadora e posou nua duas vezes - para a Playboy, em 2009, e para a Top Magazine, em 2016. A relação quase nula de Alexandre com os holofotes originou comentários de que Fernanda seria apenas a "porta-voz" do casal. Ele, o "cérebro".

Fernanda, mesmo assim, não deixa de destacar a importância do companheiro. "Não sei nada de regra de português. Foi o Alexandre quem me ensinou a pontuar quando eu tinha 16 anos. Nossa parceira é tão antiga quanto nosso encontro".

Apesar de ser "extremamente apaixonado", o casal dorme em quartos separados desde o nascimento de suas filhas gêmeas, em 2000. Para Fernanda, fidelidade "é algo que não existe", o que importa é lealdade. "Tive pouquíssimos namorados e encontros sexuais. Minha 'reputação elástica' é mais sobre o que pensam de mim, do que aquilo que faço".

"Não acho a depressão charmosa. Mas ela me deu coisas em troca"
"A depressão é uma lente que distorce as coisas. A grande crueldade dessa doença é que você pensa que deveria morrer, porque é pior viver.

Não desejo a depressão de novo. Nem deixo que ela me domine. Não sou a doença. Depois de enfrentá-la durante toda a adolescência, posso dizer que agora a tenho controlada. Tomo 5 mg de Lexapro por dia e, para mim, é um efeito placebo.

Não acho a depressão charmosa, tive que sobreviver a ela. Mas a doença me deu coisas em troca. O gosto pelos exercícios físicos, por exemplo. A disciplina. Se não fosse a depressão, não teria feito nem 70% do que realizei na vida".

"Fumei por 21 anos e foi a coisa mais estúpida que já fiz. Experimentei tudo o que tinha em minha época e parei no LSD. Hoje, não uso nada.

Deixei de fumar maconha quando me dei conta de que ela fazia parte de um sistema do qual não quero participar. Defendo a descriminalização de todas as drogas. 

Se maconha fosse legalizada, fumaria de novo. Mas fumaria pouco, pois não quero me ausentar da realidade

Minha alegria é comer pizza com ketchup e chope. Cerveja também é muito legal. Aprendi a gostar de vinho rosé, mas não é a verdade absoluta do meu ser etílico. Tem umas coisas que não posso beber. Uísque, por exemplo. Fico homicida".


Greg Salibian/Folhapress
Greg Salibian/Folhapress

"Perdi a conta das piadas racistas que meus filhos ouviram"

Fernanda é mãe das gêmeas Estela May e Cecília Madonna, de 17 anos, e de Catarina Lakshimi, 9, e John Gopala, 8, que adotou em 2007. São crianças negras e a escritora sofre ao falar do racismo com que têm de lidar.

Teve uma época em que o John só desenhava menino loiro. Ele não entendia que era negro

Ela diz ter perdido as contas das vezes em que os filhos vieram se queixar das agressões que sofreram. "Me falam das piadas que fazem com o cabelo deles. Infelizmente acontece muito mais do que eu imaginava". 

Empoderar os filhos é a forma que ela encontrou de ensiná-los a enfrentar o preconceito. "Sabe essa coisa de gostar de habitar seu corpo? 'Eu reverencio o Deus que habita em mim'? É isso que tento passar para eles".

"Outro dia me perguntaram quais eram meus autores preferidos do momento. Percebi que só citei homens. Fiquei incomodada e me questionando depois. Com certeza meus escritores preferidos, em sua maioria, são homens. Mas por que será? É que os homens publicam mais e têm mais tempo de liberdade de expressão. Você vai estudar história da arte e não tem como não se perguntar: cadê as mulheres no Renascentismo?"

Fernanda autora

"O que considero bom em meus 12 livros? Nunca me censurei. Uma amiga, que também é escritora, certa vez me falou: 'você consegue algo raro, que é ter formado uma família e ao mesmo tempo ter mantido sua verdade de pensamento protegida'. E é verdade! Pouquíssimas pessoas conseguem manter sonhos românticos sem que isso seja um problema para sua liberdade. 'Como assim essa mulher fala essas coisa e tem filhos?'"

FÁBIO DE MELO FALA SOBRE SÍNDROME DO PÂNICO

8/09/2017

O padre e cantor Fábio de Melo, que atua na diocese de Taubaté, no interior de São Paulo, falou a respeito da síndrome do pânico da qual sofre atualmente em entrevista ao programa “No Ar”, na Rádio Globo.

“Eu sou extremamente aberto a contar minhas fraquezas. Acabei de te dizer que estou enfrentando uma síndrome do pânico. Não tenho medo da minha humanidade, sei que sou afetivamente exigido o tempo todo, faz parte do meu trabalho, as pessoas se aproximam de mim e chegam muito afetuosas, cheias de histórias. E é claro que há um desgaste emocional natural de tudo aquilo que eu faço”, contou.

“Estou vivendo um tempo muito difícil na minha vida, mas com muita disposição, também, não me sinto vítima. Não gosto desse ‘ai, coitadinho, tá cansado’. Quero continuar minha vida e fazer o que eu faço”, disse Melo.

Nas redes sociais do religioso, fãs dele estão pedindo correntes de oração pela melhora da sua saúde e enviando mensagens positivas. No programa, padre Fábio também falou sobre o sucesso que faz nas redes sociais.


"Gosto dos personagens que me ajudam no snap, me ajudam no Instagram a dizer o que nem sempre eu posso diretamente dizer. Mas eu sou eu. Não me escondo atrás de ninguém. Gosto dessa verdade. A autenticidade é a fatura que a gente tem que pagar com gosto todos os dias."

A partir da Revista IstoÉ. Leia no original
Imagem :  Divulgação

PÂNICO : ESTUDANTES CRIAM APLICATIVO PARA AJUDAR PESSOAS EM CRISE

8/02/2017
Be Okay inclui recursos para acalmar durante ataques e possibilita montar histórico
Gabriella Lopes (à esquerda) e duas colegas da PUC-Rio elaboraram um app para ajudar pessoas com crise de pânico

Três universitárias desenvolveram um aplicativo de celular para ajudar pessoas que têm crises de pânico ou de ansiedade. Batizado de Be Okay, o app já está disponível para aparelhos com sistema iOS, de forma gratuita. A intenção é ajudar tanto no exato momento da crise quanto a longo prazo. Quando o ataque está acontecendo, o usuário pode acessar uma animação para acompanhar um exercício de respiração — já que a falta de ar é um dos principais sintomas —; pode ver fotos que o acalmam, selecionadas previamente por ele mesmo; pode acionar uma discagem rápida para alguém capaz de ajudá-lo nessa hora, entre outros recursos.

Uma das criadoras, Gabriella Lopes, de 20 anos, conta que nunca experimentou ela própria uma crise de pânico, mas tem amigos e familiares que já passaram por tal situação.

— Conforme pesquisávamos para desenvolver o app, nos demos conta de que todos com quem nós falávamos conheciam pelo menos uma pessoa que já teve crise de pânico. É algo comum, e muitas vezes essas pessoas se veem sem qualquer ajuda — diz ela, que é estudante de Design de Mídia Digital.

A plataforma doi desenvolvida dentro do Programa de Formação para Desenvolvimento de Aplicativos iOS, coordenado pelo Laboratório de Engenharia de Software do Centro Técnico Científico (CTC) da PUC-Rio. Além de Gabriella, participaram da criação as alunas Ana Luiza Ferrer, do curso de Engenharia de Produção, e Helena Leitão, de Sistemas de Informação.

— Várias das funções do app foram fruto de sugestões de pessoas que já passaram por crises. Uma delas nos disse que o que a acalmava nessas horas era ver fotos de cachorrinhos pug — lembra Gabriella. — Então nós criamos a possibilidade de o usuário do app selecionar algumas fotos para que, nos momentos de crise, ele possa acessar. São as fotos que fizerem algum sentido para ele, que provoquem relaxamento. O app é uma zona de conforto, como gostamos de chamar.

Além da ajuda imediata, é possível fazer um histórico, por meio de registros com detalhes da crise que ocorreu. Passado o ataque de pânico, o Be Okay oferece a opção de preencher um formulário com hora, duração, local e sintomas. Essa ferramenta foi acrescentada com o objetivo de dar ao usuário a possibilidade de identificar quais são os gatilhos que o levam à crise e verificar qual a frequência que isso acontece.

— Todas as técnicas de auxílio são muito úteis no momento que você está tendo o ataque. Mas e depois? É aí que entra a parte de registros. Você tem um controle muito maior. E um dos pontos do nosso aplicativo é exercer esse controle sobre algo que afeta a sua vida como um todo — destaca Gabriella.

A partir de O Globo. Leia no original
Imagens : Divulgação 

SUICÍDIOS EM FAMÍLIA SÃO EXPLICADOS, EM PARTE, PELA GENÉTICA

7/30/2017
Getúlio Vargas (ao microfone) em cena do documentário "Imagens do Estado Novo"

Suicídios recorrentes na mesma família –como os do presidente Getúlio Vargas, de seu filho Manuel Antônio e, recentemente, de seu neto, também Getúlio – podem ser influenciados por um componente genético, dizem especialistas.

A relação entre esse aspecto hereditário e a decisão de pôr fim à própria vida, porém, é indireta, complicada e difícil de esmiuçar, sem nenhuma semelhança com uma suposta "maldição no DNA".

"Quando você olha de perto a questão, ela é sempre multifatorial", adverte o psiquiatra Carlos Cais, que é professor colaborador do departamento de psicologia médica e psiquiatria da Unicamp.

"Por mais sedutor que seja encontrar culpados, eles não existem", concorda Maila de Castro Neves, professora do Departamento de Saúde Mental da UFMG.

"É como a queda de um avião: em geral, ele cai por uma sequência de problemas. Essa coisa de dizer que o sujeito perdeu o emprego e por isso se matou, ou se matou porque estava com depressão, nunca conta a história toda", compara Cais.

Cerca de 90% dos casos de suicídio estão associados a algum tipo de transtorno mental, e é por essa via que os pesquisadores tentam elucidar a associação entre o ato e determinadas predisposições genéticas.


Numa análise de mais de 15 mil casos de suicídio, a ligação com transtornos mentais se mostrou comum

Em tais casos, a ideia é que variantes de determinados genes produzem problemas mentais e, de forma indireta, os sintomas desses problemas é que deixariam seus portadores mais vulneráveis a ideias suicidas.

A importância desse fator, porém, varia muito com o tipo de transtorno mental. Segundo Cais, o transtorno bipolar, seguido da esquizofrenia, parecem ter peso relativamente bem estabelecido no aparecimento de comportamentos suicidas. "Depois disso, os demais transtornos possuem uma força de evidência muito menor", diz.

Outra possível via pela qual os comportamentos suicidas se manifestam é a da impulsividade e agressividade mais elevadas, que não podem ser classificadas propriamente como doenças mentais, explica o psiquiatra.

Os métodos usados para investigar o tema do ponto de vista genético são, inicialmente, os que envolvem a comparação controlada de membros da mesma família.

O ideal seria estudar gêmeos idênticos separados no nascimento –cada um adotado por uma família diferente, por exemplo.

Numa situação como essa, embora os irmãos tenham basicamente o mesmo material genético, justamente por serem idênticos, o ambiente em que são criados é distinto, o que ajudaria a desemaranhar a influência da hereditariedade e o componente ambiental.

Também se pode comparar uma pessoa adotada com seus irmãos adotivos e seus irmãos de sangue (não gêmeos).

Se os irmãos idênticos ou os de sangue apresentarem uma propensão maior ao suicídio do que a de seus irmãos adotivos, mesmo que jamais tenham tido contato entre si, a tese de que há um componente genético ligado ao problema se fortalece. De fato, é o que algumas revisões da literatura científica sugerem.


Irmãos

Dados reunidos em 2008 por David Brent e Nadine Melhem, do Western Psychiatric Institute (EUA), por exemplo, indicam que o risco de um gêmeo idêntico cometer suicídio depois que seu irmão o fez é bem mais elevado do que o entre gêmeos fraternos (não idênticos): 15% versus 0,7%, respectivamente, e outras revisões apontam números semelhantes.

Em estudos de adoção compilados pelos mesmos pesquisadores, a probabilidade de que os irmãos biológicos de uma pessoa adotada que se suicidou também cometessem suicídio chegava a ser seis vezes maior do que a dos irmãos adotivos (em números absolutos, ainda assim a chance é baixa –a Organização Mundial da Saúde calcula que 11 em cada 100 mil pessoas morram por ano dessa maneira).

Maila cita um levantamento recente que aponta que a herdabilidade do comportamento suicida (ou seja, quanto da variação entre as pessoas nesse quesito pode ser atribuída a fatores hereditárias) seria de 43%. "Na minha opinião, é impossível e artificial separar a influência genética da ambiental."

A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original

'SÍNDROME DO PÂNICO ME FEZ TER MAIS RESPEITO PELO SOFRIMENTO', DIZ PADRE FÁBIO

7/04/2017

Padre Fábio de Melo, famoso nas redes sociais por suas publicações divertidas e por ser amigo de celebridades como Evaristo Costa, Lucas Lucco e Alcione, deu detalhes sobre a síndrome do pânico, doença diagnosticada há dois anos e que voltou a se manifestar nos últimos dias.

"As vezes eu me pegava me escondendo debaixo da cama tamanho era o pavor que eu sentia", disse o religioso a Poliana Abritta, apresentadora do "Fantástico", da Globo –a entrevista foi ao ar neste domingo (20).

Segundo Melo, no auge da angústia, era à mãe a quem recorria. "Teve um dia que meu desespero era tão grande que eu não queria falar com outra pessoa que não fosse ela", disse.

"Eu sou o padre Fábio de Melo, eu tenho muita responsabilidade como o padre Fábio de Melo, mas eu continuo sendo o Fabinho da minha mãe", completou.

A doença, que afirma já está sendo tratada e acompanhada por especialistas, "abalou a sua fé" e o fez pensar em desistir da batina.

"Foram dias em que eu decidi tanta coisa rapidamente dentro de mim que pensei 'eu não quero mais ser padre, eu não tenho mais coragem de enfrentar as pessoas, eu não tenho mais condições de ser quem eu sou'."

Melo também afirmou que a doença o fez "mais confiante". "Retomei essa fé que me move. Eu acho que foi extremamente providencial eu ter vivido isso porque, se eu já tinha um respeito pelo sofrimento humano e pelo mistério que é o ser humano, hoje eu tenho muito mais".


OS SUICÍDAS, LIVRO DE ANTONIO DI BENEDETTO

5/22/2015
Antonio di Benedetto

Publicado pela primeira vez em 1969, o livro conta a história de um jornalista que, ao se aproximar de seu trigésimo terceiro aniversário, começa a recordar o suicídio do pai, que se matou justamente com essa idade. Para piorar a situação, o jornalista é incumbido de fazer uma reportagem justamente sobre suicidas. O livro, então, se desenvolve com a principal personagem caçando histórias de suicidas, visitando necrotérios e locais onde as pessoas tentam se suicidar e, até mesmo, testemunhando uma cena, descrita em ritmo quase vertiginoso, em que um rapaz ameaça saltar de um edifício. Como se não bastasse, o jornalista ainda precisa percorrer a literatura sobre os suicidas. 

O livro, assim, recolhe um grande número de citações da literatura, filosofia e ciências sociais, formando uma espécie de antologia irônica sobre o suicídio. Paralelamente, o jornalista recorda-se do pai e começa, sempre muito turvamente, a pensar no próprio suicídio. No dia do fatídico aniversário, a personagem principal acaba mergulhando em um torvelinho psicológico cuja conseqüência é completamente inesperada. 

O final do livro, tão surpreendente quanto sua estrutura formal, talvez deixe o leitor perplexo. Aliás, o engenho do autor se revela principalmente na capacidade de conseguir extrair sensações diferentes, como humor, ironia e perplexidade, de um tema não raro na literatura e muitas vezes trágico. Esquematizado em pequenos fragmentos, que conduzem a literatura a uma velocidade tão vertiginosa quanto a psicologia das personagens, a narrativa de fato reordena diversos tópicos literários: temos aqui um livro argentino que se passa na Europa, cuja trama reclassifica sua possível tragicidade em outros níveis, tudo por meio de uma estrutura inovadora e bastante diferente da que era praticada pelos pares latinos de Di Benedetto. 

O livro é traduzido por Maria Paula Gurgel Ribeiro, já experiente em trazer para o português autores argentinos, e conta ainda com um interessante prefácio do escritor Luis Gusmán, conterrâneo de Antonio Di Benedetto e uma das estrelas da atual ficção da Argentina. A Editora Globo publicará seus três romances principais – Los Suicidas, El Silenciero e Zama – e dois livros de contos. 

A organização da coleção é de Ana Cecília Olmos, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, especializada em literatura argentina. El Silenciero e Zama terão prefácio do escritor argentino de Juan José Saer. 

CRÍTICAS :  “O Brasil foi apresentado à sua obra somente no ano passado, com a tradução do singular Os suicidas (1969), romance que explora as diversas faces de seu tema, expresso no título: referências literárias, dados estatísticos, condenações religiosas, explicações filosóficas em torno do suicídio, obsessão pactual do narrador.” Elias Ribeiro Pinto, Diário do Pará, 9 jul. 2006, Caderno D.

Sobre o Autor

Antonio di Benedetto nasceu em Mendoza, Argentina, em 1922. Desde cedo exerceu o jornalismo e a partir da década de 195 passou a dividir seu tempo entre as redações e a literatura. Logo no primeiro dia da ditadura militar que assolou a Argentina a partir de março de 1976, foi preso, o que demonstra inequivocamente o prestígio que seu nome atingira. Depois de intensa movimentação de intelectuais no exterior, di Benedetto foi para o exílio. Em 1984, retornou à Argentina, vindo a falecer em Buenos Aires dois anos depois. Seu livro mais importante, Zama, recebeu, dentro outros, o prestigioso prêmio Itália-América Latina de Literatura. A obra de di Benedetto foi traduzida para, entre outros idiomas, o alemão, o francês, o italiano e o polonês.

FALANDO FRANCAMENTE SOBRE O SUICÍDIO

5/20/2015

As razões podem ser bem diferentes, porém muito mais gente do que se imagina já teve uma intenção em comum. Segundo estudo realizado pela Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e desses, 4,8 chegaram a elaborar um plano para isso. Na maioria das vezes, no entanto, é possível evitar que esses pensamentos suicidas virem realidade.
A cada 45 minutos, um brasileiro morre vítima de suicídio. E, em uma sala com trinta pessoas, cinco delas já pensaram em tirar a própria vida.
A primeira medida preventiva é a educação: é preciso deixar de ter medo de falar sobre o assunto, derrubar tabus e compartilhar informações ligadas ao tema. Como já aconteceu no passado, por exemplo, com doenças sexualmente transmissíveis ou câncer, a prevenção tornou-se realmente
bem-sucedida quando as pessoas passaram a conhecer melhor esses problemas. Saber quais as principais causas e as formas de ajudar pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio no Brasil, onde hoje 32 pessoas por dia tiram a própria vida. Por isso, é essencial deixar os preconceitos de lado e conferir alguns dados básicos sobre o assunto. 


PENSAR EM SUICÍDIO FAZ PARTE DA NATUREZA HUMANA

1. COMO PODEMOS DEFINIR O SUICÍDIO?

Suicídio é um gesto de autodestruição, realização do desejo de morrer ou de dar fim à própria vida. É uma escolha ou ação que tem graves implicações sociais. Pessoas de todas as idades e classes sociais cometem suicídio. A cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão de pessoas todos os anos. Estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio a cada ano. De cada suicídio, de seis a dez outras pessoas são diretamente impactadas, sofrendo sérias consequências difíceis de serem reparadas.

2. O QUE LEVA UMA PESSOA A SE MATAR?

Vários motivos podem levar alguém ao suicídio. Normalmente, a pessoa tem necessidade de
aliviar pressões externas como cobranças sociais, culpa, remorso, depressão, ansiedade, medo, fracasso, humilhação etc.

3. COMO SE SENTE QUEM QUER SE MATAR?

No momento em que tem ideias suicidas, a pessoa combina dois ou mais sentimentos ou ideias conflituosos. É um estado interior chamado de ambivalência. Ela busca atenção por se sentir esquecida ou ignorada e tem a sensação de estar só – uma solidão sentida como um isolamento insuportável. Muita gente tem um desejo de revide ou imposição do mesmo sentimento negativo aos outros, querendo que sintam o mesmo que ela. Outras pessoas sentem vontade de desaparecer, fugir
ou de ir para um lugar ou situação melhor.

Quase sempre, sentem uma necessidade de alcançar paz, descanso ou um final imediato aos tormentos que não terminam. 

4. O SENTIMENTO E O IMPULSO SUICIDAS SÃO NORMAIS?

Pensar em suicídio é uma coisa que faz parte da natureza humana, e é estimulada pela possibilidade de escolha. O impulso também é uma reação natural, porém é mais comum nas pessoas que estão exaustas por dentro e emocionalmente fragilizadas diante de situações que despertam possibilidade de suicídio.

5. QUEM SE MATA MAIS: MENINOS OU MENINAS?

Os meninos normalmente se matam mais, embora elas tentem mais vezes do que os meninos. Essa tendência também acompanha os adultos, por causas culturais relacionadas a costumes e preconceitos sociais.  

6. O SUICÍDIO ESTÁ VINCULADO A ALGUMA DOENÇA MENTAL?

O suicídio resulta de uma crise de duração maior ou menor, que varia de pessoa para pessoa. Não está necessariamente ligado a uma doença mental, mas sim a um momento crítico que pode ser superado. As pessoas correm menos risco de se matar quando aceitam ajuda.

7. PESSOAS QUE AMEAÇAM SE MATAR PODEM DESISTIR DA IDEIA?

Sim, podem. Ao receber ajuda preventiva ou oferta de socorro diante de uma crise, elas podem reverter a situação ao colocar para fora seus sentimentos, ideias e valores, alterando, assim, seu estado interior. Essa ajuda pode vir de pessoas comuns, ligadas a organizações voluntárias como o CVV, que se dedicam à prevenção do suicídio – são voluntários que têm um papel importante ao ouvir quem estiver passando por um momento de desespero.

O apoio pode vir também de profissionais, contribuição muitas vezes indispensável, especialmente nos casos de descontrole. Essas duas possibilidades de ajuda são reconhecidas no mundo inteiro, pois apresentam bons resultados.

8. AS PESSOAS QUE TENTAM SUICÍDIO PEDEM SOCORRO?

Sim, é frequente pedir ajuda em momentos críticos, quando o suicídio parece uma saída. A vontade de viver aparece sempre, resistindo ao desejo de se autodestruir. De forma inesperada, as pessoas se veem diante de sentimentos opostos, o que faz com que considerem a possibilidade de lutar para continuar vivendo. Encontrar alguém que tenha disponibilidade para ouvir e compreender os sentimentos suicidas fortalece as intenções de viver.

9. QUEM ESTÁ POR PERTO PODE AJUDAR? COMO?

É preciso perder o medo de se aproximar das pessoas e oferecer ajuda. A pessoa que está numa crise suicida se percebe sozinha e isolada. Se um amigo se aproximar e perguntar “tem algo que eu possa fazer para te ajudar?”, a pessoa pode sentir abertura para desabafar. Nessa hora, ter alguém para ouvi-la pode fazer toda a diferença. E qualquer um pode ser esse “ombro amigo”, que ouve sem fazer críticas ou dar conselhos. Quem decide ajudar não deve se preocupar com o que vai falar. O importante é estar preparado para ouvir.

10. COMO O SUICÍDIO É VISTO PELA SOCIEDADE?

O suicídio foi e continua sendo um tabu entre a maioria das pessoas. É um assunto proibido e que agride várias crenças religiosas. O tabu também se sustenta porque muitos veem o suicida como um fracassado. Por outro lado, os homens, por natureza, não se sentem confortáveis para falar da morte, pois isso expõe seus limites e suas fraquezas. Esse tabu piora a situação de muitos. Muitas vezes, mesmo aqueles que seguem religiões que condenam o suicídio não conseguem respeitar suas crenças
e acabam dando fim à própria vida. 

11. O MUNDO ATUAL TEM INFLUÊNCIA NO NÚMERO DE SUICÍDIOS?

As estatísticas mostram que o suicídio cresce não somente por questões demográficas e populacionais, mas também por problemas sociais que prejudicam o bem-estar de cada um e que estimulam a autodestruição. Nossa sociedade vive com diversas situações de agressão, competição e insensibilidade. Campo fértil para que transtornos emocionais se desenvolvam. O antídoto para combater essa situação limita-se, no momento, ao sentimento humanitário que algumas pessoas têm.

12. QUAIS AS ESTATÍSTICAS SOBRE SUICÍDIO NO BRASIL?

A média brasileira é de 6 a 7 mortes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média mundial – entre 13 e 14 mortes por 100 mil pessoas. Mas o que preocupa é que, enquanto a média mundial permanece estável, esse número tem crescido no Brasil. E a maior porcentagem de suicídios é registrada entre jovens.

13. O SUICÍDIO PODE SER PREVENIDO?

Sim. Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições mínimas para oferta de ajuda voluntária ou profissional. No Brasil, o CVV – rede voluntária de prevenção – atua nesse sentido há mais de 50 anos. Recentemente, foi iniciado um movimento de políticas públicas para traçar planos integrados de prevenção.

14. QUEM OFERECE AJUDA PARA PESSOAS COM INTENÇÃO DE SE MATAR?

As pessoas que precisam de ajuda podem recorrer ao CVV, grupo de voluntários que oferecem apoio emocional gratuito. E já existem programas de saúde pública que oferecem esse serviço em algumas regiões do país. Há, portanto, uma ampla rede de apoio voluntário por meio de telefonia, internet e atendimento presencial. O CVV atende por telefone, chat, Skype, e-mail e pessoalmente, além de
realizar atendimentos especiais em casos de eventos e catástrofes. Somos um grupo de 2.200 voluntários treinados para ouvir e compreender pessoas que estão abaladas emocionalmente e que correm sério risco de vida.

DOENÇA QUE MAIS AFETA A VIDA DO BRASILEIRO

4/27/2015
Doença prejudica o cotidiano, o trabalho, os relacionamentos. Entenda a diferença de depressão e tristeza.

Você sabia que a depressão é a doença que mais afeta a qualidade de vida do brasileiro? Ela atrapalha o trabalho, os relacionamentos pessoais e até os cuidados com a saúde. Algumas doenças podem provocar e agravar a depressão. Mas a boa notícia é que 70% dos casos têm cura e os remédios estão cada vez mais avançados. Como diferenciar a depressão de tristeza e desânimo? O Bem Estar desta sexta-feira (27) falou sobre isso. Participaram do programa o consultor e psiquiatra Daniel Barros e a psicóloga Ana Merzel.

Enquanto na tristeza há relação do estado mental com algo que aconteceu, na depressão a tristeza é difusa, não tem causa específica e está presente em diferentes situações e momentos da vida do doente. Mas a doença tem cura. Medicamentos, psicoterapia e atividade física fazem parte do tratamento.

Os antidepressivos, como todos os remédios, têm um lado ruim. Em algumas pessoas podem reduzir a libido. Em casos graves de depressão, podem inicialmente aumentar o risco de suicídio. Nesses casos, é necessária a supervisão cuidadosa. Os remédios são uma boia para ajudar a pessoa a não afundar, mas também é preciso acompanhamento médico e muito exercício.  A escolha do psicólogo é muito importante. O paciente precisa se sentir confortável com o profissional.

Quem cuida do depressivo precisa ser compreensivo. A doença não depende só da força de vontade para ser combatida, mas do tratamento de alterações no funcionamento do cérebro.

Doenças interligadas

As doenças do coração podem provocar e até agravar a depressão. A depressão também pode agravar uma cardiopatia. Cerca de 30% dos pacientes operados do coração ficam deprimidos. De acordo com a médica Bellkiss Romano, do Incor, a depressão acontece porque as pessoas veem o coração como a máquina da vida.

Pensar que o coração está doente é imaginar que a vida está em risco. “O paciente entra num círculo vicioso. A depressão que agrava a patologia, a patologia vai fazer com que você se sinta menos potente, vai agravar a depressão. E você não quebra o ciclo.”

Veja os vídeos da reportagem clicando aqui.
A partir do G1. Leia no original
Imagem: Pexels

DEPRESSÃO É UM CONJUNTO DE SINTOMAS

4/26/2015
Medicamento, psicoterapia e exercício ajudam no tratamento.
Entenda melhor a depressão pós-parto

O programa "Bem Estar", da Rede Globo, exibido dia 17/04/2015, falou sobre a depressão e os remédios que existem para trata-la. A doença é a que mais retira anos saudáveis de vida dos brasileiros. A depressão esconde a gente da vida, prejudica o trabalho, o relacionamento com a família e com pessoas que amamos. Participaram do programa o nosso consultor e psiquiatra Daniel Barros e a psicóloga Ana Merzel.

E como diferenciar depressão de tristeza e desânimo? Enquanto na tristeza há relação do estado mental com algo que aconteceu, na depressão a tristeza é difusa, não tem causa específica e está presente em diferentes situações e momentos da vida do doente. Mas a doença tem cura em 70% dos casos. Medicamentos, psicoterapia e atividade física fazem parte do tratamento.
A depressão é um conjunto de sintomas, explica Daniel Barros. A tristeza é só um deles. "Por isso, a depressão é uma síndrome". Ele também lembra que o estresse crônico pode levar a depressão.

Depressão pós-parto

Apesar do desejo de ser mãe, muitas mulheres não conseguem curtir esse período como gostariam por causa da depressão pós-parto. A doença atinge cerca de 10% das mulheres, tanto as que já têm a depressão quanto as que nunca tiveram. Em metade delas, os sintomas como tristeza, desânimo, pessimismo, falta de energia e choro fácil começam durante a gravidez, mas também podem acontecer até meses depois do parto.

Depois do nascimento, a depressão pós-parto dificulta os cuidados com o filho e prejudica até o aleitamento. É muito importante para a saúde da mãe do bebê reconhecer e tratar a doença.
Veja algumas dicas do doutor Daniel que podem ajudar: planeje a gravidez; faça um pré-natal com acompanhamento; pratique atividades físicas; tome cuidado com a alimentação e evite o aumento de peso; conte com o suporte familiar; e planeje o pós-parto durante a gestação.

Veja os vídeos do programa clicando aqui
A partir do G1. Leia no original
Imagem : Pexels

FILHO DE SUICIDA INVESTIGA O DESEJO DE MORRER

4/25/2015
O suicídio leva um número preocupante de vidas em todo o mundo e, no Reino Unido, os homens sofrem um risco muito maior do que as mulheres. Simon Jack, cujo pai cometeu suicídio, tentou investigar as razões.


Os 44 anos de idade, uma idade não muito memorável para a maioria das pessoas mas, no meu caso, foi um aniversário que sempre terá uma importância especial. Foi a idade em que meu pai cometeu suicídio, há 25 anos, por razões que ainda não consegui esclarecer totalmente.

Como resultado, sempre fui muito sensível em relação a histórias sobre suicídio no noticiário e notei também a frequência com que estas histórias envolviam homens.

O que não percebi até recentemente é que o suicídio é a mais frequente causa de morte de homens abaixo dos 50 anos na Inglaterra e no País de Gales. Cem homens morrem por semana. É a causa de morte mais prevalente atualmente, mais do que em qualquer outro momento dos últimos 14 anos e homens têm quatro vezes mais chances de acabar com a própria vida do que as mulheres.

Queria descobrir o porquê. Qual a razão de homens serem mais suscetíveis e o que pode ser feito a respeito, se é que algo pode ser feito?

Meu próprio pai, na faixa dos 40 anos, estava na faixa etária mais vulnerável.

A incidência de suicídio chega ao auge entre homens nesta idade. É possível adivinhar as razões: as esposa vai embora e leva os filhos, o homem perde o emprego em uma idade em que é difícil conseguir outro. Tudo isso pode gerar estresse em homens que se sentem pressionados a sustentar a família.

No caso do meu pai, nenhuma destas razões poderia explicar seu suicídio. Ele era um homem popular, gregário e talentoso, com uma mulher amorosa e quatro filhos, dos quais eu era o mais velho.

Pesquisa

Para tentar descobrir as causas, perguntei para os Samaritanos, cuja pesquisa é baseada em 60 anos de experiência. O trabalho deles destaca uma série complexa de fatores - incluindo problemas financeiros e emocionais, traços de personalidade, desafios da idade e questões de saúde mental.

Todos estes problemas afetam mulheres também. Então, qual a razão de que, apesar de metade dos telefonemas recebidos pelos Samaritanos ser de mulheres, quatro vezes mais homens acabam mortos?

Existe uma opinião muito comum de que suicídio é prova de doença mental. O argumento é que, se você comete suicídio, você precisa estar sofrendo de uma doença mental diagnosticável como depressão.

Rory O'Connor é responsável por um dos mais importantes centros de pesquisa sobre suicídio no mundo, na Universidade de Glasgow, Escócia. Faz experiências em psicologia e comportamento suicida. Frequentemente, a doença mental é parte do problema, mas não é uma explicação suficientemente completa para isto.

"Acreditamos que a maioria das pessoas que morrem por suicídio tem uma doença mental, mas menos de 5% das pessoas com uma doença mental acabam com a própria vida", diz O'Connor.

Eu precisava descobrir mais sobre o que estava acontecendo na vida de meu pai quando ele cometeu suicídio e, para isto, precisava conversar com minha mãe, algo que estava pendente há muito tempo. Quase nunca tocamos neste assunto na família.

E isto é uma parte importante do problema para muitas famílias. Meus irmãos e eu não conseguíamos conversar, provavelmente temendo choro ou discussões familiares durante a conversa.

Apesar das ressalvas e da preocupação de meus três irmãos, minha mãe, com muita coragem, permitiu que a conversa fosse filmada. Naquela conversa, descobri que, assim os casos extraconjugais que meu pai teve, os problemas financeiros que enfrentava só foram descobertos depois da morte. E nunca discutidos antes.

Estes tipos de problemas podem ajudar a explicar a alta taxa de suicídio entre homens da faixa dos 40 anos, mas o suicídio também é a maior causa de morte entre os homens 20 e 34 anos, quase um quarto de todos os óbitos.

Experiência

Conversei com Stephen Habgood, presidente da instituição de caridade britânica de prevenção de suicídio entre jovens chamada Papyrus. O filho dele morreu aos 25 anos e, novamente, era considerado um jovem popular e extrovertido. Sua morte foi um grande choque para a família.

"Ele era tão atraente, era bonito (....) muito eloquente, parecia muito confiante", diz Habgood.

Mas, por mais eloquente que parecia ser, Chris nunca conversou sobre seu estado com sua família. O pai afirma que esta falta de habilidade ou relutância dos homens de todas as idades para falar sobre o que sentem é a chave para explicar o número maior de suicídios masculinos.

Há uma experiência mental muito útil para ilustrar estes casos, segundo Joe Ferns, diretor-executivo de políticas dos Samaritanos.

"Imagine chegar no trabalho na manhã de segunda-feira e encontrar alguém triste no escritório, chorando por algo que acontece no fim de semana. Se fosse uma mulher, alguém a levaria ao banheiro, teria uma conversa com ela e ninguém pensaria nada muito sobre isto."

"Se o mesmo acontecer com um homem, que chora em sua mesa, acho que a reação das pessoas seria muito mais dramática. As pessoas presumem que algo muito ruim deve ter acontecido", acrescentou.

Há uma diferença na forma em que reagimos a homens e mulheres quando eles expressam o que sentem.

Conversas que salvam?

Então, simplesmente conversar pode salvar vidas? Matt foi uma das pessoas que conheci que pensou em suicídio, mas não o fez.

Ele estava desesperado pois não se encaixava nas ideias do que significava ser um homem em sua comunidade.

"Sempre fui uma pessoa muito expressiva, sempre gostei de arte e acredito que era muito afeminado, talvez. Isto não se encaixava muito bem com meu grupo de amigos, sempre me senti como um estranho. Era difícil, pois quando você está crescendo, ninguém quer se sentir excluído", disse.

Depois de decidir pelo suicídio, Matt passou na frente da sede dos Samaritanos em Manchester e, como pensava que não tinha nada a perder, entrou.

Agora ele percebe que esta decisão salvou sua vida.

"A razão principal que me levava a não conversar com ninguém era esta ideia de fraqueza. Se você não pode resolver os problemas sozinho, então é uma pessoa fraca."

E esta percepção é a chave para entender a razão de os homens tirarem a própria vida em números tão altos, segundo Jane Powell, diretora da Campanha contra uma Vida Triste (CALM, na sigla em inglês).

Rugby

Se alguém procura estereótipos de homens, então o mundo dos jogadores de rugby tem muitos. Mas lá encontrei tentativas de lutar contra estes estereótipos.

Ian Knott era um jogador profissional bem-sucedido do time Warrington Wolves quando sofreu uma lesão que acabou com sua carreira e o deixou sentindo dores constantes. Knott sentia que não conseguia mais cumprir seu papel como jogador, marido e pai. Isto o levou a tentar o suicídio.

"A dor chegou a tal ponto que pensei: por que estou aqui? Minha mulher e meus filhos continuavam ao meu lado, mas eu já não queria fazer parte (da família)."

Knott agora dá palestras em reuniões de uma instituição chamada State of Mind, que exibe vídeos de jogos clássicos, convida ex-jogadores para falar sobre suas carreiras e funciona como um fórum para discussões a respeito de problemas emocionais.

"Estou orgulhoso pois agora posso falar de minhas experiências e talvez ajudar outras pessoas, principalmente outros homens", afirmou Knott.

"Este é o principal problema com os homens. Eles não se abrem. Mas não deveriam absolutamente ter nada do que se envergonhar."
A partir do Terra. Leia no original
Imagem: Pexels

DEPRESSÃO INFANTIL: PAIS DEVEM COBRAR MENOS

4/24/2015
Diretamente associados à relação familiar, depressão e distúrbios de ansiedade são cada vez mais comuns entre crianças em fase escolar. De acordo com a neuropediatra Mirella Fernandes Senise, a depressão costuma estar atrelada a dificuldades de aprendizagem e a ansiedade a dificuldades de separação dos pais. “Em todos os casos, é importante que os pais compreendam que cada criança tem seu tempo, suas limitações. Não podem cobrar demais, precisam estar presentes e evitar envolvê-los nos problemas cotidianos”, alerta.

Nos últimos quatro anos, a médica destaca aumento na procura por tratamento de crianças depressivas com dificuldade de aprendizagem. “É uma via de mão dupla. A depressão pode causar essa dificuldade. E o contrário também. A dificuldade de aprendizagem pode causar baixa estima e levar ao quadro depressivo”, explica.

Déficit de atenção associado a depressão, por exemplo, é muito comum. “Vale ressaltar que as vezes a criança é cobrada demais. Ela até vai bem na escola, tira notas boas, mas não é o suficiente para esses pais.”

Mirella destaca outros fatores que podem levar a depressão: a separação dos pais; a chegada de irmãos mais novos; abandono. “Crianças que ficam tempo demais sozinhas podem ter mais tendência. E não basta o pai só estar presente. Precisa dar atenção, incentivo.” Ansiedade - Segundo a psicóloga Patrícia Blanco Silva, a ansiedade é a reação normal a situações que podem causar medo, expectativa ou dúvida. “Ela pode ser causada por muitos fatores. E um pouco de ansiedade até pode ser saudável. Mas para que não seja excessivo, no ambiente familiar os pais precisam lidar com os problemas de forma natural e acolhedora. Diagnóstico - As duas profissionais alertam para a importância do diagnóstico precoce. “A hora certa para procurar ajuda é quando percebem os primeiros sintomas de alteração de humor”, orienta a neuropediatra Mirella. “Crianças tendem a ficar muito irritadas ou agressivas. Os pais também percebem alterações de apetite, que pode ser para mais ou menos, e alterações no sono, como dificuldade de dormir, insônia ou até procurar a cama deles para conseguir descansar.”

Patrícia, no entanto, avisa que nem sempre os sintomas são constantes. “O diagnóstico leva em conta a história de vida do paciente e uma análise clínica criteriosa. Os sintomas variam de pessoa para pessoa, mas interferem diretamente na qualidade de vida.” Quando não tratadas adequadamente, tanto a depressão quanto a ansiedade podem acarretar problemas mais sérios no futuro. “Mudança de personalidade. Propensão a depressões mais graves no futuro. Prejuízo social, porque se afastam de todas as pessoas. Desestruturação familiar”, elenca a médica. “Em casos muito graves, levam a distúrbios alimentares, como a anorexia. E até ao suicídio na adolescência, que seria mais raro.”
Imagem: Pexels

QUANDO AS MÃES JOGAVAM OS FILHOS NO RIO

4/23/2015
Alemanha relembra onda de suicídios nos últimos meses da 2a. Guerra Mundial
Bärbel Schreiner, com sua mãe e seu irmão em Demmin em 1944.
O documento é estremecedor. Vinte e oito páginas repletas de nomes acompanhados da data e do motivo da morte. Escolhida um aleatoriamente, aparecem várias famílias —os Gaut, os Schubert (mãe e filha), os Rienaz (também mãe e e filha)…—. Todos morreram em 8 de maio de 1945. E todos por uma mesma causa: suicídio. Estamos no Museu Regional de Demmin, uma pequena cidade no noroeste da Alemanha, que nesses dias revive seus dias mais dramáticos. Nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial, quando a vitória final tantas vezes anunciada por Adolf Hitler parecia cada vez mais irreal e o Exército Vermelho se aproximava, entre 700 e 1.000 cidadãos de Demmin –que à época tinha 15.000 habitantes— preferiram morrer a ter que viver em um mundo que não fosse governado pelos nazistas. Foi o maior suicídio em massa na história da Alemanha.

Bärbel Schreiner, então uma menina de 6 anos, esteve a ponto de ser vítima dessa loucura coletiva. Mas seu irmão conseguiu convencer sua mãe a não fazer com os dois filhos o que tantos pais faziam naqueles dias. “Mamãe, nós não, né?”, recorda Schreiner da fala de seu irmão disse, enquanto observava o rio Peene, cheio de cadáveres. “Ainda me lembro da água avermelhada pelo sangue. Sem essas palavras, tenho certeza que minha mãe teria afogado nós dois”, afirma, com a voz embargada, essa mulher de 76 anos.


Registro de mortos em Demmin, no Museu Regional. / LUIS DONCEL
O caso de Schreiner não foi uma exceção. Uma onda de suicídios atingiu a Alemanha entre janeiro e maio de 1945. Não existem números exatos, mas os historiadores calculam que entre 10.000 e 100.000 pessoas tenham tomado essa decisão. Ao tirar a própria vida, era normal que os adultos levassem também seus filhos. Foi o que fez Joseph Goebbels, ministro da Propaganda e chanceler nos últimos dias do III Reich, quando ele e sua mulher, Magda, envenenaram os seis filhos.

Escreveu-se muito sobre o suicídio dos líderes nazistas. Além de Hitler, cuja morte completará 70 anos em 30 de abril, e Goebbels, também tirou a própria vida o chefe das temidas SS, Heinrich Himmler. Mas, até agora, não se havia prestado muita atenção aos cidadãos comuns que seguiram o destino de seus líderes fanáticos. Justamente essa falta de conhecimento sobre a tragédia que milhares de pessoas anônimas viveram levou o historiador Florian Huber a escrever Filho, Me Promete que Vai Atirar. O sucesso do livro, que em dois meses já vendeu mais de 20.000 exemplares, surpreendeu inclusive o autor.

“Estudei história e nunca tinha ouvido falar desse episódio trágico. Um dia, vi em um livro um pé de página que mencionava a onda de suicídios nos últimos meses da guerra e decidi investigar”, conta em um café de Berlim. Mas, o que levou esses homens e mulheres comuns a dar um tiro em si mesmos, se enforcar numa árvore ou se jogar no rio mais próximo? Medo das represálias dos vencedores? Fanatismo nazista? Ou sentimento de culpa pelos abusos de 12 anos de nacionalismo e seis de guerra? “Uma mescla de todos esses fatores. Também teve influência um efeito psicológico que transforma o suicídio em algo contagioso, quase como uma infecção. Se você visse nesse café todo mundo começando a se matar, talvez você cogitasse também”, responde.
"Mamãe, nós não", disse o irmão de Schreiner ao ver os mortos no rio
A epidemia suicida se estendeu por muitos rincões da Alemanha, mas por que afetou principalmente alguma áreas, como o leste do país, e muito especialmente lugares como Demmin? Huber explica a mescla de circunstâncias históricas e geográficas que tornaram essa localidade uma ratoeira da qual era impossível escapar. “Rodeada por três rios, forma uma espécie de península. Em sua fuga, os líderes nazistas dinamitaram as três pontes existentes. De forma que, quando os soviéticos chegaram, não podiam continuar avançando. Os soldados do Exército Vermelho chegaram em 30 de abril, com vontade de abandonar logo Demmin para comemorar a festa de 1º de maio”, afirma.

Justamente no mesmo dia em que Hitler se matou com um tiro dentro de seu bunker em Berlim, os soldados vermelhos queimavam Demmin e difundiam o pânico. Os anos de guerra, a sede de revanche e a bebida que correu pela noite fomentavam a violência dos soviéticos. O resultado desse coquetel foi assombroso. Huber afirma que os rios se tornaram cemitérios durante semanas; e que os trabalhos para retirar os corpos da água se estenderem entre maio e julho daquele ano. “As testemunhas se lembram de pessoas penduradas em árvores por toda parte”, acrescenta.

Uma mistura de fanatismo nazista, medo e contágio explica a loucura coletiva
O sofrimento dos civis alemães durante a guerra –sejam os abusos de mulheres ou os bombardeios de cidades como Potsdam, que nesta semana completou 70 anos— é um tema complexo. Não há dúvidas de que muitos inocentes sofreram as consequências, mas esse sofrimento também serve de desculpa para os neonazistas, que continuam confundindo e igualando a dor do povo agressor com a dos agredidos.

O mesmo ocorre ainda hoje em Demmin. Há uma década, em todo 8 de maio, dia da rendição, um pequeno grupo de manifestantes ligados ao partido de extrema direita NPD relembram as vítimas alemães. “Durante os anos do comunismo, esse tema era um tabu. Ninguém quer lembrar as violações ou crimes cometidos pelos soldados que nos libertaram do fascismo. E agora os neonazistas também utilizam a dor do passado para os seus fins”, afirma Petra Clemens, a diretora do museu, rodeada por vestígios da história da região. Nessa castigada cidade do leste alemão, o desemprego atinge 17% da população (um percentual altíssimo para um país no qual a média está em 6,9%) e o alcoolismo tem seu preço.

Demmin foi talvez o caso mais extremo da loucura coletiva que invadiu o país nos primeiros meses de 1945, mas não o único. Em Berlim foram registrados naquele ano 7.000 suicídios, dos quais quase 4.000 aconteceram no mês de abril. Em seu livro, Huber reúne depoimentos de pessoas que associaram o fim de suas próprias vidas ao fim do nacional-socialismo. Como o professor Johannes Theinert e sua mulher, Hildegard, que começaram a escrever um diário em 1937, um ano após se casarem. O último registro foi datado em 9 de maio de 1945. “Acaba a crise. As armas calam”, anota Hildegard. Naquele mesmo dia, Johannes atirou na mulher e depois em si mesmo. A última entrada do diário encontrado por alguém após sua morte dizia: “Quem se lembrará de nós, quem saberá como acabamos? Essas linhas têm algum sentido?”.

A partir do El País. Leia no original
 
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