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FELICIDADE DEPENDE DA MANEIRA DE ENCARAR A VIDA

12/01/2010
O que têm em comum mulheres e homens, negros e brancos, ricos e pobres, jovens e idosos? Segundo muitos cientistas, a possibilidade de serem felizes e atingir satisfação na vida, não importa em qual situação se encontrem. Personalidade, relações pessoais, carreira, renda, cultura, religiosidade, ambiente, são muitos os fatores que influenciam nosso nível de felicidade. Ao longo dos últimos anos, psicólogos e neurologistas vêm fazendo importantes descobertas sobre o que é e como funciona nossa felicidade. E as idéias que vêm surgindo corroboram pesquisas anteriores e acrescentam novas descobertas, que podem ser resumidas da seguinte maneira: a felicidade depende muito mais da maneira como encaramos os fatos da vida do que de fatores externos.

'Para mim felicidade é um estado físico, psíquico e psicossocial. É um estado de bem-estar e resultado do amadurecimento e do desenvolvimento pessoal', opina o neurologista Paulo de Mello, mestre em psicologia da saúde pela Umesp e professor associado da Unifesp. Para ele, a felicidade é um estado recorrente, que vai e volta, e é formado de momentos de saciedade e satisfação. É um sentimento, não uma emoção. A emoção (ex.: alegria) é mais passageira, já o sentimento felicidade é mais duradouro e depende de mecanismos neurais mais complexos.

É claro que o que nos torna ou não felizes depende também da cultura na qual fomos criados. 'Na medida em que os autoconceitos variam conforme a cultura, é de se esperar que a relação entre a personalidade e o bem-estar subjetivo varie também', explica o psicólogo Ed Diener, da Universidade de Illinois, conhecido como 'Dr. Felicidade' por ser um dos maiores estudiosos do assunto. Ele esclarece que, apesar da auto-estima ser freqüentemente correlacionada com a satisfação de vida, essa característica parece não ser tão essencial em meio a culturas coletivistas. 'No Japão, uma tendência autocrítica pode ser valorizada como uma maneira de melhorar a habilidade de uma pessoa conhecer suas obrigações sociais', afirma Diener.

Pesquisa realizada pelo psicólogo Kennon Sheldon, da Universidade de Missouri-Columbia, com estudantes universitários norte-americanos e sul-coreanos, mostrou que os valores mais importantes para atingir a felicidade em ambos os grupos são auto-estima, autonomia, competência e relações pessoais. O que muda é a ordem de importância desses fatores em culturas tão distintas. 'A Coréia do Sul é uma cultura coletivista, na qual o indivíduo tende a ser menos importante do que o grupo, e as relações com outras pessoas são mais importantes do que a auto-estima', descreve Sheldon. Porém, a auto-estima vem em segundo lugar para os coreanos. Na opinião do pesquisador, talvez isso aconteça porque a geração mais nova seja mais ocidentalizada do que seus pais e outras pessoas mais velhas.

Felizes para sempre?
Assim como para os orientais, as relações pessoais saudáveis são apontadas pelos especialistas como fundamentais para a busca pela felicidade. Alguns estudos mostram que pessoas casadas costumam ser mais felizes do que os solteiros. A explicação para esse fenômeno varia entre os especialistas. Alguns acreditam que o resultado se deve ao fato de que o casamento traz uma intimidade muito grande, e a certeza de que pode contar com o outro, aumentando assim o otimismo e a sensação de bem-estar. Outros, como Ed Diener, acham que pessoas que já são felizes quando solteiras têm maior probabilidade de se casar e se manterem casadas. O psicólogo realizou um estudo que mostrou que o casamento aumenta o nível de felicidade dos noivos em um primeiro momento, mas com o tempo costumam voltar ao nível de antes do casamento.

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Espelho meu
A opinião que os outros têm sobre nós influencia nossa auto-estima e conseqüentemente nosso nível de felicidade. Como é de se esperar, pessoas com auto-estima alta são mais felizes. Estudo da Universidade Estadual de Ohio com universitários mostrou que os estudantes muito estimados por seus colegas de quarto são mais felizes e mais saudáveis do que os pouco apreciados. 'A falta de uma interação social pode criar estresse emocional', acredita o professor de psicologia Brad Schmidt. 'Quando uma pessoa é julgada desfavoravelmente, ela aceita ou rejeita essa opinião', explica Schmidt. A aceitação pode levar à depressão, enquanto a rejeição leva à raiva e até à agressão física.
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Busca sem fim

O fato de as pessoas sentirem-se eufóricas com eventos extremamente felizes, como um casamento, e voltarem depois de um tempo ao nível de felicidade de antes não surpreende.

O sucesso profissional traz felicidade? Sim, é claro, mas a satisfação alcançada por um trabalho bem-feito não dura para sempre. Se o sucesso profissional trouxesse um sentimento de satisfação permanentemente, iríamos nos acomodar e deixar de buscar novos desafios. Isso acontece com fatos desagradáveis também. Se para você a frase 'o tempo cura tudo' parece complacente demais e típica daqueles que nunca sofreram um baque como a perda de um ente querido, saiba que, do ponto de vista psicológico, ela é inteiramente verdadeira. O ser humano tem a capacidade biológica de adaptar-se às condições mais adversas possíveis. 'Pela acomodação tanto à adversidade quanto à boa fortuna, continuamos mais produtivos, mais adaptáveis às circunstâncias e com maior probabilidade de ter uma prole viável', acredita o psicólogo David Lykken.

Porém, essa não é uma resposta definitiva para a função da felicidade. 'Emoções negativas - medo, tristeza e raiva - são nossa linha de frente da defesa contra ameaças externas. É estranho, entretanto, que não haja idéias aceitas acerca da razão das nossas emoções positivas', opina o psicólogo Martin Seligman, o principal divulgador da Psicologia Positiva, que prefere estudar a saúde mental em vez da doença mental.

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Novos padrões
Hoje a felicidade está associada a coisas padronizadas, mas o ser humano é singular', acredita a psicóloga Alessandra Turton. A maioria das pessoas parece pensar que só serão felizes se seguirem o modelo consagrado de família ideal, com um pai, uma mãe e filhos. A realidade é diferente. Há casais que não estão preparados - e talvez nunca estejam - para ter filhos, por exemplo. No entanto, podemos apostar que devem sofrer pressão da família e dos amigos para que proliferem a espécie humana. Outros casais, por exemplo, preferem viver em casas separadas. Sem falar nos casais homossexuais, que ainda sofrem preconceito e dificuldades para adotar filhos. Além da pressão para seguir padrões, Alessandra aponta a chamada liberdade sexual que encontramos nos dias de hoje como uma possível fonte de angústia em vez de prazer, principalmente para as mulheres, que durante longo tempo foram muito reprimidas. As pessoas parecem não ter muita paciência para se conhecerem e descobrirem o outro, e isso pode até levar a problemas como a anorgasmia (incapacidade de atingir o orgasmo nas mulheres). 'Felicidade tem muito a ver com sexualidade bem resolvida', opina Alessandra.


Imagens: Galileu e por darkchacal (Flickr)
A partir da revista Galileu ( n.165-abril/2005). Leia no original

VIDA : CUMPRA UM OBJETIVO DE CADA VEZ

10/28/2010
Simplicidade, foco e maturidade são fundamentais para quem quer encontrar sua fórmula de bem-estar


Simplificar a vida e definir o que é importante para você. Eis a última etapa da nossa busca pela felicidade. Avalie: você precisa mesmo daquele celular de última geração? Se achar que sim, vá em frente. Mas pense se não vale mais a pena investir o dinheiro em uma viagem, por exemplo. Segundo Tal Ben-Shahar, Ph.D. em psicologia e filosofia e professor de psicologia positiva na Universidade de Harvard (EUA), pesquisas mostram que uma vez que nossas necessidades básicas estejam supridas - alimento, abrigo e educação, por exemplo -, renda extra ou prestígio fazem pouca diferença.

Uma prova viva disso é Mitch Dorge, outro entrevistado pela psicóloga Sonja Lyubomirsky e ex-percussionista da banda canadense Crash Test Dummies, que atingiu relativo sucesso mundial no começo dos anos 1990 com o hit "Mmm Mmm Mmm Mmm". Na época, o músico concorreu ao prêmio Grammy, participou de programas como o "Saturday Night Live" e viajou pelo mundo. Mas as coisas começaram a dar errado. Ele saiu da banda, perdeu sua mansão e rompeu com a mulher. Hoje, vive próximo a Winnipeg (Canadá), em uma região pouco habitada e gelada, em companhia dos dois filhos pequenos. Em paz e envolvido com sua música. "Já tive dinheiro e fama. Agora não os tenho, mas meu nível de felicidade é o mesmo. Não há nenhuma diferença", diz Neil. Esse estilo de vida não funcionaria para todo mundo, obviamente. Mas o importante aqui é que o músico encontrou seu foco.

Às vezes, a promessa de ganhar um bom dinheiro motiva mudanças radicais. Esse é o caso de centenas de jovens jogadores de futebol que vão trabalhar em outros países. Em troca de um bom (às vezes milionário) salário, enfrentam obstáculos como idioma, comida, clima e diferenças culturais. Mas muitos não estão preparados. De acordo com o livro "Futebol Exportação" (Editora Senac-Rio), dos jornalistas Fernando Duarte e Claudia Silva Jacobs, dos 804 boleiros que em 2005 deixaram o Brasil, mais da metade retornou: 491.

Nossa crença na importância do acúmulo de bens, dinheiro e prestígio para nossa felicidade pode ter raízes evolucionárias
Mania de acumular

Muitos ainda não têm a maturidade para adaptar-se a uma situação adversa, fator determinante no percurso rumo à satisfação, segundo os psicólogos. Esse foi o caso do jogador Denílson de Oliveira, atualmente no Palmeiras. Em 1998, com quase 21 anos e destacando-se no futebol brasileiro, o atacante foi comprado pelo time espanhol Real Bétis, tornando-se o jogador mais caro do mundo. "Era impossível recusar, mas se o contrato fosse assinado hoje eu teria reagido de outra maneira. A pressão para ser o melhor do mundo pesou muito", afirmou em entrevista aos autores do livro. Até seu jeito espontâneo atrapalhou a convivência em outra cultura. "Ser alegre me prejudicou. Você sorri e não te levam a sério", afirma Denílson.

Então por que ainda acreditamos que ter mais bens ou status vai nos trazer felicidade? Sob uma abordagem evolucionária, pode ser que nosso passado distante determine nosso comportamento atual. "Quando éramos coletores caçadores, o estoque de riquezas - comida, principalmente - determinava se iríamos sobreviver à próxima seca ou inverno rigoroso", afirma Tal Ben-Shahar. Estocar tornou-se parte de nossa existência, mas hoje acumulamos muito mais do que realmente precisamos.

Isso não significa que você não deve se preocupar com dinheiro ou trabalho. Afinal, a realização profissional também pode ser uma fonte de satisfação. Principalmente se você estiver envolvido com um trabalho que traga um senso de valor e pertencimento, cujos esforços resultem em efeitos palpáveis. "Isso vale tanto para a atividade de um médico quanto para a de um varredor de rua", diz o psiquiatra Hermano Tavares. Afinal, ambas as ocupações trazem um benefício para a sociedade.

A chave neste ponto é descobrir o que move você. Gretchen Rubin, a advogada do "Projeto Felicidade", dá seu palpite. "Quando me pedem conselhos de carreira, eu pergunto: 'O que você faz no seu tempo livre?' Sugiro que transformem isso em trabalho". Para Gretchen, pode ser difícil descobrir sua paixão, mas é fácil se lembrar do que você curtiu fazer nos últimos domingos. Ela mesma deixou um emprego bem-sucedido na Suprema Corte americana para se dedicar em tempo integral ao hobby de escrever. Alguém dúvida que Bill Gates, fundador da Microsoft, acertou em cheio quando transformou sua paixão por informática em trabalho?

MÃOS À OBRA

  • Simplifique sua vida. Geralmente estamos muito ocupados tentando espremer mais e mais atividades em cada vez menos tempo
  • Segundo o psicólogo Tal Ben-Shahar, a felicidade situa-se na intersecção entre prazer e significado. No trabalho ou em casa, o objetivo é engajar-se em atividades que sejam importantes e agradáveis. Se você adora animais, que tal colaborar com algum projeto de adoção de cães e gatos, por exemplo
  • Tenha controle sobre a própria vida. Aprenda a dizer não quando não puder ou não quiser fazer algo
  • Tente transformar seu hobby em fonte de renda
  • Faça uma lista de objetivos concretos, como conseguir um emprego melhor, fazer exercício, passar mais tempo com a família ou, por que não, comprar uma roupa bacana - afinal, se você chegou até aqui já entendeu que o segredo é dosar as coisas, e um pouco de consumo não faz mal

SAIBA MAIS

"A Ciência da Fe
licidade", Sonja Lyubomirsky. Campus. 2008
"A Fórmula da Felicidade", Stefan Klein. Sextante. 2005
"Happiness", Ed Diener e Robert Biswas-Diener. Blackwell/Wiley. 2008
"The Loss of Sadness", Allan Horwitz e Jerome Wakefield. Oxford. 2007

Juliana Tiraboschi
Ilustração: darkchacal (Flickr)

FELICIDADE: EXERCÍCIOS E SEXO COMO ALIADOS

10/27/2010
A importância dos exercícios físicos e do sexo, aliados poderosos do esforço mental na busca pela felicidade

Contrariando pesquisas passadas, um recente estudo da Universidade VU, de Amsterdã (Holanda), concluiu que não há relação de causa e efeito entre praticar exercícios físicos e obter alívio nos sintomas da depressão. O que ocorre, dizem os holandeses, é que quem não gosta de praticar exercícios tende a ser mais depressivo.

Porém isso não quer dizer que a atividade física não seja recomendada para a saúde mental. Pelo contrário. Exercícios liberam o neurotransmissor endorfina no cérebro. A substância melhora a memória, o humor, faz bem para os sistemas imunológico e circulatório, diminui o risco de doenças da próstata no homem e combate os radicais livres responsáveis pelo envelhecimento das células.

Além disso, segundo o psiquiatra Hermano Tavares, há o benefício psicológico em obter um retorno causado pelo esforço corporal. "A atividade ainda promove a regulação dos hormônios do estresse", afirma. Tavares coordenou um estudo com dependentes químicos atendidos pelo ambulatório em que trabalha no Hospital das Clínicas de São Paulo, no qual os voluntários passavam por sessões semanais de caminhada ou corrida. A maioria conseguiu reduzir a fissura causada pelo vício.

Por falar em cuidados com o corpo, onde entra a aparência na equação da felicidade? Cuidar de si mesmo é importante, claro. Mas, assim como o dinheiro, a beleza pode trazer somente uma felicidade temporária. Neste ponto voltamos à tal "adaptação hedonista", citada no início da reportagem. Ela ocorre quando nos acostumamos com uma determinada fonte de prazer, seja ela um bem material ou uma cirurgia plástica, ao ponto em que ela deixa de proporcionar satisfação.

Foi o que aconteceu com Denise, também entrevistada pela psicóloga Sonja Lyubomirsky. Aos 40 anos, mãe de três crianças, estressada, fora de forma e com a pele castigada pelo sol, sentia-se muito mais velha do que dizia sua identidade. Um belo dia, Denise foi selecionada para o "Extreme Makeover", programa de TV que transforma radicalmente a aparência dos participantes. Após 12 horas de cirurgia, que incluiu lifting facial, rinoplastia, lipoaspiração e tratamento com laser, seu rosto ficou novo. Sentia-se mais jovem e tão bonita como uma "estrela de cinema" com a atenção que passou a receber da família, dos amigos e da mídia. Cogitou deixar o marido para iniciar uma nova vida. Um ano depois, a euforia baixou. Denise confidenciou à psicóloga que, apesar de ser ótimo ter menos rugas, a plástica não se traduziu em verdadeira felicidade.

Qualquer tipo de atividade física (incluindo a sexual) libera endorfina, que melhora a memória, o humor e os sistemas imune, cardiológico e circulatório
Malhação da mente

Bem, se você já se convenceu de que ser bonito é bacana, mas não é tudo, está na hora de passar para a última parte dessa etapa: o treino mental, mais precisamente por meio de meditação ou outras atividades introspectivas. "Estudos mostram que a prática regular de meditação pode promover uma alteração da fisiologia do cérebro provavelmente associada ao bem-estar, durante e depois da atividade", diz Tavares.

De acordo com o autor de best sellers de auto-ajuda Deepak Chopra, médico indiano radicado nos EUA, o exercício mental da meditação pode ajudar a aliviar o incômodo causado por questões existenciais como "quem sou eu?" e "para onde vou?". Conhecido por fazer uma ponte entre ensinamentos milenares hindus e conceitos avançados da ciência ocidental, Chopra acredita que a felicidade duradoura vem do reconhecimento daquilo que temos de eterno por sermos manifestações de uma consciência universal. Logo, não teríamos início nem fim. Você não precisa acreditar nisso, mas esse pode ser um ponto de partida para suas reflexões.

Richard Davidson, autor do estudo com monges budistas cujos cérebros foram monitorados, também gosta de fazer essa ponte. "Na cultura ocidental não levamos nossas mentes tão a sério quanto em outras. Creio que a mente emocional não deve ser tratada de forma diferente do que qualquer outro componente do corpo", diz Davidson.

E essa mente emocional está ligada ao circuito do bem-estar no cérebro. Um dos grandes marcos nos estudos da felicidade aconteceu em 1950, quando os psicólogos americanos James Olds e Peter Milner descobriram os "centros de prazer" do cérebro. Esse mecanismo está ligado a um processo chamado "sistema de recompensa". Nele, determinadas ações geram como resposta uma sensação de prazer imediato. "Esse sistema é tão bom que pode ser ruim", diz a neurocientista Silvia Helena Cardoso. Segundo ela, o problema está na ligação entre ele e todos os tipos de dependência, das drogas às compras ou o jogo compulsivo. Mas é preciso lembrar que ele está ligado à alimentação, ao sono e à atividade sexual, ações fundamentais para nossa sobrevivência como indivíduos e como espécie.

Além disso, o sexo também estimula a produção de endorfinas e todas as conseqüências benéficas acima citadas. Exatamente por isso a falta de prazer (e de felicidade) na cama é um alerta. Além das disfunções serem um enorme problema do ponto de vista das relações e da saúde mental, elas podem ser um sinal de que há outros perigos para a saúde do indivíduo, como as doenças cardíacas. Em suma, o sexo "dá liga" nos relacionamentos, promove a intimidade e a sensação de conexão com outro ser humano. Felicidade pura.

MÃOS À OBRA
  • Lembre-se da conexão entre mente e corpo. O que fazemos - ou deixamos de fazer - por um influencia o outro
  • Se você é sedentário, comece devagar. Uma caminhada diária de 20 minutos já ajuda a melhorar o humor
  • Sono adequado e hábitos alimentares saudáveis também são fundamentais
  • Se começar a meditar, seja formal: estabeleça horários e um lugar (tranqüilo) específico
  • Comece a prática respirando profunda e lentamente. Procure sentir todas as partes do corpo. Depois, tente focar seus pensamentos em um tópico específico, como um problema que está enfrentando
  • Lembre-se que a meditação não precisa necessariamente estar ligada à religião budista ou qualquer outra
  • Procure ter uma vida sexual saudável e prazerosa - para você e seu(sua)

Juliana Tiraboschi
Imagem: por sinabeet (Flickr)

EXERCITAR A SUA FÉ TRAZ LEVEZA À VIDA

10/26/2010
'Preciso de uma palavra. Estou de saco cheio, cansei de correr atrás de migalhas de afeto. Quando as pessoas tem problema me procuram, mas quando seus problemas são solucionado simplesmente somem da minha vida como num passe de mágica. Sou sempre usada pelas pessoas para acalmar a dor de quem está sentindo, mais ninguém ajuda a passar a minha. Tenho falado para Deus: eu preciso ser feliz. Estou em desespero pois ajudo a curar as feridas de todos e ninguém me ajuda. É muito grande a dor'. - (Mara - comentário em  Estou aqui porque preciso de ajuda)


O desenvolvimento da espiritualidade pode alterar a forma como você vê o mundo e até mesmo mudar a sua vida

Com a palavra, Ed Diener, professor de psicologia da Universidade de Illinois: "A religião, em certo sentido, age como um manual para a vida". É só procurar em qualquer livro sagrado, como a Bíblia ou o Talmud (compilação de escritos judaicos), para encontrar lições sobre generosidade e respeito ao próximo, por exemplo. Dependendo de como você enxerga a questão, eis um bom punhado de atalhos para encontrar a felicidade.

As religiões formais também oferecem uma espécie de rede de proteção. Algumas pesquisas revelam que, quando comparados a ateus, os crentes são mais saudáveis e se recuperam melhor depois de um trauma. Um estudo com pais que haviam perdido seus bebês por síndrome da morte súbita demonstrou isso. A conclusão é que, além da crença em um mundo espiritual, em um deus e em vida após a morte serem reconfortantes, o apoio encontrado entre os companheiros de fé ajudou os casais a seguirem em frente.

Como aponta Diener em "Happiness - Unlocking the Mysteries of Psychological Wealth" (Felicidade - Revelando os Mistérios da Riqueza Psicológica, inédito no Brasil), muitos estudos mostram pequenos - mas significantes - benefícios da religião para o bem-estar. O pesquisador Neal Krause, da Universidade de Michigan (EUA), compilou informações sobre apoio social, estresse em relação a dinheiro e saúde, além de outras variáveis, entre milhares de cristãos idosos. Descobriu que receber e dar ajuda a outros fiéis ajudava a aliviar as preocupações financeiras, e os que freqüentavam a igreja com mais assiduidade tinham maior probabilidade de viver mais.

E isso não vale apenas para cristãos. Em um estudo célebre, Richard Davidson, da Universidade Harvard (EUA), vasculhou o cérebro de monges budistas durante a meditação. Suas pesquisas ajudaram a provar que, se há uma região que concentra os pensamentos de bem-estar no cérebro, ela fica do lado esquerdo do córtex pré-frontal. Até Tenzin Gyatso, o 14o Dalai Lama e líder do budismo tibetano, já visitou o laboratório de Davidson e participou de suas pesquisas de imageamento cerebral.

Religiosos costumam viver mais, ganhar mais dinheiro e reportar maior nível de satisfação. Mas a fé cega em Deus ou nas orações pode fazer muito mal à saúde
Diferenças culturaisSabe-se que, entre outros objetivos, a filosofia budista aspira superar os desejos mundanos. Em parte por meio do "pensamento correto", que enfatiza a consciência, a concentração e a consideração. Ou seja, meditação. "Ocorrem profundas mudanças no cérebro apenas com esse exercício mental", diz Davidson.

Outras pesquisas mostram que pessoas religiosas (independentemente do credo) são menos propensas a usar drogas e cometer crimes e têm mais potencial para educar-se e ganhar dinheiro. Para o filósofo norte-americano Daniel Dennet, um dos cabeças do novo ateísmo (Galileu 186), as religiões são bem-sucedidas em parte porque ajudam as pessoas a sentirem-se bem em relação a si mesmas e ao mundo. "É fácil reconhecer que qualquer religião não seria disseminada se deixasse as pessoas tristes", afirma Diener. É claro que não dá para dizer que todo religioso é feliz, mas pesquisas sustentam a idéia de que, na média, os crentes se sentem melhor do que os não-crentes.

E não dá para generalizar também porque, como muitas outras coisas na vida, a religião pode ter seu lado negativo. Segundo Sonja Lyubomirsky, estudos mostram que pessoas que acreditam cegamente no poder curativo de orações podem negligenciar exercícios físicos e cuidados com a saúde. E não é só isso: aqueles que transferem de modo passivo seus problemas para Deus mostram níveis mais baixos de saúde mental, afirmam os pesquisadores George Brown e Tirril Harris no livro "Social Origins of Depression" (As Origens Sociais da Depressão, inédito no Brasil).

Mas esses resultados também dependem do local onde as pesquisas são feitas. Para Diener, não surpreende que a relação entre felicidade e fé varie entre diferentes nações e indivíduos, já que a religião inclui diversas práticas. "Um cientologista e um muçulmano têm poucos princípios, costumes e regras em comum", afirma.

Um exemplo é o estudo dos pesquisadores Adam Cohen e Paul Rozin, respectivamente das universidades do Arizona e da Pensilvânia (EUA), sobre a relação de judeus e protestantes com o perdão. Eles descobriram que os primeiros estão mais propensos a relevar o pecado em pensamento, mas condenam mais fortemente as ações pecaminosas. Já os protestantes dão mais importância ao que se pensa. Portanto, um fiel dessa crença pode sentir-se mais culpado por pensar em trair o cônjuge, por exemplo. Essas diferenças certamente se refletem na influência que cada religião pode ter sobre o bem-estar.

MÃOS À OBRA
  • Se você ainda não tem uma religião, pesquise sobre várias delas em livros, na internet e conversando com amigos
  • Quando você descobrir qual fé quer seguir (ou mesmo se ainda não se decidiu), freqüente um templo ou grupos de estudos
  • Reze. Independentemente de sua religião, crie esse hábito
  • Estabeleça como objetivo assistir a uma prática religiosa de sua escolha ao menos uma vez por semana
  • Desenvolva a capacidade de ver a santidade em todas as coisas, diariamente. Uma refeição pode ser sagrada, assim como o riso de uma criança ou uma paisagem

Juliana Tiraboschi
Ilustrações: Zé Otávio Zangirolami

MEXA-SE, SAIA DO ISOLAMENTO !

10/25/2010
'É muito fácil julgar aqueles que desejam a morte e chamar-lhes covardes, mas só aqueles que o sentem sabem o quanto impotentes nos sentimos, o quanto doloroso é viver todos os problemas. Já desejei a morte 24 horas por dia, já tentei o suicídio 3 vezes. Parece que algo me impede de morrer, talvez seja Deus que queira me manter aqui, pois tem algum objetivo para mim, não sei. A minha vida nunca foi fácil. Fui vítima de violência doméstica desde que me lembro. Estou desempregada e vivo às custas do ordenado do marido que mal dá para as contas. Tenho uma dívida enorme; não tenho amigos, nem familia, mas agora me preparo para sair do país. Vou tentar lá fora uma vida verdadeira melhor. Uma vida nova longe de tudo e de todos. Estou cheia de medo do que me espera, mas no meu íntimo sinto que é o melhor a fazer. Pode ser que venha a falhar, mas Deus nunca me vai largar e um dia vai me mostrar porque insiste em me manter viva, mesmo contra minha vontade. Tento ver a beleza da vida, o milagre que é estar vivo... Por isso, meus amigos, mesmo quando tudo esta negro, procure uma luz por mais fraca que seja e se agarre a ela. Boa sorte a todos e lembrem se não estão sozinhos, somos muitos.' - (Comentário em Magoei muita gente e não me perdoo)

Saia do casulo: a espécie humana é social e foi moldada para viver em bando. Encontre o seu

Talvez não haja nada que melhore imediatamente o humor de qualquer pessoa como um bom papo com um amigo, de preferência cheio de risadas. "Somos seres sociáveis. Uma pessoa tem que ter amigos, entes queridos, estar com pessoas próximas", afirma a neurocientista Silvia Cardoso. Segundo a pesquisadora, nosso cérebro foi moldado para isso. É só reparar que geralmente uma pessoa que está dando risada ou sorrindo está acompanhada de outra.

As boas relações, com amigos ou familiares, dizem os especialistas, atendem a muitas de nossas necessidades básicas. E isso é fruto da evolução da espécie humana. "Não teríamos sido capazes de sobreviver sem essa motivação", diz a psicóloga Sonja Lyubomirsky. Basta lembrar que, desde os primórdios, grupos sociais repartiam o alimento e uniam-se para combater o inimigo.

A psicóloga divide esse amparo social em três tipos: palpáveis (por exemplo, dar uma carona ao hospital ou consertar um eletrodoméstico de um amigo); emocional (escutar os problemas dos outros, ajudar a achar soluções) e informativo (dar conselhos financeiros). A junção desses três tipos forma uma rede de segurança em torno das aflições do dia-a-dia.

Outra chave para não deixar a satisfação cair nos nossos relacionamentos é sempre incorporar novos elementos à rotina. Isso serve para amizades, relações familiares e, principalmente, para o casamento. É por isso que as uniões mais bem-sucedidas são aquelas nas quais os cônjuges demonstram carinho um pelo outro, fazem planos juntos e têm interesse pelos desafios, sucessos e sentimentos do companheiro.

Apesar de tudo isso, quem quer melhorar sua satisfação com a vida precisa sair do seu mundinho particular. "É preciso interagir com a comunidade", sugere o professor Alexander Weiss. Claro que ninguém precisa ser uma Angelina Jolie, que roda o mundo como embaixadora da ONU, levando apoio e atenção a lugares destroçados pela guerra e pela miséria. Mas, partindo do exemplo da atriz, é possível fazer coisas para melhorar as condições de vida na sua cidade, no seu bairro ou na sua rua.

Até porque pesquisas mostram que nosso nível de satisfação não depende apenas de nós, mas do ambiente que nos cerca. Apesar de, como dissemos anteriormente, estudos apontarem que cerca de 50% das diferenças do nível de felicidade entre os indivíduos se deve a variações genéticas, tal estatística é variável. "O cérebro é muito complexo. Acho que é muito circunstancial, tem gente que possui uma grande capacidade de ser feliz, mas vive em um ambiente ruim", diz Silvia Cardoso.

O físico Stefan Klein também é cauteloso. "Sempre acho questionável estabelecer números sobre a influência do ambiente em nosso comportamento." Para o pesquisador, porém, está claro que, se as necessidades básicas são satisfeitas, a influência de fatores externos no bem-estar subjetivo é pequena.

O amparo fornecido por uma sólida rede social pode ser prático e palpável, emocional e informativo. E você, já falou com o seu melhor amigo hoje?

Qualidade de vida

Apesar disso, fatores externos como distribuição de renda, expectativa de vida, ausência de corrupção e respeito aos direitos humanos são computados por especialistas para inferir o nível de satisfação de uma nação. "Em cima desses fatores vêm a cultura e a visão de mundo em relação à vida. Os latino-americanos tendem a ser mais felizes do que esperaríamos se analisássemos apenas o lado financeiro", diz o psicólogo Ed Diener, autor do recém-lançado "Happiness - Unlocking the Mysteries of Psychological Wealth" (Felicidade - Desvendando os Mistérios da Riqueza Psicológica, inédito no Brasil). Para o pesquisador, nós latinos pontuamos alto em emoções positivas graças à forma como nos relacionamos. Na maioria dos casos, somos pouco críticos, buscamos o lado mais divertido das situações e tendemos a apoiar quem está mal.

Para o psicólogo Christian Kristensen, o processo é um ciclo. "A partir da nossa base biológica e ao longo de experiências ambientais, desenvolvemos nossa personalidade. Por sua vez, ela influencia decisivamente a capacidade de sermos felizes", diz.

Se o nível de bem-estar varia entre países e culturas, como determinar quais são as nações mais felizes do mundo? Um dos rankings mais abrangentes é o "World Database of Happiness" ("Banco de Dados Mundial sobre a Felicidade"), compilado pelo sociólogo Ruut Veenhoven, da Universidade Erasmus de Roterdã (Holanda). Não por acaso, os cinco primeiros colocados são países que oferecem excelente qualidade de vida: na ordem, Dinamarca, Suíça, Áustria, Islândia e Finlândia.

Sem culpas

Ou seja, mesmo que nossa capacidade individual seja decisiva, as circunstâncias de vida têm importância fundamental. "O movimento pela felicidade enfatiza que as pessoas têm capacidade para serem felizes o tempo todo, enquanto há um declínio na noção de que as sociedades devem prover os indivíduos com as oportunidades para alcançar o sucesso. Quando não conseguem, alguns indivíduos acabam sentindo-se culpados", diz Allan Horwitz, professor da Universidade de Rutgers (EUA), e co-autor do livro "The Loss of Sadness: How Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder".

Então, se as suas circunstâncias não são favoráveis para o seu sucesso, não aceite ser apontado como culpado. Tente mudá-las, além de transformar a si mesmo.

MÃOS À OBRA
  • Pratique gestos de cortesia com outras pessoas sempre que possível
  • Procure contribuir ativamente com alguma associação de seu bairro
  • Faça algum trabalho voluntário
  • Estabeleça parcerias com amigos ou vizinhos, como um revezamento para levar os filhos à escola
  • Crie rituais com os amigos: escolha um dia da semana para jantar com eles ou troque e-mails diariamente
  • Seja leal: dê apoio, guarde segredos, não rebaixe os amigos de seus amigos e retribua favores

Juliana Tiraboschi
Ilustrações: Zé Otávio Zangirolami

OLHAR POSITIVO DÁ SENTIDO À VIDA

10/24/2010
Pesquisas comprovam que ser otimista e agradecer por tudo que acontece à sua volta é fundamental

Mandela: exemplo de otimismo e seus efeitos concretos
O modo como encaramos a vida varia de pessoa para pessoa. E muito. Vejamos os relatos a seguir. O norte-americano Randy tinha tudo para ser infeliz. Duas pessoas muito próximas a ele cometeram suicídio: seu pai, quando Randy tinha 12 anos, e seu melhor amigo, cinco anos depois. Após viver sob o mesmo teto com um padrastro com quem não se dava bem, Randy casou cedo e teve uma separação traumática, pois descobriu que estava sendo traído. Mas ele deu a volta por cima, casou-se de novo, adora seus três enteados e se considera realizado.

Já Shannon tinha tudo que podia querer. Aos 27 anos, está prestes a receber o diploma universitário de professora de língua inglesa, tem um namorado com quem planeja morar, uma família estável e muitos amigos. Ainda assim, ela sente-se infeliz. Sofre de falta de autoconfiança, é oprimida pela sensação de que deveria ter escolhido outra carreira e sente-se sozinha e dependente do namorado para tomar decisões.

Terapia do otimismo
Essas histórias são contadas por Sonja Lyubomirsky, psicóloga da Universidade da Califórnia, no livro "A Ciência da Felicidade". Elas levam a uma conclusão: por mais piegas que essa afirmação possa soar, nossa felicidade vem da maneira como encaramos a vida. Ela é, em boa parte, determinada pelo fato de sermos otimistas ou não.

O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, por exemplo, parece saber disso muito bem. Frases de autoria do homem, como "uma boa cabeça e um bom coração são sempre uma boa combinação"; "sempre parece impossível até que seja feito" e "no meu país nós vamos para a prisão primeiro e depois nos tornamos presidentes", demonstram uma atitude positiva, otimista e bem-humorada em relação às adversidades pelas quais passou, incluindo aí quase 20 anos de cadeia.
Cientistas garantem que o primeiro passo para ser mais feliz é mudar a maneira como você encara a vida: um fracasso é uma tragédia ou oportunidade de aprendizado?

A terapia pode ajudar na busca pela positividade. Na psicoterapia cognitivo-comportamental, por exemplo, terapeuta e paciente examinam os fundamentos irracionais que podem levar alguém a encarar certos acontecimentos de forma negativa. "Ao modificar a maneira de interpretar as situações, é possível alterar as emoções e os comportamentos que decorrem disso", diz o psicólogo Christian Kristensen. "A terapia cognitiva pode até provocar alterações na rede neuronal, por exemplo, quando se trabalha para evitar pensamentos negativos", afirma a neurocientista Silvia Cardoso.

Além disso, segundo Sonja Lyubomirsky, a atitude de gratidão estimula o gosto por experiências positivas e favorece o auto-merecimento e a auto-estima. A própria psicóloga aplica suas teorias na prática. Ela conta que, quando se mudou para a Califórnia, vivia empolgada com a bela paisagem do lugar, até o dia em que se acostumou com o visual da nova morada. Ao perceber isso, passou a reservar momentos do dia para admirar a praia e as montanhas, trazendo de volta à sua vida o bem-estar que esse hábito de gratidão lhe proporcionava.

Ok, a essa altura você deve estar pensando que abriu um livro de auto-ajuda por engano, em vez da Galileu. Daqueles cheios de chavões como "dinheiro não traz felicidade", "a grama do vizinho é mais verde", "o que importa é a beleza interior" e por aí vai. Mas acredite: todas essas afirmações e orientações são baseadas em estudos científicos, realizados por especialistas.

Não se obrigue a ser feliz
Vale ressaltar: ser otimista não significa forçar a barra para estar alegre o tempo todo. Afinal, a tristeza tem seu papel. "Quando melancólicos, encontramos poderes que não descobriríamos se continuássemos contentes, queremos encontrar novas maneiras de ser felizes", diz Jerome Wakefield, professor de serviço social da Universidade de Nova York e co-autor do livro "The Loss of Sadness: How Psychiatry Transformed Normal Sorrow into Depressive Disorder" (A Perda da Tristeza: Como a Psiquiatria Transformou a Tristeza Normal em Desordem Depressiva, inédito no Brasil). Na ânsia de ser feliz (e por diagnósticos malfeitos), muitos acabam recorrendo a remédios, sobretudo antidepressivos, que só possuem eficácia quando tratam distúrbios. "Esses medicamentos reduzem o afeto negativo patológico, mas não aumentam o afeto positivo", diz o psiquiatra Hermano Tavares.

Conclusão: busque ver o lado positivo, mas não ignore suas melancolias - aceite-as como parte da sua personalidade e do momento que você está vivendo.


MÃOS À OBRA
  • Ser grato não é apenas dizer obrigada por um presente ou um favor. A definição é muito mais ampla e engloba outros passos descritos abaixo
  • O bem-estar não é caracterizado pela felicidade constante, e sim por uma atitude positiva permanente
  • A felicidade depende principalmente de nosso estado de espírito. Com exceção de circunstâncias extremas, nosso bem-estar é determinado por nossa interpretação dos eventos. Por exemplo: você enxerga um fracasso como uma catástrofe ou como uma oportunidade de aprendizado?
  • Dê valor. Aprenda a apreciar as coisas maravilhosas da vida, dos amigos a um prato de comida, da natureza a um sorriso
  • Mantenha um diário e registre momentos ou fatos pelos quais você deve ser grato
  • Aceite que emoções como medo, tristeza e ansiedade são naturais. Assim é mais fácil conseguir superá-las

Juliana Tiraboschi
Ilustrações: Zé Otávio Zangirolami

FELICIDADE : OS CAMINHOS ERRADOS

10/23/2010
"Meu nome é Fabricia,tenho 18anos. A minha vida não tem andado como eu planejei, e isso está me sufocando... Meus pais se separaram há dois anos e, sinceramente, eu nao sei como lidar com isso... Sinto um vazio, um vazio sufocante. Isto está sugando a minha vida. Tento dizer que sou forte (sinto que presiso ser forte), mas não consingo. Tô machucada, sem direção. Não sei como viver, como prosseguir. As vezes queria sumir, queria munca ter existido. Sucumbi a essa vida, que e tão passagueira e, agora, tão sem sentido..." (comentário na Rede Quero Morrer)


E nós o buscamos. Mas, muitas vezes, nos lugares errados, como nos bens materiais. Em geral, os cientistas concordam que há limitações para a quantidade (e qualidade) de felicidade que eles podem proporcionar. "Um vestido novo ou uma casa enorme podem fazer você feliz, mas por um período de tempo curto", diz o físico Stefan Klein, ex-editor de ciência da revista alemã "Der Spiegel" e autor dos livros "A Fórmula da Felicidade"e "The Science of Happiness - How Our Brains Make Us Happy" (A Ciência da Felicidade - Como Nossos Cérebros nos Fazem Felizes, inédito no Brasil).

Esse mecanismo é chamado pelos pesquisadores de "adaptação hedonista". É a calmaria que se segue a um evento alegre, como a compra de um carro. Isso pode acontecer também com uma promoção, uma cirurgia plástica, uma mudança para outro país ou novos relacionamentos.

A advogada e escritora americana Gretchen Rubin estudou tudo isso e pôs em prática seu "Projeto Felicidade". Sua meta é "passar um ano testando todas as dicas, teorias e estudos científicos que puder encontrar, seja de Aristóteles, Martin Seligman ou Oprah Winfrey".

Para Richard Davidson, professor de psicologia e psiquiatria da Universidade de Harvard, a felicidade é uma habilidade que se aprende. "Não é diferente de tocar um instrumento musical ou praticar um esporte. Se treinar, você vai melhorar", afirma. Vire a página para saber como começar seu treino.

Juliana Tiraboschi
Ilustração: Fernanda Alyssa (Flickr)

FELICIDADE TEM VALOR EM SI MESMA

10/22/2010
Cada um é cada um. Nesse caso, o velho chavão é verdade: cada um reage de um jeito aos acontecimentos. Parte da explicação para isso pode estar inscrita em nossos genes, conforme pesquisas vêm demonstrando há duas décadas. Uma das mais recentes, realizada pela Universidade de Edimburgo (Escócia), estudou mais de 900 pares de gêmeos para inferir a influência da genética em nosso "bem-estar subjetivo" - termo técnico para felicidade. Para os autores, os genes que agem sobre nossa satisfação são os mesmos que atuam sobre nossa personalidade.

"Quanto mais extrovertida, estável e consciente - o oposto de neurótica - uma pessoa é, maior tende a ser o seu bem-estar", diz Alexander Weiss, professor de psicologia e líder do estudo. E vai além. "Cerca de 50% das diferenças do nível de felicidade entre os indivíduos se deve a variações genéticas." A americana Sonja Lyubomirsky, professora de psicologia da Universidade da Califórnia (EUA), concorda e afirma que, além da porção genética, 40% da satisfação seria explicada por nosso comportamento. Os 10% restantes seriam fruto das circunstâncias: se somos homens ou mulheres, bonitos ou feios, brasileiros ou dinamarqueses, por exemplo.

Isso mostraria que mudanças não são fáceis. Porém são possíveis. "Nossas personalidades são estáveis. Contudo, pesquisas sugerem um aumento modesto na estabilidade emocional e consciência na idade adulta. Então algumas mudanças ocorrem naturalmente", diz. Segundo o professor, um alto grau de bem-estar não é caracterizado pela felicidade constante, mas pela atitude positiva permanente.

A maioria dos especialistas concorda que há um ponto de saturação no bem-estar de cada um de nós. "Precisamos voltar a um estado normal porque a felicidade precisa ser buscada", diz a neurocientista Silvia Helena Cardoso, fundadora do Instituto da Ciência da Felicidade, vinculado ao Instituto de Teleneurociência de Campinas (SP). Após um evento muito prazeroso, como uma promoção no emprego, chega a hora em que a satisfação acaba e nos sentimos motivados a buscá-la novamente. "Aristóteles já dizia que a felicidade é conseqüência de ações", diz Silvia.

Mas, segundo a neurocientista, a felicidade possui um diferencial em relação a outros objetivos de vida: é o único que tem valor em si mesmo. Os outros, como saúde, poder, dinheiro, beleza e sucesso, fazem sentido apenas como um meio de alcançar o bem-estar.

Juliana Tiraboschi
Ilustração: Fernanda Alyssa (Flickr)
 
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